Índia e Paquistão concordaram com um cessar-fogo imediato neste sábado (10), interrompendo os piores combates em décadas entre os países vizinhos, ambos com arsenal nuclear robusto. O especialista em direito internacional Eduardo Saldanha analisa o conflito e as implicações diplomáticas.
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NotíciasTranscrição
00:00A gente segue ao vivo agora meio-dia e 22, repercutindo os assuntos internacionais, Índia e Paquistão.
00:06Eles concordaram com o cessar-fogo imediato neste sábado,
00:10interrompendo os piores combates em décadas entre os vizinhos,
00:14que tem um arsenal nuclear gigantesco, muito forte,
00:19e o que representa esse conflito a gente vai entender agora,
00:22conversar com o especialista neste domingo.
00:26Eu agradeço a gentileza e recebo aqui Eduardo Saldanha, especialista em Direito Internacional.
00:33Ótimo final de semana ao senhor, muito obrigado por atender ao nosso chamado.
00:38Este cessar-fogo que era esperado, a gente leva a sério, de fato,
00:43qual o nível de confiança em relação a este acordo que foi firmado neste final de semana.
00:49Ótima tarde, seja bem-vindo à Jovem Pan, doutor.
00:52Boa tarde, Bruno.
00:56Na verdade, o cessar-fogo, nós temos que analisar sobre algumas perspectivas.
01:02A região da Cachimira é uma região que tem uma tensão tanto religiosa quanto econômica.
01:10E este cessar-fogo, obviamente, vai incluir estas questões.
01:13A primeira questão religiosa é que a região da Cachimira, que é requerida pelo Paquistão,
01:20ela tem 95% da população muçulmana, diferentemente da Índia, que tem maioria hindu.
01:28E a população da própria região da Cachimira indiana, ela pede que seja incorporada ao Paquistão.
01:35Aí nós temos a questão religiosa.
01:37Mas o mais importante nesse momento e o que deve ser negociado dentro deste acordo de cessar-fogo
01:45e que pode ou não ser violado é a questão econômica.
01:48Essa questão econômica, ela envolve tanto China quanto Estados Unidos e diversos interesses.
01:53A gente não pode esquecer que a China tem um óleo duto que leva petróleo do Irã
02:00até a China que passa exatamente pela região da Cachimira.
02:03Então há um interesse chinês muito grande nesse cessar-fogo.
02:07E, por outro lado, há a questão hídrica.
02:10E esta questão hídrica tem sido central nas negociações desses acordos de cessar-fogo.
02:15Por quê?
02:16Porque a Índia, depois daquele atentado terrorista,
02:19onde alguns terroristas islâmicos mataram turistas hindus na região da Cachimira,
02:26a Índia suspendeu o Tratado das Águas de 1960.
02:30O que é esse Tratado das Águas de 1960?
02:34A região da Cachimira indiana, ela tem a nascente do Rio Indo.
02:41E essa nascente, ela é muito importante porque ela abastece quase que 80% das fazendas paquistanesas.
02:50E quando a Índia suspende este tratado, isso gera um prejuízo muito grande ao Paquistão.
02:56Portanto, dentro das negociações do acordo de cessar-fogo,
03:02certamente entram questões como o alhuduto chinês,
03:05certamente como a questão hídrica e a suspensão do tratado.
03:10Nesse momento, há uma troca de farpa se houve ou não violação a esse cessar-fogo.
03:16O que, evidentemente, as duas partes alegam ter razão para suspender ou não este acordo de cessar-fogo.
03:26Ainda com essa incerteza, na verdade, acabou atingindo o espaço aéreo também.
03:33Durante essas últimas horas, já foi liberado ontem, mas ainda há um receio sobre esse espaço aéreo
03:39acabar sendo atingido ou ter um conflito novamente.
03:43As companhias aéreas chegaram a suspender esses voos.
03:47Existe um risco de já imediatamente voltar à normalidade?
03:52E, de repente, novas vítimas entre esse cessar-fogo, que não é 100% confiável, doutor?
04:02Uma das primeiras situações que há quando se inicia um conflito,
04:06e a região da Caximira é muito conhecida, por conflitos constantes.
04:10Eu não estou dizendo guerras, mas conflitos e pequenas agressões das duas partes,
04:16devido a essas divergências quanto à utilização hídrica,
04:20à utilização econômica e também essas divergências religiosas.
04:23E, durante esses momentos de conflito, uma das primeiras coisas que se faz
04:27é suspender o tráfego aéreo. Por quê?
