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NotíciasTranscrição
00:00Em 21 de abril de 2025 foi confirmado mais um caso de morte humana causado por uma onça pintada.
00:06Casos que acontecem de vez em quando, toda vez que acontecem se tornam notícias nacionais,
00:11porque são sempre muito impactantes.
00:13Isso reforça cada vez mais aquela ideia de que nós somos animais como todos os outros
00:16e a gente está dividindo o meio ambiente com todos eles.
00:20É interessante que se você for olhar as causas de mortes provocadas por animais e seres humanos,
00:27os grandes predadores, a onça pintada, por exemplo, ele é praticamente irrisório.
00:32Se você olhar assim, qual é o animal que mais mata no mundo?
00:37Mosquito.
00:38Mosquito.
00:38Mosquito chega a matar 700 mil pessoas por ano no mundo.
00:42Malária, dengue, zika e várias outras.
00:44Exatamente.
00:46Se você olhar depois, vem os animais peçonhentos.
00:49No Brasil, em 2023, o escorpião passou cobra, por exemplo.
00:54Sério?
00:54É. Então, o escorpião mata mais hoje do que cobra no Brasil.
00:59Os grandes predadores, eles representam muito pouco nessa nossa relação com a fauna.
01:04Mas, em termos de impacto emocional, é estrondoso o impacto.
01:10Aí você fala, por quê?
01:11Se você olhar assim, por exemplo, o número de mortes nos Estados Unidos, nos últimos cinco anos,
01:17morreram, acho que umas 30 ou 40 pessoas com ataques de urso, de onça pardas.
01:21É relativamente pequeno o número em relação ao que morre, por exemplo, com uma abelha.
01:29Mas por que a gente reage diferente quando é um grande predador?
01:32É porque a gente tem o que a gente chama de memória evolutiva em relação a essa espécie.
01:36A gente está lá, está imprintado no nosso DNA.
01:39Então, a gente tem esse instinto ancestral de medo, que a gente conviveu.
01:46E se você olhar a nossa convivência, os primeiros hominídeos que foram,
01:49que têm registro de serem atacados por grandes felinos, foi há 1,8 milhões de anos atrás.
01:56Você tem fósseis já com marcas de dente, de tigre de dente de sábio atacando os hominídeos ancestrais.
02:03Ou seja, a gente sempre conviveu e nunca foi uma convivência pacífica.
02:08Nós tivemos um conflito.
02:09Acontece que, em tempos recentes, a gente ficou mais urbano.
02:12Hoje, 85% da população brasileira é urbana.
02:16Então, ela parou de conviver próximo ao predador,
02:19mas ainda está lá na nossa memória evolutiva,
02:23de que este animal, ele representa a natureza bruta.
02:28E entre a gente, hominídeo e ele, a gente não tem chance.
02:31Além de que todos os casos de morte por esses animais são sempre extremamente violentos
02:36e graficamente feios, não é?
02:38Exato.
02:38São coisas de embrulhar o estômago.
02:40Por exemplo, quando você morre por uma consequência de uma dengue, por exemplo,
02:46é uma morte silenciosa, que ela é pouco emocional.
02:50Sim.
02:51E sempre dá a sensação que você...
02:52É visual, ela é pouco visual.
02:55E é uma morte silenciosa, porque ela não tem o impacto emocional de um cenário.
03:00Quando você coloca, você...
03:04E ela te faz pensar assim, poxa, eu poderia ter evitado,
03:06bastava não ter água para gerar um mosquito.
03:09Quando é um grande predador, a sensação nossa é de natureza bruta lutando contra a gente
03:15e a gente não tem a menor chance.
03:17Então, isso causa um pavor.
03:18Este pavor leva a essa comoção.
03:21E isso eu vou explicar por que a gente enxerga diferente a morte de um grande predador
03:27e a morte por uma picada de um escorpião, de inseto, por um animal que parece inofensivo.
03:36Eu acho que a moral da história desse vídeo é que esses casos acontecem,
03:40sempre aconteceram, desde os primórdios da humanidade.
03:43A gente tem conflito com esses animais, com crocodilos, tubarões, urso, lobo, onça,
03:49todos os grandes predadores.
03:51Nunca teve uma convivência pacífica, só que hoje, com a internet,
03:54a gente tem cada vez mais acesso a esses casos.
03:57Exatamente.
