Nos muros das esquinas e ao longo das grandes avenidas, a arte transforma a paisagem de Belém e dá novos contornos à periferia da cidade. Pelas ruas da capital, artistas visuais, como Mama Quilla e PTCK, moldam o cenário urbano por meio de graffitis que retratam as vivências periféricas e até mesmo o modo de viver amazônida. Projetos de grafitagem esses que revitalizam e embelezam esses espaços, levando cor, expressão e identidade para bairros mais afastados.
IMAGENS: ADRIANO NASCIMENTO
REPORTAGEM: GABRIEL PIRES
EDIÇÃO: KARLA PINHEIRO (SUPERVISÃO TARSO SARRAF)
IMAGENS: ADRIANO NASCIMENTO
REPORTAGEM: GABRIEL PIRES
EDIÇÃO: KARLA PINHEIRO (SUPERVISÃO TARSO SARRAF)
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NotíciasTranscrição
00:00Eu trabalho com arte em torno de seis anos, mas eu pinto desde a infância, eu faço cursos desde a infância.
00:07A arte, para mim, foi como se fosse um movimento também de resistência e existência.
00:12Eu iniciei o meu processo artístico durante um período bem hostil aqui dentro da comunidade,
00:18onde os meus amigos, a gente se reunia para fazer arte.
00:22E eu vejo a arte hoje, além de uma forma de se expressar tanto culturalmente, politicamente e também algo pessoal,
00:32também vejo como uma forma de eternizar as nossas raízes.
00:35Eu sou, além de artista, eu sou produtora cultural e eu tenho um projeto chamado A Margens,
00:41onde eu atuo tanto em comunidades periféricas quanto também em comunidades isoladas, ribeirinhas.
00:48E esse trabalho aqui, inclusive, fala um pouco sobre isso, né?
00:53São dois adolescentes pulando do trapiche, que aqui é uma margem, né?
00:58É como se eles estivessem a margem do rio também.
01:00E aqui é a margem de uma periferia.
01:02Os meus trabalhos, eles falam muito sobre a nossa cultura amazônida,
01:06sobre a minha maternidade atípica, que eu tenho um filho de sete anos dentro do aspecto autista.
01:11Eu trago essas vivências também da periferia.
01:14Como eu cresci aqui numa região mais periférica e também o convívio com a natureza aqui na Amazônia,
01:21a gente tem acesso aos rios, às igarapés, às praias e também aos parques.
01:27Então eu misturo todas essas vivências e trago elas para as paredes, para as telas.
01:33A arte urbana é uma forma de democratização da arte,
01:37onde a gente tira ela somente daquele cenário de museus e traz para o meio urbano, né?
01:42Traz para as periferias. E isso é uma forma também da comunidade, da população em geral, ter acesso à arte.
01:50Além disso, é comprovado, né? Que as cores, elas influenciam também a autoestima.
01:55E psicologicamente a gente tem um ambiente onde ele está mais vivo, mais colorido.
02:00Isso faz bem também para a comunidade.
02:02Além do que? Que quando eu pinto, eu falo sobre as nossas raízes, falo sobre a nossa cultura, assim como outros artistas.
02:09É uma forma também de eternizar e mostrar ali quem nós somos.
02:13Quando eu atuo nas comunidades, eu faço oficinas e após essa oficina,
02:18a gente faz um layout, que é o raspunho, junto com a comunidade.
02:23É uma troca mútua. Eu não chego com tudo pronto.
02:26Aquilo é montado junto. Não é para a comunidade. É com a comunidade.
02:32É algo junto que é montado.
02:35Da mesma forma como foi esse mural aqui, onde os moradores participaram, onde as crianças participaram.
02:40Isso também é uma coisa que mexe com a nossa resistência, com a nossa existência.
02:47É muito importante você se sentir inserido, né?
02:50A arte é uma forma também de inclusão social.
02:54Desde criança eu sempre gostei de desenhar, né?
02:56E eu, no início da minha adolescência, eu fui observando muito a cena de grafite na televisão.
03:01É, clip de música na MTV, na época e tal.
03:04Foi a minha primeira referência de grafite que eu vi, né?
03:06Antes de dar internet.
03:08Aí, com o passar dos anos, eu já fui conhecendo.
03:11Veio observando a cena de grafite que tava tendo fora de Belém.
03:14E depois já fui observando a que teve aqui.
