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  • 26/04/2025
Tudo começa em 1785, com a chegada da pequena infanta espanhola Dona Carlota Joaquina de Bourbon a Portugal para casar-se com D. João VI, que à época atendia por Infante Dom João de Bragança. Já em 1808, após muita indecisão, D. João VI resolve transferir a corte para o Brasil, para fugir dos ataques e do poderio bélico de Napoleão Bonaparte. Em paralelo à história dos monarcas, se desenvolve o romance da donzela Manoela com Francisco Gomes, o Chalaça - um dos melhores amigos de Dom Pedro de Bragança.

Categoria

😹
Diversão
Transcrição
00:00O capítulo anterior foi uma choradeira só.
00:09Primeiro, Pedrón, desesperado, achando que Domitila havia morrido.
00:14Domitila! Domitila! Fala comigo, abre o olho! Domitila!
00:22Mas é isso. Mas é isso.
00:24Se morrer... morrer junto.
00:30Depois, todo mundo.
00:34Porque a cena da morte da pobre Leopoldina ficou mesmo emocionante.
00:41Tem um lenço aí.
00:44Cala, cala, minha menina.
00:50Cala, cala, meu amor.
00:53O teu vestido é duro.
01:04Tua mãe é uma flor.
01:06Morta, Chico.
01:29Então agora é a minha vez.
01:34É a minha vez.
01:35Senta aqui.
01:51Tomar não é uma delícia.
01:54Ele parece forte, mas papai é mais forte que ele.
01:56É só segurar na minha mão.
01:57É tão fácil flutuar.
01:59O mar nos abraça como se nos desse colo.
02:01E tu não vais ter medo do mar como tua mãe.
02:06Devia ter assistido mais com ela.
02:08Levada pela mão.
02:09Quero uma mãe.
02:10Sei que sentes falta.
02:13Mas tua mãe agora não pode mais te tacarinho.
02:16Ela está morando muito longe.
02:17No céu?
02:19No céu.
02:20Com certeza.
02:21Mas há de estar a te ver lá.
02:23E garanto.
02:24Quando precisarem, estarei sempre aqui.
02:27E não importa que os escravas digam que estou ocupado.
02:30Vai lá e me chamam.
02:32Porque antes de ser rei.
02:33Antes de ser homem.
02:34Eu sou teu pai.
02:36E meu trabalho é cuidar de ti.
02:38Pô, Pedro.
02:39O cortejo fúnebre sai em uma hora.
02:41Eu a matei.
02:55Oh, Pedro.
02:56Eu a matei com meu desamor.
02:57Com minha falta de respeito.
02:59Não.
03:00Se não te odiavas.
03:01Mas te venerava.
03:03Olhava-te como uma beata.
03:04Olha um santo recém-descoberto de uma quaresma.
03:06Porque era generosa.
03:09Amava sem precisar nada em troca.
03:11Que desperdício.
03:14Amar a mim.
03:15Se ama é porque há o que ser amado.
03:18Quando amei Naomi.
03:20Amei uma mulher que não existia.
03:23Era só aqui.
03:25A Naomi romântica.
03:27Arrebatada.
03:29Neopondina amava um ser muito melhor do que eu.
03:32Que, por engano, ela chamava de Pedro.
03:35Não.
03:36Ela amava um homem que aqui chegava sorridente.
03:39Que dava ordens.
03:40Que ficava colérico.
03:42Que era doce.
03:44Tu a tratavas bem, apesar da falta de paixão.
03:47Amor sem carinho.
03:50Eu a atraí com todo o reino.
03:51Até isto.
03:52Ela amava em ti.
03:53Olha.
03:54Tu não amas todos os defeitos de Domitila?
03:56Assim foi com Leopoldina.
03:58Afinal, ela te amava porque sabia que, no fim, tu voltavas pra ela.
04:02Com Domitila tudo mudou.
04:03Não aceitaste um casamento por necessidade?
04:05Era tua obrigação apaixonar-te por ela?
04:07Era tão ingênua, Gomes.
04:09Uma menina.
04:11Se visses o olhar dela quando a tive pela primeira vez.
