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Nesta edição, embarcamos em uma jornada por memórias saborosas de quatro famílias que ainda mantêm esses registros gastronômicos.

Leia a íntegra da reportagem
https://www.em.com.br/degusta/2024/08/6918155-e-se-voce-encontrasse-um-tesouro-com-receitas-preciosas-no-fundo-do-bau.html?fbclid=PAY2xjawJZIPFleHRuA2FlbQIxMQABpu2y4rnyOUZgbUw4ZVTHSxsnIouVTpayd8kqpBYJ4Fao2AOP4NcA-d-oZw_aem_19fRk0fFrGzUZ2q1lph_iw

O ⁠⁠⁠⁠⁠⁠Notícia em áudio⁠⁠ é um podcast do⁠ jornal ⁠Estado de Minas⁠⁠ ⁠⁠⁠⁠que lê, aos sábados e domingos, uma grande reportagem para você ouvir no seu tempo. Sem deixar que a pressa do dia a dia atrapalhe a imersão no tema. Afinal, uma boa história merece ser contada e recontada muitas vezes. E em vários formatos.

Reportagem: Ana Luiza Soares
Locução: Laura Scardua
arte sobre foto de Marcos Vieira/EM/D.A Press
Coordenação: Rafael Alves

#podcast #noticiaemaudio #receitas

Categoria

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Notícias
Transcrição
00:00Olá, eu sou Laura Escárdoa e este é o Notícias em Áudio, um podcast do Jornal Estado de Minas que lê, aos sábados e domingos, uma grande reportagem para você ouvir no seu tempo.
00:13O texto de hoje é da Ana Luíza Soares.
00:16E se você encontrasse um tesouro com receitas preciosas?
00:21Uma pitada de carinho, um toque de saudade e um punhado de tradições passadas de geração em geração.
00:27É ali, entre anotações feitas à mão e páginas amareladas de cadernos antigos de receitas, onde moram os segredos da boa comida.
00:37Mais do que ingredientes e instruções culinárias, esses manuscritos, muitos guardados há anos em caixas que foram esquecidas pelo tempo,
00:45representam um elo emocional com quem os escreveu.
00:48Nesta edição, embarcamos em uma jornada por memórias saborosas de quatro famílias que ainda mantêm esses registros gastronômicos.
00:57A primeira história começa com os preparativos para o casamento da professora de gastronomia Rosilene Campolina, em 1999.
01:06Não herdei nenhum caderno de família, mas recolhi receitas que foram da minha avó, mãe, irmãs e tias.
01:13É uma forma de resgatar gostos, cheiros e temperos familiares, relata.
01:18Além de salvaguardar os pratos, ela sempre viaja no tempo e acessa memórias gustativas quando se depara com as caligrafias inscritas na agenda velha.
01:28Quando você abre as páginas para escolher alguma receita, não quer só cozinhar ou meramente fazer um prato.
01:35Quer resgatar aquele momento como uma pessoa especial, afirma Rosilene.
01:39O caderno, que teve início durante a montagem do enxoval de noiva de Rosilene, já completou bodas de prata.
01:47Mas, mesmo 25 anos depois, o biscoito de polvilho da mãe, dona Graça, ainda faz seus olhos brilharem como se fosse a primeira vez.
01:56Minha mãe fazia esse quitute de forma magistral.
01:59Minha lembrança afetiva era saborear os biscoitos no café da manhã e especialmente em dias de chuva.
02:06Relembra emocionada.
02:08Com o passar do tempo, a agenda foi se transformando em uma espécie de diário.
02:13Além das receitas, fotos coletadas de revistas e embalagens, como caixas de amido de milho e lábrica de leite condensado,
02:20decoravam o acervo gastronômico de Rosilene.
02:23Foi aí, munida de afeto e amor pela cozinha, que a professora decidiu compartilhar a importância dos cadernos de receitas com os alunos do curso de gastronomia.
02:33Durante as aulas da disciplina Cozinha Brasileira, ela começou um projeto para abordar o assunto com os universitários.
