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00:00Em 1972, a antiga União Soviética lançou uma espaçonave com destino a Vênus.
00:09Mas algo deu errado e parte da missão ficou presa na órbita da Terra.
00:15Agora, mais de 50 anos depois, essa relíquia espacial está prestes a retornar ao nosso planeta.
00:23O módulo Cosmos 482 pesa meia tonelada e foi projetado para resistir às condições extremas de Vênus.
00:34Por isso, deve sobreviver à reentrada na atmosfera e chegar intacto ao solo daqui a cerca de duas semanas.
00:44Bom, não podia deixar de ser. Vamos repercutir esse assunto agora com Marcelo Zurita, que nos traz mais detalhes sobre isso.
00:54Em mais uma coluna Olhar Espacial.
01:06Excepcionalmente, hoje a coluna Olhar Espacial é ao vivo, pessoal.
01:10Para tratar desse assunto, vamos ver se o Marcelo Zurita nos tranquiliza ou se ele nos deixa mais preocupados, não é?
01:19Vamos lá, vamos receber ao vivo ele, o querido Marcelo Zurita.
01:24Zurita, boa noite. Muito bem-vindo ao Olhar Digital News.
01:28Hoje, aqui ao vivo, no Olhar Espacial.
01:32Boa noite, Marisa. Boa noite a todos.
01:35Saudações astronômicas.
01:36E vamos falar sobre esse tema interessantíssimo que surgiu hoje aí e que vale a pena a gente debater, né?
01:43Para afastar todos os mal-entendidos, né?
01:47Pois é. Bom, ainda bem que você já começou falando aí, afastar os mal-entendidos.
01:52Assim, a gente já fica um pouquinho mais tranquilo.
01:54Mas, Zurita, fala um pouquinho mais para a gente sobre essa história dessa espaçonave.
01:58Como ela sobreviveu tanto tempo em órbita e mais, por que ela está, vamos chamar assim, caindo na Terra?
02:08Pois é. É uma coisa interessante, até remete a algumas reportagens que foram feitas recentemente no Olhar Digital,
02:16que o pessoal pode consultar lá no portal, no site, né? E vai ver a respeito.
02:21Bom, primeiramente, né? Ela foi lançada em 1972 e tinha destino Vênus.
02:27Só que algo deu errado, tá?
02:29No momento que ela estava em órbita da Terra, ia pegar a chamada órbita de transição, né?
02:35De transferência orbital para Vênus.
02:38Houve um problema nos motores lá da espaçonave Soyuz.
02:43E ela acabou ficando presa na órbita da Terra, numa órbita extremamente elíptica.
02:48Extremamente não, não é uma órbita elíptica.
02:51Então, até há pouco tempo atrás, ela estava com aproximadamente 200 quilômetros no Perigeu,
02:58ponto que ela passa mais próximo da Terra, e 780 quilômetros no Apogeu.
03:03Então, ela estava com uma hora passando apenas 200 quilômetros da superfície da Terra,
03:09hora a quase 800 quilômetros, tá?
03:11Acontece que nesta altitude, apesar da atmosfera ser bem rara,
03:16ainda existe gás atmosférico lá em quantidades, em densidade bem menor, tá?
03:23Principalmente nessa parte mais baixa, na parte do Perigeu, tá?
03:28Mas mesmo no Apogeu, como a gente viu numa reportagem recente, né?
03:32Tem ainda gases atmosféricos que provocam a redução da velocidade dessa espaçonave
03:38quando ela passa pelas regiões mais densas aí da atmosfera.
03:45Então, o que acontece?
03:46Para permanecer em órbita, ela teria que ter uma velocidade ali constante.
03:50Ela não poderia ter essa redução de velocidade.
03:53Como existem esses gases que freiam a espaçonave,
03:56ela vai aos poucos perdendo velocidade,
03:58e isso vai fazendo com que ela vá perdendo altitude também.
