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Transcrição
00:00Sabe aquela preocupação sobre a inteligência artificial ocupar funções desempenhadas por nós, seres humanos?
00:09Pois é, uma nova startup do Vale do Silício surgiu exatamente com essa missão.
00:17A Mecanize quer levantar recursos para criar ferramentas e ambientes digitais
00:23que permitam treinar IaaS cada vez mais avançadas.
00:28Essas tecnologias seriam utilizadas, então, para realizar qualquer tarefa que hoje dependa de humanos.
00:37Chegou a hora de repercutir esse assunto na coluna da semana Olhar do Amanhã.
00:43Então, vamos receber mais uma vez aqui ao vivo o doutor Álvaro Machado Dias,
01:00neurocientista, futurista e colunista do Olhar Digital.
01:05Vamos lá? Deixa eu colocar o doutor Álvaro Machado Dias.
01:09Muito boa noite, como vai?
01:11Boa noite, Marisa.
01:13O áudio está um pouquinho alto aqui para mim no estúdio, pessoal.
01:16Atenção.
01:17Doutor Álvaro, vamos falar sobre essa questão, esse anúncio, não é?
01:21Ele trouxe um certo espanto e até uma reação, digamos, negativa.
01:26Essa startup quis chamar a atenção ou, de fato, isso é uma missão, vamos dizer, possível?
01:35Esse é um sonho utópico do capitalismo, mas não tem nada de possível.
01:40E eu diria que não tem nada de possível também no médio prazo.
01:44E eu vou te dizer por quê.
01:46E aí eu acho que vale a pena a gente entrar mais profundamente.
01:49Não é estritamente porque as inteligências artificiais ainda precisam evoluir e tal,
01:58tudo isso que a gente já sabe.
01:59Está cansado de saber.
02:01A grande questão é que, para eu ter a atuação da máquina
02:07num domínio específico da ação, do comportamento, do trabalho, portanto,
02:14eu preciso mapear essas tarefas.
02:17E a grande verdade é que os graus de liberdade, ou em outras palavras,
02:24as oportunidades decisórias nas diferentes áreas profissionais,
02:30elas tendem a existir em número muito maior do que as pessoas imaginam.
02:35Então, por exemplo, pense em uma atividade que toda hora se discute a sua substituição,
02:41a enfermagem.
02:42Parece simples, né?
02:43Eu tenho uma rotina, eu tenho a visita dos pacientes,
02:47eu tenho, enfim, troca de curativos,
02:50eu tenho análise, enfim, dos equipamentos
02:54para eu assegurar que tudo está funcionando perfeitamente bem,
02:58por exemplo, num quarto hospitalar e assim por diante.
03:02Parece tudo simples.
03:03Então, a gente não pode confundir as rotinas que a gente consegue definir muito bem
03:18e a partir dessa definição colocar algum algoritmo que as automatize
03:23com a substituição completa da função humana,
03:29porque boa parte da função humana é simplesmente fazer o inesperado, o indeterminado
03:33e aquilo que na hora vai salvar todo mundo,
03:35mas que cinco minutos atrás ninguém tinha ideia que fosse necessário sequer que existisse.
03:41Pois é, um bom exemplo esse, inclusive.
03:44Agora, doutor Álvaro, vamos imaginar
03:45que num futuro hipotético essa startup ou qualquer outra
03:50tenha sucesso e consiga automatizar, digamos assim, a maioria dos trabalhos.
03:55A pergunta que fica no ar é
03:57por que insistir e perseguir esse objetivo
04:00se bilhões de pessoas seriam afetadas em menor ou maior grau?
04:05Tá, eu gosto da sua pergunta porque a resposta é assim, por puro egoísmo?
04:11Sim, tipo, é muito claro, né?
04:14Assim, eu gosto de uma abordagem filosófica das empresas que diz o seguinte,
04:19empresas podem ser pensadas como escravos.
04:23Olha que coisa esquisita, né?
04:24A princípio não faz nenhum sentido.
04:26Mas vamos olhar bem.
04:28A empresa, ela deve agir à luz dos interesses e direcionamentos dos seus líderes,
04:37o CEO e assim por diante, o conselho,
04:40que supostamente, às vezes efetivamente,
04:43está a serviço dos acionistas, enfim, de quem tem o capital.
04:49Nesse sentido, a empresa é como se fosse um ser condicionado
04:54para executar essas vontades.
