O Estúdio Tribuna Online recebe o presidente da Assevila e cientista político Thomaz Tommasi.
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NotíciasTranscrição
00:00Finlândia, um país de 5 milhões e 300 mil habitantes, eleito pela oitava vez consecutiva
00:11o mais feliz do planeta, segundo um ranking no Relatório Mundial da Felicidade da ONU.
00:18O presidente da Sevilla e cientista político Tomás Tomasi esteve na Finlândia em uma viagem
00:24de trabalho com o Centro de Liderança Pública, o CLP. Tomás, um prazer tê-lo conosco aqui
00:30mais uma vez, você já é praticamente de casa. Explica pra gente como é a natureza
00:34dessa sua viagem à Europa pelo CLP.
00:37Luciano, primeiro, obrigado pela oportunidade e mais uma vez estarmos juntos aqui.
00:43Sempre que me convocarem, eu estou à disposição da tribuna. Falar um pouquinho do que foi
00:49essa viagem em si. O Centro de Liderança Pública é uma ONG, um think tank de São Paulo,
00:57que tem como objetivo capacitar profissionais do setor público e também trabalhar com
01:04levantamentos de dados. Por exemplo, um produto do CLP é o ranking de competitividade dos
01:10estados, muito consumido pelos governos estaduais e que levantam a relevância das políticas públicas
01:17em cada um dos estados. E o CLP acaba sendo uma ferramenta a mais para além do IBGE e
01:25outros institutos nesse sentido. E o CLP faz algumas missões internacionais, por exemplo,
01:32para Singapura e outros países. E para a Finlândia é a segunda vez que eu fui com eles
01:37fazer uma visita às práticas de governo da Finlândia e até mesmo alguns negócios por lá.
01:45Então, a segunda vez que eu fiz essa visita, eu faço parte da rede CLP e essa viagem foi a convite
01:51deles.
01:52Muito bem, Tomás. E foi tema de um artigo de sua autoria publicado no jornal A Tribuna
01:58sobre a Finlândia que me chamou muito a atenção, nos chamou muito a atenção, o país mais feliz do
02:04mundo por este ranking da ONU. Nós vamos conversar um pouco sobre isso, principalmente.
02:10Eu já começo perguntando, qual é o segredo da felicidade da Finlândia, Tomás?
02:13Pois é, nesse artigo eu fiz uma brincadeira da gente se questionar e refletir em relação
02:19ao qual é o segredo da felicidade na Finlândia, num país nórdico, gelado, terra do Papai
02:25Noel, mas que efetivamente pelo oitavo ano consecutivo é classificado por um ranking da
02:31ONU como o país mais feliz do mundo.
02:35Mas a primeira reflexão que a gente tem que fazer e a primeira coisa que a gente tem que
02:40pensar o que é a felicidade. Nesse caso, Luciano, a gente não pode confundir a alegria
02:45com a felicidade. A alegria é um estado momentâneo, a felicidade ela é transversal, né?
02:53Então, não... no meu artigo eu escrevi isso e eu acho que traduz bastante.
02:57Não ache que felicidade desse ranking está dialogando em relação a sorriso no rosto.
03:04O povo finlandês é um povo nórdico, muito simpático e acolhedor, entretanto não é
03:09um povo que fica sorrindo à torta e à direita.
03:12Muito pelo contrário, essa felicidade que a ONU discute, que os países têm se debruçado
03:17em cima desse instrumento de análise, está muito relacionado à qualidade de vida,
03:23as condições que você tem e que o seu governo e o seu país dão aos cidadãos.
03:29Então, educação de qualidade, saúde de qualidade.
03:34No caso da Finlândia, saúde pública e educação pública de qualidade.
03:40Você ter uma sociedade pacífica, você ter a paz verdadeira, não só a paz enquanto
03:45ausência de guerra. Então, a felicidade para o finlandês, ela está muito ligada a isso.
03:51Fiz algumas anotações, vou lembrando aqui, mas um tema muito interessante que o finlandês
03:56gosta de falar é que o ranking da felicidade, para quem é de fora da Finlândia, fala sobre
04:02o finlandês.
04:04Em finlandês, suome é a palavra que diz Finlândia.
04:10E essa palavra suome, ela diz muito sobre o que é seu finlandês no dia a dia.
04:16Às vezes, com suas adversidades ligadas ao tempo, por exemplo, para o norte do país,
04:22você vai ter gelo por boa parte do tempo.
