Tudo começa em 1785, com a chegada da pequena infanta espanhola Dona Carlota Joaquina de Bourbon a Portugal para casar-se com D. João VI, que à época atendia por Infante Dom João de Bragança. Já em 1808, após muita indecisão, D. João VI resolve transferir a corte para o Brasil, para fugir dos ataques e do poderio bélico de Napoleão Bonaparte. Em paralelo à história dos monarcas, se desenvolve o romance da donzela Manoela com Francisco Gomes, o Chalaça - um dos melhores amigos de Dom Pedro de Bragança.
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DiversãoTranscrição
00:00A CIDADE NO BRASIL
00:30Enquanto isso, o príncipe herdeiro continua brigado com seu pai, Dom João.
00:41O velho rei já está arrependido de ter brigado com o filho,
00:45mas logo percebe que, maior que sua paixão por mulheres, só a teimosia de Dom Pedro.
01:00A CIDADE NO BRASIL
01:10Precisava rasgar minha blusa de Espanha?
01:14Precisava ter me arranhado com tuas garras. Vê lá se não estão marcadas minhas costas.
01:18Cara, francamente, tens as costas largas. Espaço suficiente para as outras te riscarem.
01:24E nunca pensas que essa é especial.
01:25Jamais tive tal pretensão, Alteza.
01:28Sabes que te reconheci porque tenho excelente memória de...
01:32de faces.
01:33E tampouco esperas presentes de mim de novo.
01:36Nunca foi homem de ilusões, Alteza.
01:38Quem me dá presente são as viúvas solitárias e as rameiras românticas.
01:42Reis e rainhas tomam tudo de graça, pois acreditam-se dono de todo o mundo.
01:50Valência. Acredito que isto aqui...
01:55Se chama eu, hein?
01:57Ah, estava aqui.
01:58E de tu ninguém é dono.
01:59Ao contrário.
02:01É só me dar um prato de comida que pode requisitar posse.
02:12Eu não quero de volta a camisa que usava quando prenderam-me.
02:23Não sou um príncipe para andar por aí desnudo.
02:25Eu aceito camisa. Vai que a rainha te libertou.
02:27Se ela pensar que eu estou a desafiar suas ordens...
02:29Não!
02:29Não, não!
02:31Não, nem que me torturem!
02:32Nem que me matem!
02:33Não!
02:34Não, que este homem não sente!
02:36Ele não fez nada.
02:37Eu não posso ver com essa culpa.
02:38Entende-se.
02:39Isto não é lugar para uma dama.
02:41Veja que ponto descei só por conhecer.
02:43O que ele fazia era com o meu consentimento.
02:45Venha!
02:46Leva-o daqui porque nada fez.
02:47Vamos!
02:48Vamos!
02:49Venha!
02:52Estás pálido.
02:54Ai, bateram-te muito lá.
02:56Nem sabes o quanto.
02:57Nem imaginas o quanto eu apanhei agora mesmo.
03:00Enfrentaste tua família por mim.
03:01Ai, não consigo enfrentar, Mariana.
03:03Mas também não vivo sem ti.
03:06Podemos ser discretos por hora.
03:11É melhor.
03:15Com o tempo irá-me nos aceitar.
03:17Ai, custa esse minuto.
03:23Bem reconhecido.
03:33Nem tudo está perdido, eu não lasco.
03:35Deixo-a tão apaixonada que o implorará para o próprio Papa casar-nos.
03:39Mas como vais viver sem os favores de mil mil...
03:41E quem disse que sem eles ficarei?
03:43Comigo não dormes nunca mais.
03:45No meu quarto não entras nem para teu próprio velório.
03:48Ah, mentes.
03:50Me deixas preso que devia estar-me ofendido.
03:53Algumas das meninas, talvez.
03:56Perdão.
03:57E incomodar-te saber me abufar sobre teu teto com outra?
03:59Incômodo algum?
04:04Não tens essa importância.
04:07Mas tens que pagar adiantado.
04:14Tenho crédito com a Jurema.
04:16Uma sangria que ele fez.
04:17Não, não, não será necessário.
04:27Agora, conheço-a bem.
04:31Um, dois e três.
04:34Eu chamei-te mal.
04:42Muito mal.
04:46Ai, desde o fim da tarde já botei até a alma para fora.
04:50Vê como geme.
04:52É coisa séria.
04:53Comendo qualquer coisa depois de criado com tudo de bom e do melhor.
04:57Vive aí desnudo.
04:59Ai, não.
04:59É mal dos pulmões.
05:01É dor de barriga.
05:02Não seria um daqueles males.
05:05Aqueles que se pega pelos baixos.
05:07Ele não para.
05:08Escrava, condessa, meretriz, freira.
05:11Chamamos o médico.
05:12Eu não tenho dinheiro para médicos.
05:13Tu pagas?
05:14Por favor, tenha bondade.
05:17Não é melhor chamar-lhe a mãe?
05:18Olha como soa.
05:20A mãe nunca gastou um sorriso com ele.
05:24O pai.
05:26É melhor chamar-lhe o pai.
05:28Ai, que eu vim de novo.
05:30É por paixão por si.
05:31A noite toda.
05:33Ai, Jesus.
05:35Deixei-o finalmente a dormir.
05:37Mas também nem há mais o que sair daquele corpo.
05:39Só a alma.
05:40Mas ele comeu alguma coisa.
05:41O que ele comeu?
05:42Nada.
05:43Mas também seria perda de tempo.
