No Direto ao Ponto, Eduardo Leite (PSDB) analisou as pautas que dividem a direita e a esquerda no Brasil e defendeu um caminho que una reformas estruturantes com justiça social. O governador do Rio Grande do Sul destacou que superar a polarização é essencial para o país avançar em temas como economia, segurança e meio ambiente.
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NotíciasTranscrição
00:00Mas me parece que esse projeto que o senhor está traçando é um projeto de centro-direita.
00:04Eu lembro muito das eleições aqui para a Prefeitura de São Paulo.
00:08Me parece que o discurso está alinhado em torno de uma política liberal,
00:13uma política de direita, sem o radicalismo da direita.
00:17Mas pela conjugação de forças, pelos players políticos que estão colocados nesse tabuleiro de xadrez,
00:23me parece que esse projeto é um projeto de centro-centro-direita.
00:26Os rótulos, eu entendo que possam facilitar, mas às vezes complicam um pouco,
00:31porque cada um tem uma leitura desses rótulos diferente.
00:34Você tem uma leitura, talvez mais técnica e acertada, outros apressadamente vão entender o seguinte.
00:39Olha, eu me lembro que eu perguntei uma vez para um amigo meu.
00:42Me permite contar só essa historinha.
00:44Ele me perguntou, Eduardo, mas tu te colocas ao centro, mas é um centro mais à direita ou mais à esquerda?
00:48Eu tive que devolver para ele a pergunta.
00:50O que você entende como esquerda e como direita?
00:52Ele me respondeu, esquerda eu vejo mais programas sociais, questões de cultura, respeito à diversidade.
01:00Eu digo, tá bem, entendi.
01:02O que você vê como direita?
01:03Não, direita eu vejo reforma na máquina pública, privatização, mais apoio ao empreendedorismo,
01:11então um Estado menor, no final das contas.
01:14Tá bom, mais enfrentamento ao crime.
01:16Aí eu disse, ok, entendi a sua visão de esquerda e de direita.
01:19Agora só me responde uma coisa, por que as duas coisas são incompatíveis?
01:22Onde é que não dá para fazer um governo que cuida da cultura, que respeita a diversidade,
01:28que tem preocupações sociais relevantes em programas que ajudem a população mais vulnerável?
01:35E aí o que eu mais me afasto aqui da esquerda nessa visão é de que a esquerda parece ter uma visão
01:41muito mais apegada à correção das desigualdades do que à geração de igualdade de oportunidades.
01:52Eu acho que tem que trabalhar sobre as desigualdades, sem dúvida nenhuma, mas não pode se resumir a isso.
01:58A política social mais efetiva é aquela que traz para a igualdade de oportunidades.
02:02Eu preciso oferecer educação de qualidade e capacidade dessas famílias mais vulneráveis de terem os seus filhos na escola,
02:08então, eventualmente, se eu tiver que pagar bolsas para que ele permaneça lá,
02:11mas se eu não der para ele um ponto de partida mais semelhante ao dos outros,
02:16nunca vamos alcançar um país próspero, porque não seremos capazes de produzir mais,
02:23porque nós vamos estar formando pessoas pouco capazes de produzir mais.
02:28Então, eu preciso trabalhar muito a igualdade de oportunidades.
02:32Então, aqui eu acho que tem um ponto com a esquerda que me afasta na visão sobre temas sociais deles.
02:39Mas com a direita também, não acho que possa haver, ignorar essas questões sociais.
02:43Então, a direita olha muito, tem que reduzir a máquina, tem que isso e aquilo, eu concordo.
02:47Mas se nós não usarmos a máquina ou capacidade dela para fazer essa igualdade de oportunidades,
02:53não vai ter mercado que resolva os problemas sociais.
02:56Não é o mercado que resolve os problemas sociais.
02:59Eu preciso ter um mercado vibrante, confiante e investindo,
03:04mas o Estado tem um papel aqui de promoção, de igualdade, de oportunidades,
03:08inclusive para economicamente gerar os resultados necessários a partir de uma educação
03:13que forma uma mão de obra mais produtiva e, consequentemente,
03:17gera espaço para crescimento econômico no Brasil.
03:21Até porque a demografia não vai nos ajudar mais, o Rio Grande do Sul já tem esse desafio.
03:24Mas o Brasil ali na frente vai ver o nosso bônus demográfico se encerrando
03:30e, consequentemente, menos gente entrando no mercado de trabalho,
03:34menos consumo e, consequentemente, o nosso crescimento econômico vai começar a apertar mais.
03:40Se não tiver produtividade maior, nós vamos ter muitos problemas.
03:43Tem mais perguntas, Túlio?
