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Durante participação no podcast XV Cast, promovido pelo XV Curitiba, o vice-prefeito de Curitiba, Paulo Martins (PL), abordou com franqueza os desafios enfrentados pela administração municipal no atendimento à população em situação de rua. Em uma conversa marcada por relatos pessoais e análises sobre a complexidade do problema, Martins revelou que a maioria dos casos observados na capital não está relacionada apenas à falta de emprego ou moradia, mas sim a quadros de dependência química e transtornos mentais.

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Transcrição
00:00Você não pode ficar julgando as tragédias pessoais das pessoas, muita gente tem assim.
00:04E eu falo com conhecimento que eu tenho um cunhado que é morador de rua, tá?
00:08Era um dos meus melhores amigos.
00:10Caraca!
00:11Foi quem apresentou hoje minha esposa a mim, era um cara bem sucedido, advogado bem sucedido,
00:16por uma bobagem da vida, ele começou a usar droga, já depois de homem feito.
00:19Já depois de homem.
00:20E desenvolveu esquizofrenia, tem essas síndromes persecutoras, o cara vive em fuga e tal,
00:26por isso que vai pra rua e é morador de rua.
00:28Hoje nós vivemos...
00:29Porque a pessoa tem que chegar no centro da cidade, ele tá limpo, bonito e seguro, independente de quem vai frequentar lá.
00:37E a gente tem um desafio muito grande, que não basta você querer fazer, você tem limitações legais.
00:44Um monte de...
00:45Não é só chegar e tirar da rua, não funciona assim, né?
00:47Tira lá!
00:48As pessoas não entendem, né?
00:49Tira esse cara lá.
00:50Não, peraí, quem é que vai cumprir essa ordem de tirar?
00:53Esse cara vai reagir.
00:54Eu vou ter condição de respaldar o agente da Guarda Municipal da FASC e foi lá tirar o cara?
01:00Não é isso?
01:02Não tem.
01:02Precisava ressencializar essas pessoas, na verdade.
01:04Então, cara, a Prefeitura tá fazendo muita coisa nesse sentido.
01:07Nós estamos colocando muita energia nisso.
01:09É uma discussão diária a respeito, porque ninguém tem a fórmula, nenhuma cidade.
01:14Olha, isso aqui limpou.
01:15Ah, tem gente que me cobra.
01:16Ah, porque não faz igual lá Santa Catarina, que o cara fez...
01:19Bom, fazer vídeo é uma coisa.
01:21Eles fazem um corte ali e acabou, né?
01:24E viraliza.
01:24Outra coisa é você efetivar aquilo, não infringir a lei para não ser, inclusive, responsabilizado
01:31e poder também continuar a fazer, e ter o resultado de médio prazo sólido permanente.
01:40Então, no Brasil, por exemplo, o que está detectado ali?
01:45Você tem o...
01:46Antes, a abordagem tinha uma pegada econômica.
01:50O cara tá na rua porque ele não tem emprego e não tem casa.
01:55Não é verdade.
01:57Existem esses casos?
01:58Sim, mas é marginal.
02:00A maioria dos casos, eu não consigo quantificar cientificamente, mas isso é uma percepção
02:05de quem tá na pronta, aponta com os agentes da FASC, a maioria esmagadora dos casos,
02:10o sujeito está na rua porque ele é dependente químico, ele é viciado, ele é dependente
02:16químico.
02:17Pode ter começado com álcool, às vezes com maconha, que é um salto pra esquizofrenia,
02:22e ele se torna aí também um doente, né?
02:27E tá ali na dependência química e onde gera um ecossistema que é favorável ao tráfico,
02:33ou pequeno tráfico, micro tráfico, como se fala.
02:35Não importa o tamanho dele, mas o que importa é que ele acaba gerando ali meios de pedra,
02:44enfim, diversos tipos de droga pra essas pessoas e as pessoas ficam ali se alimentando disso.
02:48São, em sua grande maioria também, recebem o Bolsa Família, então por mais que eles
02:53não tenham trabalho, ele tem algum poder econômico.
02:56E foi detectado casos, inclusive, em que o traficante fica com o cartão do cara.
03:00E controla, assim, o gasto do...
03:04Com crédito, né?
03:06O cara tem crédito com...
03:07Não é tão simples.