04:25Eu tive a oportunidade, foi uma viagem de 10 dias.
04:28Desses 10 dias, eu não dei mole e fui turistar pelo menos dois deles.
04:33Eu fui a Rouvani M com um amigo e nós pudemos ver a aurora boreal.
04:38É muito lindo para quem vai lá por dois dias, por uma semana.
04:42Mas para quem vive num lugar de neve constante e que apenas no verão você vai ter um curto
04:49espaço de tempo e que você tem uma outra diversidade.
04:52Durante o verão, por ser uma cidade que já cruzou o círculo polar ártico, você tem
04:58uma condição que é o sol da meia-noite.
05:00Então, não fica noite nunca.
05:03Então, o finlandês que vive nessa região mais inóspita do país e Rouvani M, que é a
05:09cidade que eu visitei, é uma cidade que não é pequena, ela tem quase o tamanho de
05:13Guarapari, por exemplo.
05:15Ele vive numa condição inóspita, de frio extremo e de um verão que tem também as
05:22suas adversidades.
05:23Para além disso, eu faço um outro destaque.
05:25O ranking da felicidade, esse que a gente trouxe no artigo da ONU, ele também fala sobre
05:31quem está no top 5, que é Finlândia em primeiro lugar, Dinamarca, Islândia, Suécia e Holanda.
05:38Em sexto lugar, a Costa Rica, aqui na América Central.
05:41Então, destoando de todo esse grupo de países nórdicos, que tem um estado de bem-estar
05:47social muito bem estabelecido, com uma sociedade que encurta a sua diferença social.
05:55Ou seja, ninguém é muito rico e ninguém é muito pobre.
06:00Então, não existe extrema pobreza na Finlândia.
06:04Existem, eu não vi, mas existem relatos de algumas pessoas que por opção ou por questões
06:11mentais acabam ficando na rua por um tempo.
06:14Mas o problema de moradia na Finlândia não existe.
06:18Então, esses países nórdicos são países que estão muito bem ranqueados como países
06:24felizes.
06:24Para encerrar essa análise que eu me estendi aqui inicial, o Brasil está em 36º lugar.
06:30Eu estou lembrando que Costa Rica está em 6º lugar, um país da América Central, um
06:34lugar com muitas dificuldades.
06:37E em décimo lugar, o México, que é ali na fronteira com os Estados Unidos e enfrenta
06:43de maneira muito forte, por exemplo, tráfico de drogas e cartéis que praticam uma violência
06:48extrema.
06:49Achei muito interessante que tem um cruzamento nisso que você fala, Tomás.
06:52Esse conceito de felicidade que a ONU começou desde 2011 a fazer, olhar isso de uma forma
06:58mais sistematizada, vamos dizer assim, ela é um pouco como o público externo vê a
07:04Finlândia ou como o finlandês se vê?
07:06O público, o finlandês reconhece a qualidade de vida que tem, mas ele brinca um pouco dentro
07:14do humor daqueles países do norte com essa brincadeira do suome e do finlandês na perspectiva
07:21de que eles são felizes, mas eles não são tão sorridentes assim e não são tão alegres
07:27como possa parecer um ranking de felicidade.
07:31Mas eu posso afirmar para você, Luciano, que é um povo acolhedor.
07:34Vou arriscar fazer uma brincadeira.
07:36Na minha viagem, a minha conexão era em Paris, na França.
07:40Eu me senti muito mais acolhido na Finlândia, um país frio e gelado do que na França.
07:45Agora, é um país também, como você frisou, que ele enfrenta desafios, por exemplo, na
07:51questão da segurança.
07:53Nós sabemos, por exemplo, que com a guerra na Ucrânia e a presença da Rússia ali ao
07:58lado, você vê o povo finlandês vive em um estado de tensão, de certa forma, não sei
08:03se é uma tensão permanente, se é visível isso, mas a questão da defesa do Estado
08:09finlandês do país é muito presente lá, não?
08:12Sim, é extremamente presente e, como eu te disse, essa foi a minha segunda visita.
08:17Eu fui logo após a pandemia, então tem dois anos e meio que eu visitei a Finlândia pela
08:22primeira vez, num programa muito parecido com essa viagem que eu fiz agora.
