José Kobori, financista e professor, analisou o recuo dos EUA diante da China e os efeitos do acordo comercial para o Brasil. Foi destacada a paciência estratégica chinesa e os desafios brasileiros no cenário global.
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NotíciasTranscrição
00:00Sobre o acordo entre China e Estados Unidos, eu tenho o prazer de conversar com José Cobori,
00:05que é financista, professor e escritor.
00:08Professor Cobori, eu vou tratá-lo apenas de Cobori, não é nenhuma falta de respeito,
00:13é apenas para criar uma proximidade entre nós e o nosso público.
00:17Cobori, fiquei muito feliz em que as nossas agendas tenham batido justamente nessa data hoje.
00:22Por quê? Fica muito claro pelo seu nome, pelas suas feições, a sua ancestralidade nipônica.
00:29Eu vou um pouco mais a fundo na sua ancestralidade oriental e lembro um clássico
00:35quando a gente fala de relações políticas internacionais, de economia, Sun Tzu, a arte da guerra.
00:41O Trump aprendeu o chamado capítulo 3 de arte da guerra, que é vencer, ou nesse caso ser vencido,
00:48sem guerrear, só com a manobra, com a estratégia, com a diplomacia, com a paciência.
00:55Ele aprendeu algo que os orientais conhecem há milhares de anos, Cobori.
00:59Obrigado mais uma vez por aceitar o nosso convite para batermos um papo aqui com o nosso público.
01:05Boa noite, Marcelo. Boa noite a toda a sua audiência.
01:07É um prazer estar aqui, agradeço o convite.
01:10Eu costumo brincar, eu já citei o livro A Arte da Guerra algumas vezes, do Sun Tzu,
01:14escrito há 500 anos antes de Cristo.
01:17E tem várias passagens lá, quando a gente dá uma olhada, que acho que o Donald Trump não leu.
01:22E que o Sun Tzu, na verdade, ele explica primeiro, é conheça bem o seu inimigo, o seu adversário,
01:31porque senão você perderá todas as batalhas.
01:33E em alguns trechos lá do Sun Tzu, ele também diz que a arrogância do inimigo é a certeza da derrota.
01:43E acho que o Donald Trump também não leu isso.
01:45Então, me parece aí que o Donald Trump deu vários recuos ao longo de tudo isso que ele provocou na economia mundial,
01:55e principalmente na economia americana, né?
01:57Mas o recuo dele foi, obviamente, as pressões internas que ele criou dentro da própria economia.
02:03E apesar dele vender como uma vitória, na realidade, o que a China exigiu para começar a negociar com os Estados Unidos
02:09foi o que ela conseguiu, né?
02:11Que se voltasse lá ao dia 2 de abril, o dia da libertação, onde exatamente estavam as tarifas, né?
02:17Em 30% e em 10%.
02:19Então, foi justamente esse passo atrás que ele deu.
02:22Ou seja, ele eliminou o dia da libertação da agenda econômica do mundo, principalmente com a China.
02:27E agora eles vão ter aí 90 dias para começar a traçar um acordo, a desenhar um acordo que seja bom para os dois países.
02:35Mas eu acho que a paciência oriental aí de aguardar os recuos que o Donald Trump foi obrigado a dar
02:42pela própria pressão econômica e política interna dos Estados Unidos,
02:47agora a China está numa condição de negociar.
02:50E a China também, ao longo desses dias, né?
02:52Desde o dia 2 de abril, ela já traçou vários cenários em que ela amortece esse impacto
02:58que vai ter essa guerra comercial com os Estados Unidos, fazendo as suas viagens à Asia, né?
03:04Os países do Sudeste Asiático, a própria visita agora do Brasil na China.
03:10Negociações com toda a União Europeia que a China abriu.
03:12Então, acho que a China pacientemente já estava preparada e me parece que ela colherá os melhores frutos.
03:20Obviamente, uma guerra comercial, todos perdem, mas eu acredito que a China vai perder menos
03:24com toda essa confusão que o Donald Trump criou.