05:44Que é válvulo.
05:46Então é seríssimo.
05:48Mas o que é que tu me avisaste antes?
05:50É bom que esteja doente mesmo.
05:52Porque se pego o Pedro fornicando outra vez, eu castro ele.
05:56Meu príncipe, só hoje descubro o vosso paradeiro.
06:02Estou louca sem poder tocar.
06:04Calma lá, calma lá, que a coisa está feia.
06:06Eu estou depauperado.
06:07Vários por aí, Lu.
06:08É sempre um risco.
06:10Olha só nele que pensas.
06:11Só isso para ti?
06:12Claro que não.
06:14Ai, santa, tá ávida.
06:15Essas mãos sábias.
06:17Ai, não te negues a mim, que já muito sofri.
06:19Ai, estava eu.
06:22Quase a ver as nuvens de cima para baixo.
06:23Achas mesmo que posso dar-te esse tipo de atenção?
06:26Desde quando é capaz de negá-la?
06:29Desde que estou fraco, incapaz de erguer-me.
06:32Estou mais para a extrema unção do que para o pecado.
06:39Se o padre vos pega nesse estado, vades para o inferno.
06:43Eu.
06:43Mas se querias que me vá...
06:45Não, não, não.
06:46Não é.
06:47Já aqui fizeste essa jornada toda, não é?
06:53Mas o que é isso?
06:59Não tens nada melhor para fazer, não?
07:00Espera.
07:01Não, espera.
07:02Espera, espera.
07:02Pedro.
07:03Espera.
07:05Mas, porra de ele, meu padre.
07:09Reduzi meu plato ao mulão, foi aí?
07:11Ei, minha majestade.
07:12Olha só como treme.
07:14Pedro, meu filhinho.
07:15Papai veio salvar-te, filho.
07:17Ai, plato.
07:19Eu queria que...
07:21Onde foi?
07:24Pedro!
07:28Pedro, Pedro.
07:29Agora não faço.
07:31Tenho que embarcar o navio e lavo o cara até ele zapar.
07:33Se meu pai me pega agora, corta-me o predinho no mínimo.
07:35Pedro, não.
07:36É sério.
07:37Edu, Miguel teve uma queda feia do cavalo.
07:42Miguel.
07:44O que seites?
07:45Chamaram o médium?
07:46Examinou-me.
07:48Mas não teve coragem de contar-me.
07:50Foi o Artigas?
07:52Mato aquela bênção de contadas!
07:55Tu já tinhas me avisado pra não confiar nele.
07:58Só permite que tu o montes.
08:02É mais um que prefere os defeitos de Pedro às virtudes de Miguel.
08:06Ô, Miguel, é só um cavalo.
08:08É quem entende de virtudes e ninguém prefere a mim.
08:11Só todas as mulheres do mundo.
08:13Por que és tímido?
08:14Quando começares a disputá-las comigo, quem resistirás a essa tua cara de poeta romântico?
08:20Eu vou parecer só um cavalariz que sou.
08:23Se ficar paralítico, promete que me matas.
08:26Ah, Miguel.
08:27Um tiro só de misericórdia, como aos cavalos.
08:30Sim.
08:30Viu?
08:32Podemos economizar o seu tiro.
08:36Ai, Jesus!
08:37Nós dois filhinhos doentes!
08:40Não só pode ser um castigo por minha soberba!
08:43Sai da frente, Miguelito, filhota!
08:46Estás a enxergar-me, hein?
08:48Enxergas, papito!
08:49Pai, ele só caiu do cavalo, não com a cara numa lança!
08:52Culpa tua!
08:53Que instigas os cavalos a correr feito louco, já!
08:55Não, filhinho, filhinho, pedrinho, não vá, não vá, pelo amor de Deus!
09:00Eu não quero outro filho a tomar por aí, filho!
09:02Pelo amor de Deus, não vá!
09:06E o médico?
09:08Estavas com ele?
09:09O osso nem partiu-se.
09:11Está é todo lanhado.
09:13Não vai poder sentar-se por algum tempo.
09:15Ai, Jesus, graças a Deus!
09:18É, meu filho, isso são trajes!
09:22Estava desesperado, ia lá pensar em roupa?
09:24Porém, tendo teu desapego por roupas.
09:26Perdes menos tempo entre uma fêmea e outra, não é verdade?
09:29Pedro, peguei três vezes a fornicar por aí, filho!
09:32E por três vezes não me deixas terminar.
09:35Vai ver que é disso que fui doente.
09:38Pensa que isso não faz mal, um homem.
09:41Vai negar que as três eram lindas.
09:42Nego de sensatez, pudor, tudo!
09:45Menos gosto, Pedro!
09:47Que peitos tinha condessem!
09:50E as ancas da escrava, papai?
09:52Já viste iguais?
09:53Me agradam as bem passadas também, filhote!
09:56Você queres que eu fique?
09:58Por que não me pede-se?
09:59Tu és bem filho da tua mãe, Pedro!
10:03Dá-te um abraço, filhote, também!
10:05Tchau, filhote!
10:09Tchau, filhote!
10:10Amém.
10:40Amém.
11:10Amém.
11:22Morre-se de tédio aqui, não?
11:26E não adianta resmungar.
11:28Só parto com o meu filho recuperado.
11:32E o outro ficou...
11:33Ele é o príncipe herdeiro novamente.
11:35Me pediu perdão.
11:36Longe da vista de todos. Que orgulhoso menino!
11:39Eu sei bem o quanto pediu.
