Não quero ser mãe: mulheres discutem o 'tabu' de dizer 'não' para maternidade
Categoria
🗞
NotíciasTranscrição
00:00E não querem mais, sei lá, porque assim, paternidade, né, algo, né, vocês devem acompanhar, a criança registrada sem pai, né, e existem mães que se por acaso, sei lá, a gente vê histórias, foi morar em outro lugar e deixou os filhos com o pai, elas também são julgadas num nível de tipo, cara, ela não quer exercer essa maternidade próxima, porque, né, quem somos nós pra julgar?
00:22Mas julgar a mãe, colocar o dedo na cara da mulher, na verdade, julgar a mulher sempre é algo que a nossa sociedade faz de forma muita vontade, todo mundo tem muita vontade pra julgar, né, a que quer e a que não quer.
00:32Então, retomando, como que surgiu pra vocês essa percepção? Porque como é algo que é dado, como é que vocês começaram a falar, cara, eu acho que não tô afim disso aí não, dessa história de ser mãe, não.
00:44Grandissíssimo processo de terapia, né, graças a Deus, obrigada a terapia. Eu levei muito tempo, na verdade, assim, eu, eu acho que eu já quis ser mãe, eu, eu, na verdade, eu acho que a gente parte do pressuposto que a gente quer ser mãe, porque é contar pra gente que um dia a gente vai querer e que vai dar aquele, ai não, mas um dia a natureza vai te chamar.
01:05Aí eu ficava ali esperando a natureza me chamar. Bom, gente, ela ainda não me chamou, tô aqui bem linda, esperando o chamado da mãe natureza, que não estava acontecendo.
01:15Ah, então, enquanto não tá acontecendo, tô aqui surfando, feliz, correndo, vivendo minha vida lindamente.
01:21Quando eu conheci o meu atual marido, ele chegou com Amanda, uma menina linda, maravilhosa, de três anos, que eu caí de amor por ela, assim, no momento um.
01:35E até hoje, hoje ela tem doze anos. E aí eu falei, nossa, eu gosto dessa coisa de cuidar de uma criança, eu gosto de maternar.
01:46Será que eu quero ser mãe? E aí eu comecei a me perguntar isso, até o dia que minha ginecologista falou,
01:53você tá com trinta e quatro, eu acho, você já tomou essa decisão? E eu falei, como assim, eu tenho que tomar agora?
02:01Eu tava ontem surfando e tomando cerveja, agora eu tenho que decidir se eu quero ser mãe?
02:05Eu tava no colégio ontem, porque é doido, né? Parece que é um grande tempo pra pensar sobre isso,
02:11mas quando vem a pergunta mesmo, é que você se dá conta de que você vai ter que tomar uma decisão.
02:15E eu percebi que eu adorava o maternar, eu adorava cuidar da Amanda, educar, a gente tem um formato de guarda
02:25que não é muito comum, então a gente fica exatamente metade do tempo com ela, o mesmo tempo que a mãe dela fica com ela, a gente fica.
02:31Eu gostava muito de tudo aquilo, mas tinha pedaços que eu não queria viver, eu não queria gestar, eu não queria ter um bebê muito dependente de mim
02:44por aquele primeiro período da vida. As coisas que eu passei com a Amanda, então, o período da birra, o período da fralda, o período da chupeta,
02:54e que eu passei com ela, eu não queria passar de novo. Eu tava… O meu desejo de maternar estava satisfeito com ela.
03:03E aí eu falei, é isso, eu tô feliz assim. Não quero ser mãe, não preciso ser mãe.
03:08Você sente que, então, o madratismo, né? Que é uma palavra tão…
03:12Existe isso, madrastismo?
03:14É, a gente vai fazer um episódio, vamos fazer bem aí, falando só sobre isso, né?
03:19Mas assim, o ser madrasta, né? Você acha que, de alguma forma, saciou esse seu desejo de cuidar e tá tudo bem.
03:26E eu acho que é muito incrível, porque as pessoas não param por aí, no ar, e você quer ser mãe ou não quer ser mãe.
03:31Quando você, no meu caso, é mãe, eu tenho uma filha de três anos, elas perguntam, e o segundo, quando vem?
03:38Então, é infinito, sabe? Esse direito que as pessoas acham que tem de decidir sobre a nossa vida.
03:44Então, nunca vai acabar, gente. A questão é essa. Mas me conta, como que foi esse processo pra você, Amanda?
03:50Só pra te dizer que, nesse meu podcast, eu recebi muitas mensagens de mães que ouviram o podcast, que já são mães,
03:57ouviram, Amanda, eu adorei e tal, é isso aí. Porque eu acho que, mesmo elas sendo mães, assim,
04:03quando elas pensam num segundo ou num terceiro filho, deve ter aquele sentimento também de preguiça.
04:08Eu acho que eu não... É, de preguiça. Eu acho que eu não quero, entendeu? Então, acho que elas se identificaram um pouquinho com a gente
04:13lá no podcast. Mas, enfim, pra mim veio esse esclarecimento, assim, na minha cabeça. Ele veio um pouco antes do que a Nath contou.
04:23Quando eu tinha 30, eu já sabia que eu não queria. Mas, assim, até, sei lá, uns 28, eu tava indo meio que na onda.
04:31Eu lembro que eu tinha um namoradinho, falava de filho, mas, assim, era um negócio porque era o checklist da vida, entendeu?
04:38Você tava esperando a natureza te chamar.
04:40Exato.
04:40A amiga, a gente tava ali esperando a natureza te chamar, deixou a gente.
04:44Mas, aí, depois, eu tinha lá uns 30, e eu tava assim, cara, eu queria fazer tanta coisa da minha vida,
04:52mas tanta coisa que não cabia um filho pensar em ter filho.
04:56E são coisas infinitas que, até hoje, eu, com 42, quero fazer.
05:02Entendeu? Eu não parei ainda, né?
05:04Então, acho que, nos 30, eu já tava, assim, tava muito claro pra mim que eu não tinha essa vontade.
05:10Eu conheci meu atual marido quando eu tinha 31, e eu lembro que eu conheci ele e eu já falei pra ele.
05:15A gente começou a se envolver mais e eu já falei, olha, eu não tenho vontade de ser mãe.
05:19E, por ironia do destino, a mãe dele era pediatra e o pai ginecologista obstetra.
05:24Nossa, a expectativa desse bom, mas tá tudo pronto pra ela.
05:30Exatamente, fui conhecer a família e já, né, teve aquele, esse papo e tal.
05:36E, aí, o meu marido, na época, já deixou claro.
05:39Falou, ah, então, a gente, né, a Amanda não quer ser mãe, papapá, papapá.
05:42Enfim, mas aí, é, fica muito fácil quando você se permite a não ser mãe.
