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  • 13/04/2025
Tem café que a gente toma e esquece. E tem café que fica. Fica no paladar, na memória… e na alma. O que nasce no Sítio Denizar, em Marechal Floriano, é assim. Um café com nome, sobrenome e raiz. Cultivado no alto das Montanhas Capixabas, a mais de 900 metros de altitude, ele carrega na xícara o sabor da persistência, da família e da terra.

O Negócio Rural subiu as Montanhas Capixabas para contar essa história.

Reportagem exibida em 13/04/2025

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Notícias
Transcrição
00:00Subir a BR-262 é como abrir um livro. Cada curva conta uma história, cada morro esconde um personagem.
00:12Essa estrada liga o Espírito Santo a Minas Gerais e ela nos leva a um lugar onde o tempo passa mais devagar,
00:19onde o café tem nome, sobrenome e raiz.
00:22Estamos chegando ao sítio Denizar.
00:43Oi gente, nossa receptividade já sim.
00:47E aí, Fivão?
00:48Tudo bem? Já estou sentindo o cheiro do café daqui.
00:51É, está aí.
00:52Temos muita história para contar?
00:55Mais uma boa prosa se faz com o quê?
00:59Com um bom café, não é?
01:00Tem.
01:00Tem café?
01:01Tem.
01:02Simbora então?
01:03Bora.
01:06Dona Penha, Denizar, Thiago e seu Estevão.
01:12Eles são os donos dessa história e do café que conquistou o Brasil.
01:22Isso aqui, gente, tem gosto de carinho, gosto de persistência também.
01:40Seu Estevão, são quantos anos aí na cafeicultura?
01:44Como é que a cafeicultura entrou na família?
01:47Entrou quando veio meu avô, meu bisavô da Itália, desde lá pra cá.
01:53E eu tenho 62 anos e eu 62 anos com café, trabalhando na lavoura de café.
01:59Como é que era lá no início?
02:00No início era café rio, né?
02:04Que sepanhava tudo de uma vez e secava tudo.
02:09E agora tem o processo de despopa, de seca, dos cuidados necessários pra poder fazer a bebida melhor.
02:18Então, é catado seletivo, coleta seletiva, e lavado, despopado, separado, as máquinas separam o que é boia, o que é verde, se sair algum.
02:31E despopa só o cereja, minha madurinha.
02:33A gente reuniu a família aqui na mesa pra contar um pouquinho realmente dessa história, uma história de muitas conquistas.
02:42Tiago, qual foi a lembrança que você tem, mais antiga, de você, o café, o cafezal, a propriedade, essa história?
02:52Mais antiga, acho que foi criado na lavoura mesmo, né?
02:55Desde criança, assim, quando...
02:58Às vezes até o neném levava pra lavoura, né?
03:00Pra trabalhar, pra cuidar.
03:02Claro que a gente, quando era criança, não trabalhava, né?
03:04Mas tava lá junto com os pais, né?
03:07A brincadeira era no meio do cafezal?
03:08No meio do cafezal.
03:09Dona Penha, era assim mesmo? Levava os meninos pro cafezal?
03:13Desse jeito.
03:15Denizá chiava, descia pelo Morro Chiano, era assim.
03:19Denizá, e um passarinho verde me contou que você foi até pra fora do país, rapaz?
03:24Me conta essa história.
03:26É, a gente foi pra Guatemala e El Salvador.
03:29A gente ganhou um concurso da Bourbon, ficamos em terceiro e quarto lugar.
03:35E aí eles premiaram-se primeiro pra estar viajando pra fora.
03:39Fazer tipo um intercâmbio, né?
03:41Trocar a experiência com os produtores de lá.
03:44E o que você viu lá de diferente que você trouxe pra cá?
03:47A parte de fermentação lá, que foi o que mais, assim, que a gente nunca tinha ainda contato, né?
03:54Pela época.
03:55Aí logo depois aqui já começou a aparecer também, o pessoal fermentando.
