Pular para o playerIr para o conteúdo principalPular para o rodapé
  • ontem
Vencedor do recente prêmio Platino pela série 'Senna', o criador e roteirista Luiz Bolognesi fala dos estímulos para a série e dos atuais tempos de distopia em escala global.

Crédito: Ricardo Daehn/CB/D.A. Press

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00Enfim, máquinas, então, como é que se chega ao público através de uma máquina também,
00:05que Senna não deixava de ser uma máquina dentro daquela estrutura toda, né?
00:10Exato.
00:10Uma potência.
00:11Essa pergunta é ótima porque a gente olhou para a máquina e era um desafio muito grande
00:16para nós brasileiros fazermos uma série com o nível de repertório que esses filmes
00:21de corrida já atingiram no mundo, de qualidade, de adrenalina.
00:24A gente fazia no Brasil e nós não temos tanta experiência.
00:27Só que não era só isso.
00:28Para nós era muito claro que não era um filme sobre motores.
00:32Nós tínhamos que atingir o coração do público.
00:34E aí nós precisávamos interpretar a vida do Senna e entender o que o motor significava
00:39na vida do Ayrton Senna.
00:40E foi muito interessante porque na pesquisa, eu trabalhei em todo o processo de criação
00:44da série, nós achamos que o grande conflito do Senna era o conflito entre ter que escolher
00:50entre amor e motor.
00:53E várias vezes na vida dele, ele fez a escolha do motor.
00:56Ele amava mais as corridas do que os seus próprios envolvimentos amorosos.
01:01E ele sofre com isso.
01:02Isso está na série.
01:03Isso é um dilema.
01:04Porque não é fácil as escolhas que ele fez.
01:07Não é fácil o lugar que ele chegou.
01:09A gente acha que ele só brilhou e só curtiu.
01:12Ele sofreu enfrentando a FIA.
01:14Ele sofreu enfrentando sacanagens que o mundo da Fórmula 1 fez contra ele.
01:18Porque ele era um piloto brasileiro num universo europeu.
01:21A Fórmula 1, ela é controlada pelos produtores europeus, para vender carros europeus.
01:27Então, o Senna tinha uma estrutura contra ele.
01:30Mas, sobretudo, a gente focou muito nessas escolhas difíceis que ele tinha que fazer entre
01:36o motor e o amor.
01:38E é um pouco a tragédia dele.
01:39Deixa eu te perguntar.
01:41Família, muita interferência ou não?
01:42Até onde é que vocês puderam ir e, ao mesmo tempo, repercussão.
01:47Onde é que vocês foram melhor de público para uma figura tão universal, né?
01:52Dentro de uma estrutura como a Netflix, né?
01:55A família nos prestou muita consultoria sobre isso.
01:58Nos ajudou, nos abriu caminho.
01:59Eu queria falar com um determinado mecânico ou um determinado chefe de equipe.
02:03Eles faziam a conexão.
02:05Eles liam os roteiros e faziam comentários.
02:07E a gente teve um diálogo muito interessante com a família, né?
02:12Eu não trabalhei na segunda etapa dos roteiros.
02:14Eu saí, eu criei a série e não trabalhei nos roteiros.
02:18Nessa primeira interação, o diálogo com a família foi muito bom.
02:21Foi um facilitador dos encontros.
02:24E o filme, ele teve um grande resultado nos países que gostam do Fórmula 1.
02:29Itália, Estados Unidos, Reino Unido e Japão.
02:34Ele foi muito bem no Japão.
02:35Os japoneses são fãs do Ayrton Senna.
02:37Te pergunto, por último, uma coisa que me deixa muito intrigado.
02:40Quer dizer, esse momento que a gente está combinando com essa aproximação,
02:43essa ponte toda que está sendo feita entre a Ibero-América, a Latina que seja,
02:49é como uma história de amor e fúria, um filme de animação feito por si.
02:56Enfim, que hoje em dia parece uma profecia, de uma certa maneira.
02:59Porque temos lá a ditadura, temos lá a água até sendo controlada,
03:03tudo sendo controlado.
03:04Os indígenas meio colocados num lugar muito mal e ruim.
03:11É a experiência de lidar com uma ditadura naquela época,
03:16com um filme que culmina agora, trazendo o Oscar para o Brasil.
03:19Eu ainda estou aqui.
03:21Como é que você percebe esse futuro da humanidade?
03:23Ele está meio distópico, repetitivamente?
03:26Eu acho que sim, né?
03:27Eu acho que a gente sente, por exemplo, a crise climática.
03:30Se a gente olhar para o ano passado e lembrar que pegou fogo um território do tamanho da Itália,
03:36e nós estamos diante de uma crise hídrica assustadora,
03:40a gente está caminhando com uma distopia.
03:42Tem algo errado no formato de existência que a gente levou.
03:46O Brasil, politicamente, está embarcando numa mistura de religião e política que não é saudável.
03:54Olha o que acontece nos países árabes que se tornam estados religiosos,
03:59estados ilâmicos, não é legal.
04:01Religiosidade polifônica do Brasil tem que estar num lugar, política tem que estar em outro.
04:05Isso também está na história de amor e fúria.
04:06A gente fala de um presidente evangélico que trabalha com uma espécie de uma ditadura disfarçada.
04:14Nós namoramos com a tirania de uma tentativa de golpe de Estado gravíssima,
04:19que agora está para ser punida e precisa ser punida.
04:22Temos a entrada de um presidente dos Estados Unidos que está destruindo os Estados Unidos,
04:26a economia, a imagem dos Estados Unidos.
04:28Então a gente tem um ambiente distópico, mas eu sou otimista.
04:31Eu acho que, apesar de tudo isso, nós estamos vivendo, por exemplo,
04:35um momento em que outras vozes estão se tornando muito fortes,
04:38as vozes indígenas estão se tornando muito fortes,
04:40as mulheres estão fazendo uma revolução.
04:42E eu acredito nisso, acredito que essa transformação,
04:45essa mudança de lugares de poder é o que vai salvar a gente dessa distopia final.

Recomendado