03:45Quer fazer mais alguma pergunta?
03:46Eu vou ser mais objetiva, eu prometo.
03:47Não, não, não, o problema não é esse não, senão eu já ia passar. Vai lá, Túlio.
03:50Governador, ficou muito claro as suas posições pessoais.
03:53Uma posição de um social-democrata, pega coisas da direita, pega coisas da esquerda,
03:58procura um certo equilíbrio, eu acho que está perfeito.
04:00Mas o que a gente está olhando é um projeto do nós, não do eu, do governador.
04:05É um projeto do nós.
04:06Veja as pautas.
04:08Segurança pública, um rigor maior, um aumento do efetivo de policial.
04:13Queria discutir até a proposta de segurança pública do governo federal
04:16e tenho a inclinação que o senhor deve ter discordâncias quanto a esse modelo.
04:21Política econômica não é o do aumento do consumo, é o da redução do déficit público.
04:27Questões como reforma tributária, o senhor já se posicionou contrário a algumas centralizações de poder em torno da União.
04:33Então as pautas, elas são as pautas defendidas hoje pelo grupo político de direita.
04:40São as pautas que o eleitor vai olhar e vai se identificar como uma pauta mais à direita.
04:45Então eu não estou falando das suas posições pessoais e sem ter bola de cristal,
04:48mas me parece que essa conjugação de forças, Tarciso, Kassab, Ratinho, Eduardo Leite,
04:55caminha para esse espectro político ideológico.
04:59O senhor confirma?
05:00Acho que tenho uma análise muito bem feita aqui.
05:01E o desafio é o seguinte, o flerte com ações antidemocráticas executadas pelo ex-presidente Bolsonaro
05:12é o que me gera talvez um pouco de distância destes governadores.
05:19Eu tenho muita afinidade com eles e muitas pautas.
05:22Me aproximo muito deles e gosto deles no trato pessoal, inclusive.
05:25Tenho certeza que são diferentes do que foi o ex-presidente Bolsonaro.
05:30Mas não deixam de estar lá, de alguma forma, se associando ao que representa o ex-presidente Bolsonaro
05:36do ponto de vista antidemocrático.
05:37E isso me incomoda.
05:39Isso me gera um incômodo.
05:42Por isso, se for para construirmos uma alternativa conjuntamente,
05:47vamos ter que conversar sobre os valores, especialmente em relação à democracia,
05:52as instituições, como eu disse, não dá para apostar num caminho de rompimento,
05:56de rupturas para o Brasil, porque isso vai cobrar um preço gigantesco para o país.
06:01Nós temos que ter uma trajetória adequada dentro da Constituição,
06:05respeitando a nossa democracia e opiniões divergentes.
06:09Eu mesmo divirjo do PT, mas eu nunca, vocês vão ver eu falando,
06:14o presidente Lula é aquilo, é isso, eles querem destruir, eles querem acabar,
06:19porque eu entendo que eles têm um ponto de vista diferente do meu,
06:22que eu vou combater com base nos argumentos.
06:24Eu quero mostrar para as pessoas que o caminho que eu ofereço é melhor.
06:27Eu não preciso convencer para o eleitor de que o outro é pior.
06:29Eu tenho que mostrar o quanto que o meu é melhor.
06:32E se for para mostrar que o caminho deles é pior, eu vou divergir nas ideias.
06:36Eu não preciso falar que é do mal, malvado, que é feio, que é isso, ou qualquer outra coisa.
06:41Então, tem uma forma de fazer política aqui também,
06:45porque se nós não formos capazes de curar as feridas dessa divisão enorme que o país passou,
06:51e vivermos mais longamente essa divisão, é muito ruim.
06:56Famílias que deixam de conversar entre si, filho com pai, pai com o tio, com seja lá o que for.
07:03Tenho certeza que todo mundo que nos assiste aqui tem casos, né?
07:05Amigos que não podem conversar, que se afastaram por causa da política.
07:09Não está certo isso, gente.
07:10Então, temos que ter alguma forma de recomposição, e isso passa por voltar a fazer boa política.
07:19Vamos enfrentar, vamos debater.
07:21Não tem nenhum problema aqui, ó, chamar para debater alguém do PT, alguém do PL,
07:26e manifestarmos e brigarmos no campo das ideias, sem problema nenhum.
07:30Vou mostrar que temos as ideias que eu considero melhor,
07:32o eleitor tem a capacidade de fazer o seu julgamento.
07:35Mas eu não preciso dizer que um é safado, que o outro é isso, ou que não sei o quê.
07:39Então, enfim, isso me incomoda.
07:41Acho que é muito importante o país superar essa divisão, porque senão nós vamos...