03:17Quando começou aqui em Belém, mais ou menos, passei uns três anos,
03:19observando a cena de grafite pra mim poder ver a cara na rua.
03:23Eu sou nascido e criado no bairro da Terra Firme, mas o meu início no grafite não foi dentro do meu bairro.
03:29O meu início no grafite foi no centro da cidade.
03:31Assim, no periferia, eu queria, assim como todo jovem quer ser notado de alguma forma no esporte, na arte, no trabalho,
03:39eu também queria ser notado.
03:40Então, eu comecei primeiro no centro, depois eu ganhei a visibilidade dentro da periferia.
03:44Hoje em dia, eu já consigo adentrar os dois espaços.
03:46Como no centro, que é mais dificultoso, como na periferia.
03:49E eu tento abordar muito um tema mais cartoon, né?
03:53Que é um desenho mais voltado pra animação, que hoje em dia eu sou arte educador.
03:57Através do grafite eu descobri que eu sou arte educador.
03:59E com esse grafite que eu faço nessa temática um pouco mais infantil, que chama mais a atenção das crianças,
04:05eu consegui abordar um público infantil.
04:07E através disso eu venho ministrando oficinas.
04:10Eu sou contratado pra ministrar oficinas de grafite, pra crianças, pra jovens, pra adolescentes.
04:15E eu acredito que é muito importante isso.
04:17Durante anos eu fui tentando me encontrar como artista, né?
04:20E aí eu me encontrei num estilo.
04:22E já trazendo dentro desse estilo, eu já vim tentando abordar a vivência da periferia, né?
04:27Coisas que vêm acontecendo na nossa cidade.
04:29Como nesse painel aqui, que tá representando um trabalhador.
04:32Do ver o peso informal.
04:34Ele leva a renda pra casa e tal.
04:35Aí eu sempre tento contar um pouco da vivência do povo da periferia.
04:39E também algumas vivencias minhas que eu já tive com a vivência que eu tive morando no país, né?
04:43Com a minha terra firme.
04:44A arte eu acredito que ela é muito importante, mano.
04:46Porque ela, assim como ela me ajudou no passado, ela tem força de ajudar jovens no futuro.
04:52Hoje e no futuro.
04:53No tempo que eu tava focando em desenhar, em tentar melhorar.
04:57Era um passatempo que eu tinha antigamente pra me afastar também muito da violência.
05:03Que antigamente era muito forte.
05:05Principalmente pro meu pai, né?
05:06Me ajudou bastante a me tornar um adulto melhor.
05:09Enfim, vários sentidos.
05:11Geralmente a galera na periferia é muito focada no trabalho, né?
05:15Tentar levar melhoria pra sua casa e tal.
05:17Tem muita gente que vive só pra trabalhar.
05:19Não tem tempo de tirar um lazer.
05:21Tipo, visitar uma galeria de arte.
05:23É algo muito inacessível pra gente.
05:26Pra mim, porque eu já corro atrás e é um pouquinho mais fácil.
05:29Porque não interessa em correr atrás.
05:31Mas tipo, pro trabalhador, pro pai de família é muito difícil.
05:34E querendo ou não, é uma forma de aproximar o humano, a mana da periferia da arte, né?
05:40Tipo assim, ele tá indo trabalhar, ele vê um desenho.
05:43Já tá uma mudada assim na visão dele.
05:45E chamar atenção até pra gente fazer isso aqui e tal.
05:48Eu já expul em alguns lugares, né?
05:50Graças a Deus, a arte me levou pra me expor.
05:52Já consegui expor num dos maiores salões de arte daqui de Belém, que é na Casa das 11 Janelas.
05:57Tipo, é muito importante pra mim.
05:59Eu sempre tive esse sonho.
06:00Assim como no passado eu tinha o sonho de expor minhas artes,
06:03pra um outro público eu também tenho vontade de fazer outros jovens,
06:08outras pessoas que também consigam expor a sua arte, né?
06:12Tipo, eu com os amigos meus, a gente tá com esse projeto de uma galeria de arte dentro da periferia.
06:17Assim, mais acessível pra quem mora lá dentro.
06:20A gente tá com esse início aí e a gente já conseguiu um espaço,
06:23que é algo muito difícil pra gente conseguir.
06:25A gente conseguiu um espaço e a gente já fez a primeira exposição lá,
06:28só com um artista periférico e tal.
06:30E eu acredito que tem muito mais a crescer esse projeto pra realização de um sonho.