Dom Geraldo González, monge beneditino brasileiro que trabalha no Vaticano há 20 anos, avalia o perfil dos últimos três pontífices que passaram pela igreja e relembra experiências com cada um deles.
Baixe o app Panflix: https://www.panflix.com.br/
Inscreva-se no nosso canal:
https://www.youtube.com/c/jovempannews
Siga o canal "Jovem Pan News" no WhatsApp:
https://whatsapp.com/channel/0029VaAxUvrGJP8Fz9QZH93S
Entre no nosso site:
http://jovempan.com.br/
Facebook:
https://www.facebook.com/jovempannews
Siga no Twitter:
https://twitter.com/JovemPanNews
Instagram:
https://www.instagram.com/jovempannews/
TikTok:
https://www.tiktok.com/@jovempannews
Kwai:
https://www.kwai.com/@jovempannews
#JovemPan
Baixe o app Panflix: https://www.panflix.com.br/
Inscreva-se no nosso canal:
https://www.youtube.com/c/jovempannews
Siga o canal "Jovem Pan News" no WhatsApp:
https://whatsapp.com/channel/0029VaAxUvrGJP8Fz9QZH93S
Entre no nosso site:
http://jovempan.com.br/
Facebook:
https://www.facebook.com/jovempannews
Siga no Twitter:
https://twitter.com/JovemPanNews
Instagram:
https://www.instagram.com/jovempannews/
TikTok:
https://www.tiktok.com/@jovempannews
Kwai:
https://www.kwai.com/@jovempannews
#JovemPan
Categoria
🗞
NotíciasTranscrição
00:00D. Geraldo, o que que chamou mais a sua atenção, você que conviveu com três papas, com cada um deles?
00:07Me conta um pouco do João Paulo II, o que que te chamou tão a atenção dele?
00:12Bom, sempre me fazem essa pergunta, né, que eu fale dos três, ou qual dos três é o melhor?
00:19Como educador e formador, eu sempre digo, principalmente para os pais, por favor, não comparem os filhos,
00:24não comparem os incomparáveis, porque tendo convivido com essas três grandes figuras,
00:30cada um deles deu o melhor a partir do seu itinerário espiritual, pessoal, da cultura em que vem,
00:40e do momento histórico que lhes tocou viver, e isso vai ocorrer com esse que virá também, a mesma coisa,
00:46por isso é muito impressionante.
00:48João Paulo II, puxa vida, foi, bom, aquele longo papado, marcou toda uma geração, quase duas gerações,
00:57ele foi esse símbolo da esperança, ele foi um papa, uma expressão muito romana, em latim, urbi et orbi,
01:03ele saiu da urbi e levou a igreja por todo o orbe, incansável, então ele, e sempre um homem também do diálogo,
01:13e ele não tinha receio algum de solicitar e de ir a países que até então ninguém havia visitado,
01:22por exemplo, a viagem dele a Cuba, foi uma coisa impressionante, até então, e houve mudanças depois daquela mudança,
01:30e com outros países também, que até então eram países majoritariamente, digamos, reformados,
01:35ou de outras denominações religiosas que eram cristãs, receberam o papa, ou acolheram com muita,
01:42como um mensageiro da paz, ele foi um homem que lutou barbaramente pela paz,
01:47num mundo tão dividido, ele pontificou na Guerra Fria, imagina, algo que para as novas gerações é impensável,
01:56mas ele esteve em plena Guerra Fria, ele veio da cortina de ferro, quer dizer, ele viveu do outro lado.
02:00E a igreja era muito forte na Polônia?
02:04Muito forte na Polônia, e ele, diferente de outros países, da cortina de ferro,
02:11como, por exemplo, a Hungria, ou a ex-Tchecoslováquia, a igreja foi muito mais censurada e dominada ali,
02:21mas na Polônia não, ela continuou como um símbolo muito forte, até de resistência, naquela situação.
02:28E chamou muito a atenção também como ele cativou os jovens, né?
02:32O primeiro papa, assim, que realmente...
02:34Os gestos dele, ele dizia muito, ele chegava num país, você lembra, ele descia do avião e beijava aquela terra,
02:41aquela terra era a terra sagrada, era como Moisés nasce a dente para ele.