08:27Então, alguns lugares se repetiram, por exemplo, e um exemplo que eu te dei e vou repetir para
08:33quem está nos assistindo, nós fizemos uma visita ao principal canal de televisão da
08:37Finlândia. Na visita anterior, de dois anos e meio atrás, estava começando a invasão
08:42russa ao território ucraniano. Nessa visita, Luciano, as pessoas estavam preocupadas, mas
08:48isso não foi tema de pauta para a gente. Na visita de 2025, desse ano, que eu fui alguns
08:55dias atrás, por exemplo, o canal de televisão que estava ali para falar para a gente e falar
09:00para servidores públicos, empresários que dialogam com o poder público, que é o meu
09:04caso, sobre comunicação. Mas não foi o assunto comunicação. Uma coisa que aconteceu
09:11e que me deixou impressionado foi, por exemplo, botaram uma foto da antena de transmissão do
09:16canal. E aí, para quem está nos assistindo e quiser anotar, eu não sei falar o nome em
09:20finlandês, mas é YLE, o canal de televisão, é o principal canal, tem a maior audiência
09:26absoluta na Finlândia. E eles mostraram uma foto, por exemplo, para a gente. Essa aqui é a
09:33nossa antena de transmissão. Se mandarem um míssil, praticarem algum tipo de hostilidade
09:40aqui em Helsinki e tentarem derrubar a nossa transmissão, nós temos condição, dois andares
09:46abaixo, porque temos um bunker, de mandar a nossa equipe para lá e termos a continuidade
09:52da transmissão. E para além disso, a gente tem equipe que vai para a rua e que consegue
09:58fazer transmissão fora aqui do nosso centro de transmissão das imagens, mantendo rádio,
10:04internet e televisão no ar. Essa foi uma preocupação que me alertou logo no início da jornada dessa
10:11viagem, quando a gente fez uma das primeiras reuniões com o canal de televisão. Uma outra
10:15preocupação me assentou no último dia, quando nós fomos visitar, Luciano, o Ministério das
10:20Relações Exteriores, por uma questão de que todos que estavam nessa reunião assinaram
10:26um documento. Eu não posso dizer quem eram as pessoas, nem fazer nenhum tipo de menção
10:31a que tipo de diplomata nos atendeu. Mas a gente sabe a história, conversou com cada um
10:37deles. Mas apesar de eu não poder falar quem eram as pessoas, nós ficamos livres para dialogar
10:45e dizer qual foi a conversa que ela teve. Luciano, e ficou claro dentro do Ministério das
10:51Relações Exteriores da Finlândia, que eles estão preocupados com uma possível invasão.
10:57Eles têm uma longa fronteira com a Rússia, eles recebem muitas pessoas que vêm de outros
11:07países com medo da guerra que está acontecendo ali da Rússia com a Ucrânia. E eles têm uma
11:14certeza e ficou claro para a gente que eles estão esperando algum tipo de hostilidade
11:20em algum momento.
11:21Quer dizer, pode dizer claramente então que a Finlândia se prepara e espera uma invasão
11:26russa a qualquer momento?
11:27Essa viagem deixou claro para a gente que eles estão preparados para receber qualquer tipo
11:33de hostilidade em relação à Rússia. Nessa reunião, por exemplo, eles conversaram com
11:40a gente em vários momentos, trataram o governo russo como inimigo, sem confiança, que em vários
11:46momentos mentiu para a sociedade, para o mundo e que eles não confiam efetivamente em Vladimir
11:55Putin. Um outro detalhe, vários prédios públicos, Luciano, posso mandar para vocês fotos aqui,
12:01com bandeiras da Ucrânia. No próprio Ministério das Relações Exteriores, a gente entrou pelo
12:07Ministério, tinha um grande pátio, um telão grande com uma bandeira da Ucrânia dentro
12:13de um prédio público do governo ucraniano. A biblioteca que a gente pode falar, que é
12:17uma política pública da Finlândia, a biblioteca também tem a bandeira da Finlândia no meio,
12:26à esquerda a bandeira da Ucrânia e à direita a bandeira da biblioteca. Não tem nem da cidade
12:31de Helsinki, a biblioteca Ode, que é muito famosa e é uma política pública deles muito
12:37contundente. Então, assim, claramente eles estão preparados para algum tipo de hostilidade,
12:43Luciano, e eles têm lado, eles estão do lado dos ucranianos.