04:14Queres um motivo pra te entregar?
04:16Pois não.
04:16Queres um motivo pra beber?
04:17Então beba.
04:18Queres um motivo pra seres responsável?
04:20Pois vai em frente.
04:21Mas não ofenda a memória da falecida usando-a.
04:25Se queres retornar a ser aquele Pedro ridículo de antes, não ameta nisto.
04:32Toma.
04:35Joga fora.
04:38Meus filhos precisam de mim.
04:48Falam até que a Imperatriz foi envenenada.
04:51Por um agente da Domitila.
04:55Bobagem.
04:57Uma testemunha garante que Dom Pedro estrangulou pessoalmente com aquelas mãos fortes.
05:03Também são exageros.
05:05É evidente que a pobre morreu de desgosto pela traição.
05:08Ah, mas se ele a matou foi de tantos filhos que lhe fez.
05:12Coitada, explodiu.
05:13Por dentro a pobre.
05:15Agora o que dizem é que pra lá a Domitila se muda.
05:18E a princesa mal podia acreditar que aquele rapaz, ele estendia a mão para que subisse em sua garupa.
05:24Era uma vida nova que se iniciava.
05:26Canhão.
05:27É, canhão.
05:29Olha lá.
05:32Imaginei que necessitavas de companhia.
05:35Obrigado.
05:36Mas meus filhos precisam de mim.
05:37Por isso mesmo, são tantos.
05:40Não vai conseguir cuidar de todos eles sozinhos.
05:42Januária mesmo precisa ir à cama.
05:44É um trabalho que Deus me deu que aceito com muito orgulho.
05:49Pode ir, Domitila.
05:54Vou passar aqui.
05:55Gorda, maldita.
06:22Até depois de morta ela me atrapalha.
06:24Ela tem de ser razoável.
06:25Nunca fui.
06:26Razoáveis são essas mulherzinhas que ficam quietas esperando o marido voltar,
06:30tendo antes passado pelas rameiras.
06:32Se é a primeira oportunidade que nós temos de ficar junto,
06:35queres o quê?
06:35Que eu fique quieto no meu canto?
06:36E queres que Pedro faça o quê?
06:38Coloque ela numa carruagem e te mude para a quinta?
06:40E por que não?
06:40Ora, pois.
06:41Com quem tem passado a noite nos últimos anos?
06:43Já lhe dei uma filha, logo vem outro.
06:45Queres o quê, xalaça?
06:46Que fique aqui a fingir que sou invisível.
06:47Pedro já rompeu com Bonifácio por tua causa.
06:49Ah, agora tudo é culpa minha, né?
06:51Se a lua por acaso não surgir sobre o pão de açúcar,
06:54é culpa da domitila.
06:55Entenda que ele já pagou o caro em defender-te.
06:58E eu não pago?
06:59Mas tu queres o quê?
07:00Não basta teu garoto fogoso a esquentar-se toda noite em tua cama.
07:04Queres a coroa?
07:04Quero, meu Pedro.
07:06Mas do que que essa gente tem tanto medo?
07:08Que se o atal vira imperatriz,
07:10baixe uma lei obrigando todas as mulheres de respeito
07:12a tornarem-se meretrizes.
07:14Tem medo é que se ela e Dom Pedro não precisarem mais se esconder,
07:17a corte inteira vai ouvir os seus ganidos
07:19na cama e com ar pela cidade.
07:21Mas por falar...
07:22Meretrizes.
07:23Olha que assim tu me ofendes.
07:26Não sabes que virei uma mulher de respeito?
07:29Nunca pensei que fosse mulher de contentar-se com alfaiate.
07:32De ricos, mas um alfaiate.
07:34E quem disse que eu me contento?
07:38Isso é só o começo.
07:39Viu?
07:47A amante do cálter entrando pela porta da frente.
07:50Culpa do mau exemplo de Domitila.
07:56Que bonitinho.
07:58As três juntas.
07:59Como fazem para tomar banho assim grudadas?
08:02No que podemos ajudá-la?
08:03Chame o pai de vocês, por favor.