02:42A inspiração veio da necessidade de unir o saber acadêmico ao popular, a tradição com a inovação,
02:49e dialogar os modos de fazer clássicos com as mais diversas técnicas contemporâneas.
02:54Em meio a tantas receitas práticas que brotam em um deslizar de dedos no celular e vídeos extremamente explicativos,
03:03a professora enfatiza que os cadernos antigos são fontes autênticas de inspiração e conhecimento.
03:09A inovação só funciona quando não se esquece da tradição, afirma Rosilene.
03:13Por volta de 1915, uma pequena caderneta enfeitada com um charmoso laço de fita cor-de-rosa foi herdada pela avó do gastrólogo Rubens Freitas.
03:25Ela chegou até sua mãe, mas acabou esquecida em caixas por muito tempo.
03:30Aos 15 anos, comecei a me interessar por cozinha e fui bisbilhotar as coisas da minha mãe.
03:35Essa caderneta me chamou a atenção, porque, além de ser toda manuscrita, com uma letra bordada,
03:42a forma da escrita é totalmente diferente do que estamos habituados, relata.
03:47Quando começou a estudar gastronomia, Rubens se viu diante de temas que resgatavam esse tipo de registro culinário.
03:54Me lembro de um momento na aula em que tivemos que unir tradição e inovação,
03:59ou seja, pegamos uma receita e precisávamos fazer uma releitura moderna.
04:03Eu recorri a essa caderneta.
04:06Foi aí que vi que as pessoas estavam se distanciando dos cadernos de receitas.
04:11Estava tudo digital e visual, ressalta.
04:14Isso motivou a guardar o caderno consigo até os dias de hoje.
04:18Cada página, a maioria suja de gordura e até comida por traças, guarda o aroma e o sabor da história.
04:25Desde aquela receita de bolo, que era sempre preparada para os aniversários,
04:29o prato tradicional das festas de fim de ano, que nunca podia faltar, até as opções mais inusitadas.
04:37Dentre elas, Rubens aponta o bolo de chuchu, a maionese de camarão, a sardinha com alface,
04:43ervilha e batata cozida e a torta de banana frita.
04:47Outras foram batizadas com nomes que fazem despontar um sorriso no rosto quando lidas.
04:51A capa de padre, por exemplo, é um bolinho de farinha com banha e ovo, feito em tamanho grande e quadrado.
04:59A quem come casa é um pão doce em formato de rosca.
05:03Outra interessante é a raiva, um bolinho de polvilho.
05:06O segredo é que ele cresce, passa por cima da vasilha e transborda.
05:10Então você passa raiva para limpar, conta Rubens.
05:13Vinda de uma linhagem de doceiras do interior do estado, a gastróloga Clariane Brandão também mantém um legado da família
05:21e herdou um caderno de 1942.
05:25O caderno foi herança da minha bisavó, que passou para minha avó, depois para minha madrinha e agora está comigo, conta.
05:32As primeiras anotações começaram a ser feitas na Fazenda da Cachoeira, em Carmo do Rio Claro, no sul de Minas,
05:39que foi propriedade da família.
05:40Na construção da usina hidrelétrica de Furnas, o terreno acabou submerso.
05:46Com 82 anos, o caderno resistiu ao tempo e guarda receitas tradicionais de quitanda.
05:53Escrito com caligrafia de tinteiro, ele tem vários quitutes clássicos.
05:58A maioria é feita à base de milho, queijo, leite e polvilho,
06:02porque eram os ingredientes em abundância, de fácil acesso e produzidos na fazenda. Destaca.
06:07Curiosamente, as receitas do caderno de Clariani não possuem um modo de preparo.
06:13Ela diz que isso acontecia, pois as pessoas, na época, não pensavam que aquele registro seria uma forma de passar conhecimento.