03:08Se eu pudesse, eu entendo que uma pessoa que fuma crack o dia inteiro, aquele que você
03:15chega num sol de 30 graus lá na 15, o cara tá dormindo com a cara no sol, ele não tem
03:20capacidade pra discernir o que ele quer e o que ele não quer.
03:23Ele está tomado pela química e a responsabilidade do poder público é de ir lá, recolher esse
03:31cara e colocar ele em tratamento.
03:33Assim como faz se encontra um acidentado na rua, que tá desmaiado, não pergunta pra
03:39ele se ele quer o SEAT.
03:42Simplesmente chama, coloca no SEAT e vai tratar.
03:44Mas nesse caso a gente não pode fazer.
03:47Não pode fazer.
03:48A gente não permite, né?
03:49Internar compulsoriamente.
03:51Se pudesse, eu acho que a gente resolveria o problema ou teria uma ação de impacto
03:56muito mais rápida.
03:57Sim.
03:57Porque muitos seriam tratados e recuperados, outros não ficariam nesse lugar, ele poderia
04:05até sair da clínica depois e voltar para as drogas, mas ele não ficaria onde ele é
04:09recolhido.
04:10Sim.
04:10Fugir daí, né?
04:11Então você teria uma desconcentração e aí a percepção social do problema seria
04:17completamente diferente, inclusive a viabilidade para o tráfico de drogas, que o tráfico
04:22ele vai onde tem uma concentração, onde os consumidores deles estão.
04:26Se você há uma diminuição disso, você dificulta a atividade do tráfico de drogas.
04:30Então, tanto a legislação quanto a jurisprudência, inclusive a decisão do Alexandre de Moraes,
04:35você não pode remover, nem falar com o cara praticamente.
04:39ela hoje favorece muito o mercado de drogas.
04:44Sim.
04:45E a deterioração de ambientes públicos.
04:47Hoje, inclusive, teve uma...
04:49E com a força que o problema exige.
04:52Exato.
04:53Quando eu falo força, eu digo a convicção, a vontade de enfrentar o problema.
04:58Então, tem toda essa situação aí que a gente está relatando aqui das dificuldades,
05:04mas a gente não pode ficar olhando.
05:05Então, dobramos ou quase triplicamos o número de agentes da FAS que fazem a abordagem o dia
05:12inteiro nessas pessoas e repetidamente...
05:15Repetidamente.
05:16Porque uma hora esse cara pode dizer o sim.
05:17Não é um trabalho fácil.
05:18Uma hora ele pode dizer o sim.
05:19O tratamento.
05:20Sim.
05:21Uma hora ele pode dizer o sim.
05:23Então, o pessoal da FAS tem que ter uma resiliência.
05:25Aliás, fica aqui o meu respeito verdadeiro a esse pessoal.
05:29Estou quebrando a cabeça para encontrar uma forma de mantê-los ainda mais estimulados
05:33para fazer esse trabalho, que não é fácil.
05:35Desde cedo, você abordando esse tipo de público, tentando convencer o cara daquilo que ele não quer.
05:41Sim.
05:41Então, você tem esse ponto.
05:43Se o sujeito, a pessoa...
05:45Vamos parar de falar de sujeito, que não é o tom que eu quero dar.
05:49Mas a pessoa que está ali e aceita receber um tratamento.
05:53Então, tem os meios de tratamento convencional, tem as parcerias com as comunidades terapêuticas.
05:58A prefeitura paga a vaga para a pessoa receber o tratamento.
06:03Se a pessoa está em recuperação, a prefeitura tem como encaminhar ele para o emprego,
06:08porque, felizmente, a situação econômica da cidade é boa e nós temos vagas de emprego abertas.
06:13Se ele não tem qualificação para preencher essa vaga, a prefeitura dá o curso de qualificação.
06:19E se quando ele consegue o trabalho e vai sair, ele não tem o dinheiro para pagar um hotel,
06:26a prefeitura ainda consegue ajudar ele por alguns dias, para até ele receber o dinheiro e começar a tocar a vida.
06:31Então, assim, tem um ciclo, eu chamo de ciclo completo.
06:33A prefeitura está entregando.
06:35Sim.
06:35Está completamente isso daí.
06:37E não é mero assistencialismo, como muita gente vai falar.
06:41É uma situação real de uma pessoa que está lá doente por escolha ou não.
06:44É uma situação real de uma pessoa que está lá doente por escolha.

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