O economista Roberto Luis Troster analisou os desdobramentos da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Ele destacou a postura serena e estratégica dos chineses diante do improviso norte-americano. A semana começou com recuos de tarifas e incertezas no ar.
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NotíciasTranscrição
00:00agora. E a gente volta a falar sobre a guerra tarifária entre Estados Unidos e China.
00:05O que a gente pode esperar dos desdobramentos para essa semana, hein?
00:09Depois de todos esses entraves comerciais entre as duas principais economias do mundo.
00:14Quem vai analisar esse cenário é Roberto Luiz Troster, economista da Partner at Troster & Associados.
00:21Agora, Roberto, a China, a gente tem visto aí, né?
00:24A China, ela está se mostrando bem preparada para enfrentar essa guerra, né?
00:30Bom dia para você, muito obrigada por aceitar nosso convite e participar ao vivo aqui com a gente do Agora.
00:36Muito obrigado pelo convite. A China está preparada.
00:40A China, acho que um ministro chinês falou que eles leram um livro, Salda, A Arte da Guerra, né?
00:47Então, estão jogando muito bem, fazendo muito bem o papel deles.
00:51E os Estados Unidos estão improvisando.
00:55O que acontece?
00:57Você tem algo chamado Armadilha de Tucídides, né?
01:01Tucídides foi um historiador que analisou as guerras do Peloponês,
01:05especificamente quanto a uma potência ascendente, que era Esparta, contra Atenas, que era a potência hegemônica.
01:13E várias vezes ao longo da história,
01:16quando você tinha uma potência emergente, desafiando a potência hegemônica, acabava em guerra.
01:24É o que está acontecendo agora.
01:26A potência dominante dos Estados Unidos é emergente à China.
01:31E a nossa sorte, para o Brasil e para o mundo,
01:34é que é uma guerra comercial e não uma guerra militar.
01:38Então, mas os Estados Unidos estão mostrando uma estratégia mais fraca.
01:47Hoje, em 190 países que têm o mundo, mais ou menos, nas Nações Unidas,
01:52150 têm mais comércio com a China do que com os Estados Unidos.
01:58A China está reagindo bem.
02:00obviamente, é afetada com a guerra comercial,
02:04mas está abrindo as suas frentes, algo que o Brasil está fazendo.
02:09A demanda de alguns produtos brasileiros pela China tem aumentado.
02:15E o mundo como um todo está reestruturado.
02:19Aí, voltando para a tua pergunta,
02:21o que deve acontecer essa semana?
02:23Eu imagino que mais anúncios vivos e vindas de tarifas nos Estados Unidos.
02:32Acho que o mundo está reagindo bem, acho que o Brasil está reagindo bem.
02:37E agora, é esperar para ver.
02:40Tem uma...
02:41O que tem me chamado muita atenção aqui no jornal,
02:43a gente entrevista algumas pessoas, né?
02:44Algumas das quais, inclusive, estão na China.
02:46E é o tom diferente quando a gente fala dos Estados Unidos
02:51e quando fala da China.
02:52Quer dizer, nos Estados Unidos, as medidas parecem que vão sendo tomadas
02:55um pouco num tom mais frenético, né?
02:57Esse vai e vem, zigue-zague.
02:59E a China, ela parece que estabilizou ali no patamar de
03:02vamos ter perdas, porque o efeito é ruim.
03:05Inclusive, o anúncio agora do PIB deve dar sinais para isso.
03:08Mas ela tem uma certa confiança de longo prazo
03:12que é surpreendente e talvez a coloque numa situação
03:15mais forte para essas negociações.
03:18E eu te pergunto, esse efeito mais sereno,
03:21que parece estar tendo, né?
03:23Está acontecendo com os chineses.
03:25Ele tem base mesmo?
03:27Dá para ficar calmo?
03:28E é os Estados Unidos que está realmente, enfim,
03:31gerando um frenesi que quem tem robustez
03:34poderia não cair nesse movimento tão frenético?
03:39É, uma boa estratégia de mostrar que o outro está perdendo o controle.
03:44Como estratégia de inovar essa ação,
03:48a estratégia americana de fazer ameaças
03:51que não faziam sentido nos Estados Unidos há 70 anos atrás,
03:57no pós-guerra, fazer ameaças, como de fato fez.
