Tudo começa em 1785, com a chegada da pequena infanta espanhola Dona Carlota Joaquina de Bourbon a Portugal para casar-se com D. João VI, que à época atendia por Infante Dom João de Bragança. Já em 1808, após muita indecisão, D. João VI resolve transferir a corte para o Brasil, para fugir dos ataques e do poderio bélico de Napoleão Bonaparte. Em paralelo à história dos monarcas, se desenvolve o romance da donzela Manoela com Francisco Gomes, o Chalaça - um dos melhores amigos de Dom Pedro de Bragança.
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00:00A CIDADE NO BRASIL
00:30Incomoda muita gente
00:32Ai, devagar, devagar
00:34Que eu quero que dure pra sempre
00:35Pedro!
00:39Leopoldina!
00:40Não, sai, sai
00:41Leopoldina!
00:44Leopoldina!
00:46Princesa!
00:47Leopoldina!
00:48Tô vendo, tô vendo
00:49Mas o que ela está fazendo aqui?
00:51Eu vou saber!
00:53Estava a ver o marido que tem, coitada
00:54A última coisa que precisa é de um maluco de ceroulas
00:57A correr atrás dela em plena rua
01:00Foi horrível
01:05Meu pai e eu
01:07Tivemos que atravessar metade da Europa
01:10Como dois fugitivos
01:11Oh, pobrezinha
01:13E a roupa de homem?
01:14Foi o único disfarce que consegui
01:16Imagina-me
01:17Desesperada
01:19Perseguida
01:20Acusada injustamente da morte de meu segundo marido
01:23E como é que foi que ele morreu, hein?
01:26É atravessado por uma seteira
01:28É uma boa escolha para o suicídio
01:30Mas são ardilosos os franceses
01:33Mã...
01:33Mã...
01:33Meu amor, mas o que importa é que chegamos
01:36Eu perdi tudo o que tinha pela longa jornada
01:40Mas o tempo inteiro eu pensava
01:43Gastão, Gastão, Gastão
01:46Eu preciso desfazer o mal entendido
01:49Com o meu querido Gastão
01:51E como é que morreu o primeiro, hein?
01:54Caiu de um penhasco
01:56É uma perseguida do destino
01:58É uma escolhida da fortuna, não é?
02:02Não, não chore
02:04Já és magrinha
02:05Assim, fenece
02:06Este...
02:08Este é o meu velório
02:10O que arrependimento mata
02:12Eu devo ter sido hipnotizada
02:16Por aquele sátiro francês
02:18É a única explicação para tê-lo escolhido
02:20E não é ti, meu amor
02:23És lenta para perceber enganos
02:26Ah, mas essa mulher precisa ficar participando dessa conversa
02:28A casa é dela
02:29A casa é dela?
02:31Mas e tu o que fazes aqui?
02:33Ela os doces
02:34Eu os entrego
02:35Ah, mas perco o teu tempo e o meu
02:38Adeus
02:39Não, não
02:40Nada tenho com ela
02:41Tu mesmo disseste
02:43Mas a resposta que querias era outra
02:44Não compliques mais, Manuela
02:47Branca!
02:48Não, Gastão, não
02:49Eu não nasci pro Lume e pro Tacho
02:52Mas, Branca, o negócio de doces é bastante...
02:55Rentável
02:57O que eu queria era uma vida tranquila numa das quintas de seu pai
03:01E trata de pôr-lo pra fora da quinta do porto
03:05Que o ar do mar faz bem ao meu pulmão com balento
03:09Senhora, o rapaz esqueceu as cerolas que lavei
03:12Ah, não se preocupe que ele compra outras
03:15Sois muito generosa em dar abrigo a um rapaz
03:17Mesmo depois de tal desgraça se abater sobre sua família
03:20Ah, que desgraça?
03:22Que desgraça
03:24Não soubeste que o pai dele perdeu todas as terras?
03:28Numa disputa política com a igreja
03:29Enganavas-me, Gastão?
03:33Em absoluto
03:34Depois de explorar uma dessas
03:37Ias explorar a mim?
03:40Não
03:40Mas que humilhasse?