05:50Então, pra mim, quando foi assim, poxa, eu acho que eu não quero ser mãe.
05:54Então, assim, é, eu me permitia a não ser mãe, mas claro que se essa vontade tivesse aparecido aos 34, aos 35, aos 36,
06:03eu teria mudado de ideia, era uma boa, mas, na verdade, nunca apareceu.
06:08Então, assim, eu sempre falei, não, eu não tenho vontade de ser mãe, eu não quero ser mãe,
06:12mas, se um dia eu acordar, meu Deus do céu, mudei de ideia, tudo bem, não tem problema de mudar de ideia também, entendeu?
06:20Só que isso nunca aconteceu.
06:21E, agora, na minha idade, eu tô mais para não tive filhos do que para, é, acho que não vou ter, entendeu?
06:29Então, assim, pra mim, já é um, eu não tive, sabe?
06:32Claro que, é, tudo pode mudar e eu sou super aberta à adoção, eu não acho que maternidade, né, é só gerar.
06:38Inclusive, eu tenho até pavor de gestar, eu descobri que esse é uma tocofobia, que chama, na minha investigação, no meu podcast, chama tocofobia.
06:48Eu sempre tive pavor de gestação e eu sempre falei que, se um dia eu mudasse de ideia, seria através da adoção.
06:55Mas, eu não mudei até hoje, acho que agora, nessa altura do campeonato, vai ser difícil mudar.
07:03É, e, na verdade, assim, eu queria, eu, vou falar um pouquinho do meu processo, assim, eu fui, eu estou casada há 20 anos, 20, de fazer as contas,
07:11eu sou de humanas, gente, eu não sou de exatas, meu marido me mata quando eu perco as contas.
07:14Mas, acho que são quase 21. É, 21 de relação e 15 de casado.
07:19Amiga, parabéns!
07:20É, eu estou, assim, eu estou aqui chocada.
07:23Já mereço um troféuzinho por isso.
07:26Gente, começou adolescente, então.
07:27Começou com 19 anos, eu estou com quase 40 agora, nesse ano.
07:32E, enfim, então a gente tem 20, é isso, 21 e 15, quase 16 de casamento.
07:37E é isso, nosso começo de relação era algo que eu pensava, ah, se eu for ser mãe, vai ser um dia tão, tão distante.
07:44Não vai ser pra agora, porque eu sou muito orcahólica, eu amo meu trabalho, a gente ama viajar.
07:49Então, a gente curtiu muito essa relação de viajar, viajar, viajar, aproveitar e trabalhar, enfim.
07:55E, então, eu não via que tinha espaço, eu não via que tinha tempo.
07:58E, pra mim, não era uma questão de considerar isso.
08:00Eu falei, pode ser que algum dia, né, aconteça.
08:02Aguardando o chamado da natureza.
08:06E eu vou te dizer que o chamado, ele nem veio da natureza.
08:09Quer dizer, veio da natureza, mas veio assim, veio da pandemia.
08:12Foi muito específico, assim.
08:14É, porque quando o mundo parou, como eu era muito, né, eu sou atriz também, tinha dois grupos de teatro.
08:19E curso de… Era o meu dia, assim, começava às oito da manhã, eu chegava em casa às 11 e meia.
08:24E vamos que vamos.
08:25Então, quando o mundo parou e a gente foi pra dentro de casa, eu parei…
08:31Sei lá, é quase como se eu parasse pra analisar a vida.
08:34O antes, o agora, a pandemia e o depois.
08:37E aí, me veio essa percepção, assim, de que, cara, eu estou vivendo coisas incríveis.
08:42Mas estou vivendo só para o trabalho, colocando energia só nisso.
08:46O que tá tudo bem, mas será que é isso que eu quero continuar fazendo nos próximos 10, 20 anos?
08:50Enfim, fiz toda a minha investigação, né, o meu dever de casa de investigar.
08:53E achei que a resposta era, bom, eu acho que chegou o momento dessa maternidade.
08:57E aí, vem a minha pergunta.
08:58Porque vocês falando da decisão de vocês, vocês parecem muito bem resolvidas.
09:03Parece que esse processo, desde cedo, foi muito estabelecido e veio com bastante clareza pra vocês e convicção.
09:11E o que eu vejo nas redes sociais, quando tem posts nesse sentido do não quero ser mãe,
09:16é realmente essa briga, essa treta entre a mulherada, né, entre as que são mães.
09:20Ai, você não sabe de nada.
09:23Ai, vem aquele mundo assim.
09:24E aí, muitas, né, a gente até pode daqui a pouco falar sobre esses ataques, mas eu queria focar nas mulheres que decidem não ser mãe.
09:31Elas, muitas relatam que sentem uma pressão absurda.
09:35Eu nunca senti essa pressão.
09:36A minha sogra, a gente é meu sábado.
09:38A minha mãe.
09:39E, de fato, foi muito genuíno quando veio na pandemia, porque eu estava ali e parei pra pensar na vida como um todo.
09:45Vai.
09:45Mas eu queria saber se vocês sentiram, porque eu fico pensando, gente, como será que é dar bola?
09:51E eu dou muita atenção pra opinião dos outros em vários outros aspectos da minha vida.
09:55As inseguranças femininas.
09:57Eu fico, gente, será que estão pensando isso de mim?
09:58Será que…
09:59Será que eu tô sendo muito grossa?
10:01A gente tem as nossas nóias.
10:02Mas essa nóia do tipo, ai, você tem que ser mãe, sempre, nunca.
10:05Eu falei, meu, minha vida.
10:06E isso é uma coisa que é, tipo, né, meu corpo, minhas regras, minha decisão.
10:09Pra vocês, vocês sentiram ou sentem que essa é uma pressão concreta?
10:14Pra mim, ela ainda tá muito num campo do subjetivo, assim, cara, é o que o outro pensa.
10:18Vocês sentem isso e você, Amanda, entrevistando tantas pessoas sobre o tema.
10:22Como é que vocês conseguem traduzir essa pressão?
10:24Por que que pega tanto, de fato, pra algumas mulheres?
10:27Assim, falando por mim, eu nunca senti essa pressão, mas porque eu nunca permiti que o outro me pressionasse.
10:34A vida é minha.
10:35Eu sou muito segura da minha vida, do que eu quero fazer, do que eu quero conquistar.
10:38Eu não permito que a outra pessoa me pressione, entendeu?
10:41É, eu pago as minhas contas, não devo nada pra ninguém.
10:44É, se por acaso eu e meu marido, a gente chegasse num desacordo, ele quisesse muito ser pai, né,
10:51ali a gente tivesse uma questão com isso, provavelmente a gente não estaria junto até hoje,
10:55porque eu não iria ceder também a uma pressão do marido pra uma decisão tão, que muda tanto a vida, né.