03:58E a moral da história é a seguinte, isso sempre aconteceu, sempre vai continuar acontecendo.
04:02Em 2022, a gente teve uma criança indígena também que foi atacada e morta.
04:07Quatro anos atrás, você teve um caso no Pantanal.
04:09Mas são casos raríssimos.
04:12Agora, qual que é o objetivo desse vídeo?
04:16Primeiro, responder nossos seguidores, estão pedindo uma interpretação nossa desse caso.
04:20O que a gente pode dizer é o seguinte, por sorte, entre os grandes felinos do planeta,
04:27a onça pintada é a que menos tem casos de ataque a seres humanos.
04:32Ou seja, a onça não vê o ser humano naturalmente como uma presa natural.
04:36O tigre vê, o leão tem casos de ver, o leopardo nem se fala,
04:42e onça parda ataca com alta frequência nos Estados Unidos,
04:47mas no Brasil, por sorte, a gente não tem a onça pintada, a onça parda,
04:52atacando os seres humanos com frequência,
04:54a um ponto de ser uma necessidade, um alarmismo, de uma preocupação exagerada.
04:59Neste caso específico do Pantanal, tem que a gente olhar muito o contexto.
05:04As onças ali são extremamente tolerantes a pessoas,
05:07e um animal pode desviar aquele comportamento padrão e, às vezes, levar a um ataque.
05:14Mas o que vale é as pessoas entenderem que, naturalmente, a onça não atacaria as pessoas,
05:20e não está no instinto dela, a gente pode falar isso com base em dados mesmo, reais.
05:25Nas estatísticas, pelos casos de ataques e acidentes fatais que a gente tem,
05:30são tão baixos que a gente pode dizer que é uma espécie que não tem o padrão de atacar as pessoas,
05:36vendo as pessoas como presas.
05:37Nos Estados Unidos, por exemplo, casos de morte por um ser pardo, por exemplo,
05:40entram como mortes por causa natural, não entra?
05:44Entra.
05:44Na mesma categoria de furacões, terremotos e tempestades.
05:48Exato, tempestades, sim.
05:50Lá eles têm um número expressivo desse tipo de ataque, tanto que eles estão na mesma categoria.
05:54Aqui no Brasil, os ataques de onça não estão bem nisso.
05:55Eles nem entram nas nossas estatísticas.
05:57Você vê, entra animais peçonhentos, entra raiva,
06:02Cachorros.
06:03Entra cachorro, mas não entra os grandes predadores.
06:06Por quê? Porque os números são tão baixos, são tão irrisórios
06:09para essa estatística global, a nível de população, que eles não entram.
06:13Então, isso serve para a gente tranquilizar de que não há esse risco de eu sair a onça natural,
06:20mas a gente vem me atacar, mas a gente sempre tem que lembrar que um predador tem um instinto
06:26de ser extremamente eficiente na sua forma de atacar.
06:31E vale lembrar que a onça, entre os grandes predadores,
06:33é o que desenvolveu uma eficiência máxima em matar com uma única bordida na base do crânio.
06:39Então, o que eu sempre falei aqui, você sabe isso desde criancinha,
06:43de que é um animal que eu falo.
06:44Se é um animal que mata uma vaca, uma anta, mordendo a base da cabeça,
06:48imagina o que ele não faria com a gente.
06:49O que vale, Tiago, é entender que este comportamento, este caso,
06:53ele é uma exceção da regra.
06:56Não é o padrão da espécie.
06:58Então, não é esperar disso.
07:01Tanto que você vê que o Pantanal é um exemplo de um turismo responsável,
07:06ecológico, sustentável, onde as pessoas estão lá interagindo no meio das onças
07:12e nunca teve um ataque dessa forma.
07:15Então, vamos acreditar que isso é apenas uma exceção de uma regra.
07:20Como nós, também, seres humanos, podemos ter surtos, ataques
07:24e agir fora de um padrão social, às vezes pode acontecer
07:28por uma série de motivos que não vamos aprofundar aqui agora.
07:31Enfim, vamos finalizar este vídeo que está ficando um pouco longo demais.
07:36A gente gostaria de dar nossos sentimentos à família do Jorge,
07:39que foi a vítima deste caso.
07:40Nossas condolências à família.
07:42Realmente, sentimos muito pela família do Jorge.
07:45É muito lamentável.
07:47Sinto muito mesmo.