03:42Não
03:43Era mentira minha
03:49O pai dele nada perdeu
03:51Mas Gastão continua rompido com ele
03:53Saiam da frente, saiam da frente
03:56Que essa daqui agora
03:57Empurra qualquer um e pega a arança ambulante
04:01Eu é que sou a rameira
04:02Mas quem negocia o que tem entre as pernas é ela
04:06Apaga
04:07Meninas, não briguem por mim
04:18Vai, não precisa
04:19Quando olhaste bem nos olhos meus
04:38E o teu olhar era de adeus
04:44Juro que não acreditei
04:49Eu te estranhei
04:53Não me devo ser
04:56Sobre teu corpo
04:58Que me deu
05:01Leopoldina
05:10Preferia que não fosse dessa maneira
05:13Mas pelo menos agora sabes com quem te casaste
05:16Eu sou assim mesmo
05:17Devo ter alguma doença
05:19Que meus amigos adoram mulheres
05:21Mas não fico nessa aflição
05:22Não posso passar nem um dia sequer
05:26Sem provar uma mulher
05:27E tu
05:29Não é das mais empolgadas
05:31Não estou a reclamar
05:33É só para que me entendas
05:35Não é nada pessoal
05:35Eu estou a pedir explicações
05:39Mas tuas merece
05:40Nunca é pessoal?
05:44O que é o hábito
05:46E a dizendo já nunca
05:47Mas um dia foi pessoal
05:51Amei-a muito
05:52E onde ela está
05:53Foi se da corte
05:56Porque minha esposa chegava da Europa
05:57Meu pai internou-me
06:00Como louco até
06:01Mas acabou
06:02O cupido nos atingiu
06:05Em órgãos diferentes
06:06Em mim e no coração
06:08Nela na algebeira
06:10Entre nós
06:11Nunca será pessoal?
06:13Nosso casamento é um tratado
06:16Entre Portugal e Áustria
06:17O que não quer dizer
06:19Que não te devo a respeito
06:20E se Deus quiser
06:22Nunca me verás nas ruas
06:24A afrontar-te
06:25E que tinhas que ir naquele lugar?
06:31Todas as noites que saio
06:32Acreditas mesmo
06:33Que vou reunir-me com ministros?
06:35Não chores, menina
06:43O que esperas
06:45De um casamento
06:45Em que eu nem estava presente?
06:47E como hages
06:49Feito mulher ciumenta
06:50A seguir o marido?
06:52Não foi nada disso
06:53Eu vai costureira
06:55Sua mãe manda
06:56Manda, mãe
06:58Espera
07:00Mãe, ficaste a noite toda
07:03Porque esperavas gritos?
07:05Sabias que tinha função
07:06Mas não querias perdê-la?
07:08O que é isso?
07:10Do que ele fala?
07:12Que história é essa
07:12De costureira?
07:14Que costureira?
07:17Cheque mate
07:18Deixa ver teu bafo
07:21Nadaste bebendo?
07:22Foi?
07:22A costureira
07:24Quem mandaste minha mulher ir
07:25Não mandei tua mulher
07:26A costureira alguma?
07:29As costureiras que eu vou
07:30Fazem roupas para gente
07:31Não para edifícios ou navios
07:34Meu menino
07:35Vossos cabelos
07:35E o que fez a tua costureira?
07:36Quem fez fui eu
07:37E vós bem o sabeis
07:38Acho que estás precisando
07:40De uma nova temporada no asilo
07:42Não está dizendo coisa com coisa
07:43Arruma, Inger
07:44Se não ficar disparado
07:46Vosso cabelo não...
07:47Não vou trazer minha mulher aqui
07:50Para ficar comparando
07:51Vossa versão com que ela me contou
07:52Não submeto a pobre
07:54A mais uma humilhação
07:54Acreditas numa estranha?
07:59E não na tua mãe que te criou?
08:02Pedro
08:03Não passaste um só dia
08:06De tua vida longe de mim?
08:07Por isso mesmo acredito nela
08:09Não tente jogá-la contra mim
08:11Porque não é um mau casamento
08:12Que vai mudar o destino
08:13Vou ser rei, minha mãe
08:15E hoje tive certeza disso
08:17Porque vi que quero
08:18Ser rei
08:20Beleza e de uma mãe quehões num
08:25Deixa eu chegar lá
08:25E aí
08:25Que vai mudar o destino
08:26E aí
08:26Deixa eu jogar mais um
08:27E aí
08:28E aí
08:29A mãe que te chamou
08:30E aí
08:34Tchau, tchau.