07:48Está bem, pode até alguém ganhar a eleição com a base na divisão, mas está aí, não governa.
07:51Fica uma agenda que não prospera no Congresso, que é super atacada.
07:58O país precisa superar isso.
08:00Aliás, basta ver o seguinte, se o Lula ganhou com muita popularidade as eleições anteriores,
08:07se depois o Bolsonaro ganhou a eleição, e se depois o Lula voltou,
08:11e tem muita gente que votou no Lula, que depois votou no Bolsonaro, que votou no Lula de novo,
08:15é óbvio, né?
08:16Eu acho que os resultados das eleições mostram isso.
08:18Então, o eleitor está procurando um caminho, ele quer algo diferente, ele quer um caminho novo.
08:24Ele tentou o Bolsonaro, se desiludiu, votou no Lula para tirar o Bolsonaro.
08:29Muita gente votou no Lula sem querer o Lula, mas porque não queria mais o Bolsonaro.
08:34Então, as razões do eleitor estão muito mais em evitar um e outro.
08:37Eu acho que eleição, insisto, é um momento muito precioso para a gente gastar votando contra.
08:43Você tem que ir para a urna levando sua esperança para o Brasil.
08:47E não simplesmente, meu Deus, nos livre deste ou daquele.
08:50Vou votar nesse porque tenho pavor daquele, vou votar no outro porque quero evitar que o outro volte.
08:57Quatro em quatro anos a gente tem a chance de decidir o futuro do Brasil,
09:00e a gente vai gastar votando contra?
09:02Eu quero votar a favor, né?
09:04Então, sim, eu acho que talvez tenha uma maior parte da minha agenda,
09:08do que eu penso para o Brasil, que está mais alinhado do centro para a direita,
09:12sem compartilhar com aquela extrema direita que tem um viés autoritário e antidemocrático,
09:19e de rupturas.
09:20Não, não me contem comigo para isso.
09:23Mas tenho muito compartilhamento também de sensibilidade sobre determinados assuntos
09:29que são bandeiras que acabaram sendo empunhadas pela esquerda.
09:32Não posso dizer que não foi a esquerda que melhor abraçou causas de diversidade,
09:36de políticas relacionadas à cultura, né?
09:40E até mesmo de programas sociais é legítimo, é justo que eu reconheça isso.
09:45Acho que não podem ser apropriados por eles, porque não são exclusivamente deles, né?
09:49O PSDB mesmo, quando governou, como o presidente Fernando Henrique,
09:53criou programas como Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, que foram embriões do Bolsa Família.
09:58Então, essa preocupação social está conosco também.
10:01Mas a esquerda teve mais sucesso de apropriá-las.
10:05Então, eu espero que a gente encontre um caminho alternativo,
10:09e se for para fazer uma composição, nós vamos ter que sentar e conversar.
10:13Bom, qual é o projeto? Beleza.
10:14Eu tenho disposição para liderar um projeto.
10:16Eu afirmo aqui, categoricamente, sim, aspiro ser candidato ao presidente da República.
10:22Desejo liderar um projeto para o país.
10:23Eu acredito num projeto alternativo, mas eu não vou colocar a minha aspiração acima do projeto de Brasil.
10:30Se nós entendermos ali na frente, que tem um nome que melhor eleitoralmente se viabiliza,
10:35e que compartilha de uma visão comum de Brasil, com valores semelhantes
10:41e com um projeto muito próximo do que eu penso o Brasil, vamos embora, vamos ajudar.
10:46E quando eu falo semelhantes e próximos, é porque política a gente não faz com quem pensa igual, né?
10:50Política é justamente sobre composição de visões diferentes.
10:53Até um limite em que você não consegue compatibilizar.
10:56Mas se você consegue compatibilizar, temos uma visão para o Brasil de prioridades nisso, nisso, naquilo,
11:00de forma de fazer política também, mas com sintonia, então por que não fazer a composição?
11:06Agora eu quero ter a oportunidade, vou buscar a oportunidade de mostrar que eu posso liderar um projeto
11:11que eleitoralmente se viabiliza e que mais do que isso, politicamente, é capaz de liderar o país.
11:16Porque não basta ganhar a eleição, né?
11:17Tem que ganhar a eleição e ter a capacidade de implementar a agenda depois.
11:19Pode ter um candidato que, não, esse aqui é o melhor para ganhar a eleição.
11:22Depois não governa porque não vai ter capacidade nenhuma de construção de base,
11:25de apoio social ou, né, de criar um sentimento positivo.
11:31Então não é só sobre ganhar a eleição, é ganhar a eleição e depois ter a capacidade de governar.