A China declarou nesta sexta (02) que está avaliando uma proposta dos Estados Unidos para iniciar um diálogo sobre a guerra tarifária. O Ministério do Comércio chinês pede o fim das taxas unilaterais. A Europa declarou que pode ofertar 50 bilhões de euros a Donald Trump, mas alertou que não aceitará uma base tarifária mais alta dos EUA. Fabrizio Neitzke e Cristiano Vilela analisam.
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NotíciasTranscrição
00:00O Ministério do Comércio da China declarou em um comunicado que foi divulgado hoje
00:05que está avaliando uma proposta dos Estados Unidos
00:08para iniciar conversas sobre a guerra comercial.
00:12Aqui nos nossos estúdios, Fabrício Naitz, que é editor internacional da Jovem Pan.
00:15O Fabrício e os chineses insistem no fim das taxas unilaterais.
00:20Será que essa guerra tarifária pode estar perto do fim ou ainda é muito cedo?
00:25Bem-vindo, boa noite para você.
00:26Boa noite, Thiago. Boa noite a todos que acompanham o jornal Jovem Pan.
00:29Ainda está longe do fim.
00:30Por mais que a China tenha dado uma indicação de que pode iniciar as conversas,
00:35até que isso aconteça de fato e algo se concretize nessas negociações, isso vai demorar.
00:41A gente tem visto a postura dura dos Estados Unidos e também do governo chinês.
00:46Nenhum dos dois quer arredar o pé nessa briga.
00:49Mas a China colocou como pré-condição para iniciar as conversas
00:52que os Estados Unidos retirem as tarifas que foram aplicadas às mercadorias chinesas.
00:58Os Estados Unidos dificilmente vão fazer isso de mão beijada.
01:02Lembrando que os Estados Unidos aplicaram tarifas de 145% às exportações chinesas.
01:08A China retalhou com 125%.
01:11Alguns produtos acabaram sendo isentados pelo governo dos Estados Unidos.
01:16A gente está falando aqui de smartphones, semicondutores, computadores.
01:21Tudo isso que altera muito o dia a dia do americano, que tem essa cultura do consumo muito forte
01:27e que veria preços como, por exemplo, de um iPhone disparar nos Estados Unidos,
01:31possivelmente até dobrar de preço.
01:33Isso não interessa para o governo Trump, isso não interessa para o consumidor norte-americano.
01:39Mas aqui o que a gente está vendo também, Tiago, é uma questão de orgulho.
01:43Porque a China indica que os Estados Unidos os procuraram para iniciar as conversas.
01:49Os Estados Unidos dizem o contrário, que a China é quem correu atrás da Casa Branca para negociar.
01:55Nessa guerra comercial aqui, uma coisa clara.
01:57Os dois países estão querendo demonstrar força, estão querendo demonstrar quem tem mais bala na agulha nessa competição.
02:05A China garante que se os Estados Unidos continuarem taxando, eles podem taxar de volta também
02:09e sobreviver mesmo diante desse estrangulamento que essa guerra tarifária acaba promovendo.
02:16De qualquer forma, a própria China chegou a dizer que a Casa Branca procurou o país para tratar da questão tarifária.
02:22E agora, ainda sobre as taxas com os Estados Unidos, a Europa quer aumentar as compras de produtos americanos
02:29em 50 bilhões de euros para resolver o problema na relação comercial.
02:34É isso? O que isso significa?
02:35É uma das possibilidades que o comissário de comércio da União Europeia levantou recentemente em uma entrevista ao Financial Times
02:41indicando que a União Europeia pode passar a comprar mais produtos americanos e resolver a questão da balança comercial.
02:49Qual que é a grande questão aqui?
02:50Quando Trump inicia as tarifas ao redor do mundo, ele parte do argumento de que os Estados Unidos têm déficit comercial
02:57com praticamente todos os países e blocos internacionais, incluindo a União Europeia.
03:03De fato, ali em 2022, o déficit era de mais de 100 bilhões de dólares para os Estados Unidos.
03:09Ou seja, os Estados Unidos compravam 100 bilhões de dólares a mais do que eles vendiam para a União Europeia.
03:15A União Europeia agora está querendo aumentar os seus gastos com os Estados Unidos para tentar resolver esse problema
03:21e diminuir as tarifas aplicadas pelos americanos.
03:26Para isso, eles estão querendo duas coisas.
03:28Primeiro, a retirada das tarifas de 20%, que são as tarifas retaliatórias, que é assim que a Casa Branca tem chamado.
03:35Ou seja, a Casa Branca vê quantos por cento que os produtos americanos são tarifados em determinado país, em determinada região.
