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  • 15/04/2025
As fábricas chinesas aceleraram as exportações para os EUA em março, antes das novas tarifas de Trump, gerando alta de 12,4% nas transações. A doutora em relações internacionais Kelly de Souza Ferreira analisa o impacto na balança comercial, os riscos para o Brasil e o futuro da guerra tarifária.

Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://tinyurl.com/guerra-tarifaria-trump

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Transcrição
00:00Em Burla, as tarifas de Trump e fábricas chinesas aceleraram as exportações de produtos para os Estados Unidos.
00:06O que fez as transações desse tipo crescerem 12,4% em março, em relação ao mesmo mês do ano anterior.
00:14Então, vamos ter uma conversa agora para entender o que deve acontecer a partir de agora na balança comercial entre China e Estados Unidos.
00:21Para isso, contamos com a Kelly de Souza Ferreira, que é doutora em Relações Internacionais e diretora de Relações Internacionais da PUC Campinas.
00:30Tudo bem, professora Kelly? Boa tarde, seja bem-vinda ao Money Times.
00:35Boa tarde, muito obrigada pelo convite.
00:37Felipe Machado, nosso analista, também participa da conversa, professora?
00:42Bom, então a gente observa essa movimentação das fábricas chinesas acelerando as exportações,
00:47mandando o máximo possível de produtos lá para os Estados Unidos, certamente para burlar as tarifas.
00:53Como é que a senhora vê esse movimento e que outras estratégias a China pode adotar nesse momento para mitigar os impactos das tarifas?
01:02A China já tem adotado algumas estratégias para burlar essas tarifas desde 2018, quando o Trump começou, lá no primeiro mandato do Trump,
01:14que era, por exemplo, mandar para o Vietnã os produtos.
01:17Os produtos terminavam de ser montados no Vietnã com peças chinesas e mandar para os Estados Unidos,
01:23só para ele ter assim o selo Made in Vietnam.
01:26Por isso que também o Vietnã foi um dos países mais taxados por Trump.
01:30Agora, no momento, a China está, os produtores, no caso, estão tentando saídas mais óbvias,
01:37que é isso, acelerar a produção para conseguir escoar antes que as tarifas entrassem em vigor.
01:42E um outro fenômeno que nós estamos vendo são os próprios produtores chineses fazendo propaganda
01:49e colocando que são eles que fabricam diversas marcas para justamente dar um choque ainda no mercado
01:55para colocar para as pessoas.
01:56Olha, mesmo que ele esteja com um selo vindo dos Estados Unidos ou fabricado na França,
02:02na verdade, ele é quase, ele é todo produzido aqui, é apenas uma pequena transformação final
02:07que é feita no país, na França ou nos Estados Unidos, para receber o selo Made in USA.
02:13Então, mesmo produtos que vocês acham que não serão afetados,
02:17e aí, no caso, eles estavam mirando no mercado de luxo, serão afetados também por essas tarifas.
02:23Que loucura. Felipe, sua pergunta para a professora Kelly.
02:26Professora, boa tarde.
02:28Eu vi também esse vídeo, na verdade, que a China divulgou, das bolsas de luxo.
02:34Ah, esse vídeo viralizou, né?
02:36Exatamente, sendo feitas ali na China e depois, com pequenas mudanças, chegando na Europa
02:40e eles trocam ali a etiqueta.
02:42Agora, professora, com essas tarifas, a gente está vendo que está escalando a guerra comercial
02:47entre China e Estados Unidos e agora 145 de um lado, 125 do outro, enfim.
02:52Em que momento a gente vai ver que esse comércio pode se tornar, inclusive, inviável entre os dois países?
02:58E se isso acontecer de verdade, quanto tempo a gente vai começar a ver, por exemplo,
03:03prateleiras ali desabastecidas nos Estados Unidos?
03:07Quanto tempo a escassez de produção na China, a falta da produção na China
03:11e esse fim do comércio entre os países, quanto tempo demora para chegar ali no público final nos Estados Unidos?