03:28Agora, Kobori, também aproveitando a coincidência do presidente Lula e uma enorme comitiva brasileira,
03:34entre outros integrantes do governo e empresário, estarem na China,
03:38amanhã em Pequim eles vão ter, ou que já é hoje, no caso, terça-feira no horário local.
03:43Então, nessa terça-feira, o presidente Lula vai ter um encontro com o Xi Jinping
03:47para, possivelmente, apertar laços, estreitar laços com o nosso maior parceiro comercial.
03:58Este acordo, ou então, este apalavramento entre Estados Unidos e China
04:04pode jogar um pouco de água no chope do presidente Lula, pode botar uma areia na engrenagem.
04:10O que eu quero dizer com isso?
04:11A China já havia sinalizado procurar os seus grandes parceiros comerciais
04:16para repor, eventualmente, produtos que deixaria de comprar dos Estados Unidos.
04:21E, no nosso caso, nós estamos falando de grãos, proteína animal, por exemplo.
04:25Agora, com o recuo da Casa Branca, pelo menos em teoria,
04:30isso pode atrapalhar uns planos de crescimento do Brasil com o seu maior parceiro comercial?
04:36Ou ainda existem recursos que a gente pode correr por fora, professor?
04:39Eu acho que, Marcelo, na realidade, como a gente voltou no dia da libertação,
04:45continuam as tarifas, pelo menos por 90 dias, de 30% sobre os produtos chineses
04:50e de 10% sobre os produtos americanos.
04:53Nesse cenário pré-2 de abril, a China já tinha começado a se antecipar,
04:58inclusive, com a compra de commodities do Brasil, principalmente soja.
05:01Então, eu acho que é um caminho, talvez, até sem volta para os produtores
05:06dessas commodities americanas, né?
05:09Até porque existe muita instabilidade, ninguém sabe o que vai acontecer nesses 90 dias, né?
05:14E o que os Estados Unidos sinalizou para o resto do mundo, e principalmente para a China,
05:18é que eles não são um parceiro confiável para você fazer qualquer planejamento de longo prazo.
05:23E a China, desde a década de 80, que ela vem mostrando que ela tem planos de longo prazo
05:30e ela se baseia exatamente nesses planos, né?
05:32Então, eu acho assim, o Brasil, obviamente, nesses produtos, principalmente ligados às commodities,
05:38o Brasil vai, traçou, já fechou vários acordos e ele vai caminhar muito,
05:44provavelmente, para 100% da concretização desses acordos.
05:48O que o Brasil precisa ficar, digamos, esperto, é que a gente precisa aproveitar esse cenário
05:53de briga entre as duas maiores potências para ver o que é bom para o nosso país, né?
05:57O bom para o desenvolvimento da nossa economia.
05:59E também aproveitar para fechar os acordos, mas um grande dever e lição de casa que a gente tem
06:05é de melhorar o desenvolvimento da nossa economia e tentar corrigir as contradições
06:11que a gente tem internamente no Brasil, que são justamente as contradições que existem nos Estados Unidos
06:16e que levou à eleição do Donald Trump, né?
06:20Essa grande desigualdade na economia americana é a mesma que a gente reproduz aqui no Brasil
06:24e a gente tem que aproveitar nesse provável cenário em que a gente se aproveite, né?
06:30Para fazer grandes parcerias e grandes acordos em detrimento dos Estados Unidos ou da China,
06:35mas a gente focar e tentar resolver essas nossas contradições internas da nossa economia.
06:42Professor José Cobori, eu só lamento na nossa conversa ela ter sido curta.
06:46O programa aqui faz um giro no noticiário internacional, tem muita coisa acontecendo e eu preciso seguir.
06:52também faço votos que tenha sido a nossa primeira de muitas conversas.
06:57Eu conversei com José Cobori, financista, escritor, uma celebridade da internet quando se fala de economia e finanças.
07:05Convido as pessoas a conhecerem o canal dele.
07:08Obrigado José Cobori, até uma próxima e espero que seja em breve.
07:11Obrigado.