11:42Mas é melhor assim.
11:44Vai dar menos trabalho, sabe?
11:47Se ele está aí...
11:48Hoje ele fica.
11:49Hoje ele fica.
11:50Ordenei uma gripe aos cavalos.
11:51Estão todos recolhidos.
11:54Hoje ele está quietinho na cama, dormida.
12:07João?
12:09Sabes muito bem o que deves fazer, não?
12:12Temos de casá-lo...
12:14Rapidamente.
12:15É com grande júbilo que recebo a incumbência das tratativas de casamento do príncipe Pedro.
12:22Sem dúvida não faltarão famílias interessadas em aliar-se a nosso grande reino.
12:28O único problema é a distância, já que ficastes no Brasil.
12:31Se houvessem verbas para presentes, talvez fossem...
12:35Quanto que vossa sabedoria e encanto serão maiores que o oceano e convencerão uma das grandes casas reais a unir-se ao filho de Portugal e Espanha.
12:46Isso sem falar no gigantesco Brasil, onde o ouro aflora sozinho a terra, cansado de esperar que o pegue...
12:54São ótimos os entendimentos com a casa da Áustria.
12:57O rei Frederico examina a ideia de conceder tal júbilo a uma de suas filhas.
13:03Mas não seria o caso de consultar Pedro?
13:06Dizem por aqui que o rapaz é um tanto voluntarioso.
13:10Desenhei a máquina num rigor mais científico.
13:13Não é uma maravilha?
13:15É, pra quem gosta de torturas, deve ser o paraíso.
13:19O funcionamento é simples.
13:21Apoio-me aqui, nesta prancha, os pés aqui, agarro esta barra e projeto adiante assim.
13:28Ah, e levantas aquelas pedras.
13:31Exatamente.
13:32E não seria mais fácil pegá-las com as mãos?
13:35Aí seriam outros músculos a serem exercitados.
13:38A força se concentra no meu peito.
13:40A repetição faz os músculos se desenvolverem.
13:43Parece mais uma galinha tentando pôr ovo.
13:47Pedro, meu filho, precisas escutar-me.
13:49Ouço com os ouvidos, papai.
13:51Falar-vos à vontade.
13:52Tenho novos encargos pra ti.
13:54A partir de agora vais cuidar da fazenda de Santa Cruz,
13:57da escola de treinamento das armas e do banco do Brasil, hein, avó?
14:00Ótimo! Fique certo que não vos decepcionaria.
14:04E do... do casamento?
14:08O que disseste, papai?
14:09Não ouve...
14:11Fala para fora, papai!
14:13Do teu casamento, pinhão!
14:15Casamento?
14:17Acude, o príncipe! Eu tô preso!
14:19É o príncipe!
14:21Já disse que estou bem, me deixa.
14:22Ainda morres com essa ginástica, Pedro.
14:24Ainda morro com meu pai a tramar pelas minhas costas.
14:26Não me caso, meu pai, não me caso!
14:28Como não se casa, Pedro?
14:29Todo mundo se casa!
14:31Eu sei que um príncipe tem obrigações,
14:32que sua vida não me pertence,
14:33mas casar...
14:35Pai, ainda sou tão jovem!
14:36Pedro, estás a cair de maduro, Pedro.
14:38Na tua idade eu já tinha casado com tua mãe, homem!
14:41Enfio no que teu!
14:43Pra que casar-me, pai?
14:44Para dar-me netos, Pedro.
14:46Se for por isto, é questão de procurarmos por aí.
14:50E se for verdade o que algumas mulheres disseram...
14:51Herdeiros, Pedro!
14:52Não bastardos!
14:53Já até mandei vir a noiva, é?
14:55O quê?
14:56Já até mandei vir a noiva, Pedro!
14:58Pois manda de volta!
14:59Aviso a marinha e ela afunda qualquer embarcação
15:01que da costa se aproximar!
15:03Agora até tu tá com medo de mulher, Pedro?
15:06De mulher, não!
15:07De esposa!
15:09Pensas que não sei de onde tiraste tal ideia?
15:11Queres castigar-me?
15:12Pronto, agora estás com minhocas na cabeça, Pedro!
15:15Para esta!
15:17Para esse foco, desce, homem!
15:18Tu estás com a barriga deformada!
15:21É o meu castigo por ser feliz!
15:23Por não negar-me ao prazer de uma boa fêmea!
15:25Mas não te negas!
15:26Não te negas!
15:27Atira-te a elas como um esfomeado, Pedro!
15:30Olha que no caso da Condessa,
15:31ou no caso da Condessa, eu fiquei com...
15:34Eu fiquei com...
15:36O que não é de todo mal, não é, pai?
15:38As pessoas estão dizendo que eu...
15:41Chega, Pedro!
15:42Casa-te!
15:43Não te abrasas!
15:44Se bem que no teu caso, tu não te abrasas!
15:46Tu incendeias a cidade toda, Pedro!
15:48Se pelo menos tu tentasse conter, meu filho!
15:51Eu tento, meu pai!
15:53Mas aí...
15:54Eu passo uma cheirosa...
15:56Um quadril a balançar...
15:58Mas eu mudo, meu pai!
15:59Muda!
16:00Eu juro que mudo!
16:01Com certeza!
16:02Provo que posso viver sem mulher!
16:03Prova-se!
16:04Mas não para sempre, claro!
16:06Um mês?
16:08Um mês?
16:09Certo!
16:12Fico um mês sem mulher...