03:20Isso vai depender de alguns produtos, demanda, então é um pouco mais difícil colocar um prazo
03:27para todas as questões, mas os primeiros efeitos já serão sentidos em breve,
03:32porque é um grande consumo que nós temos de tecnologia, principalmente,
03:36e não é só a questão das tarifas.
03:38A China fez uma jogada um tanto audaciosa, e acho que foi uma que o Trump até não esperava,
03:46que foi justamente em cima das terras raras, que a China não só produz,
03:50mas também ela faz todo o processo de limpeza, porque a questão das terras raras,
03:57apesar desse nome, ela não é tão rara, mas o processo para extraí-la,
04:02limpá-la e tornar-la apta para o uso, isso é muito oneroso, além de incrivelmente poluente.
04:09E a China faz 90% desse processo do uso dessas terras raras, 90% é processada na China.
04:16Isso causa um grande efeito porque a China coloca restrições sobre quem pode não só comprar
04:22ou receber as terras raras extraídas da China, mas também das terras raras que estão extraídas
04:29em outros lugares e processadas na China.
04:33Então, isso dá um baque muito grande na indústria tecnológica.
04:36Inclusive, em um dos conselheiros do Trump, em Elon Musk, por exemplo,
04:40precisa muito desses materiais para a bateria de seus carros, por exemplo.
04:45E, professora, eu mencionei aqui desse crescimento de 12,4% das transações
04:51entre China e Estados Unidos em março.
04:54Como é que fica?
04:55Qual é a perspectiva para a balança comercial entre esses dois gigantes nos próximos meses?
05:00A gente pode ver aí um tombo e o que isso envolve?
05:03O que isso tem como consequência?
05:08E isso vai acontecer um tombo.
05:09E é muito interessante que você vê os líderes chineses defendendo a organização mundial do comércio.
05:14A OMC, pegando um pouco no caráter histórico, ela é criada justamente para garantir que os países
05:21não subam todos, subam suas tarifas e fiquem viáveis e paralisem o comércio internacional.
05:27No caso de Estados Unidos e China, a China já colocou que ela não será mentrotada por um bule.
05:32Xi Jinping está fazendo viagem ali no Sudeste Asiático e está colocando e incentivando
05:36demais parceiros também a se posicionar com relação aos Estados Unidos.
05:41E, assim, justamente nessa posição você pode ter um travamento da economia.
05:46Por quê?
05:47Com taxas muito altas, você começa a buscar substitutos em casa e, muitas vezes, até escolher
05:53se não for um item essencial, ficar sem.
05:56Então, esse travamento da economia internacional, ninguém ganha nessa guerra tarifária.
06:03Certamente.
06:04Felipe, mais uma sua.
06:05Professora, queria ouvir a sua opinião sobre o impacto no Brasil.
06:08Muitos analistas, no início, ficaram ali um pouco com medo, aquela coisa vai prejudicar
06:13muito o Brasil, mas, hoje em dia, já se diz que pode até ser positivo em algumas
06:17áreas, agronegócio.
06:18Enfim, queria ouvir a sua opinião sobre isso.
06:24Verdade.
06:24Em algumas áreas, o Brasil pode estar regalhando, porque os Estados Unidos eram o grande rival do
06:29Brasil no fornecimento de algumas commodities para a China.
06:33Laranja, soja, por exemplo.
06:35Então, no caso, uma alternativa com taxas muito mais em conta são justamente os produtos
06:40brasileiros.
06:41A grande questão dessa triangulação é que tem muitos produtos que o Brasil compra
06:45que tem, por exemplo, os celulares, tecnologias, que são dos Estados Unidos, são chineses,
06:52tem com tecnologia americana e, quando isso chega no Brasil, por exemplo, podemos esperar
06:56tecnologias muito mais caras.
06:58Celulares, computadores, tudo que depende, por exemplo, de bateria, vai ficar muito mais
07:03caro para a gente.