02:45Então ele tinha uma vibração, um entusiasmo, e nos primeiros anos de pontificado ele ainda tinha muita força física, né?
02:51Depois decaiu após o atentado que ele sofreu, né?
02:54Mas nos primeiros anos ele tinha toda essa força física que dizia muito para os jovens.
03:00Então toda uma juventude cresceu com ele.
03:02Foi muito, muito forte isso.
03:04E Bento XVI foi um papa também muito importante.
03:07Muito importante.
03:09Era muito difícil ser papa, depois de um papa tão popular quanto João Paulo II.
03:15Então a gente tem que compreender também, novamente, Bento XVI, na sua formação, na sua cultura.
03:21Era um acadêmico, um dos grandes luminários da teologia, da modernidade.
03:29Então ele nos deixou nos seus escritos essa dimensão muito forte da doutrina, da firmeza da fé.
03:37Mas também soube nos seus livros traduzi-la em termos próximos ao homem.
03:43Eu, para mim, espero ainda na minha vida vê-lo canonizado e declarado doutor da igreja.
03:50Foi um dos grandes doutores da igreja.
03:52Então, por exemplo, se eu associo João Paulo II, São João Paulo II, com a esperança que ele levou no mundo inteiro,
04:00eu associo Bento XVI com a fé.
04:04Ele foi um pilar da fé.
04:07E ao mesmo tempo a humildade dele, Felipe, quando ele renunciou.
04:11Verdade.
04:11Aquela humildade, aquele gesto dele, ele foi muito atacado.
04:15Naquele momento eu o defendi barbaramente porque ele sabia que a pior coisa que podia ocorrer para a igreja
04:21era ela ficar acéfala.
04:23Então, quando ele se viu sem condições físicas, psicológicas, humanas, de continuar como papa da igreja,
04:33ele teve esse gesto humilde, que houve um antes e um depois, a meu ver, na igreja, de renunciar.
04:37Esse foi outro grande gesto magnânimo dele.
04:41Uma humildade tremenda.
04:42Ele me chama a atenção por um momento que todo mundo achava que a igreja tinha que fazer concessões para ganhar mais fiéis.
04:51Ele falou, quase que é preferível perder fiéis, mas ter fiéis de qualidade do que quantidade.
04:58Exato.
04:59E isso é uma atitude muito corajosa.
05:00Muito corajosa.
05:01Geralmente, você fala para o povo assim, não, vamos fazer alguma coisa populista para ganhar.
05:05Não, não.
05:06Ele pensou assim, não, vamos ter fiéis de qualidade.
05:09Exatamente.
05:09Então, essa força acadêmica, doutrinária dele foi muito importante para trazer a igreja de volta para os seus valores permanentes
05:17e não ceder àqueles valores permanentes.
05:21E ajudar a que as pessoas redescubram esses valores, que hoje em dia se perderam tanto.
05:27É verdade.
05:29E aí vem o Papa Francisco, que é esse que irradia a luz em todo lugar.
05:34O diálogo dele, a simplicidade dele, a espontaneidade dele.
05:39Por exemplo, eu estava numa cerimônia no ano passado.
05:43Ele, de repente, no início da cerimônia, ele virou para todos nós.
05:47Não era uma cerimônia, era uma reunião.
05:50Ele virou para todos nós.
05:50Entraram dois assessores, um casal, um homem e uma mulher.
05:53Entraram, levaram alguma coisa para ele.
05:56De repente, ele para e ele diz assim,
05:58Olha, atenção para esses dois.
06:00Eles vão se suicidar.
06:02Nós ficamos meio chocados.
06:04E ele começou a rir.
06:06Porque eles vão se casar.
06:08Todo mundo aplaudiu.
06:09Mas ele era assim.
06:11Então, ele chamava atenção naquele bom humor que ele era característico
06:15para aspectos fundamentais da vida.
06:18Então, ele era assim.
06:20Ele era essa espontaneidade, essa caridade, essa escuta.
06:24A escuta que ele tinha era algo que também me deixava realmente maravilhado.
06:29Esse conceito que ele tinha de periferia existencial, quer dizer, não é apenas a pobreza material com a qual ele se preocupa tanto,
06:39mas é também a pobreza espiritual, a pobreza humana, a solidão.
06:45Então, ele recuperou esse sentido de comunidade, de solidariedade, de empatia.