04:01E variedade, esses negócios assim, né?
04:03E toda essa trajetória da família foi reconhecida.
04:11O Douro Cafés Especiais ficou em segundo lugar no Prêmio Brasil Artesanal Cafés Especiais Torrados, promovido pelo CNA.
04:20Segundo lugar do Brasil Artesanal Cafés Especiais Torrados vai para...
04:26Douro Cafés Especiais!
04:28Tiago Dias Douro, Marechal Floriano Espírito Santo, Montanhas do Espírito Santo, Família Campeã de Mais!
04:48Como foi receber a notícia? O que vocês lembram daquele momento, Tiago?
04:54É, então a gente começou aqui, né? Tem um escritório do Incapé aqui, né? O César, né? Mandou o edital, né?
05:01Falou assim, ó, é bom participar disso aí e tal.
05:03Aí eu já dei uma lida no edital, falei com o pessoal aqui, né?
05:07Aí deu o dia, a gente mandou a amostra, né? Preparou, torrou o mais próximo possível da data que é provar o café, né?
05:13Pra ter esse frescor, né?
05:15Não adianta que eles esperam muito mandar primeiro, porque vai ser provado na certa data, né?
05:19Tem esses detalhes também.
05:20Aí, logo depois de seguida que eles provaram o café, esse é o resultado, que foi entre os finalistas, né?
05:26E fizeram o convite pra ir pra Brasília e receber a premiação, né?
05:29Seu Estevam, o senhor esteve lá.
05:31Sim.
05:31Como foi a emoção?
05:34Ah, é bom, né?
05:37Falei uma passeada e participei lá na recepção, conhecer a Brasília.
05:42O coração, como é que ficou? Porque a senhora não foi, dona Penha.
05:46Como é que foi ficar daqui esperando o resultado?
05:49É, a gente sempre participa das coisas, né? E resultado, você sabe. Às vezes vem, às vezes não.
05:56Mas é sempre bom, né? Estar entre os primeiros, ganhar dois. Foi bom.
06:02Denis, ah, o coração ficou palpitando aí, na hora do concurso?
06:06Ah, aceleradinho na hora do concurso.
06:09Mas você tinha confiança de que levaria?
06:12É, a gente sempre procura fazer o melhor possível, né?
06:17Então, você sempre espera.
06:19Querendo ou não, você vai esperar estar entre os...
06:21Pelo menos entre os cinco melhores, né?
06:23Os dez.
06:24Dependendo do concurso, já é um ganho, né?
06:27Porque, querendo ou não, você vai com um concurso desse, tem muita gente, né?
06:32Então, você está entre os dez do Brasil.
06:34Querendo ou não, é, ó, lugar bom, né?
06:39Ó, a prosa está boa.
06:42Eu vou aqui tomar mais um cafezinho.
06:45Enquanto isso, vocês aí, dá uma olhada na paisagem que tem o sítio.
06:52Porque, na verdade, a gente quer conhecer qual é o segredo dessa lavoura.
06:57E, para conhecer, a gente precisa ir lá.
07:00Simbora, então, para a lavoura?
07:07A propriedade tem 35 mil pés de café plantados em 10 hectares.
07:14É bonito ver o cafezal assim.
07:16Nós estamos a aproximadamente mil metros acima do nível do mar.
07:29E saiu desse talhão a amostra campeã.
07:32Que variedade de café a gente tem aqui, Thiago?
07:35Esse aqui é um catucaio amarelo, né?
07:372SL, uma seleção que o César fez aqui no município, né?
07:40Tolerância mais à ferrugem, à foma.
07:42E, por coincidência, dá uma qualidade muito boa na bebida, né?
07:48É um trabalho antigo que ele fez, mas depois começou a fazer qualidade e aprovar, né?
07:53Tem que se aprovar na qualidade também.
07:55Eu descobri aqui alguns segredos para tornar esse café tão especial.
07:59Primeiro, a gente tem a mata aqui próximo.
08:01Muito próximo.
