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Em quase 900 anos de história, Portugal viveu cinco grandes revoluções. O que ficou destas revoluções para o século XXI?
Transcrição
00:00Inicialmente, revolução é um termo que vem da astronomia, não é?
00:09A revolução era qualquer coisa que fazia voltar as coisas ao lugar inicial,
00:14depois de dar uma volta de 360 graus.
00:16Num sentido astronómico, significa voltar ao ponto de partida,
00:20num movimento de translação ou de rotação.
00:23No entanto, nós usamos hoje num sentido muito diferente,
00:27no sentido de profunda mudança política, social, económica.
00:33A revolução caracteriza-se por uma subversão violenta,
00:39normalmente violenta e radical,
00:42das relações de força, das relações de poder e das relações de propriedade.
00:46Estamos a falar de um processo que gera mudanças muito significativas
00:51na forma de conhecer, na forma de produzir, na forma de governar um país.
00:57Revoluções
01:02Quer seja um movimento dos astros ou eventos que precipitam mudanças drásticas na linha temporal,
01:09as revoluções surgem como uma constante que anuncia novos ciclos.
01:14Em Portugal, pequeno território, mas um dos mais antigos países deste planeta,
01:18este fenómeno ocorreu diversas vezes.
01:20Com a missão de investigar a resiliência desta nação,
01:28reunimos vários especialistas para nos ajudar a examinar e decifrar estes acontecimentos.
01:33Devidamente equipados e com o cuidado de não contaminar a linha temporal,
01:53avançamos para o passado à procura de respostas.
01:55A nossa viagem começa agora.
01:59A nossa viagem começa agora.
02:29A nossa viagem começa agora.
02:59A nossa viagem começa agora.
03:00A nossa viagem começa agora.
03:01A nossa viagem começa agora.
03:02No meio de tudo é preciso que tenha havido um movimento independentista,
03:06que foi o que aconteceu no século XII sob a liderança de Dom Afonso Henriques,
03:10mas tornou-se mais possível chegar-se onde nós estamos hoje a partir de 1383-85.
03:16A nossa história é uma espécie de uma telenovela, de um folhetinho, de uma coisa que vem do século XII e que em vários momentos e circunstâncias históricas é reinventada.
03:29Portugal não vem de um impulso inicial, várias vezes ao longo da história criámos uma sucessão de continuidade de reinvenções da pátria.
03:40Em 1143, Afonso Henriques conquista a independência do antigo condado portugalense.
03:57O que nós temos em Portugal em 1383 é uma crise dinástica, mas que foi indiscutivelmente resolvida através de práticas revolucionárias.
04:21O poder cai à rua, o povo manifesta-se de uma maneira violenta e podemos falar de um período revolucionário,
04:28mesmo que no final, depois, o resultado final não tenha sido uma mudança abrupta do sistema político que vigorava antes da crise se iniciar.
04:36Esta crise de 1383-85 foi a primeira grande prova de fogo na medida em que o país que se tinha consolidado com a guerra com os muçulmanos e que nas guerras com Castela
04:54tinha tido quase um século para sedimentar essa experiência e quando é posta à prova a hipótese de continuar ou não continuar,
05:02o que é interessante notar é que a maior parte da população se manifestou inequivocamente a favor de uma continuação de um Estado imprimido.
05:11É muito curioso porque há de certo um certo pioneirismo português, porque na época havia uma internacionalização da própria aristocracia,
05:19portanto, o ser o rei, ser daqui ou da colá não era propriamente um critério que interessasse ou preocupasse muito as pessoas, não é?
05:28Portanto, aí há de facto, podemos analisar como uma revolução de certo modo nacionalista na medida em que os portugueses não querem ser governados
05:39por um rei estrangeiro, por um rei de Castela e, portanto, quebram as regras, não há dúvida que quebram as regras.
05:45A CIDADE NO BRASIL
06:11Outubro de 1383
06:40Há uma década que o país vive de crise em crise e os súbditos del rei estão descontentes.
06:50Lisboa, a mais importante cidade do reino, é um barril de pólvora prestes a explodir.
06:57Rumores, más línguas e boatos alimentam uma população cada vez mais fomeada e insatisfeita com o seu rei.
07:03Um homem que parece ter sido incapaz de manter uma linha de rumo ao longo de todo o seu reinado.
07:09Talvez por isso, para além de ter como cognome o Belo, tenha ficado, sobretudo, conhecido como Dom Fernando, o Inconstante.
07:19Dom Fernando ficou realmente conhecido como o Belo e como o Inconstante.
07:25Belo, parece que sim, não é?
07:27Pelo menos o Fernando Lopes diz que ele era muito formoso, era bem aposto de corpo, de rosto.