08:05Tenho encomendas novas de clientes.
08:07O que foi?
08:08Falei numa língua irreconhecível?
08:09Pode deixar, entregamos a ele.
08:11Necessito vê-lo pessoalmente.
08:13Não tens vergonha, não.
08:15Esta aqui é a casa dele.
08:17Que eu saiba é a casa do fazendeiro Fernão,
08:19onde vivem de favor.
08:21Sem nem mais por necessidade,
08:22já que depois que entrei os negócios prosperaram e muito.
08:25Ora, minha senhora,
08:26sabes muito bem a que nos referimos.
08:28Ao fato de eu ser amante dele?
08:30Pois deviam dar graças a Deus,
08:32já que depois que entrei a vida dele melhorou e muito.
08:35Por favor, eu estou aguardando aqui.
08:36Chame.
08:37Anda.
08:38Vá, vá, vá, vá, vá, vá, vá, vá.
08:40Não tenho o dia, tô.
08:46Não te preocupes, não vim cobrar-te ainda hoje.
08:51Já não te disse que preciso de uns dias?
08:53Para quê?
08:54Para arrumares o marido e matá-lo?
08:56Não vim cobrar-te hoje, mas minha paciência tem limites.
08:59A más é do nosso cálper.
09:02Papai, o nosso cálper.
09:04Olha a decadência.
09:07Não, quando que nós íamos permitir um homem desse de ser um dos nossos servos?
09:11E agora somos hóspedes dele.
09:13E agora somos hóspedes dele na casa de outro.
09:16Agora, esse dinheiro que diz necessitar, eu não tenho como inventar.
09:19Ah, papai, trabalha-se para o imperador.
09:23Que é um rematado mão de vaca.
09:25Sabia que ele mandou despedir mais de 300 pessoas só porque não iam trabalhar.
09:30Só por isso?
09:31É só uma esquiva.
09:32Deus santo.
09:40Marquesa.
09:43Sentai-vos.
09:51Como estás pálida?
09:52Claro, eu sou uma marquesa, não uma escrava.
09:56Junta as minhas coisas.
09:57Como assim?
09:58Junta as minhas coisas e põe tudo num saco.
10:00Eu não posso permanecer aqui, eu não posso.
10:05Recusas ao quê, infeliz?
10:06A casar-me com o meu noivo alemão.
10:09É o que estás fazendo viva ainda, que é morta.
10:11Falei que era melhor deixarmos para outra hora, Tereza.
10:14Outra hora quanto?
10:15É depois do meu casamento?
10:17Pelo menos estavam todos mais calmos.
10:20Eu amo o Carlos, mamãe.
10:22E dizes isso sem um pingo de vergonha, Tereza.
10:26Amar a isso já é prova de teu desespero.
10:28E o que o amor tem a ver com o casamento?
10:32A minha mariova, desde o primeiro momento que eu vi, acabei me casando com você.
10:37Você é gorda.
10:38Eu não quero ser infeliz como vós, mamãe.
10:41Você fala alguma coisa, Carlos?
10:44Isso não é jeito de se falar com a mamãe.
10:47Para seres infeliz como eu, ainda tens que aprender muito.
10:52És uma idiota e não sabes reconhecer o que é o sofrimento.
10:56O que é isso, papai?
10:57Peraí, ó.
10:58Isso eu não aceito, hein?
10:59Perdão, majestade.
11:01Não era a minha intenção.
11:02Papai, eu não me caso.
11:05A casa é isso.
11:06Casa é isso, enfim.
11:07A casa é carlatinha.
11:08Casa ou não casa?
11:09Ela está querendo recusar um casamento com um dos maiores tronos da Europa
11:13por causa deste projeto rejeitado de homem.
11:20Ah, filhotinha, que decepção.
11:23Filhotinha, que decepção.
11:25Mas é que eu amo tanto o palpito.
11:28Tu amas muito?
11:30Muito.
11:30Amas mais mesmo?
11:31Muito, muito, muito.
11:32Então casas com esse aí, pronto, hein?
11:36Obrigada.
11:38Vamos embora, vamos embora daqui.
