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00:00E o nosso contato aqui no Olhar Digital agora é com a professora doutora Alice Vestim Teixeira
00:06do Instituto de Geossciências da USP.
00:10Muito obrigado por nos atender. Como vai, professora?
00:13Tudo bem, você?
00:15Tudo certo. E a gente atende um pedido aqui dos nossos leitores,
00:20dos espectadores do Olhar Digital News, das nossas redes sociais,
00:24porque teve uma matéria que repercutiu bastante no nosso site
00:27sobre a possibilidade ou não de tsunamis aqui no Brasil.
00:33Tudo começou com uma série da Netflix, Inferno em La Palma,
00:36que fez sucesso recentemente, que remete a um artigo de 2001.
00:40Esse artigo diz que num cenário catastrófico, no vulcão Cumbre Vieja, na Espanha,
00:45um tsunami poderia chegar aqui.
00:48Estudos posteriores acabaram refutando essa ideia.
00:50Mas o que tem de concreto, professora, nessa possibilidade?
00:53Em outras palavras, teoricamente, é possível um tsunami no Brasil,
00:57seja por causa desse vulcão, seja por qualquer outro fator?
01:02Obrigada pelo convite. Primeiro, né?
01:06Então, realmente, como você falou anteriormente, né?
01:11Esse estudo de 2001, ele foi publicado com os dados que esses pesquisadores tinham na época
01:17sobre Cumbre Vieja e sobre o modelamento de tsunamis causados por deslizamentos de terra próximo à costa.
01:27Hoje em dia, depois que já se passaram 24 anos, desde a publicação desse artigo em 2001,
01:34muito mais dados foram coletados ao redor do Cumbre Vieja,
01:38tanto relacionado à maneira como esses escorregamentos acontecem,
01:42como no volume de rocha, né?
01:46Desses deslizamentos.
01:48Então, nesse trabalho de 2001, como você disse, catastrófico, né?
01:52É o pior dos cenários que eles imaginaram,
01:55seria um volume muito grande de rocha,
01:59caindo, ele maciço, caindo no mar,
02:02em uma velocidade muito alta,
02:04e isso ocasionaria um tsunami que poderia chegar na costa do Brasil, né?
02:09Norte e Nordeste.
02:10Hoje em dia, se sabe, com esses novos dados,
02:13que se esse escorregamento acontecer,
02:17quando ele acontece, na verdade, que ele acontece, né?
02:20Mas quando ele acontece, ele acontece num volume muito menor
02:23do que o estimado por esses pesquisadores,
02:26e numa velocidade muito menor,
02:28e essa rocha não cai de uma vez, né?
02:30Ela vai caindo fragmentos de rocha, pedaços de rocha, né?
02:33Então, seria muito, digamos, difícil disso acontecer,
02:41de um tsunami chegar aqui com os dados que se tem hoje em dia.
02:44E também por modelamento de tsunami ocasionado por escorregamento.
02:49Hoje em dia, os modelamentos estão muito mais modernos,
02:51e se sabe que a velocidade desse tipo de tsunami
02:55não é similar ao tsunami que acontece, por exemplo,
02:59nos limites de placas convergentes, né?
03:02Que nós tivemos similares na Indonésia ou no Japão, recentemente.
03:08Então, assim, um tsunami chegar na costa do Brasil
03:12ocasionado por um desislamento do Cumbi Vieja,
03:16hoje em dia se sabe que é muito improvável.
03:18A ciência nos diz isso atualmente.
03:23E existe algum outro fator, algum outro fenômeno
03:28de grandes proporções que poderia, de repente,
03:32trazer um tsunami aqui para o Brasil?
03:35Então, é porque, assim, o tsunami, o que é o tsunami?
03:39Esses tsunamis de grande escala, o que eles acontecem?
03:42Em limites de placas tectônicas, limites convergentes
03:46de placas tectônicas, né? Ou transformantes.
03:49Então, o que seria isso? São três tipos principais.