09:04Tchau, tchau.
09:34Tchau.
10:04Tchau.
10:34Tchau.
11:04Tchau.
11:34Tchau.
11:36Tchau.
12:06Tchau.
12:08Tchau.
12:38Tchau.
13:08Tchau.
13:38Tchau.
14:08Você tá sempre agitado, tem formiga nas calças.
14:11Mas julgar pela velocidade com que ele as tira.
14:13Um sorriso genuíno de quem gosta da vida acaba por nos alegrar só de estar perto dele.
14:20Mas do jeito que ele é desleixado, quem os vê juntos imagina que tu és o príncipe e ele é o lacaio.
14:25Adjunto.
14:26E cada vez mais junto.
14:29Acaba de me arrumar um quarto no passo.
14:33Eu falei que minha estrela ia se mostrar um dia.
14:36Ah, razoável.
14:38Razoável é a tua cara.
14:40Esse é o melhor quarto que já puseste os pés.
14:43Não esqueças que já frequentei os aposentos da rainha.
14:45Aposeste é outra coisa.
14:47Fui hóspede do rei.
14:48Ah, que atitude simpática de D. Pedro, não?
14:50Não vou constranger o rapaz negando-o.
14:54Vais aumentar a confusão na vida dele.
14:57Já pensou o que o rei vai falar se souber?
15:00Ah, com a quantidade de pessoas estranhas a entrar no passo, sem D. João perceber, com certeza,
15:06há uns quatro por aí que entraram dentro de um quarto e ficaram a arbitrar.
15:10O que me falaram é verdade.
15:12Claro que é.
15:13Fui eu que lhe falei, Majestade.
15:15O embusteiro do Demo.
15:17Argentino falso.
15:18Me solta, eu bato e vou matá-lo.
15:20Majestade, minha augusta Majestade.
15:23Não tive a honra, nem tempo, de nos contar o desprazer de nosso desentendimento.
15:30Cala a boca que é melhor.
15:32Me solta que eu mato ele agora.
15:34Me solta, me solta.
15:36Perdão, Majestade.
15:38Era uma mosca enorme e ia picá-lo.
15:40Mas bateste duas vezes.
15:42Não é que a mosca ia tão rápida que ela foi daqui a mim.
15:46Ah, bateste de novo, bateste de novo.
15:50Ah, bom, o quarto foi ordem direta do príncipe D. Pedro.
15:54Esse desgraçado não fica debaixo do meu dedo.
15:57Não fica.
15:58Tenho a honra de ser hóspede e secretário de D. Pedro.
16:02Se não me queres aqui, terás que tratar direto com o vosso filho.
16:04Pois foi uma ordem dele não a desobedecerem.
16:07Padrinho, tu precisas escutar, meu filhoto.
16:09Está vendo?
16:10Não é a oitava maravilha do mundo?
16:12Vejo uma cadeira muito complicada.
16:14Muito complicada, filhoto.
16:15Presta atenção.
16:16A situação assim não pode ficar rampada.
16:18Finalmente compreenderam os meus desenhos, meu pai.
16:22Veja, com esta máquina eu posso exercitar vários grupos musculares.
16:26Veja só.
16:27Olha só como estou a exercitar as minhas costas.
16:29Veja se os músculos de minhas costas não estão a assaltar.
16:32Ai, Jesus! Estão fugindo do ti, filhote.
16:34Filhinho, esse Francisco é tal Francisco.
16:37Sei.
16:38Ele se passou por um argentino que queria negociar com o nosso governo, filhote.
16:41E o que ele conseguiu?
16:42O mel e bebeu as minhas costas. Tudo foi graça.
16:45O que prova que é esperto e inteligente.
16:49Olha por esse lado, meu pai.
16:51Estou a retirar um delinquente das ruas.
16:53A retirar um delinquente das ruas e colocando no nosso palácio.
16:57Não, meu pai.
16:59Um homem desses é mais útil ao nosso lado do que contra nós.
17:03Veja, meu pai.
17:04Veja essa outra variação do mesmo exercício.
17:06Calma, filho!
17:07Essa ginhaca pegou!
17:08Calma!
17:09Rodrigo!
17:10Lobato!
17:11Ah, sim.
17:12Pois não.
17:13Ah, não posso agora.
17:14O príncipe aguarda um tempo.