04:03Todos esses objetos são monitorados quase que diariamente, tá?
04:07Tanto por agências espaciais como também por astrônomos amadores.
04:10Eu já cheguei a fazer esse tipo de monitoramento por algum tempo.
04:14Então, o que a gente pode dizer é que as observações recentes mostraram
04:18que ela está perdendo altitude, principalmente a altitude do Apogeu,
04:22ponto mais afastado da Terra, tá?
04:24Se a gente pegar um gráfico, a gente vai ver que esse gráfico vai apontar bem para baixo,
04:28ela começa a perder bastante altitude,
04:31e já vai apontar ali mais ou menos para que momento,
04:35que seguindo essa trajetória, seguindo essa sequência de perda de altitude,
04:40ela vai acabar fatalmente reentrando na atmosfera.
04:43Nós dissemos, como ela foi preparada para Vênus,
04:47ela possivelmente vai resistir a essa reentrada.
04:50Agora, Marcelo Zurita, acompanhar o trajeto é uma coisa.
04:54Agora, e controle?
04:55A pergunta é, os cientistas ainda têm algum controle sobre ela,
05:00ou pelo menos para saber aonde aproximadamente pode acontecer a queda,
05:06ou é alguma coisa meio descontrolada?
05:10Olha, é descontrolado.
05:13A única coisa que a gente sabe, apesar de ela ir perdendo altitude,
05:16ela está girando mais ou menos numa inclinação ali de 52 graus, tá?
05:22Em relação à Terra, a Terra vai girando nesse meio,
05:26e ela vai estar girando ali em volta, mais ou menos nesse ângulo.
05:29Ela vai perdendo altitude, mas ela mantém essa inclinação.
05:33Então, o que a gente pode dizer é que a gente não sabe onde ela vai cair,
05:38ela pode cair em qualquer lugar entre as latitudes 52 e menos 52, tá?
05:45O Brasil está inteiro dentro dessa área onde essa espaçonave pode cair,
05:51assim como as principais áreas habitadas de todo o mundo estão dentro dessa região, tá?
05:57Então, é impossível a gente dizer agora, nesse momento, onde que ela vai cair.
06:01A gente só sabe que ela pode cair em qualquer lugar dentro dessas latitudes, tá?
06:06E mesmo a data, né, que está prevista inicialmente para o dia 9 de maio,
06:11ela pode variar ainda alguns dias para mais, alguns dias para menos.
06:15Tem muitos fatores que influenciam nisso, Marisa, tá?
06:18Inclusive, algo que a gente nem imagina, né, como, por exemplo, a atividade solar.
06:24Quando a gente tem o Sol muito ativo, ele acaba dilatando a nossa atmosfera,
06:29o que faz com que as naves que passam ali naquela altitude
06:35acabam perdendo velocidade e, consequentemente, a altitude mais rápido, tá?
06:41Então, dependendo da atividade solar, isso pode acontecer mais ou menos rapidamente.
06:46E tem outros fatores também envolvidos, né?
06:48Então, fazer uma previsão com tamanho antecedência é muito complicado mesmo.
06:52Agora, Marcelo Zureta, então, é preocupante, né?
06:57Porque não se sabe onde que vai cair, não se tem a precisão do dia.
07:04Agora, se esse impacto ocorrer em alguma área que tenha, que seja, como você disse,
07:10uma grande população, o que pode acontecer?
07:13Qual é esse risco, Marcelo Zureta?
07:16Bom, aí eu acho que é o principal ponto que a gente precisa desmistificar, tá?
07:21Existe, sim, o risco de cair em qualquer lugar, desde áreas mais remotas até áreas mais populosas, tá?
07:29Como a gente viu, grande parte da população humana vive dentro dessa faixa
07:34entre mais 52 graus e menos 52 graus de latitude.
07:40Então, há, sim, um risco de que possa atingir uma área urbana.