08:02E tem água pura, tem água de nascente aqui.
08:04Água que nasce aqui na propriedade minha, que é a cabeceira da região aqui.
08:09Água que vem aqui da propriedade da nascente daqui.
08:12A colheita aqui na propriedade vai de maio a dezembro.
08:24E como vocês podem ver, é tudo montanha, gente.
08:27Não tem uma área plana.
08:29Com isso, a colheita precisa ser diferenciada.
08:32Seu Estevam, como é que é a colheita no cafezal aqui da propriedade?
08:36Aqui é manual, colheita seletiva.
08:38Quando madurar esses grãos aqui, a gente vem cá e tira só o maduro.
08:44Um por um?
08:45É, se a rama estiver toda madura, puxa a rama toda.
08:49Se não?
08:49Puxa tudo.
08:50Se não, tira o que está maduro.
08:52E faz esse processo quantas vezes?
08:55Aí umas duas ou três, quatro no caso.
08:58Que tem vez que tem café que chega em dezembro.
09:01Esse aqui, quando chegar junho, já está bom.
09:03Mas se a minha flor é da tarde, a flor de março, aí vai chegar lá em novembro, dezembro, por ali.
09:09A gente percebe que os cachos estão bem cheios já, né?
09:14Isso é sinal de que teve chuva na hora certa e que nós teremos uma boa colheita esse ano?
09:19Sim.
09:20Aqui mesmo com o sol, a altitude, o geral do clima aqui, a preservação, não afetou o café aqui não.
09:30Qual que é o cuidado que o senhor tem com a lavoura?
09:33Ah, é, cuidado é quase o ano todo.
09:36Você tem que fazer aquele manejo na hora certa, com adubação, com pulverização, com calagem de calcaio.
09:46Isso aí é, você tem que tirar as análises de solo e folha.
09:52Isso aí você vai em cima da análise para ver o que o café está precisando.
09:55A gente pode dizer que o senhor cuida do cafezal como se estivesse cuidando de um filho, de um dos meninos?
10:02Ah, é daí, mesma coisa.
10:04Isso aí é igual um menino pequeno mesmo.
10:06Depois da pós-colheita, você tem que estar perfeito no que você vai fazer.
10:10Você aí já deve ter visto, numa produção de café especial, aquele terreiro suspenso, onde o ar circula.
10:28Aqui na propriedade, o Tiago e a família decidiram apostar numa outra forma de secagem do café, que é essa aqui.
10:36Que secagem é essa, Tiago?
10:38Esse é o terreiro coberto, né? A gente está numa área com muita umidade aqui, acaba que o terreiro suspenso permite que essa umidade durante a noite passe entre o grão ali,
10:46aí o café chega na 12% de umidade, que ainda não é o ideal, tem que secar um pouco mais, né?
10:51A umidade da noite acaba voltando o café, seca durante um dia, volta durante a noite.
10:56Aí o terreiro de concreto aqui acaba sendo mais eficiente para secar o café, né?
11:00Acaba diminuindo o tempo de seca do café.
11:02E aqui a gente entende por que o nome disso é estufa.
11:07Fora dela, está fresquinho.
11:09Mas aqui dentro está um calor danado, rapaz.
11:12Para o café é bom.
11:13É, a ideia é manter um pouco do calor, né?
11:15Tirar um pouco da umidade.
11:17Agora ela está toda fechada aqui, você percebe aquele calor mais úmido, né?
11:21Mas o ideal é circular um pouco de ar para levar a umidade e o calor.
11:25E o calor mais seco vai secando o café.
11:28Marechal Floriano faz parte da indicação geográfica do Café das Montanhas do Espírito Santo.
11:36Isso significa identidade, origem e história.
11:41Seu denominação de origem vem para isso, né?
11:44Garantir essa credibilidade a mais com o consumidor, né?
11:48Confirmar essa credibilidade do produtor consumidor e confirmar isso aí, né?