07:04A nossa indústria pode se beneficiar se o governo for um tanto esperto e aproveitar
07:09isso, essa chance, para incentivar a produção aqui.
07:13Mas isso não ocorre da noite para o dia.
07:15É necessário uma construção de infraestrutura, de fomento dessa indústria aqui no Brasil,
07:21dessa indústria de tecnologia, o que vai fazer com que durante um período, pelo menos
07:26no melhor dos mundos, alguns meses, afinal nós não sabemos como será o comportamento
07:31do Trump e do Xi Jinping, curiosamente, é muito mais previsível do que o do Trump nos
07:36próximos meses.
07:37Mas, a parte de tecnologia, nós seremos largamente afetados também.
07:42É, curiosamente mesmo, professora.
07:45E, assim, a gente tem visto, e você também mencionou, essas movimentações, as visitas,
07:50essa diplomacia da China em ação, e a China tem se mostrado resiliente em meio a essas
07:56tensões comerciais.
07:58E até onde isso deve ir?
08:00Até onde vai ser possível manter essa resiliência econômica, na sua opinião, professora?
08:05É muito interessante, porque o Trump, quando ele coloca essa posição, que a China faz
08:11uma leitura interessante, de bullying mesmo.
08:14Eu vou pressionar para todo mundo ser obrigado a conversar comigo nas taxas que eu quiser.
08:19Só que o que ele esquece é que a China é uma autocracia e ele é uma democracia.
08:23Então, a China já está acostumada, por exemplo, a lidar com pressões populares e acalmar
08:28a pressão popular, e muitas vezes você não tem esses levantes porque não é da estrutura
08:33política do país.
08:34No caso dos Estados Unidos, ele vai ter de aguentar pressões, não só da própria população,
08:39mas do próprio mercado e dos seus próprios apoiadores.
08:42A Elon Musk, como eu mencionei, que vai ser afetada por essa questão das terras caras,
08:46a galera da tecnologia que está ali na posse, que ele acabou exultando bastante.
08:52E outro ponto, a China, ela gosta da ideia de preço e visibilidade.
08:56É uma coisa interessante você observar alguns líderes mundiais, como a China, o Xi Jinping,
09:04o Putin, porque são líderes mundiais que não entram em pânico facilmente.
09:09Então, eles planejam no longo prazo.
09:12Se nós olharmos esse aumento de tarifas do Trump, ele ameaça várias vezes para aumentar.
09:16Isso já deu um tempo suficiente da China reunir a capacidade intelectual que ela tem ali
09:21dentro do governo e pintar vários cenários.
09:24Olha, como nós podemos contornar isso?
09:27A China não estava numa situação econômica tão confortável quanto a americana,
09:31então a China precisa de estabilidade, mas ela está fazendo o que dá para fazer,
09:35que é procurando essas alternativas, não só no Sudeste Asiático,
09:39mas um ponto muito interessante foi observar a aproximação da China,
09:43da Coreia do Sul e do Japão.
09:44que, embora eles tenham ali ainda algumas rusgas históricas,
09:48eles se aproximaram e uma palavra que sempre foi repetida várias vezes nesse debate entre eles
09:53foi justamente a previsibilidade econômica.
09:56Não é uma questão que eles se tornarão amigos ou grandes aliados,
10:00mas que eles iam coordenar as economias justamente para garantir uma previsibilidade
10:05para o planejamento e o desenvolvimento de cada um das suas áreas, das suas políticas, como quiserem.
10:11Algo que o Trump tirou, os Estados Unidos saem de um momento de previsibilidade
10:15e o que o Trump coloca, mesmo quando ele coloca que ele vai fazer essas tarifas,
10:20ele aumenta a tarifa depois, um pouco antes ele fala que ele vai aumentar 90 dias
10:23para segurar as tarifas, depois ele retorna com a questão tarifária,
10:27então ele não é um líder muito previsível.
10:30E a China e países asiáticos trabalham muito com isso.