06:21No entanto, há casos em que o prato é assinado por nomes próprios,
06:25para demonstrar que aquela pessoa era capaz de cozinhá-lo de olhos fechados.
06:30Por exemplo, tem um bolo de mandioca, que na família é conhecido como bolo da tia Margarida.
06:36Ela é a referência dessa receita.
06:38O caderno também é testemunha das tentativas e erros das experimentações culinárias
06:43que moldaram o paladar da família ao longo do tempo.
06:47Clariani brinca ao dizer que as manchas nas folhas
06:50refletem a popularidade dos pratos entre seus antepassados.
06:54Aquelas páginas sujas são as melhores receitas.
06:58Significa que foram muito utilizadas.
07:00Acrescenta.
07:01A culinária tradicional tem uma gramática própria.
07:05A afirmação da pesquisadora de ofícios tradicionais, Juliana Lucinda Venturelli, não é à toa.
07:11Principalmente quando nos deparamos com termos peculiares para nos referirmos às gramaturas.
07:16As medidas eram bem diferentes de xícaras, colheres ou gramas, como usamos hoje.
07:22Por exemplo, usava-se uma mão de fubá ou de arroz,
07:26ou um prato de polvilho ou açúcar, uma coia de milho,
07:30dois dedos de óleo ou gordura, um pedaço de toucinho, dois punhados de farinha.
07:34Explica a professora de gastronomia Rosilene Campolina.
07:38As referências eram totalmente pessoais, uma vez que não havia balança ou qualquer utensílio de precisão para medir a quantidade exata dos ingredientes.
07:48O cortador de feijão foi substituído pelo liquidificador,
07:52o ralador manual e o batedor, pelo mixer, ou batedeira,
07:56e até a folha de bananeira, usada para assar biscoitos, bolos e quitandas,
08:01cedeu espaço ao tapete de silicone ou teflon,
08:04assim como as folhas de papel alumínio e papel manteiga.
08:07Completa a professora.
08:08Por causa disso, dificilmente as receitas poderiam ser reproduzidas por qualquer pessoa.
08:15Para ler os cadernos antigos, a pessoa tem que fazer parte do universo culinário.
08:21Quem não viu a receita ser feita, não consegue decifrar,
08:24diferentemente da ficha técnica, que qualquer um pode reproduzir,
08:28afirma Juliana Venturelli.
08:30Imagine encontrar um baú do tesouro dentro de casa?
08:34Foi quase o que aconteceu com Eberton Borodinas.
08:38Em uma visita à casa da sogra, na cidade de Oliveira, região central de Minas Gerais,
08:42ele encontrou, completamente abandonado,
08:45um caderno de receitas que pertencia à avó de sua esposa.
08:49Ele estava perdido dentro de umas caixas na garagem.
08:53Fui mexer nessas caixas, porque estávamos organizando a casa,
08:56e esse caderno estava lá.
08:58Eu o peguei e trouxe para casa, comenta o chefe, que mora em Belo Horizonte.
09:04Beto, como é conhecido, pegou gosto pela cozinha depois da morte da mãe.
09:08Ele resgatou lembranças de quando a acompanhava nos afazeres de um bar
09:12e começou a trabalhar em várias cozinhas de BH,
09:15até abrir seu primeiro restaurante.
09:18O manuscrito, quase centenário, tem cerca de 400 páginas.
09:22Ele está bem velho e detonado, porque ficou muitos anos guardado, sublinha.
09:28Apesar do desgaste temporal, o caderno é como um mapa do passado
09:32e vai orientá-lo para um mundo de sabores únicos.
09:37A íntegra desta reportagem foi publicada no jornal Estado de Minas em 12 de agosto de 2024.
09:44Acompanhe as notícias mais importantes para o seu dia a dia em nosso site, em.com.br,
09:49e siga a gente no WhatsApp para atualizações urgentes.
09:52Até o próximo Notícia em Áudio.

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