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O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, analisou os impactos do tarifaço entre EUA e China, que já afeta montadoras como a Ford. Ele alertou para o risco de estagflação e criticou a pressão de Trump sobre o Fed, que dificulta o controle da inflação.

Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://tinyurl.com/guerra-tarifaria-trump

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Transcrição
00:00E sobre os últimos desdobramentos do tarifácio, eu converso agora com o Sérgio Valle, economista-chefe da MB Associados.
00:08Sérgio, boa tarde para você. Obrigado por abrir espaço para a gente aí no meio do seu feriado.
00:13Sérgio, eu queria começar te perguntando exatamente sobre esse ponto da Ford.
00:17A gente ouviu aí a análise da professora Celina, da FGV, e de fato esse tarifácio entre Estados Unidos e China, ele ficou impeditivo para os dois lados.
00:25A gente está falando aí de tarifas de importação que superam 100% de um lado e de outro.
00:31Isso que a Ford está fazendo, de suspender vendas de automóveis para a China, é algo que a gente pode esperar de outras empresas, tanto nos Estados Unidos quanto na própria China agora?
00:41Boa tarde, Fábio. Prazer falar com você também.
00:44Olha, essa guerra que a gente está vendo acelerar desde o início do ano entre China e Estados Unidos, certamente vai continuar nesse sentido de você diminuir as compras de cada lado.
00:54Mas certamente quem vai sofrer mais com isso é a própria economia americana.
00:58A gente tem alertado há muito tempo a dependência muito forte que os americanos têm de produtos industriais finalizados que são importados da China,
01:07o impacto que vai ter disso de aumento de preço para o consumidor americano no final.
01:12E os chineses vão ter eventualmente alguma pressão aparecendo, especialmente na possibilidade de pressão acontecer em alimentos.
01:20Eles terem que desviar comércio e comprar de outros lugares, como é o caso do Brasil.
01:24Mas a dependência americana dos chineses nesse sentido é muito maior e mais grave do que o contrário.
01:32Então quem vai sofrer mais nesse caso é certamente a economia americana, na verdade a população americana.
01:38Então assim, os chineses têm se preparado há muito tempo para uma economia americana mais protecionista.
01:43A gente vê hoje os dois lados políticos, tanto os republicanos quanto os democratas, têm uma conotação mais protecionista do que no passado,
01:51quando a gente tinha um partido republicano que era mais para o mercado.
01:54Então os chineses já estavam se preparando há muito tempo para ter os Estados Unidos que iam fazer políticas cada vez mais agressivas e protecionistas.
02:01Então hoje a China consegue, de certa forma, mesmo com essa guerra nessa magnitude que o Trump está fazendo,
02:09consegue de certa forma evitar uma catástrofe maior dentro da economia chinesa.
02:13A inflação chinesa é baixa, uma taxa de câmbio mais depreciada que a gente está vendo acontecer,
02:18para se contrapor o que está acontecendo de tarifa agora, acaba ajudando um pouco no processo de uma alta inflacionária na China que seria bem-vinda também.
02:26Então a China, na verdade, olha tudo o que está acontecendo e ela está em compasso de espera.
02:31Para ela não tem nenhum sentido em ceder para o Trump agora, porque quem vai pagar o preço com mais intensidade são justamente os americanos.
02:39Sérgio, a gente mostrou há pouco aqui também no Radar a postagem de Donald Trump, mais uma vez atacando Jerome Powell,
02:46presidente do Fed, o Banco Central americano, e cobrando dele a redução na taxa básica de juros nos Estados Unidos.
02:54A gente também mostrou nessa edição como as bolsas nos Estados Unidos estão reagindo com quedas fortes,
02:59mais um dia de quedas fortes, com os temores desencadeados por mais esse ataque de Trump a Jerome Powell.
03:06Qual é o perigo embutido nesse tipo de ataque, Sérgio?
03:11Mas é, Fabio, isso é para reforçar o ponto que vão ser quatro anos de instabilidade permanente,
03:15da relação do Trump com o mundo e com a economia americana, no final.
03:19Começou com intensidade na questão tarifária, mas a gente esperava que ia ter também essa crise acontecendo com o Banco Central americano.
03:26O Fed está preocupado com a inflação, tem aí um risco por conta justamente do aumento de tarifas,
03:32dessa inflação que não está normalizada ainda ficar pressionada, então o Fed corretamente está falando,
03:37olha, a gente vai baixar a taxa de juros, mas a gente não vai poder baixar com muita intensidade,
03:42porque a inflação ainda é uma preocupação.
03:44O Trump não consegue entender isso, ele quer as taxas de juros a zero, como foi em outros casos que a gente teve no passado,
03:50mas é que tinha uma demanda que desacelerava, que auxiliava essa inflação cair, não é o caso agora.