12:47É interessante isso, porque você vê no momento em que o presidente Trump fragiliza as relações
12:53com a OTAN, etc., que dão uma garantia aos povos europeus contra um ataque russo, vamos
12:59dizer, atacam um, atacam todos, né? Esse sentimento fica mais exacerbado ainda, né?
13:04Essa preocupação, vamos dizer assim.
13:05Essa preocupação, ela fica mais acentuada, Luciano, mas outra coisa que eu tive percepção
13:10nessa reunião é que, por exemplo, nos foi relatado que eles têm a convicção de que
13:16os próprios europeus devem investir mais em suas defesas. Então, não foi uma situação
13:22de não deixarem de enfrentar o problema. A mensagem que estava sendo deixada clara
13:29para a gente era de que eles estão preparados para qualquer tipo de hostilidade e que eles
13:33acreditam que eles têm que aumentar o investimento em defesa.
13:36Mas um sentimento, Tomás, que eu li a respeito, e eu faço algumas reflexões a respeito disso,
13:41que esse estado de bem-estar social, em grande parte, ele foi possível graças a uma não necessidade
13:49de investimento em defesa ao longo do tempo, vamos dizer assim, porque você tinha um guarda-chuva
13:53da OTAN e agora com essa necessidade de você aumentar os gastos com defesa, você pode,
13:59você acredita que isso pode, de alguma forma, influenciar nessa qualidade de vida deles?
14:03Eu acho que não influenciar, primeiro que sua análise, na minha visão, está muito correta.
14:07Como eles tinham, no pós-segunda guerra mundial, o estado de bem-estar social, ele vem ser
14:13instalado no pós-segunda guerra mundial, tudo isso proporcionou durante muitas décadas
14:20que a Europa pudesse se organizar e que pudesse criar políticas públicas que trouxessem
14:26prosperidade para os seus cidadãos e uma condição de qualidade de vida muito interessante
14:33ao ponto da gente ver por uma oitava ou um ano seguido, ou o top 5, não vamos falar apenas
14:38da Finlândia, mas os países nórdicos estarem bem posicionados. Essas políticas, elas já
14:44estão bem consolidadas nesses países. Você está falando de países que têm para si um
14:52elemento muito interessante que também está no diálogo dessa viagem e que a gente ouviu
14:57o tempo todo, que é o pilar da confiança, Luciano. O finlandês, ele confia no seu vizinho,
15:03confia em si próprio, confia no sistema e no governo e confia numa sociedade muito bem
15:09organizada, a ponto de ter todas as suas dinâmicas muito bem discutidas de forma muito
15:17democrática. Uma conversa que a gente teve foi, a gente teve duas visitas interessantes
15:23em relação à democracia. Uma com um especialista da Universidade de Helsinki, que nos relatou
15:29algo que ele chama de total democracia. As instituições na Finlândia, elas são muito
15:35participativas de forma popular. Um exemplo que eles nos deram foi do Burger King, que
15:41é um restaurante de fast food americano e que em muitos momentos pode representar, por
15:46exemplo, o liberalismo americano, o liberalismo dos países mais capitalistas. E vale lembrar
15:53que aqui a gente não está discutindo sobre nenhum sistema ideológico de direita ou de
15:59esquerda, porque a Finlândia e todos os países nórdicos são países capitalistas. Mas o
16:05Burger King da Finlândia, além do Burger King e o Taco Bells da Finlândia, são dois restaurantes
16:12americanos que na Finlândia têm uma gestão própria coletivizada, ou seja, camadas decisórias
16:19e populares, onde pessoas são escolhidas para fazerem parte, de conselhos. E quando
16:24a gente fez a pergunta para esse especialista em democracia, se as decisões, por exemplo,
16:28de mudar um cardápio, um sanduíche de lugar, o preço até do restaurante, elas demoravam
16:35porque tinham que passar por várias camadas e várias instâncias, a resposta que nos foi
16:39dada é que eles estão tão coesos e tão confiantes dos valores que eles têm, que as
16:45decisões, elas são rápidas, mas elas passam por uma série de camadas decisórias e participativas.