16:14E tu me liberas desse maldito casamento!
16:28Dois dias já!
16:30Espantoso!
16:31Mas ele não aguenta!
16:32Eu sei que ele não aguenta!
16:34Eu sei que ele não aguenta!
16:36E eu sei...
16:39Oh...
16:40Tá sim!
16:41Tá sim!
16:43E aí...
16:44E aí...
16:45Eu sei que ele vai me que eu queira!
16:47E aí...
16:50Aqui que eu queira, eu sei que esse homem..
16:51E aí...
16:52Aqui que eu...
16:54E aí...
16:56Eu sei que ele vai mudar!
16:57O osso é companheiro do vício.
17:14Força, Pedro! Força!
17:27Meu, meu, por caridade!
17:32Não! Vós mesmo exigiste que não te deixava entrar aqui por um mês.
17:37Não importa a súplica.
17:41Por Cristo, é um homem desesperado que te implora.
17:45Meu, meu!
17:57O príncipe não devia estar em casa?
18:11Desde quando esse lugar tem tanta vigilância?
18:13Desde que o rei nos ordenou?
18:16Boa noite, príncipe.
18:27Miguel! Miguel! Miguel!
18:43Três de salvar minha vida.
18:44O que foi? Sentes alguma dor?
18:46Muita! Muita!
18:47Eu não aguento mais.
18:49Vigiam cada um dos meus passos.
18:50Assim eu vou morrer.
18:51Pedro!
18:52Só tu podes aplacar meu desespero.
18:53De que maneira?
18:54Vai até a senzala.
18:55Pega uma escrava e traz pra cá como se fosse pra ti.
18:58Não é meu costume.
18:59Nem o meu bater em meu irmão, mas o faço.
19:03Ô, Miguel!
19:04Vai lá!
19:05Vai lá e escolha uma bem bonita.
19:07Uma de...
19:08De peitos grandes.
19:09Não! Não!
19:10Bunda! Bunda firme!
19:12É.
19:13Não.
19:14Vai lá e traz qualquer uma.
19:16Sabe há quantos dias não tem uma mulher?
19:19Dez! Dez!
19:20Eu não tenho desde que eu nasci.
19:22Mas depois eu é que sou louco.
19:25Perdão, mas está a faltar um baúzito.
19:44Tudo isto?
19:46Só porque eu pedi que carregassem as minhas coisas e dissessem que eram meus criados.
19:53É.
19:54É muita honra.
19:56Tretar as festas de perto.
19:57Tretar as festas de perto.
20:27Nossa, tem uma cortina rasgada, isso faz uma impressão.
20:39Ai, papai! Papai, o que é isso?
20:42Isto é uma dança nova. Estou a ensinar-te o que é isso.
20:47Devia-se ter feito um arranjo deste na nossa casa
20:51pra ver se afastava os credores.
20:53Ai, papai, que falta me fazes.
20:57Ah, mas é justo neste pé.
20:59Vem cá, senta aqui.
21:01O que foi que aconteceu com esta fase?
21:03Parece que foi atacada por uma tribo de visigotos.
21:06Tudo arrebentado, tudo abandonado.
21:09É, eu sei que assim, à primeira vista, resulta uma má impressão.
21:15Mas, vendo de perto, percebes que é pior ainda.
21:19Esse teto só não cai de preguiça.
21:21Mas o que é que abateu-se sobre esse lar? A peste?
21:25A peste do meu marido.
21:29E esta criança tão linda? É a minha neta?
21:32Vem-se, Isabel. Salut ton grand-père. Vem.
21:35Anda cá. Aproveita aí. Ajuda o vovô a erguer-se.
21:39Ah, filha.
21:41O que é isto?
21:42Oh, filha.
21:43Puseste uma canibã no mundo?
21:46Uma legítima desuazô.
21:48O que é que tens aí no rosto?
21:50Nada.
21:51Deixa eu ver. O que é que o escondes, hein?
21:53Ah, foi uma queda.
21:54O que? Uma queda?
21:55Ah, de certo uma queda em cima do punho do teu marido. Foi isso?
22:00De onde é que anda esta aberração da natureza?
22:06Aqui, logo atrás.
22:09Aqui devemos tão augusta visita.
22:13Vieste atrás de um outro empréstimo.
22:16De quantos cobradores fugiste correndo de Portugal desta vez?
22:20Não.
22:21Perdeste a viagem.
22:24Você é June, amante do meu marido.
22:27E de agora em diante fica com os teus aposentos.
22:30Tira tudo, ou eu mesmo tiro pela janela.
22:34Aproveita que o canil é bem grande.
22:40E ficas quieta? Por que ficaste?
22:46Porque o destino é meu companheiro de viagem.
22:49Não meu adversário de luta.
22:51Eu estou no inferno, papai.
22:53Mas eu estou com a Odessa.
22:55Ele pode fazer o que quiser.
22:56Que daqui eu só saio morta.
23:16No início enganou-me da semente.
23:19Depois foi a queda.
23:23E para de olhar essa sopa como se fosses uma hiena.
23:26Tu mesmo me ensinaste.
23:28Perde-se tudo.
23:29Menos a dignidade.
23:31O canto do monde du vin.
23:34De Chandel.
23:36E de La Cire Chaudelaire.
23:38Vite, vite, vite.
23:39Vite, vite, vite.
23:42Mas para que diabo?
23:43Ele acha que ele ia ser daqui, hein?
23:44Ah, papai, então não tens imaginação?
23:47Esse homem é um monstro.