03:56Então o Fed está no caminho correto.
03:58O Trump tentar demitir o presidente do Fed, que eventualmente isso pode acontecer,
04:04vai implicar numa perspectiva de pior ainda maior do cenário americano nesse momento,
04:09porque um dos baluartes, digamos assim, da institucionalidade econômica americana sempre foi o Fed.
04:15E sempre foi, de certa forma, protegido politicamente, porque também, por decisões anteriores do Supremo americano,
04:22os dirigentes de órgãos como o Fed sempre foram protegidos.
04:26Agora a gente vai ver se o Supremo vai dar a palavra final nesse sentido,
04:29se o presidente do Fed vai conseguir ser colocado de volta,
04:34ou impedido de ser demitido no final desse processo.
04:37Mas mesmo passando por isso, Fábio, tem o fato também que se ele trocar o presidente do Fed,
04:43tem outros seis membros do Conselho que votam na decisão de juros.
04:48Então pode ser que ele troque o presidente do Fed,
04:50esse presidente do Fed siga as ordens do Trump,
04:53mas os outros seis não necessariamente sigam essa decisão do Trump de baixar juros com mais intensidade.
05:00Então assim, essa história vai ser longa ainda,
05:02pode ser que o Trump queira trocar não só o presidente do Fed,
05:05mas o presidente das outras casas dentro do Banco Central também.
05:09E aí a gente tem um cenário muito mais complicado,
05:12de interferência de fato política dentro do Fed,
05:15que aí vai fazer com que os mercados fiquem mais agitados e mais negativos ainda,
05:19se isso de fato acontecer.
05:21Sérgio, e aí quando o Trump pede a redução da taxa básica de juros nos Estados Unidos,
05:26ele compara o país com a União Europeia.
05:28Aliás, nesse post de hoje ele comparou mais uma vez.
05:30E a União Europeia, a gente noticiou aqui na semana passada,
05:33pela sétima vez consecutiva, baixou os juros lá.
05:37Agora, a situação econômica em termos de atividade, em termos de inflação,
05:41é bem diferente na União Europeia e nos Estados Unidos hoje, né?
05:45É bem diferente.
05:46A Europa está passando por dois anos de desaceleração econômica,
05:50a Alemanha praticamente dois anos de recessão,
05:52inflação baixa e permite que você tenha essa queda de juros acontecendo por lá.
05:57Não é o caso do FED, do Banco Central Americano,
05:59que vê uma economia que ainda está crescendo,
06:02começou a desacelerar com possível recessão agora nesse começo de ano,
06:05e uma inflação que ainda está distante dos 2%,
06:07ela ainda está rodando em torno de 3%.
06:11Então, o FED muito provavelmente tem espaço para alguma queda de juros,
06:15mas em outras recessões que a gente teve no passado, Fábio,
06:18que quando a recessão aparecia os juros iam para zero,
06:21dado que é por um choque de oferta,
06:23é um choque de tarifa que a gente está vendo acontecer agora,
06:27essa desaceleração da economia,
06:28você vai ter um cenário de uma inflação um pouco mais elevada,
06:32com uma atividade em queda.
06:33É o pior cenário possível para o FED, de administrar.
06:37Então, olhando para frente,
06:39muito provavelmente a gente vai ver um cenário
06:41que o FED não vai conseguir baixar muito a taxa de juros,
06:44vai ter que ser muito comedido nessa queda de juros olhando para frente,
06:47e muito provavelmente o Trump vai ficar irritado permanentemente,
06:51até ele conseguir, de fato, fazer alguma mudança no FED.
06:54Pois é, Trump fala nesse post que praticamente não há inflação
06:58nesse momento nos Estados Unidos.
07:00Agora, a gente viu nos últimos meses o FED começando um movimento
07:03de queda de juros, com a inflação ainda acima da meta,
07:07que é de 2% lá, acreditando num pouso suave,
07:10ou seja, que mesmo com redução dos juros,
07:13a inflação iria convergindo aos poucos para a meta.
07:16Só que isso não aconteceu, né, Sérgio?
07:17O último dado que a gente tem, que é o dado de fevereiro do PCI,
07:20que é o principal índice de inflação ao consumidor olhado pelo FED,
07:24esse índice ficou em 2,5%, e o núcleo ficou em 2,8%.
07:28Comparando com a meta de 2%, tem um chão para percorrer ainda, né?
07:32Exatamente, Fabio.
07:34A inflação, quando a gente olha o núcleo,
07:35que é um indicador que o FED olha com mais atenção,
07:38ele ainda está próximo de 3%, está distante do 2%.
07:42E mais, quer dizer, essa é uma inflação que está olhando o passado,
07:45o que está acontecendo até agora.