11:53O café é produzido aqui, tem essa qualidade e as higienzes vêm para isso, mostrar a realidade,
11:58mostrar que tem preservação, que tem todo um trabalho voltado para a sustentabilidade e para a qualidade do café.
12:04Se algum outro lugar do Brasil falar que produz o café das Montanhas do Espírito Santo, dá errado.
12:10Dá errado.
12:11Montanhas do Espírito Santo é só na região aqui do Espírito Santo mesmo, mais de montanhas aqui.
12:15Bem-vindos ao Laboratório de Alquimia da Propriedade.
12:23É aqui dentro, onde os grãos ganham novos aromas, novos sabores e a torrefação é o escritório da Dona Penha.
12:32Dona Penha, o que a senhora faz aqui dentro?
12:35Eu faço de tudo.
12:37Porro, empacoto, seleciono, mói, faz tudo.
12:43A torra é um grande mistério do café e é aquele ponto que a gente não pode errar?
12:51É, é verdade. A torra é tudo, né?
12:54Tanto você melhora o café um pouquinho, como você pode estragar ele também, né?
12:57Agora, dá para contar qual é a melhor torra?
13:03A primeira coisa é que você tem que ter um bom café, né?
13:06Não adianta então ter um café ruim e tentar melhorá-lo na torra.
13:10Não tem como. Tem que ter um café bom, com uma boa qualidade, bacana mesmo.
13:15Para o seu paladar, para o paladar da senhora, clara, média ou escura?
13:20Média.
13:20Média?
13:21É.
13:21E aí, quais são esses aromas que a gente consegue sentir?
13:26Ai, tem muitos, né? Muitos aromas.
13:28Se a gente for citar assim, é vários, né?
13:31Mas aqui a gente tem bastante...
13:35É o melasso de cana, rapadura, né?
13:38O frutado, tem o mamão, frutas amarelas, mamão.
13:42Tá bastante presente, assim, que a gente às vezes torta a torra, tá preparando, você sente aquele cheiro.
13:49E parece que a alquimia vem dando certo.
13:56Olha só quantos troféus, quantas conquistas.
13:59Eu acho que é o reconhecimento do resultado, né?
14:02Da dedicação do dia a dia, né?
14:04De produzir o café, de fazer, tentar extrair o máximo da qualidade, né?
14:08E a gente tenta sempre participar, né?
14:10Para ver, tipo, dar um comparativo também com outros lugares, com outras propriedades, né?
14:14Mas é um reconhecimento que a gente tem tido aí durante esses anos, que é muito gratificante.
14:22O futuro do sítio Denizar está encaminhado.
14:25Os irmãos tiveram a oportunidade de sair da propriedade, mas decidiram ficar.
14:31Para sempre.
14:33A gente vê a realidade das outras pessoas lá fora, que é bem diferente daqui.
14:38A gente tem vezes que reclamam um pouquinho porque é meio morro e tal.
14:41Mas, igual eu viajei lá para fora, tem lugares lá que...
14:46Aí sim pode se considerar morro, que é bem puxado.
14:51E já fui para Minas também.
14:53Aí já é uma realidade totalmente diferente, né?
14:56Que aí é tudo mecanizado.
14:57A gente tem uma vida muito confortável aqui mesmo, que trabalha muito.
15:02Mas a gente mora num lugar privilegiado.
15:05É gratificante, né?
15:06Continuar um legado que vem sendo feito no café, na cafeicultura, da família, né?
15:12Tem suas responsabilidades, tem que ter o compromisso, né?
15:14Um pouco tempo atrás começou a ter mais um êxito, né?
15:17As pessoas procuravam...
15:19Que moravam no interior e para a cidade, procuravam oportunidades melhores, né?
15:23Aqui a gente tenta criar oportunidade aqui mesmo, né?
15:26De conseguir lucrar mais com o trabalho, né?
15:28Quanto tiver oportunidade, quanto a gente conseguir ir trabalhando aqui, não tem intenção nenhuma de sair, não.
15:34Música

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