07:33Portanto, ao que parece realmente, pelo menos na pena do cronista, o Dom Fernando era realmente formoso.
07:39Inconstante, claro que foi inconstante, mas isso tem a ver com toda a conjuntura económica, social, política, que graçou ao longo, ao longo do seu reinado.
07:52A fome debilitou fisicamente as pessoas e facilitou a propagação de doenças.
07:58Em 1347, a peste bubónica, mais conhecida como peste negra, chegou à Europa.
08:09Vinda da Ásia, através dos barcos genoveses que faziam a rota da seda.
08:25A peste negra começou por se espalhar na Península Itálica e, em pouco tempo, devido às pulgas dos ratos, alastrou a toda a Europa.
08:36Calcula-se que cerca de 20 milhões de pessoas têm morrido.
08:39A peste negra matou um em cada três europeus.
08:44Nós não temos a mínima ideia do que é que significa para os países da Europa, de repente, um terço da população desaparecer.
08:52À fome e à peste, juntaram-se guerras sem fim.
08:56Entre 1337 e 1453, franceses e ingleses trocaram vitórias e derrotas na famosa Guerra dos Cem Anos.
09:04A maior parte das revoluções portuguesas, pelo menos, estiveram associadas a grandes movimentos globais.
09:15Em 1333, a Guerra dos Cem Anos, que foi uma guerra importantíssima na Europa.
09:19Portanto, pelo conflito entre os ingleses e os franceses.
09:22A Castela é aliada dos franceses e os portugueses já tinham uma aliança com os ingleses desde 1372.
09:28A Penínsia Ibérica se convirtiu em um campo excepcional de experimentos diplomáticos e militares.
09:40Não se esqueçam, com a puesta em prática de técnicas bélicas, como se verá mais tarde na batalha de Aljubarrota.
09:48De modo que o conflito português de 1383 a 1385 foi, em grande parte,
10:15também um episódio mais da Guerra dos Cem Anos.
10:19Em Portugal, a esta Guerra Europeia vieram juntar-se três guerras domésticas contra Castela,
10:25muito mal dirigidas pelo rei Dom Fernando.
10:29O que é facto é que Dom Fernando fez essas três guerras com Castela.
10:35Essas três guerras com Castela vão resultar em guerra e em paz e em paz e em guerra.
10:40É visível nos casamentos que ele vai fazendo e desfazendo para a sua pequena filha Beatriz.
10:47Portanto, ela é prometida cinco vezes, conforme ele vai fazendo e desfazendo acordos.
10:53E a orientação de Dom Fernando em relação às partes em contenda na Guerra dos Cem Anos,
10:58ou França ou Inglaterra, vai também oscilando ao sabor das pazes que ele vai fazendo
11:03e da guerra que vai fazendo com Castela.
11:05Portanto, ele realmente vai aqui, inconstantemente, oscilando entre os dois reinos em contenda.
11:14A Guerra dos Cem Anos tem como consequência importante para a história de Portugal
11:17que empurrou Portugal, ou abriu caminho para aquilo que é um dos comportamentos estruturantes
11:25da história do nosso país, que é o seu aliado da Inglaterra.
11:28A Guerra dos Cem Anos tem este condão de ter encaminhado Portugal para uma aliança
11:34que é crucial para perceber a história de Portugal e a história da Inglaterra.
11:37Para além disso, ainda para agravar também mais isto, para além da Guerra dos Cem Anos,
11:42há também um cisma na Igreja, um cisma papal, em que nesta altura há dois papas,
11:48um papa em Roma, um papa em Avignon.
11:51E também aqui o Dom Fernando vai oscilando entre um papa e outro papa,
11:57conforme vai aliando ou não a Castela e a Inglaterra.
12:01Portanto, é realmente um reinado inconstante, ele foi inconstante,
12:05mas ao fim e ao cabo é fruto de toda esta conjuntura política, económica, social, religiosa, cultural
12:11que perpassa ao longo de todo o seu reinado.
12:14Nas páginas da crónica de Fernão Lopes,
12:22Dona Leonor Teles ficou para sempre marcada como uma das rainhas mais pérfidas da história de Portugal.
12:30Realidade, ficção ou apenas propaganda?
12:33Leonor Teles
12:34Dona Leonor Teles foi uma das rainhas mais mal vistas da nossa história.
12:42E isso teve precisamente a ver com Fernão Lopes.
12:46Na pena de Fernão Lopes, ela não tem quaisquer atributos morais,
12:52é uma perversa, é uma alevosa, aliás, como ele próprio lhe chama.
12:56Portanto, para Fernão Lopes realmente não há mulher tão má como ela.
13:03O que é facto é que ela foi uma mulher fora do seu tempo.