04:56E aí que vem a ideia da empresa como escravo,
04:59que eu acho que é uma alegoria, do ponto de vista filosófico,
05:02muito enriquecedora.
05:04Então, qual que seria a ideia?
05:06Seria a ideia de substituir o trabalho por esses escravos autônomos,
05:12que seriam justamente as empresas com sistemas de inteligência artificial
05:18e, sobretudo, robótica, porque o mundo não acontece numa tela,
05:21que vão lá e fazem as coisas no lugar dos humanos.
05:24Essa é a tese mais profunda, do ponto de vista do que está em jogo.
05:29Agora, olha só, essa tese, a princípio, ela não é ruim.
05:35Assim, existe um mito na nossa sociedade que as pessoas se definem pelo trabalho.
05:41Muita gente, de fato, se define.
05:43Mas eu sinto, lá no fundo, que essa percepção, essa fala, ela é sobrevalorizada.
05:50No momento que as pessoas não precisarem mais se definir pelo trabalho,
05:54elas não vão se definir.
05:56Eu não tenho problema nenhum e não tenho que nunca mais trabalhar na minha vida.
05:59Nenhum.
06:00Não tenho nenhuma dificuldade, nenhum amar, nada.
06:04Vou ficar melancólico, vou sentir que minha vida não tem sentido.
06:07Nada disso.
06:08Pelo contrário.
06:08Ficar muito feliz escrevendo poesia e falando aqui no olhar digital.
06:14É isso.
06:15Entende?
06:16Não que não seja trabalho, mas você entendeu.
06:17Falando todas as coisas boas da vida.
06:18O ponto não é esse.
06:21O ponto é que o que está suposto nesse tipo de substituição
06:26é a acumulação na mão de quem tem esses escravos mecânicos
06:32e não a distribuição de renda para quem não vai ter um trabalho
06:36e também não vai ter como comprar comida, não vai ter como pagar aluguel.
06:39Essa é a dor verdadeira.
06:41Então é sempre importante botar esse elefante na sala, sabe?
06:44A grande questão não é a substituição do trabalho.
06:47Essa é ótima.
06:49A grande questão é como a gente cria mecanismos e faz eles funcionarem,
06:54eles não podem ser teóricos,
06:56para que a gente não aumente a pobreza no mundo
06:59e de preferência também não aumente a desigualdade.
07:03Resolvida essa questão,
07:04que venha 100% de automação para a gente ficar,
07:08como dizia o Chaves, em Acapulco tomando mojito.
07:10Com certeza, haja mojito.
07:15Agora, doutor Alvo, relembrando aqui um pouquinho,
07:18o chat GPT, quando surgiu lá em 2022,
07:22tinha como a inteligência artificial,
07:24ela se somando, digamos assim, ao trabalho.
07:28A pergunta é, o que os pesquisadores diziam à época
07:32ou previam para um curto prazo?
07:34Tem se realizado ou já ultrapassamos as expectativas?
07:40Boa pergunta, porque depende muito do ponto de vista, né?
07:43Se você pegar os tecno-otimistas,
07:46100% vai dizer, superou em muito,
07:51superou 10 vezes.
07:53É impressionante como mesmo as projeções mais ambiciosas
07:58são ultrapassadas pela prática.
07:59Eu ouço isso todo dia.
08:01Agora, existe do outro lado gente que vai te falar assim,
08:05olha só, o que determina,
08:09do ponto de vista real,
08:12o impacto de uma tecnologia
08:14são os outputs econômicos da mesma.
08:18E cadê o aumento do PIB
08:21motivado, criado pela tecnologia,
08:25pela inteligência artificial?
08:26A gente não está vendo isso em lugar nenhum.
08:27Essa é a grande verdade também.
08:30Entende?
08:31Então, legal, a inteligência artificial está entrando nas empresas,
08:34todo mundo está usando o chat EPT
08:35para escrever copy para a rede social,
08:40para sei lá o quê.
08:41Fato, está mesmo, tem uma penetração.
08:44Agora, quando a gente olha o impacto
08:46dessa penetração no globo,
08:48no planeta Terra,
08:50à luz das outras coisas,
08:51por exemplo, vamos falar da guerra comercial
08:54provocada pela subida das tarifas,
08:56por essa disputa China-Estados Unidos,
08:59pelo impacto na bolsa das tarifas
09:02que o Trump anunciou,
09:03que foram 3,1 trilhões de dólares de início,
09:05depois foi um pouco recuperado,
09:06mas enfim,
09:08cadê a output que chega na vírgula disso
09:11causado por automação e inteligência artificial?