11:02Então, assim, eu, particularmente, eu nunca permiti que os outros me pressionassem.
11:06Eu sempre banquei com muita firmeza e com muita, é, é, firmeza mesmo, assim.
11:13Não, eu não quero e não tô aqui me abrindo pra você dar seu palpite com relação a isso, entendeu?
11:18É, mas eu sinto que nessa, nessa, né, no meu podcast, conversando com outras mulheres e até estudando um pouco sobre o assunto,
11:28é, eu acho que eu tenho um certo privilégio pelo meio que eu vivo, assim, né, eu tô em São Paulo, uma cidade grande,
11:36é, tem aqui, tem gente de todo tipo, eu sou amiga de mães, de não mães, de casal gay mulher, de casal gay homem,
11:43sim, então, assim, a gente convive com pessoas de todos os tipos, né, e eu fui percebendo que as pessoas que se sentem impressionadas,
11:51geralmente são pelo meio onde elas vivem, então, é, é, às vezes elas não têm nenhuma amiga que não quer ser mãe,
12:00todas são mães e ela tá sozinha, entendeu? Então, às vezes ela mesmo se pressiona, porque, poxa, com quem que eu vou conversar,
12:07como é que eu vou, né?
12:07Se sentir excluída de um movimento.
12:08Se sentir excluída, não consegue ter uma amiga, né, às vezes é uma, ela tem uma família, né, muito conservadora,
12:17que não adianta ela falar que não quer, a família vai ficar ali na orelha enchendo o saco pra isso, né,
12:23Então, eu acho que depende muito do meio onde você vive, né, e eu acho que aí a gente volta pra aquela coisa
12:31do autoconhecimento, né, de se conhecer, que é você pegar uma autoconfiança aí pra você e bancar essa decisão,
12:38e não ligar pro que os outros falam, deixa encher o saco, problema deles, quem encher o saco enche,
12:45eu não tô nem aí, ó, entrou pro ouvido e você falou outro, então eu acho que, que, que, é, eu sei que é chato,
12:51é ruim, mas eu acho que tem que trabalhar essa autoconfiança, é, pra, pra bancar e não se importar com o que falam.
12:58É, eu quando vejo os comentários e vejo esse tipo de situação, quando eu tenho vontade de responder
13:03para, para as que decidem não ser mãe, é nesse sentido, né, eu acabo não respondendo porque a gente não sabe
13:08como vai chegar no outro, mas é nesse sentido de falar, amiga, se liberta, dane-se o que os outros pensam,
13:14nesse sentido, sabe?
13:15Não, e tem uma outra coisa, essa história do, ai, porque é o maior amor do mundo, gente, eu simplesmente não tenho,
13:21vontade de sentir esse maior amor do mundo, não tá me fazendo falta nenhuma, eu sou feliz de outras formas.
13:28Eu, eu tenho muito problema com essa ideia de que o amor, ele, ele pode ser mensurado como um número,
13:33assim, o maior amor do mundo.
13:36As pessoas olham a minha relação com a Amanda e eu escuto muito, assim,
13:39ai, mas você é como se fosse mãe dela, porque o amor que você sente por ela é como se fosse.
13:44Eu falo, gente, vamos lá, por que que um amor muito grande tem que ser um amor de mãe?
13:50Por que que eu não posso sentir um amor muito, muito grande por ela?
13:54Enorme, eu não sei colocar em palavras o tamanho do meu amor por ela.
13:58Por que que tem que ser comparado ao amor de mãe?
14:00Deixa a mãe com amor de mãe, me deixa com o meu amor de madraça, é tudo amor.
14:04Olha que bom que é uma criança que tem um amor desse tamanho do pai, um amor desse tamanho da madraça,
14:07um amor desse tamanho da mãe.
14:09Tem amor de vó, tem amor de tia, é tudo amor, a gente não precisa colocar amor em escala, né?
14:15E aí, voltando pra coisa da pressão, se eu puder complementar,
14:20eu acho que primeiro que a pressão externa, ela abala, porque ela abala a sua tomada de decisão.
14:28Eu me lembro que quando eu tinha dúvida, eu ficava assim,
14:31gente, mas dizem que a pessoa, quando ela quer ser mãe, ela sente.
14:36É uma coisa que vem do útero, chamada natureza.
14:40Ai, você sente que chegou a hora de você ser mãe.
14:42E, por outro lado, as que não querem ser mães, elas têm certeza que não querem ser mães.
14:47E eu não tava nem um, nem um outro.
14:48Falei, ixi, gente, agora?
14:50Então, qualquer pressão externa abala quando você não tem certeza.
14:55E tá tudo bem não ter certeza.
14:57É isso que a Amanda falou, eu esse ano troquei meu DIU.
14:59Na troca do DIU, eu pensei, hum, vamos avaliar se isso ainda é uma certeza.
15:03Sim, ainda é uma certeza.
15:05E eu acho importante a gente saber também que existem pressões,
15:08porque a gente pensa pressão como essa coisa assim,
15:10Imagina que absurdo, você não vai ser mãe, você não quer ser mãe, isso é um absurdo.
15:15Eu nunca senti essa pressão.
15:17A minha família, eu venho de uma família, eu tenho, somos em 14 primas mulheres.
15:21Uau!
15:22Eu sou a única que não sou mãe.
15:23E minha irmã mais nova.
15:25Dentro dessas 14.
15:27Mas eu acho que a minha família já esperava que eu não fosse querer ser mãe.
15:30Não sei por quê.
15:31Nunca foi um tipo, vai aí, vai ter filho?
15:34Nunca ouvi.
15:34Mas, o meu marido teria outro filho, quando a gente começou a estar junto.
15:42Então, foi uma conversa ali diferente do seu.
15:45Foi tipo assim, putz, eu gostaria de ter um filho com você.
15:48E eu falei, hum, não sei se gostaria de ter um filho.
15:52Vamos ter que conversar sobre isso.
15:53Porque se é pra você uma necessidade vital, você quer ter outro filho, e pra mim é um não definitivo, pode ser um problema.
16:03Temos um impasse.
16:04Temos um impasse.
16:05Não foi porque a gente se entendeu nessa decisão.
16:11Mas é uma pressão que ela vem amorosa.
16:14Ela vem, tipo, nossa, eu acho que seria uma delícia ter um filho com você.
16:18Outras pressões que vêm, eu escuto muito, ai, mas você seria uma mãe tão maravilhosa, você seria uma mãe tão boa.
16:24Eu falo, eu sei.
16:26Que bom que vocês acham isso.
16:29Sinal que eu sou uma boa madrasta, que vocês olham e falam, nossa, ela é tão boa madrasta que ela seria uma ótima mãe.
16:34Mas, eu não preciso.
16:37Eu tô feliz sendo uma ótima madrasta.
16:39Sabe?