16:52A democracia dentro da Finlândia, ela é uma coisa trabalhada dentro de casa, dentro do
16:57setor público e privado, inclusive a igreja ortodoxa, que é a religião e muito forte dentro
17:04da Finlândia, ela tem eleição dentro da igreja. Então, as pessoas votam naqueles que
17:10vão fazer parte do clérum finlandês. Uma outra coisa interessante que a gente fez dessa
17:14vez, que na outra viagem eu não tive a oportunidade de fazer, foi visitar o parlamento e a gente
17:22teve uma reunião com um membro do parlamento, o Timo Haraka. Então, eu sempre voto na anotação
17:29para lembrar do nome dele. O Timo Haraka é um membro do parlamento, a gente chama de membro
17:33do parlamento, lá é um sistema parlamentarista, mas, Luciano, o Timo está desde 2015 como
17:41membro do parlamento. Ele tem 60 anos de idade e ele foi ministro por duas vezes, foi ministro
17:48no governo anterior da Sanamari. Uma coisa que eu destaco, que ele trouxe, que ele é
17:55presidente do comitê para o futuro. Existe dentro do parlamento finlandês um comitê que
18:02olha para o futuro da Finlândia, olha hoje o presente e qual é a forma que eles querem entender
18:08a sociedade no futuro. É um comitê que eles colocam numa prateleira de seriedade tão grande
18:14quanto o comitê que vota, por exemplo, o orçamento desse país que é parlamentarista.
18:19Um outro destaque que eu trago para você é que nas primeiras eleições diretas que
18:25a Finlândia teve, logo no fim da Primeira Guerra Mundial, aí depois a gente pode falar
18:29de como se deu essa transição, a Finlândia promoveu a primeira eleição direta para o
18:35parlamento. Todo cidadão acima de 21 anos, independente da sua classe social, de quem
18:41você é, se é homem ou mulher, tinha direito a voto. Nessa primeira votação, Luciano,
18:46para 200 cadeiras no parlamento, 19 mulheres foram eleitas. Eu estou falando de 1920.
18:53Então é o primeiro lugar que tem uma representação feminina verdadeira. Se nós formos olhar 19 cadeiras
19:02em 1920 para 200, alguém pode levantar a mão e falar assim, mas é pouco. Hoje de manhã
19:11eu tive numa reunião na Assembleia Legislativa e saindo do plenário eu olhei um painel. Sabe
19:19quantas deputadas estaduais nós tivemos na história do Espírito Santo na Assembleia
19:25Legislativa? 17. Na história. Ao longo de toda a história você tem menos do que a
19:30representatividade de 1920 na Finlândia. Na Finlândia. No governo da Sanamari eles quase
19:36atingiram a paridade de 100 para 100, 100 homens e 100 mulheres. Lembrando, a Finlândia não
19:42tem reserva de assento para a questão de gênero. Na última eleição então eles quase
19:49atingiram. Por dois assentos eles não atingiram a paridade e foi um governo de uma primeira
19:54ministra mulher. Nessa legislatura são 92 membros do parlamento finlandês. Então é
20:01uma representação feminina e uma democracia muito consolidada que serve de exemplo para
20:07gente. Perfeito. Assim, você falou a questão de política pública em relação às bibliotecas,
20:12não é? Foi isso? E o que me remete a uma questão importante do nosso ponto de vista, do que a gente
20:19sempre se discute, é a importância da educação. Qual é o peso da educação na Finlândia? Nós
20:24lembramos recentemente, por exemplo, que a Finlândia de certa forma está revendo e até restringindo
20:31o acesso a meios digitais nas escolas de ensino básico. Como é que você avalia isso tudo e qual
20:37é o peso da educação nesse estado de bem-estar da Finlândia? Perfeito. A primeira coisa que eu te
20:43digo é que uma pergunta que todo mundo vai se fazer é efetivamente a gente fez uma visita a uma
20:49escola, conversamos com a diretora, participamos de um pedaço de uma aula. Então nós vimos na
20:55realidade como as coisas acontecem lá por um curto espaço de tempo. Claro, é um recorte do que a gente
21:01pôde ver, mas a gente teve essa experiência. Para além disso, a gente também teve uma reunião e uma
21:08palestra na Universidade de Helsinki, onde tem um núcleo que estuda a educação da Finlândia. Então,
21:15nessas duas perspectivas, a primeira coisa que eu digo é que efetivamente é proibido esse aparelho,
21:20que está aqui na minha mão, é proibido o celular e qualquer tipo de tecnologia para o aluno dentro da
21:25sala de aula no ensino, não vou me arriscar, mas das crianças, vamos dizer assim. A Finlândia sempre
21:32teve um posicionamento no ranking do PISA, que acontece de três em três anos, muito bom. E se você
21:39olhar o gráfico do PISA, a Finlândia vem caindo, é esse posicionamento. Mas vale dizer que quem
21:46monitora e quem incentiva o PISA são os países da OCDE, que convidam outros países também a participar,
21:53que voluntariamente participam. São mais de 50, eu não tenho aqui de cabeça qual é o número.