23:49No começo me assustei.
23:50Mas depois fazer o que?
23:52Cedir?
23:55Só que nenhuma concessão bastava.
23:57O que ele quer, papai, o prazer dele é me humilhar.
24:00Mas é esse ponto que tens que fugir.
24:02Eu vou fugir para onde?
24:03Para aquele reino das dívidas?
24:05Aqui pelo menos o inimigo é um só.
24:07E eu sou condessa.
24:08No fim, é tudo culpa minha.
24:10Uma vez endividado, o ano todo apedrejado.
24:13Culpa minha?
24:15Eu é que devia ter engolido meu orgulho e casado com Maria Alva.
24:18Ah, porque por sinal passou por maus bocados
24:21quando o Napoleão virou fumaça.
24:23Muita sorte.
24:24Porque não se dispostou no Dom João.
24:26Se eu aprendi algo é que a vida não volta atrás.
24:28Meu marido não há de durar muito com essa sua vida dissipada.
24:33E é melhor sofrer com o Dessa que rir na miséria.
24:39Gene pediu o teu vestido para si.
24:44Não faz sentido. Ela é maior que eu. O vestido vai rasgar.
24:46Não seja por isso.
24:51Ah, não. Não houve, cara.
24:54Como diz o ditado, em briga de marido e mulher, não é?
24:58Mas se eu for, eu não vou passar.
25:03Porque meu coração é de Deus.
25:09Ai! Ai, ai, ai. Tá muito dura. Machuca-me.
25:14Perdoe, Inês. Mas são as imposições da carne.
25:17Não. Estou referindo-me aqui às grades da igreja. Ai, que eu ia ter pecado.
25:22Não, Inês. É sinal que nosso amor é abençoado.
25:28Ai, ai. Ai, ai.
25:29Já perdi três missas seguidas.
25:31Inês, precisa receber-me em tua casa quando tua filha não está.
25:34Este fogo está queimando-me todo.
25:38Amanhã. Amanhã. Amanhã.
25:40Amanhã. Nós vemos, amanhã. Amanhã.
25:43O que é isso?
25:45Ai, estás louco?
25:46Louco fica sendo subido e chasta a escada.
25:49Não posso. Eu tenho hora marcada na cidade.
25:51Não importa se desmarca-se.
25:52Cheira á alegria.
25:54Por que gostas?
25:57Ai, mas larga.
25:58Larga.
26:00Te espero aos três.
26:01Lá em casa.
26:02O que que te deu?
26:03Vem cá. Te espero aos três. Lá em casa.
26:07O quê que te deu?
26:09Pareces um garoto nos últimos tempos.
26:16Ai, meu dente, não aguento.
26:18O que foi? O que tanto geles? Ó, infeliz. Deixa cá ver.
26:21Ai, tô doendo.
26:22Ah, não tens nada. Vai, vai, vai.
26:24Vai-te embora.
26:25Aqui está a doerda. Então só me volta isso aqui quando estiver na beira da morte.
26:28Aquela tua condição estava sua viúva.
26:30Aquela mulher ainda me mata, não lasco.
26:32Pior é que ela se diverte.
26:34Muito. E eu já fico cá nesse padecer.
26:36Xalaça!
26:37Faz roupa e xalaça.
26:39Xalaça?
26:40Cristo!
26:41Um barão é esperancioso.
26:43Gostava ter ficado mais tempo com o homem.
26:45Ah, eu faço o que posso. Mas ele é tão ligeiro.
26:48É assim que consegues essa estampa?
26:50Ora, vou lá ver a viúva com meus trapos.
26:52Pior é que minha castidade e meu comedimento a encantam.
26:55Mas não há de ficar assim pra sempre.
26:57Não lasco. Há de ter um jeito de fazer a casa assim comigo.
26:59O senhor Gomes.
27:01O meu aluguel. Esqueceste.
27:03Se me der tempo pra alinhar-me.
27:06Ah, eu quero saber do seu elemento.
27:07Eu quero o meu dinheiro que comigo já devia estar.
27:10Pois não, cá está. Só não mandei antes do que esperar na vossa visita.
27:14Sente falta aquela do amigo.
27:16O dinheiro que estava...
27:19No lasco, o dinheiro que estava aqui.
27:21Não vi.
27:22Não mandei tomar conta da botica?
27:23Mas não. Só sabe ir lá fora ver os decotes.
27:25Não tens outra coisa na cabeça.
27:26O dinheiro todo e o trabalho de um mês que economizei, homem.
27:30Não te preocupes que o senhor irá receber.
27:32Tinhas o dinheiro?
27:34Tinhas o dinheiro?
27:35Tinhas o dinheiro?
27:36Tinhas o dinheiro?
27:37Se eu estivesse, precisaria dos gritos, não no lasco?
27:39Já sei.
27:40Levo a guta do azulão.
27:41Digo que lá deu pra aparecer uma Nossa Senhora aí.
27:43a emprego.
27:44Quero ver grávida terá que casar-se comigo.
27:45Aquela velhinha, acho que nem tu consegue.
27:46Não, mas acalma um chá que reproduz tais sintomas.
27:47Onde está a raquinha?
27:48Será que crê que venha aí um francisquinho?
27:49Estou feito.
27:50Eu já disse que é o diretor dessa meróquia e que eu não me entrego.
27:51Pra isso me pagam.
27:56Não precisarás de entrega.
27:59Número que tem que cerró.
28:00Não é a rapa.