07:43Agora, quando a gente fala de risco, tá?
07:46A gente vai ver que o risco de acontecer alguma coisa,
07:48a chance de que isso possa gerar um prejuízo material maior
07:53ou até perda de vidas humanas é um risco muito baixo mesmo.
07:59Porque dois terços, né, dessa região são cobertas por oceanos.
08:05O um terço que sobra de área continental
08:11ainda tem muitas áreas praticamente desabitadas, né,
08:16com a densidade populacional muito baixa, tá?
08:19Vai incluir, por exemplo, aí o grande deserto do Saara, dentro dessa região.
08:23Os maiores desertos do mundo estão dentro dessas latitudes.
08:27Então, a chance de que isso possa cair em uma área populosa
08:30e que possa gerar realmente aí algum dano mais severo
08:34ou até perda de vidas humanas é muito baixo mesmo.
08:36E tem uma coisa curiosa, Marisa.
08:39Por mais que a gente possa imaginar que essa nave,
08:42feita para aguentar uma entrada atmosférica em Vênus,
08:46inclusive, existe até especulação de que ela pode acionar o próprio paraquedas,
08:51né, quando chegar em determinada altitude,
08:54tá?
08:54Isso seria muito difícil de acontecer, mas pode ser que aconteça.
08:58Ela tem um paraquedas que ela acionaria quando estivesse entrando na atmosfera de Vênus, tá?
09:02Então, vai que de repente aciona esse paraquedas e a nave cai inteirinha aqui na Terra, né,
09:07para a gente poder recuperar uma das relíquias aí da exploração espacial.
09:13Mas mesmo que isso não aconteça, que ela caia em solo,
09:17a gente estima que ela chegue aí numa velocidade de 250 a 300 quilômetros por hora,
09:22a velocidade terminal, porque a atmosfera também acaba diminuindo essa velocidade dela na queda, tá?
09:29E o risco para a vida humana, o risco para a sociedade,
09:35ela é bem menor, por exemplo, do que a reentrada de um foguete,
09:40de um corpo de foguete.
09:41Por quê?
09:42Essa nave, ela foi feita para resistir, tá?
09:45Então, ela vai chegar inteirinha no chão, mas vai ser só uma.
09:49Enquanto num foguete, por exemplo, cada motor, cada parte que acaba resistindo à reentrada,
09:54ela se separa e vai cair em pontos diferentes, tá?
09:57Dependendo do objeto, esse campo de dispersão desses fragmentos da espaçonave,
10:06ou do satélite, ou do foguete, pode se estender aí por centenas de quilômetros, tá?
10:12Então, nesse caso, não vai ser um objeto apenas, tá?
10:15E quando, se a gente pensar, por exemplo, que um objeto de 500 quilos pode matar uma pessoa se atingir,
10:20mas mesmo um objeto de 2 quilos poderia matar uma pessoa se atingisse ela a 200 quilômetros por hora.
10:26Então, na prática, esse objeto, a queda desse objeto, a reentrada desse objeto,
10:32é menos perigosa do que qualquer outro corpo de foguete, qualquer outro satélite que já reentrou na Terra, tá?
10:39Na verdade, vai ser só uma chance de causar algum dano entre milhões de outras,
10:44de cair em um local desabitado, de não atingir ninguém, nem dar nada de muito valor.
10:48Agora, uma curiosidade que deve estar na cabeça de muita gente.
10:53Como que é feito esse acompanhamento, então, Marcelo Zurita?
10:56Tendo em vista que vai acontecer, que não tem uma previsão, os cientistas acompanhando,
11:01tem como... eles monitoram esse movimento e sabem mais ou menos a região,
11:06tem como avisar, vai ser filmado isso, vai...
11:09Enfim, como que vai acontecer isso quando ele se aproximar mais e entrar na nossa atmosfera?
11:16Bom, é uma coisa interessante, tá?