17:15Ah, sim, Alfredo.
17:16O que queres agora?
17:17Pô, meu nobre.
17:18Eu necessito tanto de uma audiência com o príncipe Dom Pedro.
17:21Que pena.
17:22O príncipe anda muito assoberbado esses dias.
17:24Não tem tempo para que estímulos menores.
17:25Mas são os impostos.
17:26Eu não posso pagar os impostos.
17:28Então não os pegue.
17:29Mas aí vou preso.
17:30Ah, vive assim.
17:31Tu mesmo ensinaste quando expulsou-me daquela botica fétida
17:34e daquele quartinho imundo por atrasar-te alguns meses.
17:37Mas quando voltaste ao quarto, eu nem falei nada.
17:39O que tá errado?
17:41Pra quê vais copiar um comportamento errado como o meu quando o teu é o correto?
17:45Não podes pagar o aluguel?
17:47Coloque tua mão em tua própria nuca.
17:49Chuta tua própria bunda até chegares a masmorra à frente.
17:52Veja, senhor, que vestido maravilhoso.
17:54Ah, não.
17:55Não tenho tempo.
17:56Não quero.
17:57Não sou uma atriz para precisar de um vestido novo toda noite.
18:00Belo viludo.
18:01Estou a ver.
18:02Sim.
18:03Pode deixá-lo um tempo comigo.
18:04Com muita honra, senhor.
18:05Não incomoda-se.
18:06Não, não me incomoda-se.
18:07Então deixe junto de mim as calças aqui com o meu escravo companheiro.
18:10Que depois vejo com qual deles ficarei.
18:13Tomei cuidado, meu príncipe.
18:14Gente, já foi um sofrimento tirar-vos das garras desta fera faminta.
18:18Quatro.
18:19Era só um cordame solto, Plácido.
18:22Essa máquina é uma maravilha.
18:25Eu não posso trabalhar todos os músculos do meu corpo com o meu próprio peso e a gravidade.
18:32Veja só.
18:33Vejo um homem a contorcer-se que já esteve em um asilo e para lá volta a qualquer momento.
18:38Fala-se como se fosse um sortilégio, Plácido.
18:41Não estivesse comigo esses anos todos.
18:44Não viste como meus músculos se desenvolveram?
18:54Quem é tão silencioso?
18:55Trabalho com o príncipe, isá de se ter cuidado, não.
18:58Mas com certeza jamais conseguirei ser como vós.
19:02Somente as cobras conseguem rastejar sem nenhum barulho produzir.
19:06Estás a me comparar com uma cobra?
19:08Somente nas partes das qualidades ou infante.
19:13Eu não queria que Pedro me visse porque senão me obriga a participar dessas sessões de tortura.
19:18É mesmo?
19:19Queria vê-los em quietude, não?
19:22O príncipe sabe o quanto vos agrada com a alegria dele?
19:25Não diverte a todos?
19:28Pedro não é a alegria do reino?
19:31É, mas com certeza não agrada mais a ninguém quanto a nós.
19:36Jesus!
19:37Jesus!
19:38Jesus!
19:40Jesus!
19:41Jesus!
19:42Jesus!
19:47Jesus!
20:10Três...
20:13Mais três, mais seis...
20:19Contaste dezoito. Três vezes o seis.
20:22É o pior da gagueira. Fazer contas.
20:27Estranho que paguei tanto por doces em alguns endereços.
20:31Este que fui receber. Insisti que o homem estava errado, mas ele falou num e extra.
20:36Ah, é que lá comercia os salgados também.
20:39Nove, mais...
20:43Manoela, vem cá. Me empresta os dedos.
20:47Nove, mais...
20:49Oito...
20:51Sobre aquela história de me pedires em casamento, esqueceste?
20:57O quê?
20:59Nada.
21:00Odeio homens que dão risinhos.
21:04Esperei bastante para que tocassem o tema novamente.
21:07Novamente. Quase repeti a proposta quando foste me salvar das garras da minha noiva, a bruxa loura.
21:15Hum, a abusada.
21:17A homens pode enganar, mas devia abster-se de sua pantomina na frente de mulheres.
21:22Pior, na frente de uma rameira por profissão que detesta a concorrência desleal de amadoras.
21:27Deu-me até uma quentura ver teus ciúmes.
21:29Que ciúmes!