13:07Ela foi uma mulher que não obteceu minimamente aos requisitos daquilo que era uma mulher da idade média.
13:14Portanto, uma mulher casta, recatada, que não falasse, submissa, dependente.
13:21Portanto, isso eram realmente os ideais da mulher medieval.
13:24E Leonor Teles não teve nada disso.
13:26Ela era uma mulher de ação, era uma mulher de conversa rápida e fácil,
13:31era uma mulher corajosa, era uma mulher audaz,
13:34era uma mulher que não olhava a meios para atingir os seus fins.
13:38E é claro que isso não agradava a Fernão Lopes.
13:41Oh, mamãe, mulher.
14:10É uma mulher, alevosa, cumprida de toda a maldade.
14:13Oh, mamãe, mulher.
14:29A obra de Fernão Lopes, a extravasa, é muito aquilo que é contar a história da casa reinante
14:50e daquilo que é a história política de Portugal, que é aquilo que ela se propõe no fundo.
14:55A crónica é fantástica no detalhe que nos dá sobre a vida cotidiana.
15:01Aliás, nas próprias crónicas, Fernão Lopes, por vezes, refere-se a como se fazia uso naquele tempo
15:07ou como era o uso fazer-se.
15:10Portanto, essa ideia de diacronia já surge em alguém que escreve 40 anos depois dos acontecimentos que são retratados.
15:19É uma das grandes obras do final da Idade Média, sem dúvida alguma.
15:25Estamos em Abril de 1383, na vila de Salvaterra de Magos.
15:36Dom Fernando, casado com a impopular Dona Leonorteles, faz mais um dos seus zigzags políticos.
15:44A sua filha, a infanta Dona Beatriz, prometida em casamento já por quatro vezes, conhece um novo pretendente.
15:52Beatriz casará com o rei viúvo Dom Juan I de Castela.
16:00Ele tem 25 anos.
16:02Ela 10.
16:04Casamento combinado.
16:06Era hora de assinar o Tratado de Salvaterra de Magos a 2 de Abril de 1383.
16:10Nas letras pequeninas, deixava em aberto a possibilidade de o rei de Castela assumir, na prática, o governo do reino de Portugal.
16:19O que estava acordado é que Dona Beatriz passava a ser a rainha de Portugal, mas que Dona Leonorteles, sua mãe, a rainha viúva,
16:29regovernaria o país, enquanto não nascesse o primeiro filho de Dona Beatriz, que ainda não estava sequer em idade núbio.
16:37E o que ficava acordado era que os filhos de Juan I com Beatriz de Portugal seriam simplesmente os reis de Portugal.
16:44E, portanto, Castela e Portugal continuariam separados.
16:47Agora, toda a gente tinha a consciência que uma coisa era o que estava afirmado no Tratado, outra coisa era aquilo que iria acontecer nestes anos.
16:53Naturalmente, isto abria caminho a uma incerteza tremenda e a um extremo desconforto sobre o que seria o futuro de Portugal.
17:06Enfim, Portugal manter-se-ia autónomo politicamente relativamente a Castela, como até então tradicionalmente desde séculos.
17:14Ou existiria realmente uma ligação que, eventualmente, na pessoa do herdeiro ou herdeira do casal régio,
17:23poderia supor realmente uma união dos dois reinos.
17:27Dom Fernando tinha feito o Tratado de Salvaterra de Magos.
17:32Estava tudo devidamente estipulado.
17:34Dona Leonoteles, como regente, até que Dona Beatriz tivesse um filho.
17:42Esse filho, mal nascesse, viria a viver para Portugal, seria criado em Portugal, seria criado pela avó regente Dona Leonoteles.
17:50Portanto, estava tudo devidamente estipulado, no caso de ter, no caso de não ter, estava tudo devidamente estipulado.
17:56E este Tratado de Salvaterra foi realmente acordado com o Dom Fernando, com o rei de Castela e com os nobres,
18:04portanto, que também ratificaram este tratado.
18:07E depois, quando o rei morre, tudo acaba por se despultar de uma forma completamente diferente.
18:14E, ao fim e ao cabo, ninguém cumpre o tratado.
18:17O povo não via com bons olhos a rainha.
18:30Quando Dom Fernando morreu e sendo Dona Beatriz ainda menor,
18:34a regência do reino ficou nas mãos da rainha Dona Leonoteles,
18:38que parecia ter uns bons e longos anos de governação à sua frente.
18:41Mas havia um pequeno problema.
18:46Segundo Fernão Lopes, a rainha não era amada pelo seu povo.
18:49Mas Leonor Tele é uma pessoa fascinante.
19:12Algumas fontes portuguesas dizem que foi a Borgia de Portugal,
19:17por as intrigas cortesanas, apoiando a uns e outros,
19:21mas só lhe movia uma coisa.
