O deputado Rodrigo Valadares (União-SE) concedeu entrevista exclusiva ao Jornal Jovem Pan. O relator do PL da Anistia analisou a decisão de Hugo Motta em não pautar o projeto na Casa. A bancada do Partido Liberal articula com a oposição uma ameaça de obstrução das pautas e romper a relação com o presidente da Câmara. Dora Kramer e Nelson Kobayashi participam.
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NotíciasTranscrição
00:00A gente volta a falar sobre o projeto da Anistia, justamente com o relator dessa matéria na CCJ,
00:05o deputado Rodrigo Valadares, do União Brasil do Sergipe, o presidente da Câmara, Hugo Mota,
00:09decidiu não pautar a urgência da proposta.
00:12Deputado Rodrigo Valadares, boa noite, muito obrigado por estar aqui, bem-vindo.
00:18Boa noite, Iago, boa noite a todos da Jovem Pan, é um prazer muito grande estar falando com cada um de vocês,
00:22que Deus possa abençoar a nossa entrevista, obrigado pela oportunidade de a gente poder falar
00:26de um tema tão importante para o nosso país.
00:28Muito obrigado. Bom, na avaliação do senhor, o que é possível fazer a partir de agora?
00:32Porque, inclusive, o deputado Hugo Mota fala em discutir o mérito dessa questão,
00:38suspendeu a análise da urgência, a possibilidade de se votar logo em seguida essa matéria.
00:45De que forma que a oposição vai tratar isso a partir de agora, deputado?
00:50Tiago, na verdade, ficou decidido no dia de hoje, e nós, claro, tínhamos a expectativa
00:54que essa matéria pudesse ser pautada para a próxima semana.
00:58A votação do requerimento de urgência ficou decidido pela maioria dos partidos,
01:02pela maioria das lideranças, é que essa discussão será adiada.
01:06Ou seja, que vamos tentar buscar um consenso em torno do texto
01:09para que a gente possa votar o requerimento de urgência,
01:13mas já com delineações básicas sobre o rumo do texto.
01:18Apesar do protocolo ser primeiro, vota-se a urgência, é designado o relator e depois
01:24vota-se a matéria. Mas, por se tratar de um tema tão complexo, esse foi o entendimento.
01:30Claro que nós, como oposição, iremos continuar pressionando para que a gente tenha
01:34esse requerimento de urgência pautado o quanto antes.
01:37Esse requerimento de urgência que contém 264 assinaturas, ou seja,
01:42mais de 50% da casa, o que é coro mais do que suficiente para aprovação do PL da Anistia,
01:47mostrando que a grande maioria dos deputados é a favor de debater e discutir a matéria
01:53e é a favor de aprovar a matéria.
01:55Então, nós temos que continuar pressionando para que a gente tenha essa matéria
01:59tão importante para o Brasil, tão importante para a gente virar a página,
02:03pacificar o nosso país, que seja pautado o quanto antes.
02:06Mas, mais importante para a gente é para as pessoas que estão presas,
02:09para os familiares que vivem essa agonia.
02:12Um segundo, Tiago, para quem está preso é uma eternidade.
02:15Muito fácil para a gente debater a vida dos outros num escritório,
02:21tomando café quente e água gelada, enquanto pessoas estão presas por crimes que não cometeram.
02:25Então, a nossa atitude, a partir de agora, será a obstrução total,
02:30tanto no plenário quanto nas comissões, e continuar pressionando, dialogando,
02:36encontrando caminhos para que a gente tenha tão logo pautado e aprovado o PL da Anistia.
02:42Entre os caminhos, deputado, só para ficar claro,
02:45o senhor acha que é possível fazer uma proposta mais limitada?
02:50Inclusive, eu vi uma declaração do senhor, até mesmo é possível conversar diretamente com o Supremo
02:55para discutir as penas das pessoas envolvidas?
02:59Veja bem, Tiago, eu fiz um paralelo, eu fui relator da CCJ no ano passado dessa matéria,
03:04e travamos um longo debate, desde o ano passado,
03:07e vimos crescer esse tema junto à opinião pública, junto à casa.
03:11Vimos um tema que antes era visto como algo que não ia para canto nenhum,
03:14era muitas vezes motivo até de piada, era risível para alguns parlamentares.
03:19Vimos esse tema tomar as ruas, tomar a pauta, tomar a mídia, tomar as discussões.
03:24Hoje, na reunião de líderes, em qual fui representando a minoria,
03:29eu escutei de absolutamente, Tiago, todos os líderes,
03:32que as penas foram exageradas e que algo deve ser feito.
03:35Isso já é um grande avanço.
03:37No ano passado, quando relatávamos na CCJ essa matéria,
03:40não existia esse consenso, não existia esse diálogo.
03:42E desde aquele momento, a nossa intenção, o nosso procedimento foi buscar o entendimento,
03:49buscar o consenso, buscar o diálogo.
03:52Fui ao Supremo Tribunal Federal nenhuma nem duas vezes, fui diversas vezes,
03:56convencei com diversos ministros, convencei com praticamente todos os líderes da época,
04:01dos maiores partidos, seja da direita, do centro, da esquerda,
04:05convencei com diversos parlamentares.
