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No primeiro dia de votação do Conclave nesta quarta-feira (07), a escolha do novo papa ainda segue indefinida. Os comentaristas do 3 em 1 analisam os motivos por trás da indecisão dos cardeais e discutem os possíveis desdobramentos dessa jornada.

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Transcrição
00:00Zé Maria Trindade, Itaibrasília, é uma pessoa que acompanha muito também todas essas tradições relacionadas à Igreja Católica.
00:07Quero te ouvir sobre esse momento, Zé. Fumaça escura por enquanto.
00:12Pois é, olha, é um momento muito tenso.
00:15Eu conversei com o cardeal Dom Raimundo Damasceno, que é o cardeal mais antigo do Brasil, tem 88 anos, né?
00:21Ele não vota, mas cardeal é um título perene, né? Ele não se revoga.
00:27E ele me narrou ali como é que é o clima, como é que foi a experiência de passar por esse momento.
00:38Ele votou no Papa Francisco e ele me dizia o seguinte, que se reúne e faz aí, como disse o Piperno, ali conversam, andam juntos, almoçam juntos, né?
00:51E começam a se conhecer. Mas na Capela Sistina, no conclave, né?
00:57Que tudo é travado, tudo é mesmo fechado, eles têm a oportunidade de falar o quanto quiser.
01:04Então, cada um dos cardeais vai lá e fala, fala, fala.
01:11E ali as pessoas entendem qual é a mensagem de cada cardeal.
01:16E aí ele fala que não existe essa história de um candidato.
01:21Existem os candidatos, mas que não são explícitos, né?
01:24Vote em mim, não tem isso.
01:26Mas todo mundo vai ali e fala exatamente o que pensa, reflexão sobre a igreja, né?
01:33A oração e tal.
01:35E aí as pessoas vão se conhecendo.
01:37E conhecendo também as tendências.
01:39E disse também o Dom Damasceno, de que a tendência é um Papa na mesma linha de Francisco.
01:47Isso porque ele participou do conclave, né?
01:50Que elegeu o Francisco.
01:54E aí é o Papa Francisco.
01:56E aí o que que acontece?
01:57Ele disse que ali há todo um clima, né?
02:00De, vamos dizer, de contato com Deus, com o Espírito Santo.
02:06E ele narrou que é meio tenso mesmo.
02:09Uma grande responsabilidade.
02:12E na Capela Sistina, naquela obra maravilhosa, né?
02:16Que mostra o fim do mundo, né?
02:19E Deus lá, de um lado e de outro, né?
02:23Alguns indo para o inferno, outros para o céu.
02:26A obra do Michelangelo maravilhosa, né?
02:29E ele disse que há todo um clima nesse fechamento
02:31que leva aos cardeais a olharem para dentro de si e para dentro da igreja.
02:38E ele fala que já no conclave que elegeu o Papa Francisco,
02:42havia essa tendência de uma igreja mais voltada para o seu interior,
02:48uma igreja mais no sentido de ritos,
02:52mais no sentido de olhar as várias regiões e os vários segmentos dos católicos.
02:59Então, que a tendência é essa.
03:00Então, se a tendência começou no Francisco, diz ele,
03:04e o Francisco acabou nomeando vários cardeais, inclusive aqui no Brasil, né?
03:12E a tendência é que saia um Papa na linha, mas não uma cópia do Francisco.
03:18Ele dizia que não existe, porque o Papa chega e aí imediatamente ele impõe a sua personalidade,
03:24mas que existe essa tendência.
03:27E essa tendência é apurada exatamente nesse fechamento lá na Capela Sistina.
03:33E já minutos depois de eleito como Papa,
03:38Francisco imprimiu a sua personalidade.
03:41Em vez de ir para aquela recepção papal,
03:47ele se misturou de novo aos cardeais.
03:50e voltou no ônibus dos cardeais.
03:54E por acaso, ao lado de Dom Raimundo Damasceno,
03:56ele sentou no banco ao lado, ele até assustou.
04:00Quando viu o Papa, já era Papa, né?
04:02Sentado ao lado dele, falou,
04:04mas o senhor não tinha que estar lá no Papa Móvel e tal?
04:06Ele, não, não estou interessado nisso,
04:10quero conversar mais com os cardeais.
04:13E voltou no ônibus junto com os cardeais.
04:16Ali, minutos depois de eleito,
04:19o Papa Francisco já imprimia a sua personalidade.
04:22Então, é o que diz o Dom Raimundo Damasceno,
04:25que será um Papa na mesma linha,
04:27mas com personalidade própria,
04:29e não um clone ou uma cópia.
04:31Interessante, José Maria.
04:32Nas conversas que eu tive com os padres também,
04:34logo que houve a morte do Papa Francisco,
04:36eles mencionaram que o objetivo de Francisco
04:39era fazer com que a igreja estivesse cada vez mais na rua,
04:42e não apenas esperar que os fiéis voltassem
04:44a frequentar as igrejas do mundo todo.
04:45Ou seja, além dos atos de solidariedade
04:48que a igreja católica já presta em várias regiões do mundo,
04:51que ela estivesse cada vez mais ativa,
04:54atrás dos fiéis,
04:55buscando quais seriam os problemas que esses fiéis tinham
04:58para se conectar, para se comunicar com eles.