21:33Ciúmes!
21:34Apenas fiquei chateada de ver te parvo diante dela.
21:39Bom, não há amor.
21:42Mas agora tenho o dinheiro.
21:45Não dizes que não fazes amor de graça nunca?
21:48E não faço mesmo.
21:50Mas salvaste minha vida. Devo-te tanto.
21:53E também não queria estragar essa amizade tão pura.
21:55Pura demais para o meu gosto.
21:58O que foi? O dinheiro de qualquer um te serve?
22:01Menos o meu?
22:02Não é igual?
22:04Está bem. Aceito o teu dinheiro, mas...
22:07pagas antes.
22:10Não é culpa minha. Faço o que posso.
22:12Isso dói.
22:13Não sei não, filhotinho. Não sei não.
22:15Já tivestes muitas chances de emprenhar a bolota.
22:18Perdão, digo a princesa.
22:19Vieira, está tudo aí, doutor?
22:21Com certeza que está.
22:23Um pouco gasto.
22:25Mas inteiro.
22:27Vai ver, ela já está grave e não percebemos por causa da banha.
22:32Pensa que isso é uma fruta que se colhe?
22:34Preciso fazer um exame detalhado.
22:37Vai em frente, vai em frente.
22:38Não precisa, não.
22:39Dom Pedro.
22:42É a prova que estou a funcionar.
22:44Ai, Jesus.
22:45Mas dentro da casa, filhota...
22:47Não será o primeiro galego mulato do Rio, não é, meu pai?
22:50E esse ninguém vai levar para longe de mim.
22:54Estava angustiado, meu pai, a pensar que as doenças que peguei por esta minha vida desregrada tinham me inutilizado.
23:00Negaste a dormir com Leopoldina, não foi, filhota?
23:02Tu negaste.
23:03É natural, ela é feia, que dói.
23:04Mas o trono merece um esforço, filho.
23:07E eu me esforço.
23:07Ai, como eu me esforço, pai.
23:09Mas se a vedes assim, podeis imaginá-la nua?
23:13Ai, Jesus, não, pelo amor de Deus.
23:15É uma imagem dantesca.
23:16Não sei, arranca da minha mente, pelo amor de Deus.
23:19Senão não funciona mais.
23:20Se me acertares com este martelinho, aí que a casa dos Bragança termina aqui.
23:26Pedro.
23:29Minha semente deve se perder no emaranhado dela.
23:32Se é assim por fora, imagina por dentro.
23:33Precisais andar tanto a cavalo, esmagais demais o porta-joias real.
23:39As joias reais nunca tiveram problema.
23:43Aliás, nunca trabalharam tanto.
23:45Já que acompanha-me como sempre à rua para me divertir, agora também aos deveres de estado aqui.
23:50Agora compreendo.
23:51Precisais economizar um pouco mais a vossa seiva.
23:54Um fazendeiro não se fia em uma só semente para o campo.
23:57Acumula várias e então ara o campo.
24:01Hás de convir que o terreno que me deram é um chaco.
24:04Economizar, não.
24:06Sei bem como termino essas histórias.
24:08Eu, desesperado, sem mulher alguma.
24:09Pelo bem da pátria, filhote, custa fazeres menos?
24:13Custa.
24:14Ah, como custa.
24:25Pedro, não.
24:31O médico proibiu até sábado.
24:41Ah, não falei que ias escapar?
25:07Não conseguiu dormir, ia cavalgar o Artigas.
25:10Não sei muito bem que tipo de cavalgado ias dar.
25:13Odeio ser tratado como criança.
25:14Chegue!
25:34Chegue!
25:35Chegue!
25:36Chegue!
25:36Chegue!
25:36Chegue!
25:36Chegue!
25:39Mas o que é isso?
25:41Quem botou uma cinza fora?
25:43Estavam acontecendo várias fugas de escravos da senzala.
25:46Dom João decidiu aumentar a segurança botando cachorros.
26:05E não finjas que sei que não estás dormindo.
26:09Vamos fazer logo esse filho antes que eu morra.
26:11Mas a médica disse...
26:12O filho é meu.
26:15Não dê.
26:18E fique atenta...
26:20Que quero uma menina bem bonita.
26:25Vamos, gravazinho, rápido.
26:27Atenta ao metro, atenta ao metro.
