Com uma obra que investiga nossa relação com representações de imagens e o espaço físico, a artista ocupa uma galeria e o IAC, o Instituto de Arte Contemporânea, com trabalhos que tomam as paredes e o chão com convites para experimentarmos novas percepções visuais.
Categoria
🦄
CriatividadeTranscrição
00:00Música
00:00Para falar da presente instalação aqui na Galeria Luciano Brito,
00:25eu preciso me remeter à origem da concepção e da relação que eu tive com esse espaço.
00:36Aqui existia em Nova York uma galeria chamada Storefront for Art and Architecture,
00:44que é um espaço experimental desenhado pelo artista Vitor Conte
00:49e que é caracterizado por uma planta triangular.
00:53E o que eu imaginei foi uma ilusão de perspectiva, uma ilusão de olho, ótica,
01:03em que se pudesse ver o espaço como retangular.
01:08Quem entrava na galeria, que tem uma figurinha que dá escala também entrando,
01:14se situava num certo ponto, que eu marquei aqui,
01:17e com um olho só, era melhor para evitar a paralaxe, via o espaço corrigido.
01:26Quando se saía desse ponto privilegiado, desmantelava toda a ilusão.
01:32Na época eu propus pintar o chão, pintar as paredes, usar uma fita branca,
01:38para poder realizar essa quadrícula no espaço.
01:43Claro que antes não era aceitável, porque eu ia cobrir a construção real.
01:49Então eles apreciaram muito o projeto, mas ficou pendurado.
01:54E anos depois eu fiz essa maquete para conservar o trabalho.
01:59Mas aí a galeria, e a Luciana mesma, me convocou para fazer essa mesma operação
02:09no espaço do pavilhão da galeria, que é um espaço também triangular.
02:19Longe de saber a trabalheira que ia dar,
02:22porque eu agora habito com mais facilidade os meios digitais, os meios de produção,
02:28e tive que voltar atrás, na geometria, no papel milimetrado,
02:34nas medidas da regra de três, para conseguir lidar com as diferenças.
02:40Poder produzir uma imagem analógica, geométrica,
02:44que eu pudesse repassar ao assistente para colocar isso em termos digitais.
02:50Porque só os termos digitais eu permitia a produção em ilustrator,
02:57em vinilo adesivo, pegado não permanentemente na galeria, sem danificar o espaço.
03:04Aqui você pode ver já um número enorme de continhas que eu tive que fazer na planta da galeria,
03:12que é diferente.
03:13O acesso é diferente, na outra era por outro lado.
03:16A largura é diferente, mas o feeling é o mesmo.
03:21Então, aqui está o meu estudo, e aqui está o estudo das diversas posições do observador,
03:31porque isso é uma obra para olhar, não é uma obra para percorrer.
03:34Então, se você caminha na borda dela, você vê ela montar e desmontar.
03:42Ele tem uma posição por aqui, quando você está na frente dessa linha reta,
03:49e daquela linha reta lá, você não vê o canto da parede.
03:54Ele fica reto, fica como se estivesse esticado.
03:58Então, essa é uma exposição para caminhar, para perceber.
04:06Não é uma exposição para olhar, sobretudo.
04:08Estamos agora no IAC, Instituto de Arte Contemporânea,
04:25para onde eu planejei uma exposição peculiar,
04:29que eu chamei Modus Operandi, Modus de Operar,
04:33e que mostra algumas obras e seu conjunto de um tempo que eu vou chamar de projeto,
04:44ou seja, desenhos, às vezes maquetes, que são feitas posteriormente,
04:49mas que podem dar conta do meu percurso.
04:54Sem ser uma retrospectiva, ela junta esses capítulos,
04:59assim como se fossem ilhas que se conectam.
05:02Achei que era o que eu devia fazer para celebrar
05:08a doação de meus arquivos,
05:1212 mil documentos para essa instituição,
05:15que é uma instituição que tem essa função,
05:20essa missão de conservar documentação.
05:32Essa obra aqui, da entrada, é uma instalação digital,
05:38um dos muitos padrões que eu tenho realizado, padrões gráficos,
05:43que tem se viajado do mundo afora e se adaptado a diferentes arquiteturas,
05:49a diferentes escalas.
05:50Então, essa obra que está aqui agora, por exemplo,
05:54ela faz parte do acervo do Museu de Houston, Texas,
05:58já está lá instalada.
06:00Ela está numa exposição em Taiwan, em Taipei.
06:03Ela faz parte da coleção do museu,
06:07que organizou uma exposição de artistas mulheres na coleção.
06:10Lá, ela era uma obra que estava na parte externa do edifício
06:15e agora ela está na parte interna, a pedida do museu.
06:20Então, ela tem tido diferentes configurações
06:24e é uma característica desses padrões gráficos
06:29que eu tenho utilizado na minha conversa
06:32com arquiteturas diversas por o mundo.
06:34Então, ela pode crescer, pode envolver outras arquiteturas,
06:41mas nessa obra específica, a ideia é sempre de uma invasão.
06:46Uma invasão de uma ação que aconteceu no tempo
06:49e que já passou e deixou essa marca.
06:52Então, são obras de marcas indiciais, de índice,
06:57que deixaram, possivelmente, muitas pessoas que invadiram essa sala.
07:05Ela se chama Eruption.
07:16O retrato é da Mirella Bentivoglio, uma artista italiana,
07:22amiga minha, que já falecida,
07:25que é uma artista muito importante,
07:28foi celebrada nas últimas Bienais do Brilhese.
07:32E essa obra aqui é um retrato dela,
07:36lendo um livro,
07:37numa obra que fizemos em colaboração,
07:41que se chama Transitório Durevole,
07:44o nome é italiano, Transitório Duradouro,
07:47no sentido de que o humano é transitório
07:51e a cultura é permanente.
07:55cartas da Mirella,
07:57que me mandou com muitas instruções
07:59de como eu deveria fazer a obra.
08:02Claro que eu não segui completamente,
08:04eu fiz a obra como eu queria.
08:06Então, eu achei interessante
08:07dar a entender para o público
08:11como a Mirella concebia
08:13e como eu terminei concebendo a obra.
08:16a Mirella Pointe.
08:25america.
08:25acong
08:26Legenda Adriana Zanotto