10:33O Trump está achando que a China vai quebrar, mas a China vai aguentar muito
10:37e pode até ficar numa posição muito delicada.
10:40Eles estão abrindo espaço para negociação.
10:44Por exemplo, o Xi Jinping publicou em um editorial do jornal Vietnam,
10:48quando ele fez essa visita, no qual ele coloca que em uma guerra tarifária
10:52não há vencedores, por isso uma grande melhor é a negociação.
10:56É um momento que a China está de uma forma delicada mostrando para o Trump
11:00que vamos negociar, a China ainda está aberta, mas a partir do momento que o Trump
11:04fica com essa postura de grande pressão para fazer com que a China adote o que ele quer,
11:09não vai adiantar, mas a China está aberta à negociação, ela precisa da negociação.
11:14Professora Kelly, quero aproveitar a sua presença, seus comentários tão interessantes.
11:19Vamos assistir juntos uma reportagem e depois a gente ouve o teu comentário,
11:23porque o governo chinês, estamos falando sobre ele,
11:25ordenou que as empresas locais suspendam recebimentos de aviões da Boeing.
11:30Outra determinação da China também foi que as companhias aéreas do país
11:36interrompam todas as compras de equipamentos e peças de aeronaves de empresas americanas.
11:42Uma retaliação pela forte pressão dos Estados Unidos após tarifas de 145%
11:49sobre a maioria das importações chinesas.
11:52Pequim respondeu com tarifas de 125% sobre os produtos americanos.
11:57As sobretaxas alfandegárias impostas por Pequim aumentam o custo das aeronaves
12:03e peças de reposição fabricadas nos Estados Unidos.
12:07As companhias aéreas chinesas dificilmente conseguem arcar com esse custo adicional.
12:13Especialistas dizem que Donald Trump faz das tarifas uma pedra angular de sua política econômica
12:19e uma importante ferramenta diplomática para extrair concessões de outros países.
12:25Desde que anunciou as taxas, o mercado tem oscilado e sentido os impactos com as determinações
12:31do presidente americano.
12:33Há poucos dias ele voltou atrás e suspendeu as taxas por três meses,
12:37mas impôs uma tarifa universal de 10%, menos para a China.
12:42O presidente chinês Xi Jinping afirma que o protecionismo não levará a lugar nenhum
12:46e que em uma guerra comercial não haverá vencedores.
12:50A gente volta a conversar com a professora Kelly, que é doutora em Relações Internacionais,
12:58agora com esse foco nessa ordem do governo chinês em relação aos aviões da Boeing, Felipe Machado.
13:04Exatamente.
13:05Professora, a gente estava acompanhando essa notícia, o próprio Donald Trump já respondeu
13:09dizendo que na verdade a China está renegando o acordo, enfim.
13:12Ele tem que vender sempre aquela narrativa dele.
13:14E só lembrando que a Boeing tinha um acordo para vender mais de 180 aeronaves para a China,
13:23já estavam em encomendas praticamente prontas para serem enviadas para a China,
13:26vão ser canceladas e tinha 5 mil pedidos de aeronaves para as empresas chinesas
13:31que também vão ser cancelados provavelmente.
13:33E lembrando que a China, Natália e professora, a China tem três grandes companhias aéreas
13:38e ela compra basicamente da Boeing, da Airbus e da Comac, que é uma empresa chinesa.
13:43Então agora a Boeing estando fora disso aí, agora a Airbus que vai ser a grande vencedora.
13:49Eu queria saber da professora o que ela está achando dessa história da Boeing,
13:52porque agora, além de setores, agora estão envolvendo empresas diretamente americanas.
14:00Exatamente.
14:01Ali é uma forma de fazer toda aquela sinalização, onde os Estados Unidos podem ser atingidos,
14:07mas até de onde a China consegue ter uma margem de manobra.
14:09Como você colocou, você tem ainda a Airbus e você tem a Comac.
14:13Que é uma estratégia chinesa até mesmo de impulsionar a economia local.