28:01Quero ver grávida terá que casar-se comigo.
28:02Aquela velhinha, acho que nem tu consegue.
28:04É um desacalma um chá que reproduz tais sintomas.
28:07Onde está a raquinha?
28:08Será que crê que venha aí um francisquinho?
28:09Estou feito.
28:10Não adianta!
28:13Eu já disse que ao diretor dessa meróquia eu não me entrego.
28:16Eu me entrego. Pra isso me pagam.
28:19Não precisarás entregar-te nem a ele, nem a homem algum.
28:23Abriu-se o testamento de Sussu e houve uma grande surpresa.
28:27A mulher era rica. Muito rica.
28:30Bem que eu reclamava que vocês eram caras demais.
28:33E eu com isso?
28:34Está comprada a tua liberdade.
28:36Afinal, quem achas que ela nomeou sua herdeira?
28:41Estás bem, Manuela? Eu queria visitar-te, mas...
28:44O lugar está sujo.
28:46Roubaram todos os escovões.
28:51Esse pano aqui está rasgado. Não há uma para costurá-lo.
28:57Seu cabelo está muito sujo, querida. Vá lavá-lo.
29:00Se queremos clientes nobres, temos que parecer nobres.
29:04Imploro o teu perdão.
29:06Sabes que não fiz nada por mal.
29:07Queres trabalhar pra mim?
29:08Quero.
29:10Serei tua melhor funcionária.
29:13Fora! Fora de minha casa!
29:15Anjo, sou hipócrita!
29:17Vá procurar nomes de vocês!
29:19Não tenho para onde ir!
29:21Assim morro de fome!
29:24Pois quem morra, o mundo ficará muito melhor sem ti!
29:27Boas tardes!
29:31Queria ser o primeiro a dar-te os parabéns.
29:35As notícias voam.
29:39Francisco, continua no Rio de Janeiro?
29:41Sim, continua.
29:42Queres que eu vá para lá?
29:43Não.
29:44Não, agora sou uma mulher rica.
29:46Eu é que vou para o Brasil.
29:48Arruma-me um lugar no navio e rápido.
29:49E folhinhas de alecrim, das pequenas, que é para pôr entre as roupas e atrás da orelha.
29:55Dá um ótimo perfume.
29:57Ah, essa eu não conhecia.
29:59Alecrim.
30:01É costume de Trás-os-Montes.
30:03Um amigo com o Tommy.
30:05Um amigo.
30:05Senhora, temos que nos falar.
30:08Ô, Baiana, vá ver se mil mil está para chegar.
30:11Disse-me que chegava às três.
30:12Está a demorar.
30:13Para que perder tempo também?
30:23Seria este o seu casto amigo do Alecrim?
30:28Inês!
30:29Inês!
30:30Inês, minha paixão, volte!
30:35Por que tamanha traição pelas costas?
30:37Inês, tive um mau súbito.
30:43Desmaiei quando me dei por mim.
30:44Estava num quarto estranho, Inês!
30:50Não faça isso!
30:52Não!
30:52Não!
30:53Sabe quanto mesmo é aluguel que tu me deves?
30:55Sem dinheiro?
30:56Sem teto?
30:57Não!
30:58Assim me distrares tudo!
30:59Não faça assim!
31:00Não!
31:02Mil!
31:03Mil!
31:03As minhas coisas!
31:08Não!
31:10As únicas coisas que tenho nesta vida!
31:12As únicas que consegui me morrer!
31:14Não tem isso!
31:16Estava bem!
31:20Pelo visto, eu chego em boa hora.
31:23Tenho na proposta a fazer-te.
31:25Vinte dias!
31:27Nunca pensei que fosse tão turrão!
31:29Está num mau humor de não se chegar perto!
31:31Vão ter que forçar a mão!
31:34Filhota!
31:36Vem comigo, lobato!
31:38Hominho!
31:40Disseram-me que estavas doente!
31:41Dor de cabeça, meu pai!
31:43Fortíssimo!
31:44Não seria a solidão apesar-te?
31:46Nestes casos, uma esposa fazendo carinhos, hein?
31:50Preciso de uma esposa tanto quanto preciso de um cavalo manco!
31:53Tudo há seu tempo, meu pai!
31:54Filha, os lençóis dele estão meio amarfanhados!
31:59Sabes que admiro a tua determinação!
32:01Ao menos demonstra fibra, firmeza!
32:05Não sabes o quanto!
32:07E quanto ao estudo que fiz sobre nossa mania?
32:09Filha, o travesseiro dele!
32:11O travesseiro!
32:13Dá-lhe uma fofada!
32:15Não há necessidade!
32:16Tens boas ideias sobre estratégia!
32:19Gostei muito daquela parte do embate corpo a corpo!
32:22Ao menos tens espírito guerreiro!
32:25Pronto a saltar sobre o inimigo, hein?
32:29Mais dez dias e termina o mês, não é?
32:31Dez longos dias, padrinho!
32:35Longos dias!
32:36Tens boas ideias!
32:37Tens boas ideias sobre a sua mãe!
32:39Tens boas ideias!
32:40Tens boas ideias!
32:41Ai, que sincone!
32:42Mata logo esse casamento!
32:43Casa-me e pronto!
32:44Tens boas ideias sobre a sua mãe!
32:45Tens boas ideias sobre a sua mãe!
32:46Escolha uma bem bonita!
32:47Que seja linda!
32:48Que seja linda!
33:09Podemos voltar a Portugal.
33:11Ou está disposta a viver no canino?
