No #BEC, jornalistas que cobriram e estavam na morte de Ayrton Senna relembram, com emoção e detalhes marcantes, o impacto daquele 1º de maio de 1994.
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NotíciasTranscrição
00:00Eu fiquei olhando assim no horizonte, no final, e pensando, assim, o cara que eu pensei que fosse imortal.
00:22A gente foi para o autódromo cedo, como sempre, tipo 8h30, 9h da manhã, a gente já estava lá.
00:28Nós fomos, no domingo de manhã, para o autódromo, já sob o peso do choque, sob o impacto da morte de um piloto no dia anterior.
00:39Tinha morrido o Roland Ratzenberg, austríaco, no sábado, e a nossa cabine do lado era da TV austríaca.
00:47Então, o Heinz Prüller, que era o comentarista, narrador, repórter, famoso na Fórmula 1, famoso,
00:54ficou praticamente 50 anos na Fórmula 1, assim que eu cheguei, ele veio me procurar.
01:00Eu tive contato com o Senna no domingo muito rápido.
01:04O Senna estava abaladíssimo com tudo o que aconteceu no fim de semana,
01:08começando pelo acidente do Rubinho na sexta-feira e a morte do Ratzenberg no sábado.
01:12E, naquele dia, o Armand, o cinegrafista, não sei porquê, ele resolveu ir até a garagem, até os boxes,
01:25e ficou filmando ele.
01:26Então, tem aquela imagem clássica, histórica dele,
01:31com a mão, assim, atrás da asa traseira do carro e refletindo, muito sério.
01:40Claramente, era o olhar de quem não estava muito satisfeito.
01:46O Senna queria uma modificação na coluna de direção.
01:51Essa modificação foi feita de uma forma meio artesanal.
02:00E aí, eu culpo diretamente os responsáveis pela equipe.
02:06E aí, aconteceu aquilo.
02:11Aconteceu o acidente, a gente logo viu que era um acidente grave.
02:15Tanto que, quando houve a batida, eu estava à direita dele,
02:20eu botei a mão no joelho do Galvão, chamando a atenção.
02:23Ele olhou, e aí, esperto como ele é, e ágil, ele entrou com aquela cena, bateu forte.
02:29Aí, fica aquela coisa nossa, sem saber, o Galvão suando, nervoso.
02:34Ele estava com um lenço na mão, já ensopado.
02:37Eu tive uma conversa rápida com o Galvão, enquanto o Reginaldo falava.
02:43E eu falei, eu vou para o hospital, assim que acabar a corrida.
02:49Da forma como ele foi tirado, pelos paramédicos e os médicos,
02:54a gente já viu que a coisa era bem mais grave.
02:56E aí, eu me lembro que, indo para o hospital, eu dizia, eu não acredito nisso.
03:03E, no pedágio, eu encontrei o empresário dele, o Julian Jacob.
03:08Uma coincidência, assim, ele estava com um carro ao lado do outro.
03:13Ele abriu a janela e me perguntou uma coisa.
03:16Aí, eu abri a minha e ele falou, o que é?
03:18Ele falou, você sabe onde é o hospital em inglês?
03:22Eu falei, me segue.
03:25E aí, a gente chegou junto no hospital e o Cabrini veio depois num outro carro.
03:33E eu comecei a montar as coisas, mas, antes de montar, o Julian veio para mim e disse,
03:42o seu amigo não vai voltar.
03:44E aí, eu levei aquele choque, né?
03:59Porque ali eu já sabia que não ia ter solução.
04:03Eu resolvi ligar para o chefe do meu setor, no jornal do qual eu estava fazendo a reportagem.
04:16Era o La Estampa de Torino.
04:19Eu liguei e ele me falou, olha, Cláudio, eu estou, com aquelas coincidências felizes,
04:26eu estou no telefone com a médica do hospital.
04:33Fico ouvindo.
04:34Então, fiquei ouvindo um instante e tal.
04:37Quando ela falou, encefalograma plano, eu falei, pô, morreu?
04:42Chegou o Sid Watkins, o Braguinha e o Gerard Berg.
04:48E o Sid Watkins veio para mim, para o Gerard.
04:51O Braga não estava nessa hora e falou, você quer ir ver o seu amigo?
04:57Eu falei, eu não vou.
05:00O Gerard foi.
05:04Voltou branco feito uma vela.
05:06O Galvão foi embora junto com o Bira, que era o sócio do Ayrton.
05:11O irmão do Ayrton estava naquela corrida, o Léo já tinha ido.
05:15Então, o Bira, o Braguinha, o Almeida Braga e o Galvão pegaram o helicóptero do Berger
05:20e foram para o hospital.
05:22Foi quando a família me autorizou.
05:27O Galvão chegou também.
05:30E eu fui no Galvão e disse, e aí?
05:32Ele falou, pode dar a notícia.
05:36Aí eu desci, dei a notícia para o Cabrini e aí voltei.
05:41É um negócio difícil de engolir, mas é a vida.