19:24Su poder.
19:27Concentrar seu poder.
19:29Su poder e, através dele, o dos altos linajes nobiliarios.
19:34Uma mulher fascinante.
19:36Mujeres extraordinárias do siglo XIV,
19:39com mais poderes que os próprios homens.
19:41Segundo as crónicas,
19:48Dona Leonor aconselhava-se com João Fernandes Andeiro,
19:52conde de Orenho,
19:53mais conhecido na história portuguesa como o Conde Andeiro.
19:57Leonor Tele se apoiou em um valido fundamental,
20:00um castellano,
20:01um galego,
20:03João Fernandes Andeiro,
20:05personagem clave na defesa dos interesses,
20:09do compromisso,
20:11de Salvatierra de Magos.
20:13Mas este valido,
20:14que se diz que foi amante de Leonor Tele,
20:17não sabemos com exactidade.
20:20As crónicas, como a de Fernando López,
20:22as atribuiuem suas relações sexuales,
20:25ou pelo menos de amante.
20:26O caso de Dona Leonor Tele com o Conde Andeiro
20:43também é muito falado pelo Fernão Lopes.
20:46Há outros cronistas que não falam nisso.
20:48O Fernão Lopes fala realmente nesse caso com o Conde Andeiro.
20:51Parece que sim, parece que realmente houve.
20:54a própria ascensão social rápida do Conde Andeiro
20:59também acaba por ser, ao fim e ao cabo,
21:01um motivo de descontentamento para a nobreza
21:03e para a população em geral.
21:05Mas o certo foi que este homem
21:07fez muito em defesa dos interesses de Beatriz,
21:11mas, sobretudo, de Leonor,
21:13e acercou, uma vez mais, Portugal à Inglaterra.
21:17Também não nos podemos esquecer
21:18que Fernão Lopes está ao serviço
21:21da dinastia seguinte.
21:24Fernão Lopes é um cronista,
21:26pago pelo rei,
21:27para escrever a história do reino,
21:29para exaltar a dinastia de Avís,
21:33e, portanto, ele tem de denegrir
21:35ao máximo a dinastia anterior,
21:37nomeadamente a Dona Leonor Teles.
21:39Portanto, é claro que, quanto a mim,
21:42a Leonor Teles é uma vítima
21:43às mãos da pena do Fernão Lopes,
21:47do cronista.
21:53Após a morte do rei Dom Fernando,
21:55três partidos surgem a disputar
21:57o direito ao trono.
21:59O Partido Legitimista,
22:00liderado por Dona Beatriz
22:01e D. Juan I de Castela.
22:13O Partido Legitimista Nacionalista,
22:15encabeçado pelos infantes
22:17Dom João e Dom Diniz,
22:18filhos de Dom Pedro
22:19e Dom Inês de Castro.
22:31E o Partido Nacionalista,
22:33liderado por Dom João,
22:34mestre de Avís.
22:35Quem ficará com o trono?
22:43Se existissem sondagens naquela altura,
22:45não sei se D. João de Castela
22:47seria realmente o favorito,
22:50porque havia realmente aqui um grande ódio
22:52à Dona Leonor Teles
22:54e a tudo o que estava ligado a ela,
22:56portanto, à sua filha
22:57e, portanto, ao rei de Castela.
22:59As sondagens, não sei se foram como as atuais,
23:03enganavam-se, mas, portanto,
23:06não seriam muito fiéis, não sei.
23:10Não, é de facto,
23:11os portugueses médios
23:12não gostavam dos castelhanos,
23:13os castelhanos nas invasões
23:15no tempo de Dom Fernando
23:16trataram-nos sempre muito mal,
23:17portanto,
23:19os povos da Anasciência
23:20têm sempre um grande sentido tribal
23:22e, portanto,
23:23eram outra tribo
23:24e eu acho que ganhavam os portugueses.
23:38Embora, por exemplo,
23:39a nível das classes dirigentes,
23:41é curioso,
23:42os castelos mais próximos da fronteira
23:44tinham mais simpatias para Castela,
23:48as cidades mais afastadas
23:50são mais promessas.
23:53Em 1383,
23:54eles se sentem sondagens,
23:56quando o Dom Fernando morre,
23:58provavelmente,
23:59no topo das sondagens
23:59estaria Dom João,
24:01mas não o Mestre de Aviz.
24:02Havia vivos
24:02três filhos
24:04de Dom Pedro I,
24:06meios irmãos
24:07de Dom Fernando
24:08quando o Dom Fernando morre.
24:09Dom João e Dom Dinis
24:10fingem neste castro
24:11e Dom João Mestre de Aviz,
24:12filho de Teresa Lourenço.