33:13Aqui, pelo menos, os credores não nos encontram.
33:16Filha, diz isso que esse homem é doido.
33:19Doido, mas é meu marido.
33:21E condes não são doidos, eles são apenas excêntricos.
33:24Larga isso, papai.
33:26Às vezes tem um fundo falso.
33:28Ah, não, não tem nada, não tem dinheiro nenhum aí.
33:30O que podia ser vendido, já foi.
33:32Oh, mas por que ficar nesta penúria?
33:35Porque sou condessa.
33:37E a minha filha também.
33:38E isso ele não pode nos tirar.
33:40Tom, fica com isso.
33:46O quê?
33:47Mas eu a disputar o pão com os criados e tu a esconder uma maravilha dessas, hein?
33:53Trato de salvar o que posso antes que os credores de tudo se apossem.
33:57E se isso te incomoda tanto, vai.
34:00Eu não jogo fora meu futuro por não suportar o presente.
34:04Que diferença faz?
34:06Oh!
34:07A diferença entre ser uma condessa merecedora de todo respeito e uma miserável abandonada.
34:20Minha cama está vazia.
34:22Quero companhia.
34:24Ah, ainda bem que minha mamã ensinou sempre a usar cirolas limpas.
34:29Bom, sou um pouco tímido, mas se for gentil, quem sabe não pego o jeito.
34:34Prefiro-me à tua filha.
34:36Vem.
34:37Je ne te espera.
34:47Tenho certeza que está aí, sim.
34:49Desde que deixei com a escrava, mas não me responde e algo sucedeu.
34:53Andrinho, meu filho!
34:55É papai, filhote, atenda!
34:58O que é?
34:59Nada, polinho.
35:00Só queria ver se estava aí, só isso.
35:02E que conclusão chegaste?
35:04Viste-me?
35:05Mais do que merecia.
35:07Filhinho, a moça.
35:09A moça está aí ainda.
35:11Por quê?
35:12Necessitas dela?
35:13O que é isso, Pedro?
35:14Só queria conversar contigo.
35:15Tem detalhes sobre o teu casamento, filhote.
35:17Só isso.
35:18Estás a arrumar minha noiva?
35:19Evidenta que sim, Pedro.
35:20É o suficiente.
35:21E pensas que vão suportar tamanha vergonha sobre meu teto?
35:24Pensas que estás aonde?
35:26Morrando a burro?
35:27Não!
35:28Senão estaria divertindo e sem ter que aguentar ninguém a esburrar a minha porta.
35:32Pega, esta aqui é a minha casa, hein?
35:34Respeita a mim ao menos.
35:36Se o problema é esse, saio já.
35:38Depois o reclame.
35:39Vem comigo, ando.
35:40Vem comigo, ando.
35:41Não bato.
35:42Compre o seu naroto.
35:43Sim, sim, sim.
35:44Chapa dentro com esta aberração, filho.
35:47É tudo o que eu mais quero nessa vida.
35:52E ainda abates a porta na minha cara?
35:54Estou aqui para acertar os detalhes do teu casamento, filhinho.
35:57Saber como deseja o casamento. Só isto.
36:01Eu, a noiva e um padre no meio.
36:04E a igreja, filhoto?
36:05Qual tu desejas, a igreja?
36:08Uma com uma cruz.
36:10Se o noivado for longo, vai ter que se comer direto das panelas aqui nesse palácio.
36:17Mas como Pedro se casa?
36:19Da frente de um padre com uma mulher toda vestida de branco.
36:21Ele não aguentou a condição de ficar 30 dias sem uma mulher.
36:24Sucumbiu.
36:26Aliás, está a sucumbir-se até agora, né?
36:28Para recuperar o tempo perdido.
36:30Pedro, não pode casar-se.
36:38Diz que não, é verdade.
36:39O príncipe escasa.
36:41O príncipe escasa.
36:45Ai, onde estava com a cabeça?
36:48Calma, calma que não terminamos nosso assunto.
36:52Ué, mas aquele não era o ponto final?
36:54Vírgulas, meu anjo.
36:55Meras vírgulas.
36:56Onde estás com a cabeça, Pedro?
37:01Próximo, onde eu lhe quero que esteja.
37:03Onde pensas que vai?
37:04Estou cansada.
37:05Ficas quietinha.
37:06Mas ficas.
37:07Papai te dá ordens e abaixas a cabeça.
37:09Abaixa-se uma para dar-se liberdade a outra.
37:11Não percebes que estou ocupado.
37:13Onde foi parar tua independência, Pedro?
37:16Jogou-se ao mar com uma pedra amarrada no pescoço
37:18quando tentei ficar um mês sem mulher.
37:21Nem o casamento pode ser tão desesperador.
37:23Não prometes o teu destino por um desejo tolo.
37:27Tolo?
37:29As minhas mãos tremiam.
37:30Minha voz se rachava.
37:32Estava a preferir furar os olhos, que nunca mais era uma anca.
37:35Você acha que nunca viver o destino traçado por outros?
37:38Ei, Pedro!
37:40Te rebelas por qualquer bobagem
37:42e te submetes em assunto tão grave.
37:45Porque tem os docil.
37:50Miguel.
37:53O que te aflita?
37:54Vai, te diverte-te.
37:55Vai embora!
37:56Calma, calma, calma.
37:57Calma, calma.
37:58Calma, calma.
37:59Calma, calma.
38:00Calma.
38:01O meu raio não passa.