09:14Até agora a gente não tem.
09:15Então, é importante também a gente
09:17colocar as coisas no seu devido lugar.
09:19a importância psicológica,
09:23a importância mental,
09:24a importância sociorrelacional
09:27da inteligência artificial,
09:29neste momento,
09:30ultrapassa a sua importância econômica.
09:32Essa é a mensagem.
09:33Então, os tecnotimistas vão olhar
09:35pelo ponto de vista do mental,
09:37do sociorrelacional,
09:37vão dizer,
09:38uau, o mundo mudou em três anos,
09:40que loucura.
09:41Enquanto do outro lado,
09:42os economistas vão falar assim,
09:44ok, mudou, verdade,
09:45mas aqui,
09:47onde as pessoas estão comprando pão,
09:50elas estão nascendo e morrendo,
09:51ainda não mudou tanto.
09:53E essa é a mensagem.
09:55Tá certo.
09:55Agora, para a gente encerrar ainda
09:57sobre esse assunto de trabalho,
09:59você sente que o mercado
10:00e a academia estão alinhados
10:03quando falamos de inteligência artificial?
10:04Ou seja,
10:05quem dita o ritmo das pesquisas hoje?
10:09O mercado ou a academia?
10:12Não acho que estão alinhados,
10:14entre outras coisas,
10:15pelo horizonte no qual
10:17cientistas que não têm
10:19nenhum comprometimento com empresas
10:21e empresas preveem,
10:24por exemplo,
10:25a inteligência artificial geral,
10:26que vai acontecer,
10:27então o roadmap,
10:29a curva de evolução.
10:31Então, saiu um estudo muito interessante
10:33que, aliás,
10:35a gente já repercutiu aqui,
10:36saiu há um mês, mais ou menos,
10:39mostrando que os cientistas,
10:42grandes especialistas nessa área,
10:44que é uma área da ciência da computação,
10:46da matemática,
10:47da psicologia também,
10:48eventualmente da própria medicina,
10:50enfim, das áreas aplicadas e da área pura,
10:53não acreditam, na sua vasta maioria,
10:56mais de 80%,
10:57que a gente vai chegar na inteligência artificial geral
10:59através de LLMs,
11:01de modelos do tipo Chate-EPT ou Clode ou Gemini.
11:06Não acham.
11:07Acho que vai ser necessário uma outra arquitetura,
11:09consequentemente,
11:10prevém um horizonte para isso
11:13que é maior do que,
11:15do outro lado, o pessoal do mercado
11:16que está convicto
11:17que é só você treinar modelos cada vez maiores,
11:20melhorar essas técnicas de tratamento
11:22da informação,
11:24como, por exemplo,
11:25os modelos de raciocínio fazem,
11:28produzindo, enfim,
11:30análises com um número muito maior de tokens
11:32em etapas, etc.
11:34e tal,
11:34para que você chegue lá.
11:36Então, para começar,
11:36existe um descompasso no roadmap,
11:39na curva esperada
11:40para a gente chegar ao suposto grande salto.
11:43Do outro lado,
11:45existe uma discussão muito importante
11:47que é
11:48a ciência básica da coisa,
11:51ela é de responsabilidade de quem?
11:55Vou traduzir o que eu quero
11:56de maneira muito prática.
11:58Se eu efetivamente preciso
11:59de um novo paradigma,
12:01porque esse dos LLMs,
12:03que é chamado Transformer,
12:05não é suficiente
12:06para a gente chegar
12:07numa inteligência artificial geral,
12:09onde isso deve ser desenvolvido?
12:10Isso deve ser desenvolvido
12:12nos laboratórios privados das empresas
12:13ou isso deve ser desenvolvido
12:15nas universidades?
12:17É claro que para as empresas
12:18é muito mais interessante
12:20desenvolver
12:21aquilo que sai
12:22da leitura do paper,
12:24porque afinal de contas
12:24a ciência básica
12:25é um processo
12:27de encontrar agulhas
12:28em palheiros,
12:29ou seja,
12:30existe muita experimentação,
12:32muito custo,
12:33muita fricção
12:34para você encontrar
12:35algo de muito relevante
12:36do ponto de vista científico,
12:37são descobertas raras.