24:14O mais velho
24:14era o infante Dom João,
24:16pessoa prestigiada
24:17que se tinha homisiado
24:19porque tinha assassinado a mulher,
24:20mas que,
24:21em uma circunstância
24:21de emergência nacional,
24:23seria esquecido
24:24em prol da necessidade
24:25de chamar
24:26uma nova personagem
24:27para o trono.
24:29O povo de Lisboa,
24:30pelo menos,
24:31e uma elite nobiliárquica
24:33que está,
24:33que começa a trabalhar
24:35com o Mestre de Aviz,
24:36começa a ver
24:37no Mestre de Aviz
24:38uma melhor alternativa
24:40ainda que o infante
24:41Dom João de Castro.
24:42Após alguma hesitação,
24:50Dom João Mestre de Aviz
24:51decide finalmente
24:52liderar a revolta
24:53contra Dona Linortels
24:54e Dom Juan I de Castela.
24:56Regressa a Lisboa
24:57e apunhá-la
24:58o Conde Andeiro,
24:59fazendo correr o boato
25:00que o Conde
25:01atentava contra a sua vida.
25:04Assim,
25:04começou de facto
25:05a revolução em Lisboa.
25:07A crise de 1383-85
25:09começa com aquilo
25:10que nós designamos hoje
25:11como uma fake news.
25:12Ou seja,
25:12põe-se um boato
25:14a correr
25:15e esse boato
25:17desencadeia
25:18uma reação
25:18popular
25:20que fortalece
25:21o Mestre de Aviz.
25:22Repare-se,
25:23na verdade,
25:23o Mestre de Aviz
25:25matou o Andeiro
25:25sem o povo.
25:26O Mestre de Aviz
25:27matou o Andeiro
25:27dentro do palácio.
25:33Parece que foi
25:33o Álvaro Paes
25:34que fez
25:36daquela ideia
25:37que no passo
25:38estavam a matar o mestre.
25:39Portanto,
25:40ele faz
25:40quando se estava a passar
25:42era mais ou menos
25:42o contrário.
25:43O mestre é que estava
25:44a ajustar contas
25:45e a arrumar
25:45uma série de criaturas
25:47que eram negativas
25:48para os seus intentos.
25:50Portanto,
25:50aí foi uma propaganda
25:52relativamente funcional.
25:53eventualmente,
25:54o que é que o Mestre de Aviz
25:55queria antes
25:56desta reação popular?
25:57Se calhar o Mestre
25:58só queria garantir ali
25:59que ele não era
26:00um alvo do Andeiro
26:00e ter algum controle
26:02sobre a cunhada.
26:04A manifestação popular
26:05obriga o Mestre de Aviz
26:07a tomar posições
26:09mais firmes
26:10ao ponto de se depois
26:11tornar regedor
26:11e defensor do reino
26:12que eventualmente
26:13ele não quereria
26:14ao princípio.
26:14Ele chegou a pensar
26:15fugir para a Inglaterra
26:16mas é uma crise
26:16que tem momentos revolucionários
26:17indiscutivelmente.
26:23A morte do Condandeiro
26:24precipitou os acontecimentos.
26:27Dona Leonortel,
26:28estamente pela sua vida,
26:29pede auxílio
26:30a Dom Juan I de Castela.
26:33Em dezembro de 1383,
26:35as tropas castelhanas
26:36entram em Portugal
26:37e Lisboa cercada.
26:41Mas ao fim de cinco meses,
26:43o Rei de Castela
26:44é obrigado a levantar o cerco
26:45devido a um surto de peste
26:47com a devandada
26:48dos castelhanos.
26:50A 6 de Abril de 1385
26:52tem início as Cortes de Coimbra
26:54onde será escolhido
26:56o novo Rei de Portugal.
27:00Depois de muita pressão
27:01nos partidários
27:02do Mestre de Aviz,
27:04Portugal tem um novo monarca.
27:06Dom João I.
27:08É o início da Dinastia de Aviz.
27:12Dom João I
27:13marcou, digamos assim,
27:16uma liderança voltada
27:17para um horizonte
27:19de futuro,
27:20ou seja,
27:21para uma dimensão estratégica
27:22que nem sempre
27:23nós temos encontrado
27:26nos nossos reis
27:27e nos nossos responsáveis políticos.
27:29Aquilo que Dom João
27:30vem trazer
27:31na forma como é retratado
27:34por Fernando Lopes
27:34é uma reorganização,
27:36uma reposição da ordem.
27:37De certa forma,
27:38representa
27:39a restauração
27:40de alguns valores
27:42fundamentais
27:43à sociedade medieval,
27:45como seja
27:45o valor
27:46da justiça,
27:49da auscultação
27:49àquilo que são
27:50os anseios
27:52e as necessidades
27:52da comunidade
27:53do reino em geral.