03:52Tenho os limites de placas convergentes,
03:54que são quando uma placa está se encontrando com a outra, né?
03:58Geralmente, uma entra embaixo da outra.
04:01Transformante é quando elas estão, assim,
04:03uma se movimenta lateralmente.
04:06Então, convergente nós temos na Indonésia,
04:08o limite de placas nós temos no Japão.
04:12Transformante, nós temos a falha de San Andréas,
04:15por exemplo, nos Estados Unidos, né?
04:17Que ocasiona muitos terremotos na área.
04:20E o divergente, então, o convergente,
04:22elas se encontram, o transformante,
04:24elas se movimentam lateralmente,
04:26e o divergente seria esse limite
04:28que nós temos na costa do Brasil,
04:31que ele não está relacionado
04:33a terremotos ou tsunamis,
04:35porque você não tem,
04:37você tem um afastamento
04:39dessas placas tectônicas, né?
04:41Então, por que ocasiona terremoto
04:43no convergente e no transformante?
04:45Porque você acumula uma tensão.
04:47Quando você está encontrando
04:50uma placa tectônica na outra,
04:51você vai acumulando tensão.
04:54A rocha, as rochas ali do entorno
04:56desse limite,
04:58elas vão suportando essa tensão
05:00até a hora que não dá mais,
05:01e elas quebram, né?
05:03Tem uma ruptura.
05:04E aí é nessa quebra
05:05que a gente tem o terremoto.
05:07Se esse limite de placas está
05:10debaixo do mar, né?
05:12É submarino,
05:13aí você pode ter a possibilidade
05:15de um tsunami.
05:16Então, como no Brasil,
05:18a costa do Brasil,
05:19ela é esse limite divergente,
05:21elas estão se afastando,
05:23não existe essa possibilidade atualmente
05:26de ter um tsunami no Brasil,
05:27assim como acontece no Japão,
05:30aconteceu no Japão ou na Indonésia.
05:31O que já aconteceu historicamente
05:34é que em alguns estudos existem
05:37relatos históricos, né?
05:40Sobre o terremoto de Lisboa.
05:44Lá no sul de Portugal,
05:46o limite de placas,
05:48ele é transformante,
05:49então é um limite de placas
05:51relacionado a terremotos, né?
05:54E aí ele ocasionou,
05:56foi em 1755,
05:57ele ocasionou o tsunami
05:58e tem alguns pesquisadores
06:00que argumentam,
06:01baseado tanto em relatos históricos
06:04da época aqui no Brasil,
06:06quanto em alguns dados
06:08de estratigrafia, né?
06:09Que a gente fala de estratigrafia,
06:11de depósito sedimentar,
06:13são unidades que vêm, assim,
06:17depósitos sedimentares de areia,
06:19do mar,
06:20com essas informações,
06:23eles argumentam
06:24que esse tsunami de 1755
06:28teria chegado ao Brasil.
06:30mas eles também,
06:32preciso pontuar,
06:35que teriam chegado
06:36a dois metros de altura,
06:38essas ondas, né?
06:39Desse tsunami de 1755.
06:42A título de comparação,
06:44as ressacas marítimas, né?
06:47No Brasil,
06:49atingem,
06:49as ondas atingem
06:50uma altura muito maior.
06:51Por exemplo,
06:52acho que em abril,
06:53a Marinha deu um alerta
06:55de ressaca marítima
06:56para a costa do Brasil,
06:57acho que de Santa Catarina
06:58Rio Grande do Sul,
06:59de até 3 metros e meio
07:01de altura.
07:02Então,
07:02essas ondas
07:03são muito maiores
07:04do que os 2 metros
07:06estimados por modelos
07:08que esse tsunami
07:10de Lisboa
07:10teria chegado aqui no Brasil,
07:12teria alcançado
07:122 metros de altura.
07:13Perfeito.
07:16E aí a dúvida de um leigo,
07:18né?
07:18Pensando num tsunami,
07:19mesmo com 2 metros de altura,
07:21quando a gente pensa
07:23no comprimento,
07:25digamos assim,
07:25dessa coluna de água,
07:27mesmo que seja um epicentro
07:29muito distante, né?
