Moradores da Favela do Moinho, no centro de São Paulo, protestam contra a demolição de casas. Parte das famílias já foi realocada com auxílio-aluguel, mas há resistência de parte da população, que ateou fogo e impediu a circulação de trens na região. O ouvidor das polícias do estado de São Paulo, Mauro Caseri, explicou mais sobre o assunto.
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NotíciasTranscrição
00:00Mas eu quero começar falando de São Paulo porque a presença da polícia militar na favela do Moinho
00:03gerou um novo protesto de moradores nesta tarde.
00:06O Misael Mainetti está lá, acompanha toda essa movimentação e vai trazer as informações pra gente agora.
00:13Os manifestantes são contra a demolição, a gente ouviu as autoridades há pouco aqui no Linha de Frente.
00:18Quais são suas informações agora, hein, Misael?
00:20Bem-vindo, boa tarde pra você.
00:24Oi, Evandro, muito boa tarde pra você e pra todo mundo que acompanha o 3 em 1.
00:27Então, falamos ao vivo da CDHU em São Paulo, onde moradores da favela do Moinho
00:33esperam uma reunião do comando da polícia militar, também representantes da CDHU
00:39e junto aqui com o Mauro Cazeri, ouvidor da PM.
00:43Eu acabo de ouvir aqui que o comando não vem, é verdade? Boa tarde.
00:47É, eu acabei de receber essa informação de uma liderança, que é o Fernando,
00:50de que o comando da polícia militar não vem pra reunião.
00:53Deixa eu explicar pra nossa audiência o que aconteceu desde cedo.
00:57Colocaram fogo no trilho do trem que passa dentro da comunidade do Moinho
01:01como protesto pra não demolir essas moradias.
01:05Algumas moradias já foram demolidas.
01:07Então, houve ali um confronto entre polícia militar, que estava protegendo os funcionários da CDHU.
01:13Houve um confronto, né, com os moradores.
01:16Teve bomba de efeito moral, teve também gás, né, enfim, todo tipo ali de armamento que...
01:23Desse tipo, né, desse perfil.
01:25E aí houve uma confusão geral, colocaram fogo de novo e toda a população se reuniu e veio pra cá.
01:31Por quê?
01:31A gente acompanhou uma longa conversa no Linha de Frente, no programa anterior,
01:35do comando da polícia militar, dizendo, diálogo, nós queremos diálogo, nós queremos conversar.
01:40Vamos pra CDHU, junto com os moradores aqui que estão reunidos aqui,
01:44mais o ouvidor da polícia militar, mas o comando não veio.
01:47Por que será?
01:48Não sei, eu participei desse processo, dessa discussão, construímos lá na comunidade a possibilidade de vir discutir.
01:55Eu apresento a polícia militar, o CDHU e também do governo federal,
01:59pra gente entender o que efetivamente o governo federal teria autorizado num ofício.
02:06A comunidade fala que o acordo que foi feito seria de emparedar as unidades que estavam sendo desocupadas
02:16e que no final seria demolido toda a comunidade de uma única vez.
02:23Esse ofício, ele autoriza, e aí a comunidade diz que não tinha conhecimento desse ofício,
02:29o que se chama nesse ofício de descaracterização.
02:34E a questão é, o que é descaracterizar?
02:36Pra alguns descaracterizar é fechar a porta, arrancar a porta, a janela, emparedar pra que ninguém mais ocupe
02:45e ficava aguardando pra fazer a demolição.
02:47O entendimento, e aí não é um entendimento, a prática do CDHU foi de chegar lá e demolir as unidades.
02:55E aí isso implica numa série de questões.
02:57Desde, ao demolir uma unidade, se ela divide parede com o vizinho,
03:03você vai colocar em risco a unidade do vizinho que não aderiu à proposta.
03:08Além disso, tem pessoas que usam a água de maneira compartilhada.
03:13Então o cavalete abastece duas residências.
03:16Se você inutiliza o cavalete, o outro não tem água.
03:20Esses são aspectos que eu vou chamar de estrutura.
03:24Agora, tem um aspecto que é assustador.
03:27É o nível que você cria de tensão na comunidade.
03:33Tem creche, uma porção de crianças, pessoas idosas, pessoas indo trabalhar.
03:38Você cria um baita clima.
03:40E a população se posicionou contrário a esse tipo de comportamento,
03:45o que ocasionou por parte da empresa, da CDHU, me parece, a chamada da Polícia Militar
03:54e onde ocorreu tudo o que você já narrou.
03:57O que, para mim, é uma surpresa, porque se pactuado e se respeitado os pactos,
04:04isso não teria acontecido.
04:06O que eu vi ali, posso narrar como jornalista,
04:08até para a nossa audiência entender, é uma área que pertence à União
04:13e os moradores receberam a proposta de 800 reais mensais
04:17para deixarem as casas e alugarem um local.
04:20Não tenho a informação de quanto tempo eles receberiam esses 800 reais.
04:25Esse é um dos principais motivos.
04:27Com essa quantidade de dinheiro, a maioria deles alega que não consegue alugar uma moradia.
04:31A CDHU chegou agora de manhã, então eles colocaram fogo,
04:35algumas pessoas colocaram fogo em protesto,
04:38os trens pararam de funcionar, o trem passa dentro da favela do Moinho
04:42e aí a CDHU chamou a Polícia Militar.
04:45Foi nesse momento que houve um confronto ali numa rua, né,
04:49e houve essa tentativa da PM de proteger os funcionários da CDHU
04:53e fazerem, ajudarem, darem auxílio para os funcionários chegarem até essas moradias
04:58e fazerem a demolição.
