Um drama que atinge a população mundial antes mesmo dos tempos bíblicos, mas que, mesmo controlado com o avanço da medicina nas últimas décadas, voltou a crescer em Minas Gerais nos últimos dois anos.
Números da Secretaria de Estado de Saúde, consolidados pelo Núcleo de Dados do EM, mostram que Minas rompeu a marca de 1,5 mil diagnósticos de hanseníase tanto em 2023 (1.568) quanto em 2024 (1.564), patamar que não era registrado desde 2012.
Quem viveu as dores da doença, como os internos da antiga Colônia Santa Isabel, tem medo de que todo o sofrimento vivido antes dos tratamentos modernos tenha sido em vão.
Confira a reportagem completa no site do Estado de Minas: em.com.br
Números da Secretaria de Estado de Saúde, consolidados pelo Núcleo de Dados do EM, mostram que Minas rompeu a marca de 1,5 mil diagnósticos de hanseníase tanto em 2023 (1.568) quanto em 2024 (1.564), patamar que não era registrado desde 2012.
Quem viveu as dores da doença, como os internos da antiga Colônia Santa Isabel, tem medo de que todo o sofrimento vivido antes dos tratamentos modernos tenha sido em vão.
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NotíciasTranscrição
00:00Toda a história da família de Joana d'Arc e Cordovil Neves está ligada à exclusão vivida pelos portadores da ranceníase.
00:07Tivemos sete irmãos. Desse grupo de sete irmãos, somente eu tive ranceníase.
00:12Eu fui separada, fiquei morando um pouco com a minha tia aqui na colônia, San Sabel.
00:17A partir dos anos 1920, foram construídas por todo o país colônias agrícolas onde os rancenianos eram internados.
00:24Até o fim da década de 80, a forma de tratamento da doença consistia em isolar os doentes.
00:30A maior das colônias foi a Santa Isabel, erguida em Betim, na Grande BH, em 1931 e que chegou a abrigar quase 4 mil pacientes.
00:39Aqui, por causa do preconceito, os trabalhadores não entraram.
00:43Então quem teve que tocar essa cidade, esse espaço, foram os próprios internos.
00:48Eles que tinham que fazer, que dar atenção a eles mesmos, cuidar das suas feridas.
00:53Eles que tinham que plantar, colher, cuidar da segurança, cuidar da administração.
00:58Então tinha o prefeito, então tinha o delegado.
01:02A colônia era tudo fechado. As pessoas não tinham convívio com outras, então elas ficavam aqui, só aqui.
01:08Mas aqui tinha muitas tarefas. Tinha cinema, tinha um grupo de amigas, tinha os pavilhões.
01:16Então sempre um encontrando com o outro. Inclusive eu trabalhei aqui na colônia.
01:20Os pais de Joana e Cordovil tiveram ranceníase e se conheceram após serem internados na Santa Isabel.
01:26Mas assim que geraram o primeiro dos sete filhos, eles decidiram fugir para uma vila ao lado, chamada Citrolândia.
01:32As crianças, ao nascer, eram sequestradas pelo Estado e levadas para um outro espaço, chamado Preventórios.
01:39E após os 18 anos, o Estado orientava para essa pessoa ir para a cidade, não voltar para os seus familiares.
01:46Essas pessoas tiveram o que o pessoal chama de alienação parental total, feito pelo Estado.
01:53A internação compulsória dos portadores de ranceníase só começou a ser revista na década de 1960,
01:59quando pesquisas mostraram que a doença não era tão contagiosa quanto se entendia.
02:04Ainda assim, após anos sob controle, os casos da doença voltaram a crescer em Minas Gerais.
02:09Tanto em 2023 quanto em 2024, o Estado rompeu a marca de 1.500 diagnósticos de ranceníase,
02:15patamar que não era registrado desde 2012.
02:18O infectologista João dos Reis Canella explica que o aumento de casos pode estar relacionado
02:23à falta de conhecimento sobre o contágio da doença e também à demora para se fazer um diagnóstico.
02:29Hoje, a Colônia Santa Isabel continua em funcionamento e tratando dos rancenianos, mas sem a internação compulsória.
02:49Um dos antigos prédios foi transformado num museu para preservar a história da colônia
02:53e evitar que as pessoas que ali viveram sejam esquecidas.
02:57Preconceito sempre existiu. As pessoas se afastam.
03:00Eu lembro uma época que eu fui fazer, eu estudava, estudava até na FAF BH.
03:05Quando eu contei que tinha ranceníase, somente duas pessoas que continuou a amizade e o convívio comigo.
03:12O resto afastou.
03:13Até umas décadas atrás, os moradores de Betim, a sociedade de Betim, não aceitava ninguém para trabalhar que fosse daqui.
03:19Eu, por exemplo, sou de uma primeira geração que os moradores conseguiram forçar o governo do Estado
03:25a aceitar que as crianças de Citrolândia ou da Colônia pudessem estudar numa escola do município de Betim.
03:32Isso foi agora. E o Estado que obrigou. Porque a escola, a direção não permitia.