04:06Naquele momento não existia o terreno fértil, que hoje a gente já vê que existe.
04:10Ou seja, existe muito mais abertura para a construção desse diálogo e desse consenso.
04:15E a gente aguarda de maneira muito ansiosa que venha uma contraproposta,
04:19principalmente da esquerda e do governo,
04:21que até o momento falam que desejam diálogo, que desejam construir,
04:24que desejam ver o texto, mas não apresentam quais são os pontos nevrálgicos importantes
04:29para que eles possam nos ajudar e nos acompanhar em a gente pacificar esse país,
04:34em a gente tirar aquelas pessoas que participaram da manifestação do dia 8 da cadeia o quanto antes.
04:39Então a gente fica essa provocação que a esquerda, a liderança do governo,
04:43a liderança dos partidos de esquerda, possam dizer o que é que para eles é importante
04:48que a gente possa construir esse texto em conjunto.
04:51O importante é a gente tirar aquelas pessoas da cadeia.
04:54Até o momento, lá na CCJ, lá no ano passado, não havia esse tipo de diálogo.
04:59Agora a gente vê que já existe a formação desse pensamento, que é muito positivo.
05:04E nós estamos, e eu falo aqui como oposição, falo aqui como minoria,
05:07nós estamos 100% abertos e dispostos ao diálogo,
05:12contando que aquelas pessoas possam, quanto antes, sair da cadeia.
05:16Deputado, vou chamar os comentaristas, Dora Kramer e Nelson Kobayashi.
05:19Dora.
05:21Boa noite, deputado.
05:23Bom, o primeiro ponto que era a minha dúvida, o senhor já respondeu.
05:26Quer dizer, tem espaço para se discutir um novo texto, tá certo?
05:31O senhor disse aí, admitiu com todas as letras.
05:34Então, vamos para a questão da obstrução.
05:36Houve um movimento anterior que precisou ser desfeito.
05:41Enfim, houve um reculpo, que essa obstrução não deu certo.
05:44Outro dia mesmo, o líder da oposição do Senado,
05:47o senador Rogério Marinho, disse o seguinte, a seguinte frase,
05:50não temos tamanho suficiente para fazer uma obstrução eficiente.
05:58Como é que essa obstrução, agora que o senhor coloca a nível de 100%,
06:03como é que ela poderá ser bem-sucedida?
06:07Perfeito, Dora. Muito obrigado pela pergunta.
06:09É uma oportunidade muito importante para a gente poder esclarecer.
06:14A primeira parte da pergunta é dizer que nós sempre estivemos dispostos a esse diálogo
06:18e a disposição da construção desse texto.
06:21Falei com o líder Lindenberg diversas vezes, o líder Zé Guimarães,
06:25diversos deputados de esquerda, os líderes, o líder Isnaldo.
06:28Ou seja, sempre tivemos a disposição para a construção desse diálogo.
06:32A gente não via a disposição da esquerda para a construção desse diálogo
06:35porque acreditavam que era um tema que não chegaria a lugar nenhum.
06:39E hoje a gente já vê que existe um crescimento nesse sentido.
06:44Hoje foi consenso, Dora, na reunião de líderes,
06:47que as penas são exageradas, que a dosimetria foi feita de maneira errada
06:50e que existe uma injustiça aí que precisa ser reparada.
06:53Em relação à obstrução, nós iremos fazer a obstrução regimental
06:57dentro daquilo que nos cabe.
06:58Hoje a oposição, Dora, tem entre 100 e 130 deputados.
07:02E o que o senador Lindenberg, Rogério Marinho, falou é verdade.
07:05Esse número não nos garante uma obstrução total.
07:10Ou seja, que a gente possa paralisar todos os trabalhos da casa.
07:13Porque para isso a gente precisaria do coro de maioria simples.
07:16Ou seja, 2, 5, 7.
07:18Nesse coro de 100 a 130, nós conseguimos fazer a obstrução
07:20que nós chamamos de obstrução regimental.
07:23Ou seja, toda a votação no plenário, toda a votação nas comissões,
07:26entrar com os kits de obstrução, adiamento de discussão,
07:29inversão de pauta.
07:30Ou seja, uma votação que demoraria 30 minutos, 40 minutos,
07:34ela vai demorar 4, 5, 6 horas.
07:36Ou seja, é obstrução regimental dentro da lei, dentro do regimento,
07:40o que dificulta a execução dos trabalhos.
07:43Ou seja, os trabalhos não serão 100% paralisados por justamente isso.
07:47Nós não temos esse número.
07:48Isso é verdade.
07:49Mas nós iremos dificultar bastante a aprovação das matérias.
07:53Porque nós entendemos que precisamos, primeiro, virar essa página,
07:57pacificar o país.
07:58E aí sim, debater temas tão importantes que precisamos para o nosso país.
08:01A questão da violência, as facções que tomaram o nosso país,
08:04que tomaram o nosso Nordeste.