26:29As pernas dela devem estar suspensas em 90 graus em relação ao piso.
26:34As costas devem ser elevadas como travesseiro.
26:38Dom Pedro, evite movimentos rotatórios.
26:41Limite-se por obsequio ao eixo.
26:44Eixo reto, não rotatórios.
26:46Eixo reto, não rotatórios.
26:47Vamos lá.
26:47Relaxa a balaça.
26:48Eixo reto, não rotatórios.
26:50Eixo reto.
26:52Ô Miguel.
26:54Pedro conseguiu, mamãe.
26:55Eu não sei como tinha certeza que ela era estéreo.
26:58Ela está grávida.
26:59Agora seria o terceiro na linha de sucessão.
27:02Se essa criança nascer, não é, Miguel?
27:06As responsabilidades são brutais, mas é grande a alegria de a tão amado príncipe servir.
27:13Primeiro porque tenho a chance de, com toda a modéstia, preencher um pouco o espaço entre as orelhas do príncipe,
27:19que não pode ser considerado um pensador.
27:21E segundo, não há coisa mais divertida no mundo do que dar uma ordem e ver todo mundo a correr para obedecê-la.
27:28Não importa se o que falaste é a mais arrematada bobagem.
27:32Do que se trata?
27:48Que carta é essa?
27:50Boa tarde para ti também, meu marido.
27:52Quer dizer que para me fazer ex-companhia não pode abandonar o regimento.
27:56Mas para ouvir as intrigas da Benedita?
27:58Foi ela, não?
27:59Não é Benedita que é vista na cidade conversando com o engenheiro doutor Paulo, dando motivos a comentários.
28:07Quero ver que carta é essa.
28:09É a carta de um amigo meu que conta-me coisas divertidas.
28:12Faz-me lembrar que a vida existe, ao menos fora daqui.
28:16Então deixa-me ver.
28:17A carta é minha.
28:19Já lhe disse o que está escrito, por que não acreditas em mim?
28:21Dá isso aqui.
28:25Vagabunda, mentirosa.
28:27Não prefere acreditar no pior?
28:30Pois então penses o que quiser.
28:32Assim pelo menos terá a companhia da dúvida ao teu lado.
28:39Para, Felício!
28:40Para!
28:41Ela espera teu filho, esqueceu!
28:43E quem garante que esse filho é meu?
28:45Quem garante que esse filho é meu?
28:47Pre-pre-pre-parei um café pra ti.
29:02Ah!
29:04Ai!
29:05Que...
29:05Poderás aproveitar-se se comer como um gato a lamber o chão.
29:09Droga!
29:11Até minhas pernas são gagas.
29:14Não mataste ninguém, dá-se um jeito.
29:16Teu dinheiro...
29:18Valeu o gasto?
29:20Cada tostão.
29:21Sabes que te quero.
29:23Um tio me ofereceu uma casinha lá para os lados do sul.
29:27Onde as videiras florescem.
29:29Poderíamos viver do que plantamos e colhemos.
29:32Esta vida já tive.
29:36E não gostaste?
29:38Levantar junto ao nascer do sol.
29:41É!
29:41Gastar o suor honestamente.
29:43E ir dormir junto ao sol.
29:44Só se pôr.
29:46Uma vida de paz, sem dúvida.
29:48Às vezes parece até que nem foi meu corpo que a viveu.
29:51Mas não há como negar que há vantagens.
29:54Amor, não temer que seja a guarda do arcebispo nos descobrir.
29:59E que minhas irmãs voltem a ter orgulho de mim.
30:02Algum dia, quem sabe?
30:04Dá-me a chance de fazer-te feliz.
30:06Às vezes tenho medo de não conseguir cumprir as promessas que faço.
30:11Mas o risco vale a pena.
30:15Manuela.
30:19Manuela.
30:25Desculpa.
30:28Felício!
30:30Felício!
30:30O neguinho veio a galope.
30:33Nasceu tua filha.
30:35E domitila.
30:36Está bem?
30:36Deve estar.
30:37Aquilo é uma égua de raça.
30:39Puro sangue.
30:40É porque não pegas um cavalo e vais vê-la.
30:43Chegas lá antes do entardecer.
30:47Não vejo motivo.
30:48O que foi?
30:56Avisaram-me quando inspecionava os navios do porto?
30:59Não souberam explicar-me.