07:30Como Portugal,
07:31essa coluna de água,
07:33nesses registros,
07:33ela teria invadido muito
07:35a costa brasileira
07:36ou teria uma cara
07:36de ressaca mesmo
07:37que a água até invade,
07:39mas não causa, assim,
07:40grandes transtornos, né?
07:41Ali na faixa litorânea,
07:42nas habitações
07:43que estão por ali.
07:45Então,
07:46esse de Lisboa,
07:49ele,
07:50as estimativas,
07:50o modelo desses estudos
07:52recentes, né?
07:53Sobre,
07:54sobre o de Lisboa,
07:56seria que os registros
07:58históricos, né?
07:59Da época,
08:00de cartas
08:01dos moradores
08:03da época,
08:04indicam que teria entrado
08:05até 5 metros
08:07para dentro do continente, né?
08:09Principalmente,
08:10acho que relacionados
08:11a presença de rios
08:12e tudo mais,
08:13então teria sido
08:13uma inundação
08:14é de grandes proporções até,
08:17mas no caso
08:19das ressacas,
08:20por exemplo,
08:21Ilha Cumprida,
08:23ela,
08:23eu sei que é um município
08:24que sofre bastante
08:25com inundações
08:27relacionadas
08:28à ressaca marítima.
08:31Então,
08:31eu acredito
08:32que não seria
08:33muito distinto,
08:34assim,
08:34do que acontece
08:35no caso das ressacas,
08:37nessa altura
08:37de 2 metros, né?
08:39Então,
08:40para ser bem objetivo,
08:42teoricamente,
08:43é possível
08:43que um tsunami
08:44chegue no Brasil,
08:45mas sem causar
08:46tragédias, né?
08:47Sem causar
08:48grandes transtornos,
08:49como foi esse caso
08:49do século aí
08:52de 1700,
08:53dos anos 1700.
08:54Então,
08:55até pode ter
08:56algum resquício
08:57aqui de um tsunami
08:58que atingiu
08:59outra parte do mundo,
09:00mas sem
09:01uma tragédia
09:03como a gente já viu
09:04em outros países, né?
09:05Então,
09:06não há tragédia,
09:07não há
09:08nenhuma possibilidade
09:09de uma tragédia
09:09dessas que a gente
09:10vê em outros países
09:11acontecer agora
09:12aqui no Brasil,
09:13e mesmo
09:14a possibilidade
09:16de chegar
09:16a um tsunami,
09:18sei lá,
09:18vamos supor
09:19que aconteça,
09:21a possibilidade
09:22de acontecer
09:22de novo
09:23em Lisboa
09:24daquela magnitude.
09:25É muito
09:26improvável
09:27que isso aconteça
09:28e que chegue
09:29aqui no Brasil
09:30e que mesmo
09:30se chegar
09:31que cause
09:32uma tragédia.
09:35Isso aí.
09:35A tragédia
09:36é praticamente
09:37impossível.
09:41Perfeito.
09:42Então,
09:42aquele cenário
09:43que a gente vê,
09:44quem assistiu
09:44a série sabe
09:45que é um cenário
09:46bastante catastrófico
09:47no mundo inteiro,
09:48aquilo realmente
09:49fica resguardado
09:51para a ficção.
09:52E aí,
09:53para finalizar,
09:54professora,
09:55a gente às vezes
09:56noticia
09:56que tem,
09:57por exemplo,
09:58alguns pequenos
09:58temores de terra
09:59aqui no Brasil,
10:00mas nunca nada
10:02que cause
10:04algum grande
10:05transtorno.
10:06O Brasil,
10:06como a senhora
10:07explicou agora há pouco,
10:08ele é bastante
10:08protegido
10:09com relação
10:09a terremotos
10:10e tsunamis,
10:12mas quando a gente
10:13fala em terremotos
10:14especificamente,
10:16esses pequenos
10:17tremores
10:18aqui no Brasil
10:20é possível?