11:39Porra aí.
11:40Vamos, vamos, vamos.
11:41É inacreditável que não consegue.
11:43nem casar uma filha com o homem que prometestes.
11:48Imagina tomar conta de um país.
11:51Eu deveria ter conspirado por Pedro mesmo, sabe?
11:55Ele fechou a constituinte que queria impingir-lhe menos poderes
11:59e que eu outra lei do próprio punho.
12:01Padrinho, meu filhado padrinho.
12:02Mas viu, carlatinha, viu como nossa filhinha ficou feliz, hein?
12:07Preciosa minha.
12:07Paraes de reclamar, hein?
12:09Paraes de pufar e me sirva mais, pelo amor de Deus.
12:11Meu chazinho.
12:12Espera, João.
12:13Estou com o meu chazinho.
12:17Ave Maria, gratia plena.
12:19Benedita estu in molerebuns ad beniturus, ventre tu e jesuo.
12:24Santa Maria, mater dei.
12:27Surpresa.
12:27Mas o que é isso?
12:31Se um dos meus filhos entra aqui, todo inocente, papai, papai, e dá de cara com esta, com esta, com esta linda, digo, com esta afronta.
12:44Não, menina, fora daqui.
12:45Fora daqui.
12:46Fora.
12:50Fora.
12:51Fora.
12:52Fora daqui.
12:53Fora daqui.
12:53Vai, fora.
12:54Fora.
12:55Fora.
12:55O que fazes aqui, mulher?
13:08Ah, não apareceste mais lá em casa.
13:11Todos a imaginar-te, viúvo, triste, vim dar a voz.
13:16Minha solidariedade.
13:17Sim, estou triste, pela falta de respeito.
13:21Esta é a cama da falecida.
13:22Pois então deve ser muito forte e aguenta aquela posição da borboleta, lembra?
13:26Que quebramos uma cama fazê-la.
13:28Mas o que tens na cabeça?
13:30Minha filha, por caridade.
13:32Olhas pra mim e o que vês?
13:35Um viúvo, corroído pela dor e pela culpa.
13:39Companhia só quero para rezar o terço.
13:41Pois eu vou ficar linda, nua, só usar um terço.
13:46E suas mãos a percorrer, etapa por etapa.
13:51Plácido!
13:52Plácido!
13:53Plácido!
13:54Que esta mulher tá aqui, Plácido!
13:57Por caridade!
13:58Como deixas essa pecadora entrar num quarto de uma seta?
14:01É, viúvo.
14:03Bom, se tínhamos de aproveitar as raras folgas que a Imperatriz lhe dava quando saía,
14:07aí pensei, se agora temos uma bela folga...
14:10Não tolero tal desrespeito!
14:12Se encontrar outra mulher que seja aqui!
14:16Tu serás o responsável!
14:21Por quê, senhor?
14:22É viúvo.
14:23Estou de luto, compreendes?
14:25Sim, senhor.
14:26Vou ter por Leopoldina o respeito que lhe fiquei devido em vida.
14:29Nada de mulheres!
14:30Pobre das cabritas do reino.
14:32Peripso, et punipso, et inipso, estibideu omnipotente, hominisonur et gloria, per hominia secula seculorum.
14:44Amém!
14:45Amém!
14:46Uma luta, plástico, é o que eu preciso para descarregar as energias.
15:01Quebrar umas caras, torcer uns braços.
15:03Pensava justamente em vós, imperador.
15:05Estas são as eslovacas lutadoras que chegaram ontem à corte.
15:08Única trupe de mulheres lutadoras do mundo.
15:11Já sabem que o nosso imperador gosta de lutas.
15:13Ah, que bom.
15:16Ai, que não vi a hora de brincar com essas coisinhas.
15:30Do que que está se brincando?
15:31Tipoca no pasto, imperador. Elas adoram.
15:33Ah, então chegou o touro do pasto.
15:37Uuuuh.
15:46Eu, eu, eu, eu.
16:09Leopoldina, sei que estás aí
16:17Ouviste minhas promessas, não foi?