31:01Leopoldina teve um acidente com um cavalo.
31:05Falei tanto pra ela ficar longe deles.
31:07O que há tanto a fazer aqui em casa?
31:09Ajudar-me nas finanças?
31:10Não estava sobre um cavalo.
31:12A culpa foi minha, Pedro.
31:14Eu estava empolgado e distraí-me.
31:18E quando eu dei por mim, ali eu pudei-me no caminho.
31:22Eu tentei desviar.
31:23Eu puxei o cavalo, mas ele se assustou.
31:26E ela também.
31:27E caiu.
31:28Me bate, Pedro.
31:35Pode me bater.
31:36Não, não.
31:37É beleza, Pedro.
31:38Não, não, não.
31:39Sei que não fizeste por mal.
31:40Nunca faria isso.
31:41A gravidez estava adiantada.
31:43É cedo, mas...
31:46Há uma chance ainda da criancinha.
31:50Graças a Deus!
31:51Fora!
31:52Fora!
31:52O meu filho nasceu!
31:54O meu filho, Miguel!
31:56O meu filho!
31:57Meu pai!
31:59Parabéns, filhão!
32:00O meu filho!
32:00Vão pra caralho, Charu!
32:02Vem!
32:04Mas o que é isso, senhor Felício?
32:07Isso são...
32:07São roupas para um homem de bem?
32:09Desculpa, meu sogro.
32:10Ainda nem acordei direito.
32:11Não é à toa que o capitão sempre reclama de ti.
32:14Deixa o Felício, meu pai.
32:16Vê-se pela cara que ele não está a passar bem.
32:21É tua primeira filha, Felício.
32:24Não vem ver-lhe a face?
32:27Por que sofres?
32:34Ela ao menos lembra-me um pouco.
32:35Tenho os teus olhos.
32:37Podem ser os de Domitila.
32:39Os de tantos homens.
32:44Não fica assim.
32:46Não merece sofrer tanto.
32:48Ai, ela é linda.
33:05Seja bem-vinda, Maria da Glória.
33:08Vai ser um companheiro desde já.
33:13O filho de Dandara.
33:16E vai ser aleitado pelas mesmas amas que a ela servire.
33:20Um dia serás rainha, minha filha.
33:25E espero deixar-te um reino lindo.
33:28E acima de tudo,
33:29Espero ser o pai que mereces.
33:34E nunca ficar longe de ti quando precisares de mim.
33:38Serás a mais culta.
33:40A mais inteligente.
33:42Melhor que eu em tudo.
33:45E no futuro...
33:47No futuro todos lembrarão de Dom Pedro como o rei
33:50que veio antes de Maria da Glória.
33:52A maior de todas as rainhas.
34:05Cala, cala, minha menina.
34:10Cala, cala, meu amor.
34:14Teu vestido é douro.
34:19Tua mãe é uma flor.
34:22Não devias estar secretariando o príncipe?
34:27Não devias estar a tricotar.
34:29Pelo que sei, agora é uma avó.
34:32Não repitas isso.
34:34Já posso até escutar.
34:37Fafo, cala.
34:38Ah, fa, fa, fa, fa.
34:44Conseguiste voltar ao passo?
34:46Pela porta da frente, como deves ter notado.
34:48Não, pela porta do bordel, como eu sei.
34:51E se tratando de meu filho, é lá que ele encontra os seus iguais.
34:56Mas faço gosto de ver-te bem.
34:59Não pretendo nunca ficar no caminho da rainha.
35:02Nessas miniaturas, nesta terra maldita que chamam de castelos, palácios.
35:10Tudo tão apertadinho.
35:14Os barrois seriam inevitáveis.
35:19Deus sabe que os nossos foram prazerosos, né?
35:22E podem ser também lucrativos.
35:25Claro, pois.
35:26Podes ser mais do que o secretário de um garoto.
35:30Não sei como poderia ser outra coisa.
35:33O rei não gosta muito de mim e a rainha não tem lá muita influência com Dom Pedro.
35:38Mas tem comigo, Guel.
35:39E Pedro está sempre a cometer deslizes.
35:43E tu os testemunhará.
35:46Escapar uma palavra não deve ser difícil.
35:51Melhor do que ministro do Prata, é ser ministro de Portugal.
35:56Ora, pois, sim.