27:54mas também
27:56representa
27:56simultaneamente
27:57uma fratura
27:58e uma reorganização
28:01da sociedade.
28:04O que eu destacaria
28:05realmente
28:06na crónica
28:07de Dom João I
28:07é aquilo
28:09que ela oferece
28:10de novo
28:10e a forma
28:11como ela pode ser lida
28:12em complemento
28:14ao restante trabalho
28:16de Fernando Lopes
28:17que nós conhecemos.
28:18Não podemos isolar
28:38o mestre Davias,
28:40Dom João I
28:41também
28:41da sua enorme capacidade
28:44de ouvir,
28:46de se reunir
28:47de pessoas competentes
28:48e sobretudo
28:49também não podemos esquecer
28:51uma aliança
28:53absolutamente
28:53de destino
28:55para Portugal
28:56que foi
28:57a sua ligação
28:58profunda
28:59por vezes
29:00com algum conflito
29:01com Nuno Álvaro Tereira.
29:03Portanto,
29:04a revolução
29:04não teria tido sucesso
29:05se não fosse
29:06essa aliança
29:07entre aquele
29:08que foi o futuro rei
29:09um homem ponderado
29:11reflexivo
29:13corajoso
29:14mas reflexivo
29:15e de facto
29:17o nosso
29:18género militar
29:19que foi
29:19Nova Espreira.
29:20Nova Espreira
29:21é um visionário
29:21Nova Espreira
29:23é um homem
29:23que está disponível
29:25a enfrentar
29:26os 30 mil
29:27castelas
29:27só com os seus
29:28500 homens
29:29e portanto
29:29foi um homem
29:30que interpretou
29:31interpretou à sua maneira
29:33um sentimento nacional
29:34e que é a alma
29:35de Dom João I
29:36é a alma desta crise
29:37porque sempre que
29:38Dom João I
29:38hesitava
29:39lá estava
29:39Nova Espreira
29:40a empurrá-lo
29:41a puxá-lo
29:42mas a não deixar
29:42que o seu
29:43chefe
29:44depois do seu
29:45rei
29:45fraquejasse
29:46nos momentos
29:47mais hesitantes.
29:49Dom João I
29:50esta vez
29:50essencialmente
29:51é um político
29:53é 100% político
29:55tem sentido
29:56de Estado
29:57tem sentido
29:58de um momento político
29:59sabe muito bem
30:00quem é o amigo
30:00e o inimigo
30:01Nova Espreira
30:02também tem muito
30:03sentido político
30:04mas tem depois
30:05um lado
30:06mais romântico
30:09mais cavalieresco
30:10leu muito
30:11os romances
30:11de cavalieria
30:12leu muito
30:13o Graol
30:15já tem ideais
30:16muito mais
30:17digamos
30:18que nós
30:18poderíamos chamar
30:19mais românticos.
30:20De certa maneira
30:20Nuno Alves Pereira
30:22é a personagem
30:24secundária
30:25mais central
30:26das carônicas
30:27de Fernão Lopes.
30:29Dom João
30:29Dom João Mestre
30:30de Avias
30:31é um bastardo
30:31Nuno Alves
30:32é um bastardo
30:32essencialmente
30:34quem toma partido
30:35pelo lado português
30:37são os filhos segundos
30:39e os filhos bastardos.
30:42Em toda a história europeia
30:42são pouquíssimos
30:43os bastardos
30:44que chegaram a um trono
30:45sucedendo naturalmente
30:48a um pai
30:49ou a um irmão.
30:50Normalmente
30:50quando um bastardo
30:51chega ao trono
30:52é sempre através
30:52de uma guerra.
30:54Depois da batalha local
30:56regresso
30:57à batalha campal.
31:04agora tudo se iria decidir
31:25em Alves Barrota.
31:26Na batalha de Alves Barrota
31:33a estratégia militar
31:34é decisiva.
31:36O estudo sobre o terreno
31:38e as prácticas
31:39militares
31:39que realiza
31:41Nuno Álvarez Pereira
31:42é de um conhecimento
31:44militar extraordinário.