16:22Só que estive a pensar
16:23Como aceitavas a minha natureza generosa
16:27De espalhar filhos por aí enquanto eras viva
16:29Não vais mudar agora depois de morta, não é?
16:35Sabes que perco-me nas palavras
16:36Não te importa se quebre o meu luto, pois não?
16:47Se fores contra que quebre os meus votos
16:51Dá-me um sinal
16:53Até para cuidar das crianças
17:00Seria bom que estivesse mais calmo, mais tranquilo
17:04Tu sabes o que me acalma
17:07Deves ter boas lembranças aí em cima
17:10Posso, Leopoldina?
17:18Entendeste?
17:20Se és contra que encerre o luto de meu pobre corpo
17:24Dá-me um sinal
17:25É do Pedro
17:30Bem, já que não tens nada contra
17:34Vem aqui
17:37Vem aqui
17:38Vem aqui
17:51Vem aqui
17:53Vem aqui
17:55Música
18:24Música
18:54Ainda pego esteu vício pelo mar.
19:08Quem sabe não são as ondas a baterem em vossas partes a razão deste vigor recitado em verso e prosa.
19:13Gomes, mando te chamar com urgência há dois dias.
19:17Isso aparece quando mando plácido com dois homens.
19:18Quando chamas de Gomes é porque a coisa está feia. É sobre os artigos do Bonifácio.
19:23Não são mentiras. Sei que há anos recebe algum para facilitar os encontros de comerciantes comigo.
19:28Sempre fiz vista grossa porque não era dinheiro do erário.
19:30Mas agora passaste do limite. Sou um governante honesto que começa a se manchar pelos amigos.
19:34Que nunca mais vos mancharão.
19:35O que ele diz de domitir é verdade?
19:37O Bonifácio a odeia com certeza por escolher o vosso corpo magro ou aquela exuberância toda, pois não.
19:42Então prove a inocência dela.
19:45Mas há algo de errado na administração da fazenda.
19:48Por que as outras ao redor produzem 200 novilhos e a minha só 50?
19:52Por que só os meus é que morrem?
19:54Comitida, mais devagar.
19:55Ô Chico!
19:56Claro que ficas a almoçar é sempre um prazer receber convidados.
20:00Todos sabem que a casa do Castro sempre foi a mais generosa da corte.
20:05Porque a casa do Castro é a casa da Domitila, né? A quem todos exploram.
20:10Domitila, minha filha, modos, modos!
20:12Papai, olha a hora! Não devias estar na repartição?
20:14Depois crucificam a Pedro por ter te nomeado.
20:17Minha filha, trabalho demais, Marta.
20:19Então durarás para sempre, né, meu pai?
20:21Não se esqueça.
20:23Pedro ama a mim, não a ti.
20:24E nem tanto amor o faz ficar cego.
20:27Domitila, recebeste dinheiro para interceder sobre a amnistia?
20:31Eu? Nunca! O que é isso?
20:33E presentes?
20:35Ora, chalaça! Presentes vivo a receber.
20:38Coisas pequenas, mimos.
20:40Mimos? Se eu tenho mimos ou um macaco dançarino?
20:42E vou recusar o que me dão de bom grado, chalaça!
20:45Mas, por que esses presentes vão parar nos jornais e a reputação manchada é a de Pedro?
20:48E tu?
20:50Nunca recebeste nenhum presente, não.
20:54Um, o outro!
20:57Mas confesso-te, arrependo-me depois de todos eles.
21:00Mas foi dado de todo o coração.
21:04E é com ele partido que vos devolvou.
21:07As audiências com o Imperador agora seguem a fim.
21:09Eu vos compreendo.
21:10Mas eu tenho uma ideia.
21:12Podes guardá-lo a si mesmo apenas para uso.
21:14Ah, pois.
21:16Seria uma maneira inteligente de ultrapassar as mesquinherias de Bonifácio.
21:20Veja bem, no lasco.
21:21Mas não, não, não.
21:23Tem que devolvê-la porque é o amigo de César.
21:25Não gosta de ser honesto, tem de se parecer honesto.
21:29Até mais ver.
21:29Até mais ver.