03:42Aí eles vão lá e taxam pelo menos a metade. Ou seja, eles indicam que a União Europeia taxa em cerca de 40% dos produtos americanos.
03:49E eles vão lá e taxam em 20% dos produtos europeus.
03:52Além de uma tarifa base de 10%, que vale para todos os países ao redor do mundo, incluindo aqui o Brasil.
04:00A União Europeia quer que essa tarifa seja retirada.
04:03Isso é muito prejudicial para a economia europeia de maneira geral.
04:06A gente já tem visto, por exemplo, vinícolas italianas dizendo que vão precisar fechar as portas
04:12ou demitir praticamente todos os seus funcionários, porque eles não vão conseguir exportar para o mercado americano.
04:18O mercado americano vai se tornar impeditivo para empresas europeias dos mais diversos setores.
04:25Então existe essa possibilidade aqui de que a União Europeia aumente a compra de produtos,
04:30principalmente produtos agrícolas.
04:33Isso seria até prejudicial para o Brasil, que poderia se aproveitar desse momento de tensão
04:37e ampliar suas relações com a União Europeia.
04:40A ideia da União Europeia, nesse momento, é intensificar, por exemplo, a compra de soja americana
04:46para tentar resolver esse déficit na balança comercial.
04:50Além disso, a gente tem que lembrar que outras tarifas que foram implementadas pelos Estados Unidos,
04:55que elas não atingem especificamente um país, mas sim segmentos da economia,
05:00acabam afetando os europeus.
05:03Por exemplo, aquelas tarifas de 25% sobre o aço e o alumínio.
05:07Isso afeta muito o mercado europeu.
05:09E também as tarifas sobre veículos, carros.
05:12Muitos veículos são montados na Europa e exportados para os Estados Unidos.
05:17A França é um grande produtor de carros, a Alemanha também, a Itália também.
05:22E todos esses veículos acabam sendo taxados.
05:25O mercado americano tem se tornado impeditivo para esses produtos europeus,
05:29que precisam desse escoamento para os americanos, que têm um mercado consumidor muito grande,
05:35muito importante, com muito dinheiro.
05:37Fabrício, nós que façam um convite para o nosso ouvinte, espectador, telespectador, internauta.
05:41Nesse fim de semana, a Jovem Pan Internacional, quais são os destaques?
05:46Os 100 dias do governo Trump, destaque no JP Internacional de amanhã, a partir das 3h30 da tarde.
05:52A gente vai falar sobre, fazer um breve balanço sobre esses primeiros 100 dias,
05:57pouco mais de três meses do governo Trump.
05:58Tem também a atuação de Elon Musk à frente do DOJ, a eleição de Mark Carney como primeiro-ministro,
06:06vencendo novamente essa disputa, já tinha sido eleito líder do Partido Liberal e agora vence a eleição federal lá no Canadá.
06:13São alguns dos destaques que você confere amanhã no JP Internacional, a partir de 3h30 da tarde, aqui na Jovem Pan News.
06:19Perfeito. Fabrício Naysk, editor de Internacional da Jovem Pan.
06:22Bom fim de semana para você. A gente continua aqui no plantão. Um abraço.
06:25Para nós. Até a próxima.
06:25Vou chamar o Cristiano Villela para falar sobre a questão das taxas, Villela.
06:29É interessante que, pelo menos ao que tudo indica, a China vai tentando dar alguns passos na tentativa de chegar mais perto dos Estados Unidos para negociar.
06:40E o próprio Fabrício falou muito bem que há uma questão de orgulho desses dois países.
06:45Tem que deixar o orgulho de lado para o bem do comércio internacional, não é?
06:49Pois é. Quando se trata de negócios, quando se trata de relações comerciais internacionais, deve-se pensar nos interesses de cada nação,
06:59do que é estratégico realmente por avançar nas relações comerciais, nas relações produtivas, muito mais do que qualquer questão de orgulho.
07:08É bem verdade que, quando se trata de Estados Unidos e China, existe um elemento político estratégico das duas principais potências hoje,
07:16do ponto de vista político, econômico, os condutores realmente dos lados da geopolítica mundial.
07:23Mas é fundamental que se tenha esse pensamento racional, esse pensamento estratégico e que se busque acordos.
07:31Acordos que, eventualmente, não sejam as melhores, as opções sonhadas por cada uma dessas nações,
07:37mas que possam construir alternativas para diminuir os danos e para fazer com que cada um desses países possa escoar os seus produtos,
07:45desenvolver a sua atividade comercial.