10:21Tem registro histórico
10:22de algum
10:23caso mais grave?
10:26Ao contrário
10:26das tsunamis
10:27que,
10:27como a senhora
10:28já explicou,
10:29não tem
10:30como a gente
10:31ter grandes
10:31tragédias
10:32por causa
10:33de ondas gigantes,
10:35mas quando a gente
10:35fala de terremoto,
10:37é possível
10:38ter algum
10:38transtorno maior
10:39nas nossas cidades?
10:43Não,
10:44os terremotos
10:45que a gente
10:45tem no Brasil,
10:46eles são
10:47de menor magnitude,
10:48não são,
10:50como eu falei
10:50anteriormente,
10:51esses relacionados
10:52a limites
10:52de placa
10:53convergente
10:54ou transformantes,
10:55que são esses
10:55que você acumula
10:56tensão
10:57entre as placas
10:58tectônicas,
10:59e aí você
10:59acaba tendo
11:00esses terremotos
11:01de maior magnitude,
11:02como é o caso,
11:03por exemplo,
11:04da costa
11:06oeste
11:07da América do Sul,
11:09nos Andes,
11:09ali,
11:10no Chile,
11:11que tem muitos
11:11casos de terremotos,
11:12ali também
11:13é um limite
11:14de placas
11:14convergente,
11:16e você,
11:17aqui no Brasil,
11:18os terremotos
11:19acontecem,
11:20existem tremores,
11:21registrados no Brasil,
11:23mas sempre
11:24de magnitude
11:24muito baixa,
11:26dois,
11:28acho que
11:28dois e pouco,
11:30se não me engano,
11:31não sou da área,
11:32mas acho que
11:34são esses
11:34os
11:35tremores
11:37registrados,
11:38geralmente acontece
11:39relacionado
11:40à acomodação
11:41de terra,
11:42em São Paulo
11:42nós tivemos
11:43um ano passado
11:44que foi
11:44um reflexo
11:46de um terremoto
11:47que teve
11:49no Chile
11:49na época,
11:51então,
11:51o terremoto
11:52é uma onda,
11:52ela viaja,
11:53então,
11:54a onda,
11:55digamos,
11:56viajou
11:57na terra
11:58e a gente
11:59conseguiu sentir
12:00aqui em São Paulo
12:01algumas pessoas
12:01sentiram,
12:03então,
12:03geralmente
12:03é acomodação
12:04de terra,
12:05existem alguns
12:06tipos de tremores
12:06de terra
12:07induzidos
12:07por atividade
12:08de mineração,
12:09mas bem localizados,
12:11e quando acontece
12:13alguma catástrofe,
12:14assim,
12:15porque mesmo
12:16que seja individual,
12:17de casas,
12:19de desmoronamento
12:20de casas,
12:21é mais relacionado
12:22à estrutura
12:24dessa casa,
12:26a estrutura
12:27dessas edificações,
12:28que geralmente
12:29são mais sensíveis
12:30a abalos,
12:32e aí qualquer tipo
12:33de tremor,
12:33mesmo que seja
12:34muito baixo,
12:35que é o que temos
12:35no Brasil,
12:36de uma escala,
12:37muito baixo na escala
12:38de tremores,
12:40pode acontecer
12:41de ter uma tragédia,
12:43assim,
12:44nesses lugares,
12:45mas mais relacionados
12:46ao tipo
12:47da construção,
12:48ao estado
12:49de preservação
12:51dessas construções,
12:52do que a magnitude
12:53do tremor em si.
12:56Perfeito,
12:57nós conversamos
12:58aqui no Olhar de Talco
12:59com a professora doutora
12:59Alice Vestion Teixeira,
13:01do Instituto de Geosciências
13:02da USP.
13:04Professora,
13:05muito obrigada
13:05por atender a gente,
13:06até uma próxima oportunidade.
13:08Obrigada,
13:09até.
13:09E aí
13:15E aí
13:27E aí
13:32E aí
13:35E aí