31:46Não se esperava
31:47esta organização
31:49previa
31:49tão fortemente pensada
31:52estruturada
31:53por os portugueses
31:55que como bem conhecedores
31:57do terreno
31:57deixaram entrar
31:59ao ejército castellano
32:01fundamentalmente
32:02caballeria pesada
32:03lenta e monolítica
32:06frente aos arqueros
32:07e aos balleteros
32:09ingleses e portugueses
32:11muito mais ágiles
32:12e mais rápidos
32:13em terreno a pé
32:14tanto que a caballeria castellana
32:17teve que descabalgar
32:19e combatir a pé
32:31em agosto
32:3214 e 15 de agosto
32:34com calor
32:35armaduras pesadas
32:37combatendo a pé
32:39eram facilmente presas
32:40de os arqueros portugueses
32:42e os arqueros ingleses
32:45de modo que a estrategia militar
32:47portuguesa foi
32:48muito brilhante
32:49a batalha de Algebarrota
32:50realmente é uma das
32:52grandes batalhas medievais
32:54talvez o maior feito militar
33:00em Portugal
33:01num espaço geográfico português
33:03certamente
33:04novas pereira
33:07sobretudo na batalha decisiva
33:08de Algebarrota
33:09praticou
33:10uma maneira de fazer a guerra
33:13que se tornou
33:14depois padrão
33:15por exemplo
33:17em 1385
33:18nós antecipámos
33:20em 30 anos
33:21a batalha de Azincu
33:22em 1415
33:23que foi a vitória da infantaria
33:26sobre a cavalaria
33:26a vitória
33:30no fundo
33:31do peão
33:31ou então
33:32do cavaleiro
33:33apiado
33:34contra as cargas
33:35medievais
33:36da cavaleria nobre
33:37isso foi
33:38digamos
33:39o segredo
33:40da batalha
33:41de Algebarrota
33:41contra todas as probabilidades
33:496 mil homens portugueses
33:51e ingleses
33:51enfrentam o exército
33:52franco-castelhan
33:53de 30 mil soldados
33:55sob o calor
33:57de 14 de agosto
33:58de 1385
34:00o impossível
34:01acontece
34:01graças à inovadora
34:02tática do quadrado
34:04escondidos debaixo
34:08de arbustos
34:09e folhas
34:09estão mais de mil
34:11de fossos
34:11e cobras de lobo
34:12cavados horas anos
34:13pelos portugueses
34:14Nuno Álvares Pereira
34:17comanda uma vanguarda
34:18de lanceiros
34:18e duas aulas laterais
34:19de arqueiros
34:20e vesteiros
34:20na retaguarda
34:22Dom João I
34:23lidera o corpo principal
34:24e a cavalaria
34:25do outro lado
34:37a cavalaria
34:38franco-castelhana
34:39avança
34:40contra luz
34:41entre duas linhas
34:41de arma laterais
34:42mas ficam rapidamente
34:47encorralados
34:48nas armadilhas portuguesas
34:50as apostas em Algebagotas iam todas para o lado de Castelo
35:15Castilla era uma grande potência ibérica
35:18com um ejército poderoso
35:19poderoso e sobretudo com uma flota em expansão
35:23sim
35:24Castilla era o reino mais importante da península ibérica
35:29Perante a queda
35:31perante a queda inesperada da vanguarda castelhana
35:33a retaguarda avança
35:33a retaguarda avança
35:34mas a sua força numérica
35:36revela-se a sua maior fraqueza no terreno estreito
35:39onde os soldados sem espaço se amontoam e desorganizam
35:42os portugueses
35:44os portugueses reposicionam as suas forças
35:46e a retaguarda avança implacável sobre o inimigo desorientado
35:50No calor da batalha cai o estandarte castellano
36:04e o pânico instala-se entre as tropas de Castela
36:07que fogem de bandada
36:09Salva-se quem pueda
36:14uma desbandada castellana
36:16a pérdida de la enseña
36:18de la bandeira castellana
36:20a manos portuguesas
36:22desbandada absoluta
36:24o mesmo rei
36:25teve que refugiar-se em Santarém
36:27e de Santarém
36:27baixar a Sevilla
36:29tão pronto como pudo
36:31Portugal vence assim
36:34a batalha de Algemar Rota
36:37Nós tivemos franceses e ingleses a lutar em Algemar Rota
36:51e foi ao mesmo tempo também uma batalha civil
36:56na medida em que o país estava dividido
36:59Dom Nuno Alves Pereira
37:00o comandante das tropas portuguesas
37:02viu dois irmãos
37:04dois meios irmãos dele
37:05morrerem no campo inimigo
37:07A desproporção entre os mortos
37:11Castela e dos seus aliados
37:13e dos portugueses
37:14é enorme
37:14grande parte das baixas
37:17pertenciam à nobreza
37:19nobreza francesa
37:21à nobreza castellana
37:23e isso explica
37:24que no ano seguinte
37:27o país
37:28Castela tenha estado
37:30mergulhada num profundo luto
37:32chorando
37:33os filhos das famílias
37:35nobres
37:36que perderam
37:38se perderam no campo de batalha
37:39Esta profunda angústia
37:49digamos assim
37:50da perda
37:51da elite
37:53castellana
37:53nesta batalha
37:54é alguma coisa que
37:56certamente se sente mais em Espanha
37:58e na história de Espanha
37:59do que na história de Portugal
38:00visto que esta batalha
38:02foi para nós
38:03digamos assim
38:04um encontro com a continuação
38:05do nosso destino
38:06No!