16:41Mas são pressões que vêm, é isso, às vezes não vem de um jeito agressivo.
16:45Muitas vezes o tilmente, né?
16:45Mas a pessoa não tá querendo te pressionar, ela tá…
16:48Eu queria pegar justo essa fala, esse termo que você falou, né?
16:51Uma pressão amorosa.
16:53A pressão que vêm amorosa.
16:54Como é que foram esses diálogos com os parceiros, assim?
16:59Ou quem, sei lá, uma mulher que tá pensando em ter essa conversa, que tá ali se sentindo pressionada por essa pessoa que ela ama.
17:05Eu acho que é o mais difícil.
17:06Eu acho que talvez seja o ponto mais sensível da decisão.
17:09Porque envolve amor.
17:11E o amor é muito subjetivo, né?
17:12E é muito você colocar ali numa balança.
17:15Poxa, é o meu amor próprio, é o caminho da minha vida.
17:18Mas essa pessoa…
17:20Pô, isso eu acho difícil mesmo.
17:22Como é que foi pra vocês?
17:24Que dicas vocês dão para que esse consenso chegue?
17:28Porque você não quer…
17:29Eu tenho uma frase de um pensador que ele diz assim, né?
17:31Que ele não tenta convencer as pessoas a nada.
17:35Porque convencer é uma tentativa de você colonizar o outro.
17:37E é isso.
17:39Então, a pessoa que você ama, você não quer convencer ela, mas ela também tem a decisão livre-arbítrio da vida dela.
17:44Enfim, dicas baseadas nos fatos reais da vida de vocês.
17:48Eu acho que, assim, a primeira coisa é…
17:52E que é muito comum, muito comum…
17:54É, você não pode deixar que aquele assunto, ele vire um tabu no seu relacionamento.
17:59Não tem como.
18:00Fingir que aquele elefante branco não tá na sala.
18:03Entendeu?
18:03E ir empurrando e tal, né?
18:05Às vezes, no começo, você pode até fazer isso.
18:08Mas, assim, é inevitável.
18:09E isso, uma hora, vai bater na tua porta.
18:11Você vai ter que…
18:12Você vai ter que falar sobre aquilo.
18:14Então, eu sempre tive essa preocupação de nunca deixar com que esse assunto fosse um tabu.
18:19Sempre, meu marido, muito livremente, poderia me falar todos os desejos dele.
18:24O que ele queria fazer.
18:25Se ele mudasse de ideia.
18:26E tem uma coisa no meu relacionamento.
18:28Eu conheci meu marido, eu tinha 31 e ele é mais novo.
18:31Ele tinha 24.
18:32Então, eu sabia que eu tava uns anos à frente, que ele poderia, depois, em certo momento,
18:40virar e dizer, olha, pra mim bateu aqui.
18:43Tô com 30 e pouco, já bateu.
18:45Entendeu?
18:46Então, eu sempre deixei a porta muito aberta pra gente falar sobre o assunto.
18:50Eu sempre deixei claro que eu não tinha esse desejo.
18:53Mas, assim, sempre deixei aberto pra conversar.
18:55E eu acho também, essa é uma outra dica que eu dou, além de não ter um assunto tabu,
19:00eu acho que essa conversa tem que ser renovada com o tempo.
19:04Num relacionamento de 5, 11, 20 anos como o seu, né?
19:09Esse assunto, ele tem que vir o tempo todo, numa boa, do tipo assim, estamos alinhados,
19:14os desejos são os mesmos, é isso, não é.
19:18Isso tem que acontecer, né?
19:19Uma vez, o meu marido falou, ah, não sei, até pensei, de repente, ter um filho,
19:23porque, às vezes, você escolhe ter filho também por ser uma saída mais fácil pra resolver a sua vida, né?
19:28Você tá ali, com um vazio ali dentro, você fala, ah, pronto, vou ter um filho, né?
19:32E pra homem é muito mais fácil, né?
19:34Porque não vai sobrar pra ele depois, né?
19:38E aí, uma vez, ele comentou isso comigo, ah, tá, passou pela cabeça dele.
19:42Eu falei, olha, leva isso pra sua terapia.
19:45Eu falei, trabalha isso, vai ver.
19:47Eu falei, porque se você realmente quiser, a gente precisa conversar mais profundamente nesse assunto.
19:54E ele fez isso, ele trabalhou na terapia, voltou e falou, não, não quero, não, né?
19:59Tipo, nada a ver e tal, e foi ótimo, assim, nunca mais esse desejo passou por ele, nunca mais, né?
20:06Mas eu respeitei o momento dele e falei, é isso, vai se conhecer, vai ver isso, o que que é, porque, né?
20:13E é isso que a gente faz no dia a dia, não deixamos o assunto ser tabu e renovamos a conversa o tempo todo, né?
20:21E terapia para cada um dos envolvidos na relação.
20:23Exato, por favor, homens, façam terapia, gente.
20:27Exato.
20:28É isso.
20:30Mas você sabe que esse, o tema do marido, foi o tema que o quê?
20:33No podcast de Amanda 90.
20:36Foi polêmica.
20:36Menina, levantamos uma polêmica, porque...
20:40Vamos levantar aqui também.
20:41Vamos levantar aqui também.
20:44Uma série de pontos, né?
20:45Primeiro, eu acho muito importante a gente entender, eu acho que a conversa feminista, ela é muito importante,
20:53ela levou a gente para muitos lugares e ainda tem que levar para muitos outros.
20:58Mas a gente tem que lembrar que um relacionamento é feito de duas pessoas.
21:02E a outra pessoa, ela pode ter o desejo dela.
21:05Esse cara pode querer ter um filho.
21:09Isso, o desejo dele ser pai, não invalida o seu feminismo e o fato de você fazer com o seu corpo o que você quiser.
21:19Partimos desse pressuposto.
21:20O casamento não é ou não deveria ser uma prisão.
21:24E às vezes eu acho que...
21:26Às vezes eu acho que o amor...
21:29As pessoas têm uma percepção de que amor e conversas práticas não combinam.
21:34Não cabem juntas, assim.
21:36Porque eventualmente, você fala...
21:38Bom, tudo bem.
21:38Eu te amo, você me ama.
21:40Para você é vital ser pai.
21:42E eu não quero ser mãe.
21:44E aí?
21:45Talvez a gente não vai ficar junto.
21:46Existem algumas coisas que são tão irreconciliáveis que o amor não cola.
21:51O amor não é suficiente para colar essas coisas irreconciliáveis.
21:54Outras, não.
21:56Outras você consegue ver e falar assim...
21:57Tudo bem, eu gostaria, mas você não...
21:59Eu consigo viver sem isso.
22:01Eu consigo ser feliz sem isso.
22:04Mas eu acho que a conversa sincera e honesta, ela é indispensável.