04:02Mas por quê?
04:03Era a potência que tinha acabado de ganhar a Segunda Guerra Mundial,
04:06impôs as regras deles em muitos países,
04:09no Japão, na Alemanha.
04:11Realmente era o mundo americano.
04:15Hoje, a China, além de, em alguns pontos,
04:20está mais forte que os Estados Unidos,
04:22além disso que eu falei sobre comércio exterior,
04:25produz mais...
04:26Desculpa, é uma tosse que vem.
04:32Tem mais indústria do que os Estados Unidos,
04:36em tecnologia, em uma série de coisas,
04:39está mais avançada que os Estados Unidos,
04:41os Estados Unidos em outros.
04:42Continua sendo a economia mais forte.
04:45Mas um modo muito bom de negociar é falar,
04:48olha, nosso jogo é esse,
04:49você quer mudar as regras,
04:51a gente fica aqui olhando.
04:53Os Estados Unidos já recuou,
04:54recuou primeiro dando uma pausa de 90 dias,
04:59agora tirando a tributação
05:00de alguns produtos eletrônicos,
05:05agora anunciando que talvez vai subir de novo.
05:07Quer dizer, parece que estão um pouco mais perdidos.
05:11Isso abre espaço para a China consolidar.
05:14Mesmo se tudo o voto,
05:15se Trump gerasse tudo de hoje para amanhã,
05:20ele perdeu a credibilidade.
05:22Quer dizer, isso é algo que se não...
05:23credibilidade é algo que demora anos, meses, décadas
05:27para ser conquistado,
05:29e os Estados Unidos estão perdendo isso.
05:31Por outros lados, os chineses respondendo a tua pergunta,
05:35mostrando serenidade, mostrando que estabilidade,
05:39estão mostrando que sabem onde querem ir.
05:41Roberto, eu vou puxar esse finalzinho do gancho que você falou também dessa pausa de 90 dias,
05:48que acho que foi a notícia aí mesmo do último fim de semana.
05:52Eles fizeram esse anúncio não tão publicamente como foram feitos todos os outros anúncios.
05:59ficou ali meio na entrelinha, né?
06:01Tipo, a história da alfândega dos Estados Unidos.
06:05A gente até deu essa notícia aqui durante a programação do Times Brasil no sábado.
06:10Então, como é que você avalia isso?
06:12Você acha que, de fato, foi um pequeno passo, como avaliou o governo chinês?
06:17Ou não? Ou foi um passo significativo?
06:19Até porque a gente sabe que as exportações desse segmento, né?
06:24De telefones, de smartphones e de eletrônicos,
06:26é a maior parte das exportações ali dos Estados Unidos, né?
06:30Aliás, da China para os Estados Unidos.
06:32Então, você avalia como um pequeno passo ou como um passo significativo?
06:37Isso que vai ajudar aí.
06:40Olha, tem uma expressão em inglês que se chama blink.
06:43Blink é quando alguém pisca, né?
06:47Uma tradução pobre disso seria quando alguém afina, sabe?
06:51Aí, piscou, ficou, sabe?
06:53E é isso que os Estados Unidos fez.
06:56Isso não mostrou força, como você mesmo falou.
07:00Foi anunciado de maneira sutil no fim de semana.
07:05Mas o fato é que deu um passo para trás.
07:09Deu dois passos para trás.
07:11Agora, o setor agro já está reclamando.
07:14Possivelmente, vai ter que dar mais um passo para trás.
07:17É um governo de empresários muito influentes.
07:22Então, o razoável do que vai acontecer essa semana
07:25é que a gente veja alguns passos para trás a mais.
07:29Eu acho que a pior coisa que você tem por empresário
07:33é a incerteza.
07:35E é isso que o Trump está dando ao comércio local e internacional.
07:40Há economistas que já prevêem uma recessão ainda
07:44nesse primeiro semestre.
07:48Perfeito.
07:49Muito obrigada, viu, pela sua entrevista,
07:51pelos seus esclarecimentos.
07:53Roberto Luiz Troster, economista da Partner at Troster Associados.
07:58Um ótimo dia para você e uma ótima semana.
08:00Obrigada, viu?
08:01Uma ótima semana para vocês também.
08:03Obrigado.
08:03Bom dia.