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Nesse domingo, 20 de abril, é celebrado o Dia do Disco de Vinil no Brasil. Eric Fernando, produtor musical e DJ, fala sobre o prazer de usar os chamados bolachões

Repórter: Lívia Ximenes
Imagens: Cristino Martins

Categoria

🎵
Música
Transcrição
00:00Éric, nós já conversamos um pouquinho e ele falaste que o vinil é uma paixão de família, que tu já tinha essa curiosidade.
00:07Conta pra gente como foi que cresceu essa paixão, como foi que aumentou, como é que surgiu o interesse, por que tu decidiste investir nisso.
00:17Então, a gente já havia conversado um pouquinho antes, além do fato de que a minha família tem muitos discos,
00:25e alguns deles nunca ouvi, porque está bem guardadinho lá, que tem seu zelo, por aquilo que marcou aquela época deles.
00:35Por exemplo, minha mãe tem muito disco da Xuxa, que marcou totalmente a infância dela.
00:39Até hoje eu nunca ouvi, porque ela guarda muito bem.
00:42E, assim, a partir daquilo eu sempre tive aquela curiosidade, porque as pessoas gostam tanto e porque... como que funcionava.
00:50Então, quando eu tive o meu primeiro disco, que ainda nem consegui equipamento nenhum pra tocar ele, mas eu tive o meu primeiro disco só pra ter a sensação de ter.
01:01E aquilo ali me despertou uma coisa, né, que é muito bom antes ter o físico, né, pra tocar e ver como funciona quando tá rodando.
01:11E a gente tem aquela sensação de que tá apreciando a música de fato, sabe?
01:16É muito diferente de quando a gente tá distraído, tocando, sei lá, uma música em algum aplicativo, alguma coisa do tipo,
01:23que às vezes tá só lá como uma música de background, né.
01:26Eu sinto muito que o disco, ele traz esse sentimento de que a gente tá realmente apreciando o que o autor da obra fez.
01:33Então, por exemplo, tem alguns discos que eu aprecio muito, que é o do Pink Floyd, que é o The Wall.
01:37Aquilo ali, pra mim, é... foi muito revolucionário, como eles fizeram cada etapa do disco.
01:43E, assim, né, não é uma coisa que a gente chega e, sei lá, vou botar o The Wall aqui no Spotify pra todo mundo ouvir.
01:49E acho que quase ninguém curte, né, mas agora quando tu chega assim com os amigos e bota lá e fica ouvindo
01:55e parece que todo mundo cria, né, aquele ciclo.
01:58E é uma coisa também que eu apreciei muito da questão do disco, é que ficou meio que uma coisa familiar, né.
02:04Por exemplo, assim, ah, vou botar um disco aqui do Chico Buarque, que o meu soro gosta.
02:08Aí já se torna uma coisa familiar de se sentar em volta e conversar e canta a música e, enfim.
02:14E é aquele sentimento bem bonito, sabe, que vem de virar o disco, etc.
02:18Uma coisa, além da nostalgia, também é um sentimento muito bonito de que a gente tá apreciando em comum, sabe, um gosto em comum.
02:25Sim. Sobre essa questão da nostalgia, a gente vê que essas novas gerações, inclusive a nossa, né,
02:33a galera que, principalmente nos anos 90, 80, 2000 pra cá, estão apreciando bastante o disco de vinil.
02:41Tanto que no ano passado, ano retrasado, 2023, nós tivemos um boom, um crescimento super acelerado da venda de disco de vinil.
02:492023 superou a venda de CD.
02:52Pra ti, enquanto produtor musical, enquanto pessoa que ouve vinil, que gosta de vinil, como é encarar essa mudança?
03:00Essa nostalgia, esse retorno de algo que um dia foi até deixado de lado com a venda do CD, das plataformas de streaming?
03:10Sim, sim, sim. E é justamente o que eu encaro, né, porque o processo que a gente teve de avanço tecnológico
03:20trouxe coisas que a gente consegue ter, por exemplo, um acesso muito fácil e rápido,
03:26e essa rapidez que a gente vai consumindo as coisas vão deixando o que a gente realmente quer apreciar de lado, sabe?
03:33E uma coisa que, pra mim, pelo menos, trouxe do vinil é que a gente consegue ver a obra como um todo.
03:38Não é algo rápido de ser consumido, sabe?
03:42O disco até tem lá aquela... tu pode levantar a agulha e selecionar a música que tu mais gosta do álbum inteiro.
03:48Só que ele te traz isso de que tu deve ouvir o álbum inteiro, ou então, tipo, a ser pelo menos a primeira parte que tu gosta.