22:10E aí quando eu digo sincera e honesta, também tem a ver com praticidade.
22:14Porque assim, eu sinto que às vezes a conversa do ter filhos ou não ter...
22:18Ela vai para um lugar muito do sentimento.
22:22Muito, ai, mas olha, você gosta de criança.
22:25Eu gosto, vai ser tão lindo.
22:26Ai, mais uma pessoa para o menino.
22:29Bom, tá bom.
22:29Legal.
22:30Vamos lá, vamos conversar.
22:31Bonito, massa.
22:32Bem lindo.
22:33Mas assim, putz, a gente gosta tanto de viajar.
22:37A gente sabe que isso vai ser inviabilizado durante tanto tempo.
22:40E que depois de um outro tanto tempo, essas viagens vão ser diferentes.
22:44Porque muda, muda a vida das pessoas.
22:47Orçamento, orçamento.
22:50Queremos fazer isso agora?
22:51Não queremos?
22:52Essa conversa em termos práticos, ela é muito importante.
22:57E aí o que virou polêmica no podcast de Amanda, foi que eu disse que na minha segunda troca de Gil,
23:04que aconteceu esse ano, eu falei para o meu marido, amor, então tá, a gente já conversou,
23:09que a gente não vai ter um filho, né?
23:11Você, outro filho, e a gente, um filho.
23:14A gente entendeu que a gente já está na mesma página sobre isso, beleza.
23:19Ele falou, ah, eu acho que você tem razão, acho que agora não, tudo bem, não preciso ter outro filho.
23:25Legal.
23:26Eu não quero mais passar pelo procedimento do Gil.
23:29O que você acha de você fazer uma vasectomia?
23:32Aí ele falou, ah, ok, por mim.
23:34Ok, por mim, vou procurar um médico para fazer a vasectomia.
23:36Quando ele foi ao médico, o médico fez uma anamnese, fez perguntas para ele.
23:44E uma das perguntas foi, ah, então por que você quer fazer uma vasectomia?
23:47Você não quer mais ter filhos?
23:49Você já tem uma filha, você não quer mais ter filhos?
23:50Ele falou, na verdade a minha mulher não quer ter filho.
23:55Aí ele, bom, tá, mas essa não é uma vontade sua ou não é uma vontade dela?
24:01Gente, cadê o nome desse médico na minha mesa?
24:05Esse, então, essa foi uma das conversas que surgiu do…
24:09Eu não sei se eu, assim, eu acho que…
24:12É, a polêmica é essa.
24:13Algumas pessoas ficaram do lado do médico, algumas pessoas ficaram do lado, né?
24:17É.
24:18Eu gostei do médico ter feito esse questionamento.
24:20Então teve gente que ficou a favor do médico e teve gente que, que nem eu, que torci o nariz para esse médico ir.
24:25Exatamente.
24:26Até porque, assim, gente, ele foi ao médico, ele me contou o que o médico disse.
24:31Eu estou aqui contando para vocês o que o médico disse.
24:33Então tem três escalas de contou o que contou o que contou aqui.
24:36Mas eu acho que quando eu fui pôr meu DIU, a minha médica falou para mim,
24:40olha, Nath, esses são os riscos envolvidos em colocar um DIU.
24:44Pode haver, quando a gente coloca sem câmera, pode haver uma perfuração de útero.
24:51Você pode ter cólicas, você pode…
24:53Eu acho que faz parte a gente ser informado do que pode acontecer e do que não pode acontecer.
24:56O médico falou para ele, olha, esse é um procedimento reversível até a página 2.
25:03É um procedimento que pode não ser reversível, porque você fica muito tempo com aquele canal bloqueado.
25:10E deu para ele…
25:11As pessoas acham que é uma chavinha que você fecha e abre depois.
25:14Não é.
25:15É uma cirurgia, assim como a colocação de um DIU.
25:17E o médico falou, olha, e se você se separar da sua mulher, eu acho que você tem que pensar em todos esses pontos.
25:26Eu estou ficando com ranço, eu estou ficando com ranço, mas segue a conversa.
25:30E aí ele voltou e falou, amor, ó, é isso, eu conversei com o médico, ele me trouxe essas questões.
25:37E eu fiquei, admito que fiquei um pouco desconfortável com as questões que ele me colocou.
25:41E aí, esse foi o momento em que eu fui julgada como não feminista nas redes sociais.
25:45Eu falei para ele, cara, eu elaborei o não querer ser mãe em terapia durante cinco anos.
25:53Foi a primeira vez que te colocaram essa pressão da decisão definitiva.
25:59Pois, homem, claro, a sociedade não coloca essa pressão.
26:02Ok, mas assim, eu vou falar que então você é obrigado a fazer uma cirurgia porque eu não quero…
26:09Leva para a terapia.
26:11Eu troco o DIU mais uma vez.
26:13Leva para a terapia.
26:14A gente está junto faz dez anos.
26:16Você tem… é o seu corpo também, né?
26:19Você não pode me pedir para violentar meu corpo.
26:22Eu não posso te pedir para violentar o seu corpo.
26:24Leva o seu tempo para elaborar a sua terapia.
26:27Ele levou para a terapia.
26:28Voltou.
26:29Falou, olha, amor, beleza, todas as conversas que a gente teve.
26:33Hoje eu consigo voltar no médico e ter respostas para as perguntas que ele me fez.
26:39Nunca ninguém tinha me feito.
26:40Olha.
26:41Então é isso, assim.
26:43É uma tomada de decisão nossa.
26:45Mas quando você está num relacionamento e você toma essa decisão em conjunto…
26:51Não, mas você está super coerente, assim, nesse raciocínio, né?
26:54Obrigada.
26:55Sim, quero dizer que sempre estive do lado da Nath nessa briga.
26:58Obrigada, tá?
26:59Obrigada, coerente, madura, conseguiu ter impacte.
27:01Não, gente, relacionamento saudável, é isso.
27:04Mas por que as pessoas ficaram em dois?
27:06Ué, porque achavam que a Nath tinha que obrigar o marido dela a fazer a vasectomia.
27:11Ah, não, também não.
27:12Foi para esse lugar, assim.
27:14Foi para esse lado, entendeu?
27:17Mas como?
27:18Como que então?
27:18Aí você teve que colocar um outro DIL porque ele não estava preparado para fazer a vasectomia?
27:23Não, gente.
27:24Assim, primeiro que ninguém teve nada.
27:25Calma, assim.
27:26Porque você escolheu, no fim, e queira ou não queira…
27:29O DIL é uma chavinha, né?
27:30Que você coloca e tira a hora que você quiser.
27:32Coloca e tira quando quiser.
27:33A vasectomia é uma coisa mais complexa e que pode ser irreversível.
27:38Exatamente.
27:38Então, não são iguais.
27:41Não são.