21:31Tempos duros te aguardam, então.
21:32Tempos duros já chegaram, no lasco.
21:35Precisava destes mimos para pagar as dívidas que tenho até a terceira geração.
21:39Sou mão aberta por demais.
21:41Voltei de me entregar a um adiota.
21:48Empréstimo?
21:49Para o senhor Francisco Gomes?
21:51Mas ele é famoso por ter dificuldades em pagar as dívidas, ora.
21:55Quer pessoa melhor para o verde que o braço direito do Imperador?
22:00Oferece a ele a juros módicos.
22:02Por que não fazes tu isso?
22:05Um homem como ele não confiaria em entregar suas dívidas a uma mulher adiota.
22:10E depois ele poderia pensar em pagar-me com os bens que ele mais aprecia em si mesmo.
22:16E seria uma situação muito desagradável.
22:21Ah, Camargo.
22:23Poderia economizar-te mandando teus belos artigos por tua mais bela filha.
22:27Não, não, não.
22:28Mas ainda há aqui alguns detalhes para acertar.
22:31Como eu não sabia se o Imperador iria rebater as acusações do Bonifácio
22:35ou se iria endossá-las tornando-se assim ainda mais moralista que o chato.
22:40Escrevi duas versões para que eu escolhesse.
22:43Mas me largamos agora.
22:45Me larga.
22:46Olha quem eu peguei tentando vender essa joia.
22:49Estão, aliás, ficando louca?
22:51Meu brote da sorte.
22:55Um presente da própria rainha a um amado servo.
22:59Há 15 anos sabia que um dia ia tentar pôr tuas garras em meu bem mais precioso.
23:04Foi um engano.
23:05Estava juntando as minhas coisas e, de repente, isso apareceu lá.
23:10Ah, claro.
23:11Um broche de rubis é bem algo que se pega por engano.
23:14Sabes que ela estava pronta para partir da corte?
23:17Outro engano.
23:19Somes daqui.
23:20Coloco a milícia a toda tua cola.
23:22E chega que já estou farto de dizer que ia maus-humores.
23:25Que de tuas mentiras já estou farto.
23:27O que foi, jornalista?
23:28Estás a ficar branco?
23:30Hein?
23:30O, eu, não, não, é, é o calor, o calor.
23:36Rubis, rapaz, rubis.
23:39Rubis para nunca mais ter que me casar com anões, corcundas, índios.
23:43Rubis para eu resolver todas as minhas dívidas.
23:48Rubis carregam maldições, filha.
23:53Maldições inventadas pelos donos dos rubis para afastar os gatunos.
23:58Ai, não, esse rubi não pode ficar com aquele cava-geste.
24:05Tu falas como se...
24:07Ai, papai, então é melhor que eu me cale.
24:10Mas o que é que tens?
24:12Ai, estás a suar frio?
24:15Filha, tens prometendo que lá não pisas mais.
24:20E desde quando tu me das ordens, papai?
24:23Mas esses bolifácios não têm mais o que inventar a não ser calúnias.
24:26Está a dizer que Pedro transforma quem tem casa de orgia
24:29justamente quando está a viver a fase mais austera de sua vida.
24:31Ensinem a vossos maridos.
24:34Para retardar-se o inevitável,
24:36quando parece que a tempestade vai jogar com toda a sua intensidade,
24:40pensa-se em coisas tristes.
24:42Eu, por exemplo, lembro-me da dor de minhas costelas partidas.
24:48Aí o ímpeto da natureza é refreado e aproveita-se muito mais.
24:52Em que posso ajudá-los?
24:56Ai, que assim me afogas!
24:57Quem disse que não é este meu objetivo?
24:59Plácido, café, quero este homem só.
25:00Mas estou sóbrio como isso!
25:04Nenhuma gota de álcool pôs em minha boca!
25:06Descobri que o álcool só aparenta facilitar a prática do amor,
25:10mas que na realidade é uma âncora que facilita a gravidade,
25:15impedindo que o meu pássaro alça e voa.
25:17Depois do que acabei de ouvir,
25:20admira muito que vosso pássaro não tenha se esborrachado ao chão,
25:25acabado de tanto voar.