38:02Por que meu casamento te incomoda tanto?
38:03Se sou eu que vou ao matador e não estou a mugir?
38:04As pessoas que casam mudam.
38:05Lembra do nosso amigo, filho do Conde dos Acos?
38:06Nunca mais teve tempo para aquelas nossas galopadas malucas?
38:07Nada muda entre nós.
38:08Sempre serás o meu irmão favorito.
38:09Terás teus próprios filhos.
38:10Sempre serás o meu filho mais velho.
38:11E sempre estarei a segurar tua mão quando chegarem os trovões.
38:14Sabes que fedes?
38:15Se pudesse, nunca.
38:16Por que meu casamento te incomoda tanto?
38:18Se sou eu que vou ao matador e não estou a mugir?
38:20As pessoas que casam mudam.
38:22Lembra do nosso amigo, filho do Conde dos Acos?
38:25Nunca mais teve tempo para aquelas nossas galopadas malucas?
38:28Nada muda entre nós.
38:30Sempre serás o meu irmão favorito.
38:32Terás teus próprios filhos.
38:34Sempre serás o meu filho mais velho.
38:37E sempre estarei a segurar tua mão quando chegarem os trovões.
38:40Sabes que fedes?
38:44Se pudesse, nunca mais me banhava para ter em meus pelos o perfume daquela beleza.
38:49Perdão, Alteza.
38:51Mas aquela escrava fugiu de vosso quarto a dizer que necessitava descansar.
38:55Então eu deixasse partir?
38:59Não interessa.
39:00Também o meu irmão precisa de mim.
39:02Mas as duas irmãs dela ficaram tão curiosas que estão em vosso leito à espera.
39:07É...
39:09Bom...
39:10Seria a falta de educação mantê-las esperando.
39:15Segura na mão de Miguel, Plácido.
39:21Miguel!
39:22Não terias aí um pouquinho de manteiga?
39:25Terias?
39:26Esperava que tivesse mais sucesso em tua volta ao mundo depois da mazmorra.
39:36Afinal, o homem de lábios tão doces não merecia ser encontrado na sarjeta.
39:42Houve uma perfilha.
39:43Fui vítima de uma trama diabólica perpetrada por quem me tem inveja.
39:47Inveja?
39:48Inveja?
39:50Inveja do quê?
39:51De tua pobreza ou tua arrogância?
39:53Dá a minha imensa capacidade de fazer amigos.
39:56O fato de estar conversando como uma rainha é prova.
39:59Não foi exatamente por causa de uma conversa que nos conhecemos.
40:03Não deixa de ser.
40:05Não se fala apenas pelas palavras.
40:08O corpo todo enuncia.
40:10Os olhos.
40:11As mãos.
40:12Quando chegar no que interessa, já dormi.
40:14Não seja por isso, Alteza.
40:19Não te faças maior do que essa.
40:22Já obtive informações.
40:23Vocês muito bem que vives de favor, Ana Rameira.
40:27Tem inveja também de quem vos deu tais noções, Alteza.
40:32Acontece que a dona daquele estabelecimento uma vez procurou-me com problemas de furúnculos.
40:37E, por incrível que pareça, a intervenção, por muito dolorosa, o alívio, foi tão grande que ficou-me eternamente grata.
40:47Embora contra minha vontade, acumulou-me com alguns presentes.
40:50Ai, poupa-me, por favor.
40:52Não tem nada pior do que uma história de pobre que história de outro pobre.
40:57Mas...
40:58Por que me agarras?
41:00A distância fica difícil, Alteza.
41:02Não foi para isso que te chamei.
41:04Ora, pra que foi então, pinhões?
41:06Vai se agir com Dom João, o rei.
41:09É o covardão.
41:10Ok.
41:12Escuta cá, oh rainha.
41:14Sei que sou um desvalido da sorte que não tive que me submeter a um prato de comida.
41:19Mas homem nenhum, homem nenhum, nem o próprio rei, verá as partes onde o sol nunca chega.
41:25Ah, avalha-me Deus, onde está a porta?
41:27Entendesse tudo errado, ah?
41:29Imagina se daria um presente desses aquele poltrão insuportável.
41:33Ah, então não queres que me deite com ele?
41:35Óbvio que não.
41:36Ele seria capaz até de degustar.
41:40Ah, bom, então se a coisa é assim como lançar promessas ao vento, como sementes sem o compromisso da colheita, a coisa é outra.
41:48Não, confesso que houve uma vez um abade em Algarves que ao me ver numa colheita inebriou-se por este dorso.
41:55Não fiz nada de concreto, mas garanto lhe permiti vários ângulos de observação em troca de uma bela peça de talcinha.
42:02Não te quero em leito algum.
42:04Então, pra quê?
42:05Desculpe, mas nunca viram muita serventia em mim se não fora tais negócios.
42:10Há os que nascem com grandes cabeças são os pensadores, não?
42:14Os que nascem com grandes orelhas são os músicos.
42:16Já eu nasci com...
42:17Por favor!
42:18Sabes falar castelhano?
42:21Uma pequena demonstracion conoesta seria o suficiente para agradar la reina?
42:27Pensas que falas?
42:29Não, mas eu odeio as pessoas que têm a chance de aprender uma língua e não conseguem se livrar do sotaque.
42:35Para a senhora isto deve ser gravíssimo.
42:38Para que usaria tais conhecimentos?
42:41Para enganar um tolo.
42:44Diga-me, o que conheces da região do Prata ao sul do Brasileiro?