27:41E que uma escolha desencadeia a outra.
27:43Então, ele estava na dúvida, ele não tinha escolha madura, você foi lá e falou
27:47não, mas a minha escolha ainda não sei mais, eu vou continuar com esse cara.
27:50Ou a sua escolha poderia se falar.
27:51Então, amor, tipo, beijo, tchau.
27:53Sinto muito, esse relacionamento não funciona mais.
27:55Exatamente.
27:56Você escolheu e, assim, super coerente, nossa.
27:58Todo mundo escolhendo, terapia usada.
28:00Do que a gente volta o quê?
28:01Homens.
28:02Façam terapia, por favor.
28:03Ajuda muito esse tipo de conversa.
28:06Todo tipo de conversa.
28:08Muito bom, gente.
28:10E acho que a gente já está nos minutinhos finais.
28:12E eu acho bom a gente fazer…
28:13Já?
28:13Já?
28:14Não.
28:14Não, ó, falta 40 minutos quase falando.
28:17E rápido mesmo, né?
28:19Quando o assunto está bom, vai rápido.
28:21Pontos positivos, acho que assim, a gente, de novo, não quer colonizar ninguém, catequizar.
28:25Ah, mulheres, vamos não…
28:27Todo mundo agora não vamos mais ter filhos.
28:29Enfim, mas acho que é bom a gente falar dos pontos positivos, assim, né?
28:33Fazer essa listinha, para quem ainda não se investigou, vamos fazer o checklist, assim.
28:37Pontos positivos de você não escolher a maternidade compulsória, né?
28:41A gente falou aqui já sobre viajar, sobre se dedicar à sua carreira, pensar na energia
28:46que dispende uma criança, a formação de outro ser humano, é…
28:50Privação de sono, né?
28:52Cuidar do outro, dá muito trabalho também.
28:55Dá muito trabalho.
28:55É…
28:56E para você fazer, né, com, assim, consciente, presente, dá muito trabalho.
29:01E aí você abrir a mão de outros caminhos e falar sobre como você pode ser potência
29:06para a sociedade de outras formas.
29:07Porque a sociedade também cobra muito isso, aí, dos casais, né?
29:11Ai, tenha um filho porque seu filho vai transformar o mundo, porque você…
29:15Ai, já falaram isso para mim e para o meu marido antes da gente, né, decidir ter a serenar.
29:18Ai, são casais como vocês que têm que colocar filhos no mundo, porque vocês são tão legais.
29:24Com certeza essa criança vai ser que, né…
29:26Não necessariamente, né?
29:27Não me pensa.
29:27Passa esse job.
29:29Obrigada, não quero esse job.
29:31Mas eu acho que é importante a gente falar, olhando, né, para esse feminismo,
29:36para essa potência da mulher e do casal em si,
29:39de como a gente pode entregar e devolver para a sociedade,
29:43se é que a gente tem que devolver alguma coisa, né?
29:45É de outra forma, colocando a nossa energia em outras questões, né?
29:49Em questões que podem trazer um impacto muito positivo, às vezes mais positivo,
29:54do que, né, ser mãe, do que ter uma criança, né?
29:57Então, acho que…
29:57Qual a listinha de vocês?
29:58Eu acho que tem uma coisa muito…
30:00Tudo isso que você falou, mas eu acho que tem uma coisa muito simples também,
30:02que é assim, é você ouvir o seu desejo.
30:05Muita gente se culpa, né, se cobra, assim, do tipo,
30:08ai, eu não deveria sentir isso, não deveria…
30:10Gente, tá tudo bem você nunca ter o desejo de ser mãe,
30:13esse desejo nunca aparecer, nunca pintar, né?
30:16Tá tudo certo.
30:17E se ouve?
30:19Poxa, nunca apareceu, quer saber?
30:20Tá tudo bem, não vou ser mesmo, porque nunca apareceu, né?
30:23Eu acho que isso é muito importante.
30:25Eu acho que isso vai poupar muitas mulheres de frustrações,
30:29caso elas façam algo que elas não…
30:31Tanto as que querem ser mãe e deixam de ser, vice-versa, né?
30:36Eu acho que ouvir o seu desejo e respeitar,
30:39entender que tá tudo bem aquela sua vontade, entendeu?
30:42Eu acho que o desejo é fundamental, primordial,
30:45mas pensando numa balancinha, porque nós somos, às vezes, contraditórios,
30:49ambivalentes demais, e aí nessa balancinha,
30:53existe uma lista de desejos, outra lista de desejos,
30:56e às vezes, tipo, elas entram em conflito, né?
30:58Às vezes é possível você fazer duas coisas,
31:00Então, nessa lista que impulsiona você esse desejo de afirmar e sustentar o não quero,
31:06o que vocês levam mais em consideração?
31:08O que move mais vocês a sustentar essa decisão?
31:10Vocês conseguem listar?
31:11Eu acho que eu consigo, porque eu falo de um lugar que é muito diferente,
31:15que é, eu tenho uma criança metade do tempo,
31:18e aí tem quem diga, ah, mas você não sabe, você não é mãe…
31:20Gente, tudo bem, a gente não precisa entrar nessa comparação.
31:23Mas ela mora comigo, está comigo, eu cuido dela metade do tempo,
31:28e metade do tempo não.
31:29É muito bom ter uma criança na sua vida.
31:31É muito bom não ter uma criança na sua vida.
31:34São rotinas completamente diferentes.
31:39E aí, na balancinha do não,
31:41pra mim fica muito claro como quando ela não está com a gente,
31:45os meus desejos são prioridade.
31:47O meu tempo é prioridade.
31:49O que eu quero ver na TV é prioridade.
31:53Se eu quero ler ou se eu quero assistir um filme é a minha decisão.
31:58Uma sonequinha domingo à tarde, hein?
32:00Se eu quero comer pizza na quarta-feira à noite é a minha decisão.
32:04Não é tipo, putz, mas aí não dá pra comer pizza com a criança,
32:07tô aqui, ó, na quarta-feira.
32:09Tô fazendo aqui pra ela ter uma alimentação saudável,
32:12vou comer uma pizza na quarta-feira à noite.
32:14Cara, a liberdade de falar, a liberdade de existir enquanto indivíduo
32:21sem uma criança, ela é maior.
32:25É maior porque você simplesmente,
32:27o tempo que você tem livre pra dedicar,
32:32ele é pra você.
32:34Quando você tem outros,
32:36e eu acho que isso parte do pressuposto da empatia de qualquer relacionamento,
32:39quando você tem outros, você divide,
32:41você vai pulverizando esse seu tempo e presença pra si mesma.
32:46E uma criança pulveriza muito, demanda muito tempo,
32:52energia, dedicação, carga mental, preocupação, carinho, afeto.
32:57Se você tá doente, a sua criança tá doente,
33:00você vai cuidar da sua criança doente.