22:00Eu arrisco dizer que talvez 70 países participam do PISA, mas dentro desse ranking, a Finlândia
22:06permanece mesmo em queda acima dos países da OCDE. Claro que quando eu estava na Universidade de
22:12Helsinki, para esse núcleo que faz o estudo da educação da Finlândia, eu fiz essa pergunta de se
22:19eles estavam preocupados com a queda no PISA e sim, a doutora que lidera esse núcleo disse
22:28efetivamente que eles estão preocupados. Por um lado, por outro, os países nórdicos e os países
22:35da OCDE também vêm caindo a curva e a Finlândia permanece com números muito acima. Vale dizer, eu fiz
22:43uma anotação aqui, Luciano, que eles têm um sistema de aprendizagem chamado aprendizagem baseada em
22:52fenômenos. A educação na Finlândia, ela é transversal. Então, o mesmo fenômeno que é estudado em
23:01matemática, ele tenta transpassar para ciência, tenta passar para finlandês e vai passando por todas as
23:08outras matérias. Um outro ponto que vale dizer, Luciano, é que a profissão de professor na Finlândia
23:15é muito valorizada. É muito valorizada. Para você ser professor na Finlândia, você tem que estudar
23:22muitos anos. Estou buscando aqui minhas anotações para um dado que foi importante. Em 2024, 1.583 pessoas
23:30tentaram se tornar professores na Finlândia e o governo aceitou apenas 127 pessoas que teriam
23:39a capacidade de ocupar e de serem professores. É uma profissão valorizada, é uma profissão com início
23:47de salário muito interessante, respeitada na sociedade por todos, pelo aluno, pelas famílias e pelos pais.
23:56A educação está em primeiro lugar na Finlândia. Sobre a biblioteca, a biblioteca é uma política pública
24:03que ela está apartada da educação. A biblioteca é quase que um bem do finlandês. Então, nós visitamos
24:13a Odi, que é Odi em finlandês de Odisseia. Ela fica numa praça lindíssima de frente para o parlamento,
24:20sempre para que o parlamento se lembre da importância das suas bibliotecas e para quem está na biblioteca
24:27se lembre de quem tem que cobrar em termos de política pública. E as bibliotecas na Finlândia
24:33são políticas públicas com orçamento separado e com independência. Então, não tem interferência
24:40política na política pública da biblioteca. E o que é interessante, se você for nessas bibliotecas,
24:46em todas as bibliotecas da Finlândia, você vai perceber que lá tem uma sessão de videogames,
24:53uma sessão de impressoras 3D, uma sessão com salas de reunião para empresários,
25:00pequenos empresários irem lá. Com que perspectiva? E tem um andar, o último andar que a gente visitou,
25:06com muitos livros. Qual é a perspectiva e a política que está por trás dessa biblioteca?
25:12Você olhar que você tem que atrair o cidadão para dentro da biblioteca e depois ele vai enxergar o livro
25:18como uma possibilidade de enriquecimento cultural. Então, é um aparelho público moderno, lindo, por sinal,
25:27e cheio de significado para o povo finlandês.
25:30Fantástico. Tomás, agora assim, quando alguém como você, que tem um olhar permanente e uma participação
25:41num projeto de evolução da sociedade, né? Você acompanha o seu trabalho, sendo sempre do ponto de vista
25:51empresarial, político, você está sempre ali pensando a sociedade, até que você participou dessa viagem,
25:57desse projeto. Mas quando você retorna de uma experiência tão fantástica como é a Finlândia
26:05e como eles estão avançados e me parecem avançados em detalhes fundamentais, como é que é o seu olhar
26:13em relação ao Brasil quando você retorna de lá e se defronta com a nossa realidade aqui?
26:20Como é que é a avaliação que você faz?
26:23A primeira coisa que eu vou te falar, Luciano, eu sou um apaixonado por viagens, eu sou viciado em viagens.