25:27Não leste, Bonifácio?
25:28Tentei, mas dorme no meio.
25:32Compara-te a Nero.
25:33Nero? Isso é uma injustiça.
25:35Nero era um cantor muito desafinado.
25:37E não faz cara feia.
25:39Sei que clama para que me case,
25:41mas é por pura vingança para acabar com o meu prazer.
25:44E fica a cenar com o cadáver da pobre Leopoldina.
25:47Que nada tem contra minhas diversões.
25:49Rezei muito para ela e senti que ela aceita minhas necessidades.
25:54Nota-se, nota-se que a alma dela está em paz.
25:57E teme que cases condomití-la.
25:59E quem está pensando em se casar?
26:00Estou muito bem, viúvo.
26:01Preciso de herdeiros.
26:03Mas se ele me acusa de não governar porque só faço filhos?
26:06Legítimos.
26:08Meninos.
26:08Já tenho um filho homem.
26:10E Maria da Glória será uma excelente rainha.
26:12Ontem mesmo deu-me uma bronca
26:15porque atrasei-me para levar à praia
26:17que lembrou minha mãe.
26:18Pedro, Maria da Glória pode ser rainha lá em Portugal,
26:20mas não aqui no Brasil.
26:21Uma terra nova,
26:23de gente retrógrada,
26:24que não aceitaria uma mulher.
26:26E Pedro II é muito jovem.
26:27Ora, pois.
26:28Reconheço os bastardos.
26:29Pronto.
26:29Está certo.
26:31Separa o bem de todos
26:32e felicidade geral da nação.
26:34Diga ao povo que caso.
26:35Ai, que a mula desempacou.
26:38Mas, Gomes,
26:39desta vez exijo uma esposa linda.
26:42Linda!
26:46Mas qual o problema?
26:48Se antes implicavam com o imperador
26:50porque era de regrado,
26:51agora implicam porque vai casar-se.
26:53E que vai ser com a cortesã,
26:55a Domitila.
26:56Não.
26:57Eu ouvi que o próprio Barbacena
26:58foi à Europa
26:59com a missão de encontrar
27:00uma noiva nobre para ele.
27:02E quem disse que Domitila deixa?
27:03Já deve estar a rastejar na quinta
27:05para garantir o seu lugar.
27:06Parem!
27:10Parem com isso!
27:13Estão a me enlouquecer!
27:14Parem com isso!
27:16Que crianças malucas!
27:18Parem com isso!
27:19Ai, meu Deus,
27:20mas o que é isso?
27:21Os guardas!
27:25Ai, Pedro.
27:26Imaginei que elas todas
27:27estivessem sozinhas,
27:28vim aqui,
27:29tu cheio das obrigações,
27:31pensei em diverti-las um pouco.
27:33Nota-se que estão a divertir-se.
27:34Tu é que talvez esteja
27:37a sofrer um pouco.
27:38É, imagina.
27:40Não tem nada melhor
27:40do que gastar-se tempo
27:41com crianças.
27:43Deixa eu me enlouque.
27:45Opa!
27:46Calma!
27:46Não, pera!
27:47Esperem, esperem,
27:48esperem, vocês...
27:49Não, esperem, esperem!
27:51Esperem!
27:52Esperem!
27:52Não estão a comer
27:54muitos doces, não.
27:55Estão...
27:55Estão excitados.
27:59Taremos muitos
28:00trabalhos
28:00às lavadeiras.
28:12Ai!
28:13Ai, desculpa-me,
28:15mas também chega assim
28:16em silêncio,
28:16parece até um criminoso.
28:18Mas o que, Ate?
28:20Nada que impeça
28:21o demonão de reinar.
28:22Mas a mim impede.
28:23Estou muito cansada.
28:25Bom,
28:28podes ficar quietinha,
28:29que o demonão
28:29cuida de tudo.
28:30Para!
28:32Estou a enjoar.
28:33Oi!
28:35Mas não me dizes
28:36que havia passado
28:37essa fase de enjoo?
28:39Voltaram.