35:57Pedro saiu ainda na dia.
35:59Usava perfume.
36:02Andou santo demais por tempo demais.
36:06A informação daquele xalaça era clara.
36:08Leopoldina, já estou aqui, minha sogra.
36:11Mas devesse estar lá.
36:12Estamos atrasados.
36:13Minha sogra, estou um pouco cansada.
36:16Preferia ficar.
36:18Mas Pedro insistiu tanto que viés conosco.
36:20Ele nada me disse.
36:22Mas disse a mim, que sou mãe dele.
36:23Queres comparar-te com a mãe de um homem?
36:29Mas o que fazemos aqui?
36:31Calada.
36:32Queres estragar a surpresa?
36:33Queremos que Pedro escute a tua voz.
36:35E o que Pedro faz aqui?
36:36Ele faz um trabalho lindo de assistências miseráveis.
36:40Distribui alegria aos desvalidos.
36:42Mas é um rapaz muito tímido para mostrar suas qualidades.
36:46Mas poderás vê-las completamente expostas.
36:49Não é, Miguel?
36:50Lacaios, Lacaios.
36:50A porta, por favor.
36:57Deus salve a rainha e sua imensa bondade.
36:59Mas onde está meu filho Pedro?
37:01Do príncipe nada sei, majestade.
37:03Aguardamos a senhora.
37:05Encantados com a notícia de que iria as doar vossas joias para alimentar os pobres.
37:08Um viva a rainha!
37:10Agora está lá a corruência de raiva.
37:26Achava que me subornava por tão pouco.
37:29Mas foi só uma questão de preço.
37:31Veremos na próxima oferta.
37:32Veremos.
37:33Pobre Miguel, deve ter sido arrastado por ela.
37:36Por ele não moveria uma palha contra mim.
37:37Majestade.
37:39Perdoe, mas não achas teu irmão um tanto estranho?
37:43Ah, é um garoto doente, tímido, mas me adora.
37:46É, até demais.
37:48Queria ela não precisar voltar para minha casa.
37:50Aquela cama, um grande pesadelo nítico.
37:53Mas já tivesses uma filha com ela.
37:55Agora não precisais mais visitar vales assim tão recônditos.
37:59É, mas ela já está lá mesmo.
38:02E a noite esquente, sim, que o sono demora a vir.
38:04Não, não me digas que é empreenhacho de novo.
38:06Está grávida.
38:07Sente que agora é um menino.
38:08Jesus.
38:09E sabes, é uma boa mãe?
38:11Verdade.
38:12Mas queria pegar uma estrada e sumir.
38:16Por favor, linda.
38:18Aquele ar ansioso, a pedir que a ame, me faz mal.
38:21Por que não é, então, resolver a crise política que se instalou em São Paulo?
38:23Que crise?
38:24A que Bonifácio comunica em uma carta.
38:26Que vou escrever assim que é meu quarto retornar.
38:51É chuva?
38:59É, melhor para dormir, não.
39:02Não estás cansado dos tirão da viagem?
39:05Nunca fiz de Rio de Janeiro a São Paulo tão rápido.
39:08Foi a melhor sensação que tive sem envolver uma fêmea.
39:11A primeira chuva que tomei em pleno passo quando chegamos de Portugal.
39:14O senhor, meu príncipe, o senhor precisa de algo.
39:18O príncipe nunca esteve tão bem acomodado.
39:21E vossa família, a puseste para fora?
39:24Não, não.
39:25Meu jogo está no quartel, minhas filhas e minha mulher viajaram.
39:28Ah, que pena.
39:29Esperava encontrar Domitila.
39:30Estive aqui em vosso casamento.
39:32Deve recordar.
39:33É, é uma pena, é uma pena.
39:34Mas esperamos Domitila no domingo somente.
39:36Ah, ora, pois.
39:37Não se preocupe comigo.
39:38Não se preocupe comigo.
40:08Não se preocupe comigo.
40:38Não se preocupe comigo.
40:39Não se preocupe comigo.
40:39Não se preocupe comigo.
40:44Ah, ora, pois.
40:49Por que me fizeste sofrer?
40:56Por que de amor para entender?
41:00É preciso amar
41:06Porque
41:08Só louco
41:13Amou como eu amei
41:19Só louco
41:25Quis o bem que eu quis
41:30Quis o bem que eu quis