26:29É um vício bom, é um vício que eu não vou, eu vou tirar a palavra vício, eu vou falar que é um estilo de vida.
26:37Então eu gosto muito de viajar, eu gosto muito de conhecer lugares novos,
26:41e a primeira coisa que a gente tem que ter em mente é que cada lugar tem sua característica cultural,
26:47geográfica, impactada por sua realidade.
26:51Nós não devemos, e não é esse o objetivo nem do CLP e nem da minha fala, da conversa que a gente está tendo aqui,
26:57dizer que a gente tem que copiar o que a Finlândia, ou o que a Suécia, ou o que os Estados Unidos fazem.
27:03A gente tem que olhar para esses lugares, a gente tem que visitar, conhecer experiências,
27:08entender qual é a nossa realidade, e aí entendendo a nossa realidade eu falo que a gente faz muita coisa boa no Brasil.
27:15Eu estou falando de forma muito sincera, sem pachequismo nenhum,
27:18que nós somos um país de muito valor, com riquezas naturais, um povo diverso e um povo trabalhador,
27:25que foi o que eu escrevi aqui no nosso artigo, um povo que consegue se reinventar,
27:31e que consegue absorver, por exemplo, muitas das nossas novas tecnologias de maneira rápida.
27:38Isso mostra o quanto o brasileiro é adaptável.
27:40Agora, a gente pode olhar para a Finlândia, para os países nórdicos,
27:45com o olhar de que a gente deve confiar um pouco mais no outro.
27:50Outra coisa que me incomoda muito, e agora eu vou falar algo muito particular, sabe Luciano,
27:54é o quanto a gente necessita de ter um ambiente econômico e um ambiente jurídico mais saudável, mais seguro.
28:02Eu estou falando de regras claras de comportamento, de negócios, de desenvolvimento da nossa sociedade.
28:08Não é possível que a gente viva e olhe, por exemplo, você falou do meu ativismo em relação à Acevila,
28:16do qual eu sou presidente, e a gente pratica o ativismo empresarial, o associativismo empresarial, perdão.
28:24Na Acevila e na minha vida, eu tenho observado o quanto é importante a gente encontrar, por exemplo,
28:30prefeituras que tenham estabilidade e suas regras claras.
28:34Não é possível que cada dia o poder público me entregue uma nova cobrança.
28:41Empreender no Brasil já é difícil.
28:44Imagina-se quando nós tivermos regras claras,
28:47quando nós tivermos o direito à propriedade privada preservada,
28:53e quando nós tivermos efetivamente uma segurança jurídica
28:57que nos permita ser um país mais sólido.
29:00Então isso é algo que eu identifiquei nessa viagem.
29:03Quando eu falo a confiança como um sustentáculo da sociedade, é isso mesmo, Luciano.
29:09No básico, se a gente combina que o nosso encontro e a nossa reunião é às 10 horas,
29:14sim, para as 10 está todo mundo lá.
29:16Ninguém falta.
29:17Isso foi nos colocado de maneira muito substancial nessa conversa.
29:22Então, se eu combino um horário com você,
29:25se eu combino algo com algum colega, algum companheiro de trabalho,
29:29efetivamente essa pessoa vai cumprir.
29:31Aqui, mais uma vez, nós não estamos falando de direita ou de esquerda.
29:37Nós estamos falando de valores, de valores culturais e de comportamento da sociedade.
29:43Muito bem.
29:44Tomás Tomás, presidente da Sevilla,
29:47nos contando, reportando essa experiência internacional que ele teve,
29:53e que traz muitos olhares interessantes, úteis para o Brasil,
30:01no qual nós podemos nos espelhar na experiência finlandesa.
30:05Tomás, suas considerações finais, sua mensagem final sobre essa experiência que você teve.
30:10Olha, toda experiência de conhecer uma nova realidade é sempre muito enriquecedora.
30:17Eu volto para o meu dia a dia de trabalho, nesse pequeno, nesse curto espaço de tempo que eu pude ver novas experiências,
30:23energizado para pegar todos os nossos valores, nossas oportunidades,
30:28enquanto brasileiros, orgulhoso de quem somos,
30:31para realizar cada vez mais, seja no meu trabalho, no meu negócio,
30:34ou até mesmo aqui conversando com você e com o time da Tribuna.
30:39Muito bem.
30:40Esse foi o Estúdio Tribuna Online.
30:42Obrigado pela sua audiência.