28:42É.
28:43Neste caso,
28:45podia ao menos
28:46aquietar-me.
28:48Nada que te exija
28:48muito empenho.
28:49Só de pensar
28:50em tocar-te,
28:51minhas entranhas
28:52se revoltam.
28:53Essa é a história
28:54de casamento, não?
28:55eu toquei nesse assunto?
28:58Nem no assunto,
28:59nem em mim.
29:01Se pensas que me castiga,
29:03te enganas.
29:04Há uma senzala
29:05aí ao lado,
29:06pronta para atender
29:06minhas vontades.
29:07não é a outra que quero,
29:18quero a tia.
29:19E tu,
29:20o que queres?
29:21Sair da toca,
29:23ver a luz
29:23como qualquer uma,
29:25não ter vergonha
29:26de ser quem eu sou.
29:28Isso,
29:28queres que me case contigo?
29:30falas como se fosse
29:32a pior das torturas.
29:34É o meu sonho.
29:37Mas entre o sonho
29:38e a realidade,
29:39há um caminho
29:40muito longo...
29:40Que percorrerá
29:41sozinho.
29:43E nem adianta
29:44usar os truques
29:45de sempre.
29:46Não há nada
29:46que desanime
29:47mais uma mulher
29:47do que saber
29:48se destinar
29:48das sombras.
29:50Não há demonão
29:51num mundo
29:51que hoje
29:52me avive a paixão.
29:54Então,
29:55boa noite.
29:56desgraçado.
30:00Se paras agora,
30:01eu te mato.
30:26como a mulher
30:42mais linda
30:43da corte
30:43não vai ao quarto
30:44do imperador Lúbrico?
30:46O novo Nero?
30:47Larga.
30:48Não me chamo
30:48Domitila.
30:50Finalmente senti
30:50saudade de mim.
30:52Não,
30:53é que eu soube
30:54que seria mais útil
30:55aqui,
30:55já que está
30:56a faltar
30:56uma mulher
30:57para mandar
30:58nas escravas,
30:59já que as outras
31:00só sabem
31:01mandar em ti.
31:04Insônia.
31:06Desde que Lopudina
31:06morreu,
31:07acordo de madrugada
31:08para ver
31:08se as crianças
31:08dormem bem.
31:09Elas precisam
31:10de uma nova mãe.
31:12E vão ter?
31:14Também tens
31:14medo de Domitila?
31:16Não,
31:16eu temo
31:17que ela pode
31:17fazer a ti.
31:19É uma menina
31:20ambiciosa
31:21que tem o sonho
31:21de sentar-se ao trono,
31:22mas não é
31:23o monstro
31:24que a pintam.
31:24vais ter que
31:25livrar-te dela,
31:26não sabes?
31:27Talvez não.
31:28Barbacena está
31:29na Europa
31:29à procura
31:30de uma noiva.
31:31E quem diz
31:32que consegue?
31:33Minha fama
31:33corre à Europa,
31:34o imperador
31:35das mil amantes.
31:37Que casa real
31:37vai ceder-me
31:38uma filha?
31:39Aí não poderão
31:40acusar-me
31:40de tentar
31:40casar com uma nobre.
31:43Pensas
31:43mesmo em casar
31:44com ela?
31:45Deixa eu falar baixo.
31:46Não quero que ela
31:46saiba nada
31:46por enquanto.
31:47momento.
32:00Espera.
32:00O que foi?
32:01Acertaste meu olho.
32:02Perdão.
32:03Perdão.
32:09Perdão, senhor.
32:12Barbacena.
32:13Marquês de Barbacena
32:14do Brasil.
32:16Já pensaste
32:17em casar-te
32:18com um lindo
32:19e solitário príncipe
32:21de uma terra distante,
32:22mas moi,
32:23moi, moi linda.
32:24e no
32:29...
32:30a
32:32de
32:35t
32:35t
32:35t
32:36t
32:39Mas que feio, hein?
33:03Um gatuno a nos invadir.
33:07E terá que pagar por isso, meu belo rapaz.
33:11Eu deveria chamá-lo de conde.

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