14:19Dessa ideia de fazer com que a Comac estava com um tanto de dificuldade de conseguir
14:24uma inserção no mercado, era mais difícil competir com a Boeing, por exemplo,
14:28que tem décadas de experiência.
14:31Mas com isso o governo chinês coloca uma vantagem até mesmo para conseguir impulsionar
14:36o seu próprio setor de aviação.
14:38Uma estratégia muito parecida que nós vimos quando a Rússia sofre embargos econômicos,
14:44a Rússia também fez isso em 2014 e agora em 2022, quando ela sofre embargos devido
14:50à invasão da Ucrânia, ela usa esses embargos justamente para impulsionar alguns setores.
14:56Perfeito.
14:58E professora, o que a gente tem no horizonte, do seu ponto de vista, quais são as perspectivas
15:03para essas negociações entre China e Estados Unidos?
15:06Há espaço para soluções diplomáticas ou a gente deve ver ainda essa tensão comercial
15:12se acirrando ainda mais?
15:16Há espaço para uma negociação diplomática?
15:19A China está abrindo esse caminho, como eu falei, quando ela coloca, olha, não há vencedores,
15:23é uma forma dela colocar vamos negociar, mas ela não vai ceder a um bully, ela vai aguentar
15:28e uma coisa interessante que você pode esperar é talvez os outros países se organizarem
15:34em uma ordem internacional no qual vai colocar para os Estados Unidos em um segundo plano.
15:39Se o Trump permanecer dessa forma, colocando altas tarifas para todo mundo, dificultando as
15:45negociações com todo mundo, talvez o que ele consiga é basicamente acelerar o que ele
15:50diz que ele quer evitar, uma ordem internacional no qual você tem uma China em uma posição
15:55centralizada.
15:56Ainda vai demorar um tanto a isso, uma ordem internacional não se troca tão rápido assim,
16:02mas os primeiros passos para isso é justamente esse.
16:06Quando você fica muito difícil negociar com os Estados Unidos, você precisa de alternativas,
16:10sua população precisa de suprimentos, você precisa continuar escoando o comércio internacional,
16:15não pode parar apenas porque os Estados Unidos não querem, embora os Estados Unidos
16:20sejam a grande representante desse comércio internacional, mas os países vão começar
16:25justamente a organizar e buscar alternativas americanas.
16:30A China já está oferecendo alternativas aos Estados Unidos, principalmente no mundo
16:34em desenvolvimento de longa data.
16:36O Brasil, por exemplo, no segundo governo Lula, participa muitas dessas iniciativas, a ideia
16:41do Sul global e agora o que você pode ver é uma aceleração talvez dessas questões,
16:47principalmente ali no âmbito dos BRICS, se ele manter a configuração original, embora
16:52tenham entrado alguns novos atores que dificultam um tanto o alinhamento de políticas.
16:57Felipe, mais uma sua.
16:58Professora, nós temos visto aí o presidente Xi Jinping viajando ali pelo sul da Ásia,
17:04nós temos vendo a China se aproximando um pouco da União Europeia, ela já tem muita
17:09influência aqui na América do Sul, na África tem grandes obras de infraestrutura e nos Estados
17:13Unidos, enquanto isso, Donald Trump fez uma coisa que sempre é acusado, os grandes líderes
17:19são sempre acusados de fazer antes das derrotas, que é declarar guerra a vários inimigos ao
17:23mesmo tempo.
17:24Você acha que num futuro próximo nós podemos ver um mundo onde a China tem mais relações
17:28com o resto do mundo, menos isolado, e os Estados Unidos mais isolado?
17:35A China já buscava isso antigamente, mas uma coisa que nós temos de olhar essas relações
17:40é que a China é extremamente pragmática, ela busca relações econômicas, onde há
17:45interesses comerciais, em alguns casos políticos, como ali na Ásia Central, que ela precisa
17:49que essa região seja mais estável por uma outra questão, que é a proximidade da província
17:55de Xinjiang, mas nessa questão econômica a China vem tentando justamente se mostrar
18:03mais aberta para conseguir esse diálogo, mas em uma ordem internacional dominada pelo
18:08padrão americano estava muito difícil.