04:31Porque há risco para vítimas civis.
04:33E, neste momento, também há a circulação de aeronaves militares.
04:39Portanto, é uma questão de resguardo, segurança,
04:43tudo pautado também por um tratado internacional, que é a Convenção de Chicago,
04:48que busca proteger os civis nesses momentos de conflitos internacionais.
04:53Então, é muito natural que haja suspensão de tráfego aéreo
04:58naquele espaço onde há possibilidade de conflito.
05:02Durante o cessar-fogo, é possível que se libere o trânsito aéreo.
05:08Mas, temos que chamar a atenção, havendo qualquer risco, qualquer ameaça,
05:14a vida de civis, neste momento, é mais prudente que este espaço aéreo siga interditado.
05:21Agora, só para a gente entender, já tem um número de vítimas,
05:24um pouco mais de 60 óbitos que foram confirmados nesse confronto que a gente está acompanhando.
05:32De que forma que têm sido as reações internacionais, envolvendo a ONU,
05:36inclusive, como que o secretário-geral tem se manifestado diante desse acordo que foi anunciado ontem, doutor?
05:43A Organização das Nações Unidas, normalmente, quando se trata desses conflitos,
05:50ela tem posições, como podemos dizer, em cima do muro.
05:55Obviamente, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas está torcendo e faz isso publicamente
06:02por um acordo de cessar-fogo, porque sempre pensa-se na população civil.
06:07Entretanto, a interferência da Organização das Nações Unidas é muito menor nos acordos de cessar-fogo
06:14do que a interferência daqueles países que possuem interesses na região, como Estados Unidos e China.
06:21Então, neste momento, a Organização das Nações Unidas, a partir do seu secretário-geral,
06:26ela simplesmente declara e apresenta a sua vontade, a sua torcida para que esse cessar-fogo seja respeitado.
06:37Entretanto, ela não tem muito poder de imposição a esses estados de quaisquer penalizações nesse momento.
06:46Então, o fiel da balança acaba não sendo a ONU, mas sim os países que têm interesse econômico na região, como Estados Unidos e China.
06:55Ainda sobre essa linha dos Estados Unidos, na campanha eleitoral do governo americano,
06:59ele disse que iria encerrar as guerras, acabar com as guerras, ia conseguir levar isso aí para ter uma paz, na verdade, esse acordo.
07:08Agora, os Estados Unidos estão, inclusive, reivindicando essa autoria sobre este acordo.
07:14De que forma que recebe essa declaração dos Estados Unidos?
07:18Na verdade, a participação do secretário de Estado dos Estados Unidos da América, do Marco Rubio,
07:27ela foi bastante importante na celebração deste acordo de cessar-fogo.
07:33A gente não pode negar isso.
07:35Contanto, contudo, essas bravatas, essas falas do presidente Donald Trump,
07:44que vai acabar com os conflitos internacionais, obviamente, pode representar uma vontade.
07:49Mas, muitas vezes, essa vontade foge um pouco do grande poder que os Estados Unidos têm.
07:55Não podemos negar isso.
07:56Mas a vontade dos países, desses conflitos, que são conflitos que existem há décadas no mundo,
08:03elas não são terminadas a partir da vontade de um único presidente ou de um único país.
08:09Obviamente, eles têm grande influência nesses acordos de cessar-fogo.
08:14Marco Rubio atuou como mediador e conseguiu chegar a um lugar comum entre as duas partes.
08:22Mas isso não quer dizer que este acordo de cessar-fogo será respeitado só porque houve mediação dos Estados Unidos.
08:30Será respeitado por interesse dos dois países, Índia e Paquistão.
08:35E, dentro dos interesses desses dois países, há a influência tanto de China quanto dos Estados Unidos.
08:41Assunto que ainda vai render e muito.
08:43A gente continua de olho com a nossa equipe de internacional, inclusive, também acompanhando.
08:48E Eduardo Saldanha, especialista em direito internacional, a quem eu agradeço a gentileza.
08:54Toda essa visão, essa explanação que nos ajuda a entender um pouco mais sobre o que, de fato, está acontecendo nesta região.
09:02Então, muito obrigado.
09:03A gente volta a se falar logo mais nos próximos dias para continuarmos de olho nesta situação internacional.
09:09Ótimo final de semana, doutor.
09:12Obrigado, Bruno.
09:13Feliz Dia das Mães a todas as mamães do país.
09:15Obrigado.