11:18O alerta da reentrada desse objeto foi feito pelo Mark Lombrokin,
11:23que é um dos grandes especialistas na observação de satélites,
11:28na observação de objetos em órbitos e nos cálculos e em entradas também, tá?
11:32Então, o cara, assim, é muito confiável e uma das coisas que ele fala
11:38é que a gente não consegue prever a reentrada de um objeto
11:42com mais de um terço de precisão de antecedência.
11:46Ou seja, se eu estou prevendo uma reentrada para daqui três horas,
11:50ela vai ter mais ou menos uma hora de variação,
11:53mais ou menos 30 minutos para lá ou para cá, tá?
11:56Por quê?
11:57Por conta de todas as variáveis que estão envolvidas nessa história.
12:00Mas o que eles conseguem fazer é ao longo desse período
12:03e continuarem analisando a trajetória do objeto, a altitude,
12:08a variação de altitude e refinando os cálculos
12:11para poder dar uma precisão maior do momento da reentrada.
12:15Agora, o que acontece é que quando está faltando mais ou menos aí
12:19de cinco a três horas, mais ou menos, antes da reentrada de verdade,
12:24os cálculos que eles fazem são muito precisos.
12:27Eles dão essa variação de mais ou menos um terço da antecedência,
12:31mas mesmo assim é muito comum que eles acertem em cheio,
12:37com uma variação aí, em vez de 30 minutos,
12:40de cinco minutos, de dez minutos do horário.
12:44E quando eles acertam os horários, eles acertam o local,
12:47porque a gente sabe naquele horário por onde vai estar passando esse objeto,
12:50pelos cálculos que são feitos aí a partir dos dados coletados ao longo da história.
12:55Então, a tendência é que a gente vá acompanhando,
13:00vá vendo as chances desse objeto cair no Brasil, por exemplo,
13:04aumentando ou diminuindo ao longo do tempo,
13:06mas de verdade, de verdade mesmo, a gente só vai poder dizer
13:09com um pouco mais de precisão aonde e quando esse impacto vai ocorrer,
13:14quando estiverem faltando algumas horas para isso acontecer.
13:17Marcelo Zurito, eu devo confessar que eu prefiro as histórias românticas
13:22que você conta no olhar espacial do que essa notícia,
13:25mas querido, você com certeza estará conosco trazendo mais informações
13:29sobre esse episódio.
13:31Assim que tivermos sempre mais informações, você, por favor,
13:34venha e se junte a nós para trazer aqui para a gente informações em primeira mão.
13:38Se der, a gente até transmite ao vivo,
13:41se a gente tiver uma previsão com boa precisão,
13:45pode ser uma coisa que a gente pode transmitir ao vivo,
13:48inclusive com a possibilidade de ter imagens de câmeras
13:50espalhadas pelo Brasil para registrar isso.
13:55Agora, para a gente, Marisa, é um evento que vale a pena a gente acompanhar,
14:00porque a gente vai ter uma oportunidade,
14:02provavelmente, uma oportunidade para a gente estudar o comportamento
14:05de um meteoro entrando na atmosfera,
14:08porque ele vai se comportar exatamente como um meteoro,
14:11como uma rocha espacial,
14:13só que em vez de rochoso, vai ser um objeto metálico
14:18que vai resistir bastante a essa reentrada
14:20e vai estar um pouquinho mais lento do que normalmente
14:22os meteoros atingem o nosso planeta.
14:26Pois é, está aí, Marcelo Zurito.
14:27Então, contamos com você com certeza no acompanhamento dessa história.
14:32Muitíssimo obrigada, viu, Zurita,
14:34para mais um Olhar Espacial hoje,
14:36bem especial, aqui ao vivo com essas informações.
14:39Muito obrigada e tenha uma excelente noite.
14:43Obrigado, Marisa.
14:44Boa noite a todos.
14:45Bons céus a todos e até a próxima.
14:47Obrigada, Marisa.