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  • anteontem
O pedido, feito pelo artista ao escritor 30 anos atrás, só foi atendido agora, quando Meirelles sentiu que tinha maturidade para encarar o desafio.
Transcrição
00:00A primeira vez que eu encontrei o Franz Kragko foi na casa do Sepp Bindereck, no Itaim, em São Paulo.
00:26E o Sepp Bindereck adorava apresentar slides. Ele me chamou para ver os slides da viagem dele com o Franz e o Pierre Restani para o Rio Negro, que gerou o Manifesto do Rio Negro.
00:39Então foi neste momento que eu também levei slides que a gente conseguiu ver que nós estávamos falando do mesmo universo, do mesmo contexto de interesses.
00:51E saiu aquela ideia, vamos juntos percorrer essa próxima expedição, como ele chamava, o próximo desafio.
01:00Eu, como um jovem de 24 anos, junto com aqueles dois artistas bem mais velhos, três vezes mais, a minha idade, falei, não, vamos embora.
01:09No ano seguinte, em 1985, saiu a viagem exclusivamente com o Franz, que era uma viagem de trabalho.
01:22Nós saímos de caminhonete, uma velha caminhonete, do Rio de Janeiro até Juruena, no norte de Mato Grosso.
01:32Olha, viajar com o Franz Krajner sempre foi a propósito de descobrir a natureza brasileira, encontrar novas formas, e ele não planejava nada.
01:45Na verdade, como ele também não planejava obra alguma, ele ia e executava.
01:51E foi muito interessante essa intuição de parar no meio da estrada, não, para aqui, para aqui, vamos.
01:57E entrava numa queimada como entrava numa guerra, assim, armado com uma máquina fotográfica, analógica, pesadíssima,
02:04e eu carregando tantas máquinas para ele, e também querendo aprender como fotógrafo amador.
02:11Enfim, o olhar, mais do que a fotografia, é um furacão o tempo inteiro, principalmente quando está em contato de primeiro grau com a natureza.
02:22Eu acho que o Franz me proporcionou isso e proporciona para as artes brasileiras essa necessidade do contato de primeiro grau com a natureza.
02:32E isso foi extremamente revelador e apaixonante e mudou a minha vida.
02:37Eu comecei a escrever a biografia 30 anos depois que ele me solicitou, lá atrás, em 1985.
02:54E, a partir daí, eu juntei material naqueles dois, três anos, na década de 80.
02:59Mas eu não tinha maturidade para esse grande desafio.
03:02Mas eu registrei em diário, tem um diário sobre assuntos, fiz gravações, ele falava que ele não conseguia gravar sozinho.
03:11Ele sentia a vontade comigo.
03:13Nós gostávamos da mesma coisa, gostávamos de mato.
03:16A partir dos 80 anos, nós retomamos esse diálogo, essas gravações, essa busca de informações.
03:24E eu consegui compor um painel, mas tudo começou ali atrás dele pedindo para mim ir lá em Juruena, no norte de Mato Grosso,
03:35onde nós estávamos instalados em uma pequena casinha na beira do rio.
03:40E ele querendo deixar essa memória, eu entendi dessa maneira.
03:46Se a gente deixa destruir a floresta, vai faltar oxigênio na planeta.