03:58E eu acho que esse processo de voltar a isso, talvez também esteja um pouco ligado no que as pessoas têm que voltar a ouvir mais a obra como um todo, sabe?
04:08E não somente como singles, como algumas tracks e tal, alguma coisa ali lá, e sim o álbum inteiro,
04:15porque às vezes um artista, ele consegue expressar muito mais o que ele tem, não somente numa música, né, mas como um álbum inteiro.
04:21E é uma coisa que a gente tem que consumir, né?
04:25Porque muitas vezes o... a gente meio que não dá o devido valor que tem naquela obra, naquela faixa, mas assim, quando tu ouves o álbum por inteiro, tu consegue entender a mensagem que o artista quer passar.
04:39Por exemplo, tem uma história muito boa de um disco que é do Arthur Verokai.
04:44Esse álbum, hoje em dia, ele é super, super valorizado.
04:47Só que na época que ele foi lançado, ninguém dava, tipo, ideia, sabe?
04:51Ninguém nem ligava muito, tanto é que tem até uma parte triste, porque ele foi destruído pra ser reconstruído em outros discos.
04:57Ou seja, tipo, pensa no Dó, né?
04:59Que é ver tua obra que tá lá prensada, ser destruída pra se tornar outra coisa porque vai vender, sabe?
05:04E hoje em dia, tipo assim, passou o suficiente tempo, né, e veio o devido valor a essa obra.
05:11E as pessoas estão ouvindo ela por completo, as pessoas estão... os outros artistas estão se ampliando, fazendo outras músicas a partir daquilo.
05:17E é algo muito lindo, porque a música tá lá sendo valorizada, a obra inteira tá sendo valorizada.
05:22E eu acho que o retorno aos discos vai trazer isso, sabe?
05:25E já tá trazendo, de tu apreciar a obra como um todo.
05:29Verdade.
05:30E mais cedo falaste sobre a questão da valorização do disco, que até vem essa questão da valorização financeira.
05:39Comercialmente, ser um hobby mais caro, ser algo de mais difícil acesso.
05:46Sim, sim.
05:47Então, pra ti, o que poderia ser feito pra tornar de uma maneira mais acessível?
05:53Nós temos, por exemplo, lá no Cintur, né, o que dá pra você ouvir os discos gratuitamente e tudo mais.
05:57Mas quais outras alternativas, tu imaginas, que poderiam ser feitas pra que chegassem a mais pessoas?
06:05Sim, sim.
06:06É...
06:06É assim, né, tipo...
06:10O que eu imagino é que...
06:12Até uma coisa meio que os ortodoxos do disco não aceitam isso.
06:18Mas eu acho que é uma boa repreensagem de discos antigos.
06:21Porque, por exemplo, assim, tem discos muito antigos que a gente não encontra.
06:26E por não encontrar, ele se torna um disco raro.
06:28E por ele se tornar um disco raro, ele fica hipervalorizado e quase ninguém consegue ter ele, né.
06:34Como eu mencionei o da Evinha.
06:36O da Evinha, tipo, aquele disco da Evinha é lindo, lindo, lindo.
06:39Se tu botar eles lá no Spotify e ouvir, vai ficar sensacional.
06:43Só que ele é muito raro.
06:44E ele tá muito caro.
06:45Então, não tem como ter ele agora, sabe.
06:49Mas só que a minha solução que eu daria é realmente a repreensagem.
06:53A gravadora, a distribuidora que tem direitos da música, fazer uma repreensagem.
06:57E assim fica de fácil acesso.
06:59Entendi.
07:01Excelente.
07:02E quais os detalhes do vinil e da experiência de ouvir em vinil?
07:07Podes falar em termos mais técnicos, enquanto produtor musical?
07:10Sim, sim.
07:11Que falar sobre a questão afetiva.
07:12Mas quais os detalhes técnicos do vinil chamam mais a tua atenção?
07:16Enquanto produtor musical, enquanto pessoa que ouve música, que gosta de música.
07:21Quais as vezes, assim, ai, eu gosto disso, eu gosto daquilo.
07:24O que tecnicamente te atrai?
07:27Sim.
07:27O que me atrai muito na questão do vinil é justamente porque eu dou muito valor ao som analógico.
07:35Tanto é que nas minhas produções, na parte mais técnica de mixagem, engenharia de áudio,
07:40eu tento muito agregar os plugins, né?
07:44Que a gente fala de... que mudam o analógico.
07:48Porque isso traz, tipo, assim, um calor, sabe?
07:51Aquela quintura na música que só tinha na época.
07:53E eu sinto muito isso ouvindo o disco.
07:55Na questão de masterização e tal.