33:02Eu sei, você vai cuidar da sua criança doente.
33:04Se você tá com frio, e você tá com a blusa,
33:06e a criança tá com frio,
33:08tu tira a tua blusa pra dar pra criança.
33:09Eu sei.
33:11Quando você é só você, e outro adulto, né,
33:14no outro relacionamento,
33:15você vira pro seu pai e fala,
33:16azar o seu que você não trouxe a blusa.
33:18Só lamento.
33:19Ficarei bem quentinha com a minha.
33:22Isso não acontece quando tem uma criança.
33:24Muda tudo.
33:27É, e eu acho que,
33:28é, é,
33:29ótimo a Nath tá aqui,
33:31porque ela tem,
33:32ela tem os, vive os dois lados, né,
33:33o do cuidado e o de,
33:35de não, de não,
33:36os dias que ela não precisa cuidar também.
33:38É, pra mim, é uma listinha,
33:40assim, é,
33:41eu não tenho uma lista exatamente,
33:44mas,
33:45eu sou tão feliz com a minha vida,
33:48assim,
33:48e,
33:50assim, eu não sinto falta
33:52de, de ter algo,
33:53eu não gosto de pensar na ideia
33:55de alguém depender de mim,
33:57entendeu?
33:57Isso,
33:58eu não gosto,
33:59eu sou uma mulher independente,
34:00eu gosto de pessoas independentes do meu lado,
34:02eu,
34:03sabe, assim,
34:04é,
34:05sou desse jeito,
34:06é,
34:07e não gosto da ideia
34:08de ter alguém dependendo de mim,
34:10sabe?
34:11É,
34:11e eu sou muito feliz com a minha vida.
34:13Teve uma pessoa que me escreveu,
34:14que ela ouviu meu podcast,
34:15ela falou assim,
34:16Amanda,
34:17é,
34:17a gente tem que falar mais
34:19sobre celebrar não ter filho,
34:21o quanto é bom,
34:23o quanto de coisa legal que a gente faz,
34:25porque a gente fica passando de bruxa, né?
34:27E não, assim,
34:28a gente faz muitas coisas legais
34:29por não ter filhos,
34:30entendeu?
34:31Assim,
34:32é,
34:33né,
34:33meu irmão não conseguiu ir no cinema ver,
34:35ainda estou aqui,
34:36porque,
34:37entendeu?
34:38Tenho uma criança de um ano e meio em casa,
34:39entendeu?
34:40Eu já fui duas vezes,
34:41entendeu?
34:42Lero, lero.
34:43É,
34:43então, assim,
34:45eu saio,
34:46né,
34:46meu irmão é mais novo do que eu,
34:47tenho uma criança de um ano e meio,
34:49então, assim,
34:49ele vê que eu estou fazendo isso,
34:51estou fazendo aquilo e tal,
34:51ele está muito feliz com o filho,
34:53claro,
34:53mas, assim,
34:54eu vejo que são vidas diferentes,
34:57eu vejo que a gente tem a liberdade
34:58de acordar mais tarde e tal,
34:59não sei o que,
35:00e eu sou muito feliz com essa vida que eu levo,
35:02eu não,
35:02é,
35:03não,
35:03não tenho vontade,
35:05não sinto vontade de ter alguém ali,
35:07é,
35:08dependendo de mim o tempo todo,
35:10e que eu tenha que,
35:11que,
35:11que dá essa atenção toda,
35:13e a responsabilidade de criar um ser humano,
35:16né?
35:16Eu acho que eu seria uma mãe maravilhosa,
35:18para ser bem honesta,
35:19maravilhosa,
35:20assim,
35:20e acho também que isso me faria muito mal,
35:24porque eu acho que eu seria do tipo super protetora,
35:26então,
35:27eu acho que me afetaria demais,
35:29também,
35:29psicologicamente,
35:30e eu não quero mudar nada disso,
35:31eu não quero mudar nada do que eu sou,
35:33e todos os meus projetos futuros,
35:34eles,
35:35não cabe uma criança,
35:37nesses projetos,
35:38entendeu?
35:38Tanto pessoais,
35:39quanto profissionais,
35:40para encerrar,
35:41eu tinha falado que era a última,
35:42mas para encerrar,
35:43antes da gente ir para almoçar,
35:44gente,
35:45já revelando o horário que a gente está gravando,
35:47é,
35:47esse episódio,
35:48vocês,
35:49com essa perspectiva,
35:50com essa visão,
35:51consolidando essa decisão,
35:53vocês conseguem ser boas,
35:55é,
35:56redes de apoio,
35:57para as amigas mães,
35:59vocês,
35:59porque nós,
36:00aqui do lado da maternidade,
36:02temos uma queixa muito grande,
36:03que é,
36:03virei mãe e perdi metade das amigas,
36:05as amigas,
36:06não entendem essas demandas,
36:08de que cara,
36:08ela não vai poder,
36:09você chamou para um evento,
36:10ela não foi por causa do filho,
36:11você nem chama para o segundo,
36:13né,
36:13como é que vocês se veem nesse papel,
36:16de,
36:16ok,
36:16não sou mãe,
36:17vou dar apoio,
36:18vou de alguma forma ajudar,
36:20ser a aldeia,
36:22para essas outras mulheres,
36:23que são mães?
36:24Eu,
36:24para mim,
36:25eu continuo,
36:26falando com as minhas amigas,
36:27normalmente,
36:28chamando normalmente,
36:29e assim,
36:30e aí,
36:30cabe a elas decidir,
36:31se elas podem ir,
36:32não podem ir,
36:33se elas podem fazer alguma coisa,
36:35enfim,
36:35eu procuro levar isso,
36:37como a maior naturalidade do mundo,
36:38assim,
36:39para mim,
36:39não,
36:39para mim,
36:40não mudou,
36:42entendeu,
36:42eu deixo para elas decidirem,
36:44até onde que elas podem ir,
36:46eu sigo sendo amiga,
36:47do mesmo jeito,
36:48e,
36:48e tem uma coisa interessante,
36:50que,
36:51é,
36:52eu tenho um casal de amigas,
36:53que elas tiveram um filho,
36:55e,
36:55elas estavam planejando a festinha de aniversário,
36:57de um ano,
36:58e elas falaram para mim,
36:58que elas não iam convidar,
37:01uma galera,
37:01porque elas não queriam muito adulto,
37:03na festa de criança,
37:04então,
37:04que elas não iam convidar os amigos,
37:06as amigas e tal,
37:07eu falei,
37:07peraí,
37:08você reclama que a gente some,
37:12né,
37:12e aí,
37:12você faz a festinha,
37:13você não vai convidar a gente para ir?
