Certa vez, a investigação policial apontava, inicialmente, que uma mulher havia se matado, em Belém. Mas a perícia indicou que era impossível a vítima ter tirado a própria vida. O que tinha ocorrido era um homicídio. Esse exemplo ilustra o quanto a Polícia Científica do Pará é importante para a investigação policial. O médico-legista Hinton Barros Cardoso Júnior, diretor do Instituto de Medicina e de Odontologia Legal (IMOL) da Polícia Científica do Pará, explica como funciona esse trabalho.
REPORTAGEM: DILSON PIMENTEL
IMAGENS: IVAN DUARTE
REPORTAGEM: DILSON PIMENTEL
IMAGENS: IVAN DUARTE
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NotíciasTranscrição
00:00Então, o Instituto, a Polícia Científica, ela é composta de dois institutos, o Instituto
00:05Médico de Medicina e Odontologia Legal, que faz exames em pessoas, em seres humanos,
00:13e o Instituto de Criminalística, que faz experiências em coisas e lugares.
00:20Então, a Medicina Legal e a Odontologia Legal, a gente realiza exames em pessoas vivas e mortas.
00:27Exames de corpo de delito que são necessários para fazerem parte dos inquéritos policiais de alguma investigação.
00:42Então, a Polícia Judiciária faz as atividades de Polícia Judiciária e investigação policial
00:51e, quando necessário, produção de prova técnico-científica, solicita as perícias médico-legais para a gente.
01:03E seria o NoVivo, que a gente faz a parte de Traumatologia Forense,
01:07que são os exames de corpo de delito de lesão corporal, os complementares de lesão corporal,
01:14exames clínicos de embriaguez.
01:16A parte de Sexologia Forense, que são os exames sexológicos forenses em geral,
01:21nos crimes de abuso e violência sexual.
01:25E, na parte do morto, a Traumatologia, a Tanatologia Forense,
01:30que são os exames necroscópicos para a identificação de causas mortes e seus agravantes.
01:37Então, na pessoa viva, a gente só vai ver lesões que foram produzidas em vida,
01:42porque ela está viva, então elas têm reações vitais.
01:45Na pessoa morta, a gente vai ter lesões e situações em que a pessoa, ou seja, a vítima,
01:55tem lesões produzidas antes da morte,
02:01e situações que aparecem após a morte,
02:04que a gente, no período de tanatognose,
02:06ou seja, naquele período em que vem após a morte e ela passa a ter alterações no seu físico,
02:16ou seja, na sua estrutura, devido ao início da decomposição orgânica.
02:22Então, basicamente, o que é que a polícia científica produz?
02:29É a prova técnica, ou seja, a gente dá corpo ao delito.
02:36Se já morreu uma pessoa, a gente vai dizer a causa-morte,
02:41praticamente a causa jurídica da morte já está praticamente acoplada.
02:46O que é a causa jurídica da morte violenta?
02:48Ou é homicídio, ou é suicídio, ou é acidente.
02:52Então, quando a gente finaliza um laudo, o médico legista finaliza um laudo,
02:56ele acaba sinalizando para a autoridade requisitante
03:00se o crime que ela está apurando está correto,
03:05e dando a materialidade, dizendo que realmente o que aconteceu foi um homicídio
03:10e os dados que a gente tem técnico do homicídio estão aqui dentro desse laudo.
03:15O caso de Yasmin, que tem dois anos que aconteceu,
03:20teve o resultado da perícia médico legal,
03:22que traz a causa determinante da morte dela,
03:29traz indícios coletados durante a necrópsia
03:34e que a criminalística deu resultado,
03:38e em conjunto com o local de crime, que é da criminalística,
03:43fechou também um diagnóstico preciso para a autoridade policial.
03:48E assim com todos os outros que a gente tem.
03:51Ou seja, a autoridade policial faz a investigação dela,
03:54mas com o auxílio da polícia científica,
03:59ou seja, na parte da criminalística e na parte da medicina legal,
04:02ela acaba tendo, como a gente diz,
04:06o corpo, ou seja, a roubo dos teios do delito que ela está procurando
04:10dentro dos nossos laudos.
04:12Mas há casos em que os indícios no rumo da investigação policial
04:19estão em um caminho,
04:21e o resultado da perícia fala
04:24noutro tipo de ocorrência.
04:27Eu, particularmente, há muito tempo atrás,
04:32fui chamado em juízo para esclarecimentos de um laudo meu,
04:37porque a polícia judiciária começou com uma investigação
04:43de morte por suicídio.
04:48É uma morte violenta, uma morte por suicídio.
04:51Só que, no meu laudo, a gente deixava claro
04:54que era impossível que aquela vítima tivesse se suicidado.
04:59E o que aconteceu?
05:00Foi exatamente que alguém a matou.
05:04Ou seja, a perícia mudou o rumo da investigação
05:08para homicídio em vez de suicídio.
05:10No andamento do inquérito ainda,
05:13só que isso passa para o Ministério Público
05:15e eles passam a reinvestigar e fazer reinquisição,
05:18e eu fui chamado em juízo já,
05:21já em fase de processual.
05:23O caso que eu sempre refiro
05:27é o seguinte,
05:28foi um fato que ocorreu dentro de uma residência,
05:32não tinha,
05:35no local de crime,
05:36não tinha indícios de arrombamento,
05:40de luta corporal,
05:42de nada disso,
05:43e a vítima tinha morrido
05:45vítima de baleamento
05:47por duas balas.
05:50Uma, todas as duas,
05:52em áreas mortais.
05:54Ou seja, se ela tivesse feito
05:55o primeiro tiro
05:57na cabeça,
05:59ela não tinha condição
05:59de se dar um tiro no peito.
06:02Ou se ela tivesse dado um tiro no peito,
06:04ela não tinha condição
06:05de depois dar um tiro na cabeça.
06:07Toda vez que eu falo isso,
06:12eu digo assim,
06:13a juíza me perguntou
06:14o que é que o senhor acha, doutor?
06:16Foi suicídio?
06:18Eu peguei e disse para a doutora.
06:21Suicidaram ela.
06:22Ou seja,
06:23ela foi um homicídio
06:25que queriam passar para suicídio.
06:28Tentaram encobrir
06:30os fatos
06:32pensando-se em suicídio
06:35e que o laudo foi determinante
06:37para mudar o mundo.