07:46O FED está olhando para frente e vendo o risco que tem
07:49do aumento tarifário que a gente está passando agora,
07:51e uma inflação adicional em cima desse núcleo de 2,8%.
07:55Ou seja, o FED está falando, olha, inflação pode voltar a acelerar mais para frente,
08:00eventualmente passar de 3%, a possibilidade é muito grande disso,
08:04e por conta desse cenário, dado que o FED olha a atividade e inflação em conjunto,
08:08ele pode baixar a taxa de juros por conta dessa possível recessão
08:12que a gente está vivendo agora na economia americana,
08:14mas dado que a inflação ainda está alta agora,
08:17e ainda pode subir por conta das tarifas,
08:20ele não tem muito espaço para quedas muito agressivas.
08:22O Trump está olhando aquele passado em outras recessões que a gente teve nos Estados Unidos,
08:26nas últimas três recessões pelo menos,
08:28e a taxa de juros foi a zero.
08:30Só que não é o caso agora.
08:31Nesses três momentos no passado, a demanda despencou,
08:34você tinha uma razão para isso acontecer.
08:36Agora, você tem um cenário que você tem um choque de oferta no meio do caminho,
08:39que pode levar essa inflação no curto prazo a subir,
08:43e por isso o FED está muito mais cauteloso.
08:46Então, assim, acho que essa batalha entre o FED e o Trump está só começando,
08:49vai durar muito tempo ainda,
08:51pode acontecer o pior, que é a demissão do presidente do FED,
08:54e isso vai trazer mais instabilidade nos mercados ainda.
08:57Sérgio, como você lembrou,
08:59o papel do FED nos Estados Unidos é um pouco diferente do papel que o Copom tem aqui no Brasil.
09:03O Copom olha para a inflação,
09:05o FED olha para a inflação e para a atividade econômica,
09:08para nível de emprego.
09:09É exatamente por esse mandato duplo que um cenário de estagflação,
09:14ou seja, baixo crescimento e inflação alta,
09:16torna o trabalho do FED muito complicado?
09:20Ele pode se ver até na situação de, para corrigir um problema, ele agrava o outro?
09:25Mas é, esse momento que a gente está vivendo agora,
09:29lembra, guardadas devidas proporções, o que a gente viveu nos anos 70,
09:33que foi um processo de inflação elevada por choques de oferta que aconteceram,
09:37ali foram as pressões no preço de petróleo, que a gente vivenciou naquela época,
09:42uma economia que estava crescendo,
09:44e entrou em vários momentos naquela década em recessão,
09:47e por conta do choque de oferta a gente tinha inflação acontecendo e recessão ao mesmo tempo.
09:51Para o FED é o pior cenário possível para administrar,
09:55você precisa ter um FED com uma reputação e uma credibilidade muito grande para lidar com isso.
10:00A gente levou ali 10 anos nos anos 70,
10:02até o Paul Volcker virar presidente do FED no final dos anos 70,
10:06e trazer a credibilidade necessária para ajustar aquele processo inflacionário.
10:10O Trump hoje, quando ele tenta falar de tirar o presidente,
10:13em vez de ajudar na institucionalidade, na credibilidade, na reputação do banco,
10:17ele piora ainda mais o cenário.
10:19E a gente pode estar vivendo, de fato, uma estaguflação,
10:22não como nos anos 70, mas com uma pequena inflação,
10:25que pode bater talvez uns 4%,
10:27e uma economia que está em recessão nesse momento,
10:29por conta do próprio choque do Trump.
10:31Nesse cenário, fica difícil para o FED levar a taxa de juros a zero,
10:35porque você tem esse processo inflacionário também acontecendo.
10:38Fica muito difícil para o FED, se ele não tiver um apoio muito grande
10:42de todas as instituições, especialmente do presidente,
10:45para ele conseguir lidar com essa situação.
10:48Então, quando você tem uma economia que está em desaceleração,
10:50uma inflação elevada, ainda tem o presidente do país atacando firmemente,
10:55como o Trump está fazendo,
10:57você tem talvez o pior cenário possível do FED em toda a sua história.
11:01Isso coloca mais pressão e mais percepção de risco à frente.
11:04Então, junto às tarifas, junto ao ataque no FED,
11:07junto às questões fiscais americanas que estão muito ruins também.
11:10É um cenário muito difícil para os Estados Unidos,
11:12olhando esses quatro anos do Trump.
11:15Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
11:18Sérgio, muito obrigado, mais uma vez, pela gentileza da sua participação
11:21e bom restinho de feriado aí.
11:24Obrigado, Fábio.
11:25Sempre um prazer falar com vocês.
11:26Obrigado.
11:27Um abraço.
11:27Um abraço.

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