38:12No!
38:12No!
38:15No!
38:17No!
38:18No!
38:19No!
38:19A CIDADE NO BRASIL
38:49A CIDADE NO BRASIL
39:19Sobre las prácticas militares y los conciertos de estas historias ponen de manifiesto algo muy importante.
39:29Que la gente sencilla de Portugal y también de Castilla tenía memoria colectiva de lo que fue Aljubarrota.
39:38De una derrota para aprender y de una victoria para significar.
39:48Histórias, historias que suponen algo de verdad dentro de un mundo de fantasías.
39:55La guerra fue un momento crucial de toda esta crisis y de la propia guerra.
40:10A guerra formalmente só vai entrar entre éguas em 1411, entre éguas definitivas.
40:16O Tratado de Paz só será assinado em 1432, mas a guerra acabou na Batalha de Aljubarrota.
40:20E portanto tem esse carácter verdadeiramente fundacional.
40:24Eu acho que para todos os efeitos, mais que as cortes de Coimbra que fundam a dinastia,
40:29Aljubarrota é o verdadeiro momento fundacional da dinastia.
40:33A vitória de Dom João I em Aljubarrota assinala um início auspicioso para a tão aclamada dinastia de Aviz.
40:42O primeiro ato da dinastia de Aviz é a Batalha de Aljubarrota.
40:46É difícil de crer que se o país tivesse sido absorvido por Castilla em 1385,
40:51que a ideia de independência como ela estava cristalina em 1640 existisse a Alcuros.
40:58Porque mais cedo o país se tinha diluído numa grande constelação castellana.
41:04E portanto a dinastia de Aviz, a primeira coisa é que segurou a independência.
41:11Muitas crónicas castellanas a reconocem como uma lamentável pérdida,
41:18a imprudência de Juan I, a prepotência do imperialismo castellano.
41:24Por tanto, a sua imagem é distante, fria, de esconder as derrotas.
41:31Mas, desde logo, sim que se tem constancia.
41:34Muito menos que em Portugás, que é uma batalha nacional.
41:38E Castilla aprendeu desta derrota de Aljubarrota,
41:42que já era hora de poner fim à hegemonia castellana
41:47e ao pretendido imperialismo castellano heredado do antigo Reino de León
41:53sobre o viejo Condado de Portugal,
41:56agora já um reino equiparável ao Reino de Castilla.
42:00A reflexão 1383 e, enfim, concluída em 85, digamos assim,
42:21fica essencialmente a importância, a questão da importância da nação
42:26para as próprias liberdades das pessoas, não é?
42:31A ideia de que estar sujeito ou estar integrado ou estar governado por estrangeiros
42:36é mau para as liberdades, para os negócios, para tudo.
42:40E, portanto, é isso que fica.
42:43Se não fosse realmente a crise de 1383, 1385,
42:46nós não teríamos uma dinastia que se preocupou tanto,
42:51que foi a dinastia de Avís,
42:52em criar uma narrativa em torno de si mesma,
42:56que, no fundo, enquanto portugueses do século XXI,
43:00nós vamos buscar e da qual nos alimentamos ainda hoje.
43:06São momentos da nossa história
43:08que realmente vieram a ter repercussões
43:11sobre as nossas vidas,
43:13que, sem dúvida, duram até hoje.
43:15O mestre Juan de Avís, oportunista,
43:20listo, impulsor
43:21das enormes transformações militares de Portugal,
43:26de uma grande flota em Portugal,
43:28já o dizem as crónicas portuguesas,
43:30o de boa memória,
43:32e assim deve ser considerado.
43:34Com ele, se termina a dinastia borgoñona,
43:37e se inicia a dinastia de Avís,
43:40e a abertura ao mar,
43:42o mar, Portugal e o mar.
43:44Foi um ciclo que redefiniu
43:54a identidade do país
43:56como um país não apenas europeu.
44:00Um país que se tornou ultramarino,
44:02que começou em 1415,
44:04começou com a conquista de Ceuta,
44:06só terminou em 1974.
44:10Em grande medida, uma revolução medieval,
44:13mas que foi fundamental
44:15não só para um Portugal moderno,
44:18mas para a modernidade europeia.
44:20Porque as descobertas portuguesas,
44:22as navegações portuguesas,
44:24ajudaram a mudar o mundo.
44:26E aí
44:34E aí
44:36Legenda Adriana Zanotto
45:06Legenda Adriana Zanotto
45:36Legenda Adriana Zanotto

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