04:59Consegui ver algumas moradias que foram demolidas.
05:04Seriam moradias que foram autorizadas, ou seja, moradores que toparam receber esses 800 reais.
05:10Agora uma pergunta que eu tenho para o senhor.
05:13Se o senhor já tiver uma resposta, né, objetiva sobre essa pergunta.
05:16Houve excesso por parte da Polícia Militar ou não?
05:19Isso vai ser investigado?
05:20Então, eu estou acompanhando desde, acho que, às 11 horas da manhã.
05:26Eu não quero fazer nenhuma afirmação agora, porque eu queria ver as cenas, né,
05:32para ver se, de fato, alguns comportamentos se faziam necessários.
05:36Mas o que eu tenho, e isso está muito claro para mim, a imagem que eu tenho,
05:42é da comunidade, caminhando em direção ao batalhão de choque,
05:46duas deputadas com as carteiras de deputadas na mão, pedindo para fazer uma intermediação.
05:51Eu vi isso.
05:52Para que isso não, para que não acontecesse o que aconteceu.
05:55E, num dado momento, começou a disparar bomba de efeito moral,
06:04inclusive nessas deputadas, né?
06:07Então, isso eu presenciei.
06:09Mas eu quero analisar melhor, eu quero pensar melhor,
06:12para eu fazer uma afirmação a respeito.
06:14Mas, certamente, em havendo abuso,
06:17constatado no ponto de vista da ouvidoria,
06:19nós encaminharemos ofícios para a congenitoria,
06:23para que eles apurem se houve abuso ou se não houve abuso.
06:26Nesse momento, também, quando houve essa confusão
06:29entre polícia militar, né, tentando proteger o CDHU
06:32e os moradores da favela do Moinho,
06:34um homem foi detido, ele ofereceu resistência e ele foi preso.
06:39Seria um morador chamado Reina,
06:41que teria feito uma cirurgia do coração recentemente.
06:44De acordo com a comunidade, o Reina estava ali,
06:47tentando impedir a entrada da polícia para não fazer essa demolição
06:51e a polícia teria detido ele, justamente, nessa confusão.
06:55Como o senhor disse, os ânimos ficam lá em cima.
06:58Neste momento, tudo tem que ser apurado, né?
07:00É, não é difícil concluir que as pessoas que são moradoras
07:06nessa comunidade,
07:10façam tudo o que aconteceu, o que você viu e o que eu vi
07:13e que a gente sabe o que aconteceu,
07:15o que já aconteceu ontem, anteontem,
07:16já vem acontecendo,
07:18é óbvio que essas pessoas devem estar
07:20com os nervos à flor da pele.
07:22Então, é...
07:23Não é assim...
07:26Dá para entender o que está acontecendo,
07:29porque essas pessoas estão se rebelando
07:31e elas, naquele momento em que houve
07:33o que você chamou de confronto,
07:36essas pessoas acabavam de sair de uma reunião
07:38e elas tinham como proposta
07:40caminhar até aqui, onde estamos agora.
07:43Elas não tinham jamais a proposta
07:45de fazer um enfrentamento à polícia.
07:47O que eles deliberaram na Assembleia deles
07:49era chegar até aqui para que fossem recebidos,
07:52para que fosse interpretado esse bendito ofício
07:56que deu a margem a essa discussão toda.
07:59Então, se tivessem ouvido as deputadas,
08:03elas teriam dito qual que era a proposta,
08:05eles caminhariam, que são três, quatro quadras daqui,
08:08viriam aqui fazer uma manifestação
08:10para serem atendidos. Por quê?
08:12Porque eu e as deputadas e algumas lideranças
08:15estivemos aqui de manhã
08:16para ser atendido pelos representantes da CDHU
08:19e nós não fomos recebidos.
08:21Eles alegaram que nós não poderíamos...
08:23que eles não poderiam nos receber
08:24porque eles não tinham autonomia para tal.
08:28Mas nós já tínhamos tentado ser recebidos,
08:30voltamos, olha, eles não nos receberam
08:32e eu não sei se por essa razão
08:34é que eles deliberaram vir até aqui.
08:36Como vieram, olha.
08:37Então, vieram, estão aguardando para ser recebidos,
08:40não há problema nenhum,
08:41ninguém está exagerando em nada.
08:44As pessoas estão aqui aguardando
08:45para serem recebidos
08:46e entender esse bendito ofício.
08:48Inclusive, eu estava junto do senhor
08:50naquele momento quando o comando
08:52da Polícia Militar disse que viria
08:54para a CDHU para a gente ter
08:55essa reunião junto de todos os moradores.
08:58Até para o senhor saber,
08:59para a nossa audiência saber,
09:00a gente está apurando de fato
09:02o que está autorizado.
09:03É a descaracterização destas casas
09:06ou é a demolição?
09:07O que é descaracterização?
09:10Eu li esse ofício do Governo Federal,
09:12então, tudo é muito técnico,
09:13a gente precisa entender
09:15e precisa também ouvir os moradores.
09:18Obrigado pela entrevista.
09:19Eu acho que o Aurélio pode nos ajudar,
09:22o Google também pode nos ajudar,
09:23porque a definição de descaracterização
09:25está posta lá.
09:26Então, eu acho que a gente pode ver
09:28qual foi a intenção daquele
09:29que formulou o ofício,
09:31o que ele quis dizer com descaracterização.
09:33Muito obrigado, viu?
09:34Mauro Cazeri, ao vivo,
09:36ouvidor das polícias do Estado de São Paulo.
09:38Evandro, volto com você no estúdio.
09:40Muito obrigado pelas informações,
09:41Misael Maené.