08:05A questão do desemprego, a questão da inflação,
08:08a questão do aumento de preços, a questão do preço dos combustíveis,
08:10dos alimentos, tem muitos temas importantes que nós precisamos debater.
08:13Mas para quem está preso, o tema mais importante agora
08:16é a gente tratar da pacificação e da amnistia para o nosso país.
08:20Kobayashi, deputado Rodrigo, é um prazer falar contigo.
08:22Boa noite.
08:23A pergunta é sobre como é que fica o clima
08:25a partir dessas decisões tomadas pelo presidente Hugo Mota.
08:28Ele que foi eleito com apoio tanto dos parlamentares governistas
08:32quanto dos da oposição.
08:34Como é que fica o clima agora em relação à convivência,
08:39ao relacionamento com ele e não só com ele,
08:41também dos parlamentares com os líderes,
08:43que não endossaram aquilo que havia decidido a maioria dos deputados
08:48nas mais de 260 assinaturas?
08:51Kobayashi, nós precisamos fazer aqui um reconhecimento
08:53da postura do presidente Hugo Mota,
08:55que foi uma postura 100% correta e democrática.
08:59O presidente Hugo começou, e aí eu tenho reserva para falar isso,
09:02uma reunião com mais de 20 líderes não é uma reunião que você pode ter reserva.
09:07O presidente começou justamente dizendo que agora é o momento
09:09de enfrentar temas que não há consenso,
09:11ou seja, temas polêmicos, temas que não vão ter consenso de todos os líderes.
09:16Então, ele colocou, a primeira que empuxou o tema da amnistia
09:19foi o próprio presidente Hugo Mota,
09:21e deixou os líderes falarem para formar o convencimento.
09:24Dentro desse convencimento, todos os partidos,
09:27à exceção do PL e do Partido Novo,
09:30os partidos de centro manifestaram pelo adiamento
09:33para a próxima semana da discussão,
09:35e os partidos de esquerda manifestaram
09:37para que não haja a pauta da matéria.
09:40Com esse número, o presidente Hugo tomou a sua decisão
09:42de não pautar nesta semana.
09:44Só que, ao mesmo tempo,
09:46as pessoas não irão cobrar dos líderes.
09:49Eu falo isso do público em geral,
09:50das pessoas que estão em casa,
09:52porque elas entendem que é uma decisão do presidente,
09:55e eles não estão errados em relação a isso.
09:56O presidente tomou, em conjunto com o colegiado,
09:59de maneira democrática e de maneira ampla,
10:01ouvindo absolutamente a todos.
10:02Mas o líder da oposição, o Zucco,
10:04falou uma frase que é muito verdade.
10:05Ele disse, olha, presidente,
10:06o que está acontecendo aqui nós sabemos.
10:08Foi uma decisão dos líderes,
10:10que até de maneira estranha,
10:14não atenderam à vontade da bancada,
10:16porque, por exemplo, lá na União Brasil,
10:17nós tivemos 70% praticamente de assinaturas
10:20pró-requerimento de urgência.
10:21A União decidiu por adiar.
10:23O PP teve mais de 70%,
10:25decidiu por adiar.
10:26PSD, 60%.
10:28E assim, sucessivamente.
10:30O que o Zucco falou, olha, presidente,
10:31amanhã, quem estará na Berlinda,
10:33quem estará sendo culpado por não estar na pauta,
10:37é o senhor.
10:38E eu quero aqui fazer esse reconhecimento
10:40que o presidente Hugo tomou a decisão
10:42de maneira democrática
10:44e escutando os líderes.
10:45Foi uma posição dos líderes
10:46de, neste momento, não pautar.
10:48A gente vai continuar trabalhando junto com os líderes,
10:51no convencimento, junto com as bancadas,
10:53pedindo a ajuda dos deputados
10:55que convençam os seus líderes.
10:57O líder é o representante da bancada
10:58e, assim, não é confortável para a gente
11:01ver uma bancada que tem 60%, 65%, 70% de assinatura
11:04pró-uma matéria.
11:06Essa matéria, o líder não querer discutir
11:09nem debater.
11:10Mas, claro, é prerrogativa única
11:11da presidência pautar.
11:13Se o Hugo quisesse, ele teria pautado.
11:15E tomou a decisão de maneira democrática
11:17ouvindo a liderança.
11:18Semana que vem, teremos novamente reunião de líderes.
11:20O tema será novamente trazido
11:23e a gente espera que a gente possa ter
11:25esse tema construído e entendimento
11:27em relação às premissas do texto,
11:29às diretrizes básicas do texto.
11:31Escutar o que venha, principalmente da esquerda,
11:34eu faço aqui, novamente, a provocação
11:35que eles possam nos apontar
11:37quais pontos são importantes para eles
11:39para a gente construir esse entendimento
11:41e construir essa solução para o país.
11:43Deputado Rodrigo Valadares, do União Brasil,
11:45mais uma vez, obrigado pela atenção
11:46com os nossos espectadores.
11:48Até a próxima. Um abraço.
11:50Muito obrigado.