07:56Então, assim, quando a gente tá ouvindo uma música...
08:02Esse álbum aqui, por exemplo, Daft Punk.
08:04Eu gosto muito dele porque ele foi muito, muito bem produzido.
08:07E quando eu toco no disco lá, quando vem o grave e tal, e vem o negocinho...
08:13Dá aquela felicidade, sabe?
08:15Tipo assim, caraca, eu tô ouvindo uma coisa assim que tá batendo, sabe?
08:18Tá dando bacana.
08:19E aquilo ali, tipo, traz muito pra mim do que...
08:23Eu gosto muito do disco, né?
08:24Além disso, eu também gosto muito daquele chiadinho, sabe?
08:27Que dá no disco.
08:29Quando ele já tá um pouquinho mais velho, assim.
08:30Então, quando ele já tá... já passou um pouquinho do tempo.
08:33Parece que pra mim esse chiadinho, ele preenche um pouquinho mais da música.
08:35Então, eu gosto muito disso.
08:37E também traz a nostalgia também, um pouco.
08:38Não tem como fugir, infelizmente.
08:40É, a nostalgia, ela tá presente em tudo.
08:43No que diz respeito ao vinil.
08:46E o teu disco preferido é o Daft Punk.
08:49Sim.
08:49De ano 2000.
08:51Por quê?
08:52O que tem de tão especial no Daft Punk que te faz definir?
08:56É esse aqui o meu disco preferido?
08:58Esse é o meu disco?
08:59É o que me atrai?
09:00Pois é.
09:01Vem do fato de que, na minha infância, já eu tive os primeiros contatos, né?
09:06Com esse duo francês.
09:08Através de canal de televisão.
09:10Que passavam cliquezinhos.
09:11Porque o cliquezinho deles era meio animado, sabe?
09:14É meio que um desenho.
09:16Isso me atraía muito.
09:17E o tempo foi passando e eu fui conhecendo muito mais sobre eles.
09:21Então, fui me tornando muito fã.
09:22E fui me tornando muito mais fã deles.
09:24Porque, tipo assim, eu pensava, pô, é inacessível ter algo deles, sabe?
09:28Porque não tem mais nada sendo produzido.
09:30Por exemplo, eu acho que eles terminaram em 2023.
09:32Eles encerraram o projeto deles.
09:34E eu pensava, não tem como ter nada deles, sabe?
09:37Não tem como ir em show, não tem como...
09:39Enfim, são inacessíveis.
09:42Até que, por meio de leilões e sites e de vendas e tal, eu consegui ver esse disco lá.
09:48E eu pensei, caraca, vou ter alguma coisa deles finalmente mesmo, sabe?
09:51E quando eu vi que era um disco do ano 2000, desse primeiro álbum deles que eu ouvia, quando era criança,
09:56veio isso, sabe?
09:57De, tipo, parece que eu tô com eles aqui na minha sala ouvindo música, sabe?
10:01Então, esse disco, pra mim, ele representa muito disso.
10:04De que eles que me inspiraram a fazer música, ainda me inspiram, na verdade.
10:10E que eu tenho algo deles sólido, pra chamar de meu, sabe?
10:14Sim.
10:14E em quais momentos, assim, da tua vida...
10:21Porque, particularmente, eu faço tudo ouvindo música.
10:24Então, tô escrevendo essa pauta ouvindo música.
10:26Sim, sim.
10:27Tudo ouvindo música.
10:29Mas existem alguns momentos específicos em que a gente quer uma música específica.
10:33Em quais situações, quais momentos, tu fala, não, agora eu preciso ouvir disco.
10:38Eu não quero Spotify, não quero YouTube, eu não quero nada.
10:41Eu quero o disco.
10:43Acho que muito pelo café da manhã.
10:44Eu sempre, tipo, tô acordando ali, quero iniciar o dia.
10:49E...
10:50E como eu disse, né, tipo, esse fator analógico de tu selecionar o disco que tal,
10:53quer ouvir, e botar lá, e ajustar a agulha, e etc.
10:57Ligar o som, que não é algo rápido, né, de se fazer.
11:01Enquanto tá tomando o café, é muito bom.
11:02Porque eu...
11:04Eu comecei a, tipo, apreciar muito mais as horas.
11:07Porque tem umas músicas pra mim que...
11:09Tá, eu toquei lá no disco e...
11:11Excelente.
11:11Meu dia começou.
11:12Aí vai passando o dia e, sei lá, de repente essa música toca de novo no Spotify, etc.
11:18Aí eu penso, caramba, minha música é do café da manhã, sabe?
11:21Tchau, tchau, tchau, tchau, tchau, tchau.

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