18:10Agora que o padrão americano, na verdade, não ter um padrão, a China talvez tenha uma
18:14entrada, justamente porque ela está colocando isso, olha, eu não vou interferir nos assuntos
18:18internos, eu estou procurando nesse caos econômico, achar uma navegabilidade, o que
18:23eu posso te oferecer é uma previsibilidade nas nossas relações e essa carteira de
18:28produtos, esses preços, e seguindo, de novo, curiosamente, a China agora defendendo a
18:34Organização Mundial do Comércio, defendendo a questão de tarifas, ou seja, mantenha os
18:38acordos que foram feitos, algo que as pessoas já não se assustam tanto, estão mais
18:43assustadas com um cenário no qual não se sabe se amanhã Trump vai colocar novas
18:47tarifas ou não.
18:49Professora, para a gente finalizar, eu queria te ouvir sobre o seguinte ponto, o Trump
18:53ele está colocando em prática as promessas, exatamente o que ele vinha pregando durante
18:59a campanha, então não há exatamente uma surpresa na direção para a qual ele está
19:06levando os Estados Unidos, mas para você, professora, que estuda profundamente esses
19:11temas, de alguma maneira, a intensidade, o ritmo, a maneira de implantar tudo isso, tem
19:17surpreendido?
19:18Tem um fator imprevisível mesmo no que está acontecendo nesse momento?
19:23A imprevisibilidade, ela vem, na verdade, na forma, como você está colocando, a estratégia,
19:30digamos, um fator norteador não é uma surpresa. Trump nunca escondeu que ele colocaria tarifas
19:35com relação a que ele sentisse que lesasse os Estados Unidos. Eu acho que alguns países
19:40talvez achassem que fossem conseguir se livrar, no caso, eu acho que a União Europeia, por exemplo,
19:45achou que talvez ela fosse conseguir ficar livre dessa questão de tarifas, mas viu que não
19:50é isso, o Canadá também foi pego um pouco de surpresa nessa questão tarifária, mas
19:55que o Trump queria, o lado, o norte, ele sempre deixou muito claro. Uma coisa que nós temos
20:02de observar é que a MAGA, a Make American Great Again, essa união do Trump, ela tem
20:10dois fatores, né, que algumas pessoas chamam de MAGA profunda, a Deep MAGA, e a MAGA
20:16obscura, a Dark MAGA. O interessante entre esses dois grupos é que eles entram em choque
20:23em como levarem essas novas políticas. Tem um grupo ali da MAGA, eles acreditam mesmo
20:29que você tem de colocar mais tarifas, você tem de reforçar ali uma proteção da indústria
20:35e do comércio americano, mas não da forma que está sendo feita, que é um grupinho mais
20:42simbolizado pelo Navarro. E um outro grupo, que é a Dark MAGA, que é ali com
20:47Elon Musk e outra galera que fala, não, tem de ser agressivo, tem de colocar essas
20:51mesmas restrições, a gente tem de conquistar, por exemplo, espaço na Groenland, então é
20:56muito mais bruxo. O interessante de observar nisso daí é, a estratégia vai sair de acordo
21:02com o choque entre essas duas MAGA. O que que o Trump, que esses dois lados aconselham,
21:07e o presidente vai? Onde, para qual lado o Trump vai tender mais ao longo desse mandato?
21:14Ele ainda está nos primeiros meses e isso requer um fôlego para ele continuar
21:18mantendo esse ritmo nos próximos quatro anos.
21:22Tá certo, quero agradecer demais a excelente entrevista da professora Kelly de Souza Ferreira,
21:26doutora em Relações Internacionais e diretora de Relações Internacionais da PUC Campinas.
21:32Muito obrigada, professora Kelly. Volte mais vezes ao Money Times.
21:35Obrigada pelo convite. Boa tarde.

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