12:39Do outro lado,
12:41o pessoal que está na academia
12:42entende
12:43que as empresas
12:44cada vez mais dominam
12:45esse processo
12:46e que em última análise
12:47não que elas deveriam fazer isso,
12:49porque é claro que o acadêmico
12:50quer fazer,
12:51mas elas deveriam
12:51investir mais
12:53e ter parcerias
12:54mais fortes
12:55com as universidades
12:56e sobretudo
12:57deveriam investir mais
12:59em modelos
12:59open source,
13:00modelos abertos.
13:02Eu já critiquei aqui
13:03por muitas razões
13:04diferentes
13:05a meta
13:05e acho que são
13:07críticas legítimas,
13:08é uma empresa que
13:09eu sempre vejo
13:10com ressalvas
13:11em algumas áreas,
13:13mas eu entendo
13:14que não é mais uma empresa,
13:15é um conglomerado
13:16e na área
13:17da inteligência artificial
13:18eu também sempre
13:19elogio a empresa
13:20e acho que,
13:21por exemplo,
13:22o que eles estão fazendo
13:23no seu laboratório
13:24de IA
13:25é o que eu acho
13:26que combina
13:27a visão empresarial
13:29com a visão
13:30dos cientistas
13:31que estão buscando
13:32realmente o melhor
13:33interesse da humanidade
13:34independentemente
13:34de qualquer coisa,
13:36que é desenvolver
13:36modelos open source
13:38que buscam
13:39caminhos diferentes.
13:40Então,
13:41o grande cabeça
13:43de IA
13:44da meta
13:44que é o Ian Lecun,
13:46um dos ganhadores
13:46da Turing
13:48que é a medalha
13:49que se dá
13:50como correlato
13:51de um prêmio Nobel
13:52pela descoberta
13:53do Deep Learning
13:54em 2018,
13:55ele não está atrás
13:56de simplesmente
13:57replicar LLM
13:58e vencer
14:00a Open AI
14:01no seu próprio jogo.
14:02Ele está atrás
14:03de fazer uma coisa
14:04diferente,
14:05sobretudo buscando
14:06interpretação de vídeo
14:07porque ele sabe
14:09que existe um problema
14:10de compreensão
14:11da física
14:12do mundo real
14:12que esses sistemas
14:14não estão por aí.
14:15Eu não sei se você percebeu,
14:15Marisa,
14:16mas tá bom,
14:17a gente teve aí
14:18o Estúdio Ghibli,
14:19essa febre
14:20de produção
14:21de imagens
14:22impulsionada
14:24pela Open AI
14:26através do lançamento
14:27do GPT 4.5
14:29e etc.
14:30Mas cadê os vídeos
14:31que todo mundo falava?
14:32Os vídeos estão dando
14:33muito mais devagar.
14:34Por quê?
14:34Por essa questão
14:35da física
14:35do mundo real.
14:36Então,
14:37tem essas empresas
14:38que estão fazendo isso
14:39que estão investindo
14:40no open source
14:40e consequentemente
14:41trabalhando essa fusão
14:43entre o interesse privado
14:44e o interesse público,
14:45mas elas são minoria.
14:46E eu acho
14:47que é nessa hora
14:49que os entendimentos
14:51e os interesses
14:51se casam,
14:52enquanto na hora
14:53em que a propriedade
14:53intelectual é privada,
14:55eles divergem.
14:58Tá aí,
14:59bela análise,
15:00doutor Álvaro Machado diz.
15:02Bom,
15:02hoje mais um quadro
15:04especial,
15:04interessantíssimo.
15:05Doutor Álvaro,
15:06muitíssimo obrigada
15:07pela participação
15:08e semana que vem
15:09temos mais temas
15:10para debater aqui.
15:12Com certeza,
15:13eu que agradeço
15:14muitíssimo
15:14e também agradeço
15:15esse pessoal maravilhoso
15:16que acompanha
15:17o Olhar Digital,
15:19que assiste
15:19o Olhar Digital News,
15:20que é super fiel
15:22e que eu sei
15:23que já acostumou
15:24que as quartas-feiras,
15:27torno de umas 7h35,
15:287h40,
15:29eu venho com força total.
15:31Então,
15:31até semana que vem.
15:32É isso aí,
15:34até semana que vem,
15:35querido,
15:35um beijo,
15:35boa noite.
15:37Beijo.
15:38É isso aí,
15:38pessoal,
15:39mais um Olhar do Amanhã
15:41com o doutor Álvaro Machado Dias,
15:43que é neurocientista,
15:44futurista
15:45e colunista
15:46do Olhar Digital News.
15:47Semana que vem,
15:48quarta-feira,
15:49tem mais.

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