05:01E quando o Zé diz que há expectativa
05:03de que esse movimento permaneça,
05:06é interessante, porque também é necessário
05:09que a igreja católica consiga lidar
05:11com parte da revoada que ela viveu nos últimos anos,
05:14principalmente com os jovens não se ligando
05:17ou não se conectando mais com essa linguagem
05:19muito tradicional em alguns lugares,
05:22que de certa forma não traziam,
05:24não falavam o idioma que essas pessoas precisavam
05:27para entender coisas do cotidiano a partir da religião.
05:30Você acha que esse movimento
05:32pode fazer com que a igreja católica
05:34tenha então como protagonista
05:36um Papa que continue buscando esse caminho
05:39de se abrir para a comunidade,
05:41de ir atrás da comunidade,
05:43de buscar os fiéis em Alangani?
05:45Eu acredito que sim,
05:46até porque os três primeiros colocados, Evandro,
05:49eles são muito próximos das ideias do Papa Francisco,
05:54muito bem relacionados com o Papa Francisco,
05:58próximos, um perfil mais diplomático.
06:01Mas isso, de fato, acontece justamente
06:04num mundo que é muito material,
06:08com pouco apelo à espiritualidade,
06:10pelas próprias redes sociais,
06:13imediatismo, prazer a qualquer custo,
06:17mas que também traz uma sensação de vazio.
06:20E aí é claro que tem uma oportunidade
06:24para a igreja católica justamente conectar com as pessoas,
06:27porque as pessoas hoje, por mais que tenha todo
06:30este avanço material do planeta,
06:33a gente percebe que as pessoas estão mais doentes
06:36do ponto de vista psiquiátrico, né?
06:39Mais carentes, mais angustiadas,
06:42e aí que existe um grande espaço para a igreja crescer.
06:46E ela vem crescendo, né?
06:47Hoje você tem 1,4 bilhão de fiéis católicos
06:52e cresce principalmente na Ásia e na África.
06:56Mas há um grande desafio
06:58por conta do declínio de fiéis
07:00na América do Norte e na Europa.
07:02Exatamente.
07:03Oi, Henrique Kriegner.
07:04Bem-vindo.
07:05Muito bom ter aqui conosco no nosso 3 em 1.
07:07Ele que substitui o nosso argentino Gustavo Segret
07:09nesta quarta-feira.
07:10Por outro lado, assim como na política,
07:13e por isso que as comparações começaram a acontecer
07:15também para a escolha do novo Papa,
07:17muitos acreditam que haja uma espécie de pêndulo
07:19na maneira como os cardeais vão votar.
07:21Então, em determinado momento,
07:23você tem um Papa que abre mais as portas para a diversidade,
07:26para levar a igreja para a rua.
07:28E muitos pensam,
07:29ok, esse movimento foi feito e funcionou,
07:31que tal a gente trazer uma pitada de tradição,
07:34de conservadorismo,
07:35daquilo que a igreja católica também constrói
07:37há milhares de anos.
07:39É por isso que há talvez esse movimento
07:41que as pessoas acabam confundindo com política
07:44por causa do momento intenso de polarização
07:47que a gente vive no mundo,
07:48mas que pode acontecer também na igreja católica
07:50em termos de tradição mais conservadora,
07:53puxando de volta os ritos
07:55e aquilo que a igreja católica pregou lá atrás,
07:58em vez de se continuar com uma missão mais aberta
08:04e que ouça mais a diversidade que hoje a gente tem no mundo?
08:07É um ponto interessante, Evandro.
08:08Primeiro, obrigado por me receber aqui hoje,
08:10foi um prazer estar aqui junto com vocês.
08:12E acho que depende muito do prisma que a gente estiver olhando.
08:16Em primeiro lugar, a gente precisa lembrar
08:18que a igreja católica, ela se sustenta,
08:21sustenta a sua doutrina com base,
08:23em primeiro lugar, na Bíblia,
08:26então as escrituras sagradas,
08:27e também na doutrina da igreja católica
08:29que foi construída ao longo dos milênios.
08:31Então esses dois nortes,
08:33eles são sempre muito bem observados pela igreja.
08:36Hoje existe um recorte geracional
08:38que precisa ser considerado,
08:39porque quando a gente fala de a geração milenial
08:43ou até a geração anterior,
08:45foram gerações que foram se esfriando mesmo
08:48na questão da fé.
08:49Porém, isso se prova ao contrário
08:52nas próximas gerações.
08:53Estou falando da geração Z e a geração Alfa,
08:55que são as crianças hoje.
08:56A geração Z agora que está chegando,
09:00já passou da maioridade, na verdade,
09:01mas essa geração dos nascidos depois de 1994 em diante.
09:06Essas duas gerações,
09:08elas já são gerações que se mostram
09:10mais interessadas em questões espirituais.
09:13Gerações que buscam mais,
09:14até por ritos tradicionais.
09:16Hoje, um dos maiores crescimentos
09:18na população cristã americana,
09:20que é um país de tradição protestante,
09:23é na igreja católica.
09:25E muito disso se diz
09:26por conta da necessidade de ritos.
09:28A igreja protestante tem menos ritos,
09:30tem a liturgia um pouco mais fluida,
09:32tem menos os símbolos, né?
09:35E a igreja católica é rica nisso.
09:36Então tem uma geração que tem buscado por isso também.
09:39Mas a gente sempre precisa lembrar
09:40que é sempre fundado na tradição bíblica
09:44e na tradição da igreja católica também.

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