37:15Olha,
37:15então,
37:16não faz sentido,
37:17né,
37:17aí,
37:17deu um textão lá,
37:19eu falei,
37:19não,
37:19a gente quer estar presente,
37:21queremos estar na festa,
37:22né,
37:22assim,
37:23faz parte e tal,
37:24e aí,
37:25ela acabou fazendo uma festa super deliciosa,
37:27convidou todos os amigos,
37:28foi ótimo,
37:28fomos lá,
37:29divertimos,
37:30enfim.
37:31Ai,
37:31que demais,
37:32não,
37:32vou considerar essa sua fala,
37:34porque estou fazendo a lista do aniversário da minha filha,
37:35viu só?
37:36Chama a gente.
37:36Mas tem uma questão que pega de ordem prática,
37:38que é o orçamento da festinha,
37:40então,
37:40às vezes você pensa,
37:40eu vou trazer mais crianças para brincar com ela,
37:42porque a festa é dela,
37:43mas,
37:43de fato,
37:44acho que se o orçamento cabe ali,
37:45você trazer aquelas pessoas queridas que acompanharam,
37:47eu tenho várias amigas que nunca me convidaram para o aniversário do filho,
37:50eu acho isso meio esquisito,
37:54Exatamente,
37:55a gente ama,
37:56a gente não é mãe,
37:56mas ama isso.
37:58Olha,
37:59eu sou madrinha de três crianças,
38:02e os dois últimos menores são da mesma,
38:05são irmãos,
38:06então,
38:06a minha amiga virou e falou assim,
38:07ah,
38:07eu achei que eu já acertei em vocês como padrinho no primeiro,
38:10vou seguir no segundo,
38:11porque aí depois eu vou dar uns padrinhos ruins para o segundo,
38:13falei,
38:13achei um bom sinal,
38:15acho que é um sinal que acertei como madrinha.
38:18Cara,
38:19eu acho que tem duas coisas muito importantes aí,
38:22a primeira eu acho que é,
38:23para a gente ser rede de apoio,
38:25a gente tem que lembrar que a mulher que é mãe,
38:28é mulher,
38:29ela não é só mãe,
38:31a gente não tem que começar a tratá-las como mães,
38:34exatamente,
38:34ela é sua amiga,
38:36ela quer ser tratada como mulher,
38:37cara,
38:38ela quer que você vire e fale,
38:39meu,
38:39vamos tomar uma cerveja?
38:41Tá aqui,
38:42são duas crianças,
38:43uma a gente brinca aqui de bola,
38:44o outro a gente,
38:45sei lá,
38:46dá um celular na mão,
38:47não pode,
38:47mas a gente dá,
38:48porque é para você tomar uma cerveja,
38:50amiga,
38:50você merece tomar essa cerveja.
38:53E aí,
38:53eu acho que também tem uma coisa que é muito importante,
38:57que eu acho que a gente entende muito isso no trato com o idoso,
39:01no trato com as outras pessoas,
39:03que é,
39:03somos seres sociais,
39:05a gente não pode tratar a criança como se fosse uma coisa que você deixa ali,
39:10e que você ignora.
39:11se a gente tem esse cuidado,
39:14do mesmo jeito que,
39:16sei lá,
39:16de inclusão mesmo,
39:17né,
39:17um olhar de inclusão.
39:18De inclusão,
39:18exatamente,
39:19a minha avó teve Alzheimer,
39:20ela contava uma história,
39:21aí ela me contava a segunda vez,
39:23já te contei isso,
39:24filhinha?
39:24Eu falava,
39:24não,
39:24vózinha,
39:25não contou,
39:26ela contava de novo,
39:26e de novo,
39:27e de novo.
39:28Você se torna rede de apoio quando você trata essa mulher como uma mulher,
39:33e não como uma mãe,
39:34e quando você trata os filhos como pessoas,
39:36como pessoas,
39:38como pessoas,
39:39cara,
39:39vai no universo,
39:40sei lá,
39:40vocês estão num bar,
39:42eu não aguento essa coisa de,
39:43ai,
39:43não pode criança,
39:44não gosto de criança,
39:45gente,
39:45você não tá falando de sorvete de pistache,
39:47ai,
39:47não gosto de sorvete de pistache,
39:48como assim não gosto de criança,
39:50entendeu?
39:50Então assim,
39:51a criança vai estar lá,
39:53cara,
39:53troca uma ideia,
39:54senta,
39:55pula na piscina,
39:56joga uma bola,
39:57não é possível que você não seja capaz de fazer isso,
39:59se você não é,
40:01sei lá,
40:01acho que tem uma coisa esquisita aí acontecendo,
40:03sabe?
40:04Pra mim,
40:04isso é ser rede de apoio,
40:05não é só o,
40:06o estar ali,
40:08pro tipo,
40:09ah,
40:09se você precisar,
40:10deixa ela aqui comigo,
40:11é naturalizar essa convivência,
40:14né?
40:14Exatamente,
40:15como é que a gente faz essa aldeia ser feliz todo mundo junto?
40:17Ah,
40:17todo mundo,
40:18bora pra falar junto,
40:19eu quero ser amiga da Nath,
40:20eu quero ser amiga de vocês,
40:21chama a gente pro aniversário do seu filho,
40:24chama a gente,
40:25já tá na lista,
40:26só um minutinho,
40:27ai,
40:27maravilhosa,
40:28muito,
40:29gente,
40:29que papo,
40:30nossa,
40:30aprendi muito,
40:31vocês são incríveis,
40:33encorajadoras,
40:34que delícia de conversa,
40:35muito bom,
40:36querem deixar arrobas?
40:37O meu é Amanda 90,
40:3990 é meu sobrenome,
40:40tá?
40:40Então vocês podem colocar por extenso,
40:42Amanda 90.
40:43O meu é Nath Leão,
40:44underline,
40:45porque já tinham pego Nath Leão,
40:47o que prova o quê?
40:48Que eu entrei tarde no Instagram.
40:50Ah, deixa eu fazer um jabá aqui,
40:51que agora eu vou gravar a segunda temporada do podcast,
40:53Não Quero Ser Mãe Agora,
40:55então já vou convidar todo mundo que ainda não ouviu a primeira temporada,
40:58vai ouvir,
40:58que daqui a pouco vem a segunda,
40:59vocês vão gostar,
41:00se vocês estão curtindo esse tema,
41:02vocês vão gostar.
41:02Vamos,
41:03hoje foi só uma degustação da segunda temporada,
41:05que vem aí.
41:07Meninas,
41:07muito obrigada mais uma vez,
41:08pela generosidade,
41:10de compartilhar.
41:10Obrigada a você.
41:11Obrigada pela conversa.
41:12E você que nos acompanhou,
41:14a gente se encontra daqui 15 dias,
41:15em mais um episódio de Na Volta A Gente Compra.
41:18Um beijo.
41:19Tchau.