06:53O diálogo interreligioso que ele manteve com todos os líderes, que já era muito forte com São João XXIII,
06:59Paulo VI, São Paulo VI e também com São João Paulo II, ele também manteve de uma forma impressionante.
07:07Então, tudo isso são símbolos de paz.
07:11E ele era uma pessoa também que apontava algo muito importante.
07:14Se nós quisermos a paz exterior, nós temos que ter paz interior.
07:20Então, por exemplo, ele teve o famoso ano jubilar também da misericórdia.
07:25Eu me recordo que naquele ano me pediram que atendesse confissões nas quartas-feiras à tarde,
07:32na Basílica de São Paulo, fora dos muros, que é uma Basílica Nossa, Beneditina também,
07:38porque normalmente as pessoas iam pela manhã na audiência papal em São Pedro e à tarde a São Paulo, Pedro e Paulo.
07:44Então, pediam que realmente houvesse confessores que pudessem falar várias línguas para poder atender os peregrinos.
07:50Mas era impressionante aquilo.
07:51Chegavam os peregrinos e me diziam, padre, por favor, tenha paciência.
07:56Faz 40 anos que eu não volto ao sacramento da reconciliação.
08:00Eu estou afastado da igreja, mas estou retornando.
08:03E esse mesmo fenômeno está ocorrendo agora, neste ano.
08:07A mesma coisa.
08:08Então, ele provocou também esse desejo de uma paz interior.
08:14Quer dizer, a paz exterior é fruto também da paz interior.
08:17Quando o homem está reconciliado consigo mesmo, ele é capaz de se reconciliar com o próximo e com Deus.
08:24Se o mandamento do amor de Cristo é amar a Deus e ao próximo como a si mesmo,
08:29se eu não me amar a mim mesmo, como eu vou amar o outro e a Deus?
08:34Eu só posso dar o que eu tenho.
08:36E isso tem a ver também com o resgate do senso de misericórdia, né?
08:40O perdão.
08:40Quer dizer, interessante duas palavras, Felipe, bem colocado essa.
08:47Miséria e misericórdia, a raiz é a mesma.
08:50Mas o que transforma a miséria e misericórdia é o corcordis, no latim,
08:54que é o coração que é onde Deus habita.
08:56Então, a questão de pedir perdão e de ser perdoado é fundamental.
09:03Eu falo até um testemunho pessoal meu.
09:06Às vezes que eu tive dificuldade de perdoar, eu não tinha paz interior.
09:10Então, eu fui descobrindo que eu devo perdoar mesmo que não me peçam perdão.
09:19E eu devo pedir perdão mesmo que eles não me concedam.
09:22Mas aquilo que está nas minhas mãos, eu devo fazer.
09:26É uma mão de via dupla.
09:27Eu devo conceder o perdão e devo pedir o perdão.
09:31Isso é fundamental para recuperar essa paz interna.
09:33Essa paz interior.
09:34Então, recentemente, eu estava em Santiago do Chile e me pediram uma conferência justamente sobre isso.
09:40Que está relacionado, né?
09:42E eu contei para eles.
09:44Olha, quando eu tive uma grande dificuldade de perdoar,
09:46eu fui descobrindo que o perdão é um processo.
09:50Chega um momento, quando você não consegue perdoar uma pessoa,
09:53você não tem paz interior.
09:54Você está angustiado, você está inquieto.
09:58Você não está bem.
09:59Você não está equilibrado.
10:00Então, chega um momento em que você deseja perdoar.
10:07Então, ela nasce como um desejo.
10:09Mas não basta o desejo.
10:10Eu tenho que dar um passo maior.
10:13Chega um momento que diz, não, eu quero, eu tenho a intenção de perdoar.
10:18Embora eu não saiba como, eu tenho a intenção de perdoar.
10:22E, por fim, esse processo desemboca, com a ajuda de Deus,
10:27é na decisão de perdoar.
10:29Então, eu peço a Deus que me ajude a perdoar aquela pessoa.
10:34E lembro das palavras de Cristo na cruz.
10:37Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.
10:40Então, esse processo que nasce como um desejo,
10:43cresce como uma intenção,
10:45e se concretiza com uma decisão, com a graça de Deus,
10:48é fundamental nas nossas vidas.